O que estão compartilhando: vídeo em que médico comenta sobre casos de gripe e diz que quanto mais imunizantes uma pessoa recebe, mais ela está em risco. Segundo ele, o sistema imune é agredido por doses de vacina, sem especificar a qual imunizante se refere.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Todas as vacinas oferecidas à população brasileira são seguras. Antes de serem distribuídas, elas passam por testes rigorosos; depois da vacinação, continuam a ser monitoradas em busca de sinais de eventos adversos. A maior parte dos efeitos colaterais são leves, como dor no local da injeção e febre.
A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) explica que é muito mais fácil sofrer consequências de uma doença prevenível por vacinação do que pela própria vacina. “As vacinas interagem com o sistema imunológico e produzem uma resposta imunitária similar àquela gerada por infecções naturais, mas sem causar adoecimento e sem colocar a pessoa imunizada em risco de sofrer as possíveis complicações de uma enfermidade”, afirma a entidade.
A médica Camila Cardoso Perpétuo, especializada em Clínica Médica e Pneumologia pelo Hospital Madre Teresa de Belo Horizonte, assegura: “Vacinas não causam doenças”.
Saiba mais: O Ministério da Saúde (MS) informa que a vacina contra a gripe (influenza) é considerada uma das medidas mais eficazes para evitar casos graves e óbitos pela doença. O vírus da gripe sofre constante mudança. É por isso que os imunizantes precisam ser reformulados frequentemente e são necessárias doses anuais da vacina.
Aqui vale destacar que, de acordo com nota técnica da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), as vacinas contra influenza em uso no Brasil são todas inativadas (de vírus mortos). Portanto, não tem capacidade de causar doença.
De acordo com Camila, as vacinas contra a gripe são projetadas para estimular o sistema imunológico e produzir uma resposta protetora contra diferentes cepas do vírus.
“Receber vacinas adicionais não sobrecarrega o sistema imunológico a ponto de torná-lo mais vulnerável à gripe ou a outras infecções”, explica a médica. “Na verdade, as vacinas ajudam o sistema imunológico a se preparar para enfrentar a gripe, reduzindo a probabilidade de infecção grave”, afirma.
Perpétuo ainda destaca a importância da vacinação especialmente para certos grupos, como idosos e pessoas com condições médicas crônicas, Segundo ela, essas pessoas são mais suscetíveis a complicações graves da gripe.
Campanha de vacinação não atingiu meta
Entre abril e maio de 2023, o MS promoveu a 25ª Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza e disponibilizou gratuitamente a vacina trivalente à população nos postos de saúde. Produzida pelo Instituto Butantan, esse tipo de imunizante protege contra três cepas diferentes do vírus da gripe. Já a vacina quadrivalente ficou disponível somente nos serviços privados de vacinação, segundo nota da SBIM.
A campanha estabeleceu a meta de vacinar pelo menos 90% de cada um dos grupos elegíveis para receber as doses. Esse público-alvo totaliza 81.766.016 pessoas e inclui, por exemplo, crianças, gestantes, trabalhadores da saúde, idosos e povos indígenas.
Contudo, houve baixa adesão à vacinação e a meta não foi atingida pelo prazo da campanha. Em razão disso, Secretarias de Saúde de diferentes Estados anunciaram a prorrogação da Campanha. Em São Paulo, por exemplo, a data foi adiada três vezes até o momento, sendo 31 de agosto o último prazo estabelecido para a vacinação gratuita nos postos de saúde, focando em toda população acima de seis meses de idade.
Até a divulgação desta matéria, o total de doses aplicadas no público-alvo foi de 59.230.606, em todo Brasil - ainda está abaixo da meta.
Dados do último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgados também pelo Instituto Butantan, revelam que 9.457 brasileiros já foram hospitalizados em 2023 em decorrência da gripe, e 828 morreram.
O Instituto detalhou que crianças de até 11 anos têm liderado as hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por influenza, com 4.705 casos. Já entre os óbitos, a maior parte ocorreu em idosos, com 434 casos.
O conteúdo verificado aqui soma mais de 190 mil visualizações, 5,6 curtidas e 780 comentários (muitos deles concordando com as alegações antivacina). O Estadão Verifica tentou contato com o médico que aparece no vídeo, mas não obteve resposta.
Como lidar com postagens do tipo: Desconfie de postagens antivacina, ainda que venham de um profissional da saúde, como é o caso do vídeo. Complete sua pesquisa lendo divulgações oficiais sobre imunizantes em sites como o do Ministério da Saúde e de laboratórios ou instituições de pesquisa como o Butantan.
No Brasil, a composição das vacinas que serão disponibilizadas ao público precisa ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com base nas determinações da Organização Mundial de Saúde (OMS). No caso dos imunizantes contra influenza adotados em 2023, há registro de sua aprovação em outubro do ano passado.
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