O que estão compartilhando: vídeo em que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) supostamente divulga uma lista com nomes, CPFs e datas de nascimento de pessoas que teriam tido dados vazados pela Serasa, em 2021. Na gravação, é dito que essas pessoas teriam direito de receber uma indenização de até R$ 30 mil.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O vídeo falsifica a voz do deputado a partir de uma gravação originalmente publicada no perfil do Instagram dele, em junho de 2023. No conteúdo original, Nikolas não faz qualquer menção à Serasa (veja aqui). Há indícios do uso de inteligência artificial na criação do vídeo.
O processo contra a Serasa Experian, acusada de vazamento de dados pelo Instituto Sigilo, ainda não foi encerrado. Ao Estadão Verifica, o Ministério Público Federal (MPF), coautor do processo, informou que até o momento não há decisão judicial que determine a divulgação de informações referentes a cidadãos afetados pelo vazamento. Segundo o MPF, divulgações desse tipo são falsas e/ou ilegais.
À reportagem, a assessoria do deputado disse que o vídeo não foi produzido por Nikolas e que as informações são falsas.
Saiba mais: o vídeo verificado utiliza a imagem do deputado Nikolas Ferreira para divulgar uma lista com nomes, CPFs e datas de nascimento. Na gravação, a voz do deputado foi clonada para afirmar que esses dados pertenceriam a pessoas atingidas pelo suposto vazamento de dados da Serasa. Assim como em outras postagens checadas sobre o assunto (aqui), a postagem alega falsamente que seria possível obter uma indenização de até R$ 30 mil.
O conteúdo foi publicado no Facebook no dia 24 de junho e orienta o usuário a clicar em um botão escrito “saiba mais” para consultar se os dados foram vazados. O domínio do site anexado ao botão é vivendohoje.store. Ele não tem relação com o site oficial da Serasa, que é serasa.com.br. A reportagem tentou acessar a página para verificar o que seria solicitado ao usuário, mas não obteve sucesso.
O Estadão Verifica mostrou que um levantamento realizado pelo Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou 4.321 publicações impulsionadas nas redes sociais da Meta (Facebook e Instagram) utilizaram a imagem de políticos manipuladas por IA para aplicar golpes envolvendo uma suposta indenização da Serasa Experian. As postagens foram feitas entre os meses de março e maio deste ano.
Os conteúdos trazem trechos de vídeos com políticos que, segundo o estudo do NetLab, tiveram a voz clonada por IA. Entre os políticos atingidos estão os deputados federais Nikolas Ferreira, Sargento Fahur, Eduardo Bolsonaro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo da fraude é capturar informações pessoais dos internautas, a partir da falsa alegação da indenização.
Como já explicou o Estadão Verifica em checagens anteriores, o CPF pode ser usado para criar um cadastro falso de alguém com a finalidade de aplicar golpes. Por isso, o recomendado é não compartilhar dados pessoais em sites duvidosos.
A reportagem não conseguiu identificar a origem da lista exibida no vídeo.
Caso Serasa
O vazamento de dados relacionado à Serasa veio a público em janeiro de 2021. De acordo com o Instituto Sigilo, mais de 223 milhões de dados pessoais de brasileiros, vivos e mortos, foram vazados. O instituto, juntamente ao MPF, está processando a Serasa por meio de uma ação civil pública, sob acusação de que a companhia teria comercializado, junto a terceiros, os dados vazados.
O processo pede que a empresa seja condenada a pagar uma indenização de R$ 30 mil a cada usuário prejudicado por um possível uso irregular de informações pessoais. Em uma verificação publicada recentemente sobre o mesmo assunto, o MPF explicou ao Estadão Verifica que o processo segue em tramitação na Justiça Federal e que ainda não houve julgamento dos pedidos de indenização formulados pelo órgão. Até o momento, não houve determinação judicial para o pagamento de nenhum valor.
Conforme informou o MPF em uma publicação sobre o assunto, o número da ação civil pública é 5002936-86.2021.4.03.6100. A tramitação do processo pode ser consultada online (veja aqui).
O Estadão Verifica já checou um golpe envolvendo uma suposta indenização da Serasa por dados vazados em março deste ano. À época, a Serasa alegou que apresentou defesa na ação judicial proposta em fevereiro de 2021. Reforçou que os sites que prometem indenização são fraudulentos. A empresa afirma ter demonstrado “de forma amplamente detalhada a ausência de invasão nos seus sistemas ou de qualquer indício de que o suposto vazamento tivesse tido origem em suas bases de dados”.
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