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Deputado não disse que é preciso pagar ‘imposto’ para receber indenização por vazamento de dados

Vídeo manipula imagem e voz de Nikolas Ferreira para enganar consumidores; empresa de análise de crédito nega ter falhado no armazenamento de informações pessoais, e ação ainda não foi julgada

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O que estão compartilhando: vídeo em que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) supostamente afirma que consumidores devem pagar imposto para receber indenização referente a vazamento de dados do Serasa. No conteúdo, é dito que pessoas podem chegar a receber R$ 30 mil.

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O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. O vídeo é uma falsificação da voz e do movimento do rosto do deputado feito a partir de uma gravação publicada na conta do TikTok dele, em fevereiro de 2023. O parlamentar não cita o Serasa ou oportunidade de indenização no conteúdo original (veja aqui). Há indícios de uso de inteligência artificial na criação da publicação.

O Instituto Sigilo entrou com uma ação contra a Serasa Experian por violação de dados de cidadãos brasileiros, porém o caso ainda está em tramitação. Ao Estadão Verifica, o Ministério Público Federal (MPF), coautor do processo, informou que ainda não há decisão judicial que determine o envio de informações aos cidadãos afetados pelo vazamento.

A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa do deputado, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem. Nikolas já foi alvo de conteúdos manipulados envolvendo o mesmo golpe e afirmou, na época, que as informações eram falsas.

Golpe manipula voz e imagem de Nikolas Ferreira para divulgar indenização do Serasa Foto: Reprodução/Redes Sociais

Saiba mais: Um vídeo manipula a voz e o rosto do deputado federal Nikolas Ferreira para divulgar uma suposta indenização por vazamentos de dados do Serasa. O conteúdo clona a voz do parlamentar afirmando que consumidores devem pagar um imposto e receber até R$ 30 mil. Como mostrou o Estadão Verifica em reportagens anteriores (veja aqui), trata-se de um golpe nas redes sociais.

Por meio da busca reversa (veja como fazer), foi localizada uma gravação semelhante do deputado publicada no TikTok em fevereiro de 2023. No conteúdo original, ele comenta sobre um projeto de lei contra o aumento do preço do litro de água em situações de emergência, calamidade pública e epidemias. Não é citado nenhum tipo de indenização por vazamento de dados no vídeo.

Com auxílio da ferramenta True Media, que ajuda na detecção de deep fakes de políticos nas redes sociais, foram encontradas “evidências substanciais de manipulação” na voz e na imagem do conteúdo analisado. Em comparação com o vídeo original, que mostra Nikolas na mesma posição, camiseta e cenário, é possível ver indícios de manipulação em seus lábios e inserção de um áudio criado.

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Ferramenta True Media traz indícios de manipulação por inteligência artificial de vídeos, imagens e áudios. Foto: Reprodução/True Media

Como explicou o Estadão Verifica em reportagens anteriores, os conteúdos editados podem redirecionar para sites e utilizar o CPF para criar um cadastro falso de alguém com a finalidade de aplicar golpes. Por isso, o recomendado é não compartilhar dados pessoais em sites duvidosos.

Ação de vazamento de dados da Serasa está em tramitação judicial

Em 2021, a empresa Serasa Experian foi acusada pelo Instituto Sigilo, que defende a proteção de dados pessoais, de violar o sigilo de mais de 223 milhões de brasileiros vivos e falecidos, contrariando regras e princípios da Lei Geral de Proteção de Dados. A ação foi ajuizada contra a empresa de análise de risco de crédito após a divulgação do suposto vazamento na imprensa.

Em novembro de 2023, o MPF se tornou coautor do processo e solicitou uma indenização de R$ 30 mil a cada consumidor afetado e a imposição de uma multa correspondente a até 10% do faturamento anual da empresa no último exercício. O órgão pede que o valor não seja inferior a R$ 200 milhões. O processo ainda não foi concluído e está em tramitação na Justiça Federal do Estado de São Paulo.

O Instituto Sigilo se manifestou, em seu site, contra os golpes nas redes sociais envolvendo a ação contra vazamento de dados. Negou que cadastre pessoas para o recebimento de dinheiro. A Serasa nega a violação e afirma que demonstrou às autoridades a “ausência de invasão nos seus sistemas e de qualquer indício de que o suposto vazamento tivesse tido origem em suas bases de dados”.

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