Obama, Beyoncé e outros famosos citados em postagens não aparecem na ‘lista de Epstein’

Vídeos nas redes sociais listam dezenas de políticos e celebridades que não têm relação com crimes atribuídos ao milionário, acusado de tráfico sexual de menores

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Foto do author Luciana Marschall
Atualização:

O que o estão compartilhando: postagens que alegam que políticos e celebridades como Barack Obama, Beyoncé e Madonna aparecem na lista de pessoas ligadas ao criminoso Jeffrey Epstein, morto em 2019.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Vídeos que circulam no Instagram e no WhatsApp mentem sobre os documentos judiciais do caso de Jeffrey Epstein divulgados pela justiça americana. Nomes como Beyoncé, Madonna, Meryl Streep e Barack Obama não constam nos materiais tornados públicos até o momento.

Leitores pediram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp, no número (11) 97683-7490.

Beyoncé não está lista de Epstein, ao contrário do que diz post no WhatsApp Foto: Reprodução

Saiba mais: Conteúdos desinformativos que citam nomes de celebridades e de políticos começaram a circular amplamente após a divulgação de documentos judiciais relacionados ao caso de Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual de menores de idade. O empresário morreu na prisão em 2019. Os posts alegam, falsamente, haver envolvimento de dezenas de famosos com as atividades ilegais do milionário. No entanto, não há nenhum indício que as celebridades citadas fossem frequentadoras da ilha privada de Epstein onde teriam ocorrido abusos sexuais.

Em um vídeo no Instagram, enquanto um homem afirma que na lista de Epstein constam vários nomes de políticos e de celebridades, são exibidas imagens do ex-presidente norte-americano e do atual, Barack Obama e Joe Biden, e fotos do ator Ben Affleck e da cantora Katy Perry. Outras imagens passam no fundo do vídeo e mostram famosos como Lady Gaga, Justin Bieber e Angelina Jolie. Nenhuma dessas pessoas é citada nos documentos divulgados. Após ser contatado pelo Estadão Verifica, o autor da postagem deletou a publicação e divulgou uma retratação.

No WhatsApp, outro vídeo com fotos de dezenas de celebridades é compartilhado junto de um áudio em inglês que as cita nominalmente. O conteúdo é acompanhado de uma legenda afirmando se tratar da “lista dos frequentadores da ilha de Epstein” e dizendo haver “pânico em escala mundial da esquerda globalista”. Isso remete à teoria da conspiração da “Nova Ordem Mundial”, que defende haver uma elite de esquerda tentando manipular os rumos da humanidade.

Entre as pessoas citadas neste conteúdo estão cantores como Beyoncé, Madonna e Mick Jagger. Diretores de cinema, como Steven Spielberg e Quentin Tarantino, também são mencionados, assim como atores como Meryl Streep, Jim Carrey e Will Smith. Nenhum desses nomes aparece nos documentos divulgados pela Justiça.

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Nomes de pessoas sem qualquer envolvimento no processo são citados junto de outros que aparecem nos documentos, como o caso do ex-presidente Bill Clinton. Os documentos contêm o depoimento de Johanna Sjoberg, uma das supostas vítimas de Epstein, que foi questionada se o milionário alguma vez teria falado sobre Clinton. A testemunha responde ter ouvido de Epstein que o ex-presidente gostava de meninas jovens, mas o político nunca foi acusado de qualquer irregularidade relacionada ao caso.

Documentos não trazem muitas novidades

Como noticiado pelo Estadão, os documentos liberados estavam em sigilo e integram uma ação judicial que cita depoimentos de mulheres que teriam sido vítimas do milionário entre a década de 1990 e o ano de 2008. Até agora, 191 dos 250 arquivos relacionados ao caso foram divulgados. Há previsão de liberação de um segundo lote nesta semana, mas não há sinais que essa nova remessa contenha novidades, uma vez que versões desses registros já haviam se tornado públicas ao longo dos anos.

Jeffrey Epstein foi acusado de abuso sexual de menores (Policía de Palm Beach via AP) 

O material divulgado na semana passada havia sido previamente selado e ocultava os nomes de mais de 100 vítimas, além de associados e amigos de Epstein, todos com a designação “J. Doe” (um termo usado para se referir a um indivíduo não identificado) junto de um número de identificação exclusivo. A juíza que supervisiona o caso, Loretta Preska, ordenou a divulgação do material na íntegra sob a alegação de que a maioria dos nomes já havia sido divulgada em outros processos ou em reportagens. Ou seja, muito do conteúdo já era de conhecimento público.

Os documentos foram originalmente apresentados como parte de um processo de difamação movido em 2015 por Virginia Giuffre, uma vítima de Epstein, contra a socialite britânica Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Epstein, condenada em 2021 por ser cúmplice dele. Ela está cumprindo uma sentença de 20 anos de prisão.

Ser citado nos documentos não indica que a pessoa esteja sendo acusada de envolvimento nos crimes atribuídos a Epstein, já que muitas pessoas são mencionadas apenas por terem conexões parciais com o milionário. Em alguns casos, nomes são citados apenas para dizer que as testemunhas negam ter informações.

O que se sabe até agora

Teorias da conspiração há anos rondam o caso envolvendo Jeffrey Epstein, principalmente as que tentam ligar celebridades e políticos ao milionário e as que sustentam que a morte dele na prisão não se deu por suicídio.

Ele apareceu na mídia em 2002, quando o então presidente Bill Clinton, o ator Kevin Spacey e o comediante Chris Tucker viajaram juntos para a África e o milionário foi apontado como o homem que providenciou o jato particular para a viagem.

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Poucos anos depois, em 2006, Epstein foi acusado de contratar adolescentes para massagens sexuais e cumpriu 13 meses de pena. Depois, junto com a namorada, Ghislaine Maxwell, continuou frequentando círculos influentes, até que a investigação contra ele foi reativada e Epstein foi acusado de tráfico sexual em 2019, sendo preso e suicidando-se na cadeia.

Muitos nomes começaram a ser mencionados sem provas após uma das vítimas, Virginia Giuffre, alegar ter tido encontros sexuais com bilionários, políticos, membros da realeza e chefes de estado. Ela chegou a identificar alguns deles, como, por exemplo, o príncipe Andrew do Reino Unido. As alegações dela sobre esse suposto encontro mudaram algumas vezes ao longo do tempo e o príncipe recusou conversar com a promotoria dos Estados Unidos sobre a acusação, negando-a publicamente.

A reportagem procurou via e-mail o autor do post no Instagram. Ele apagou a postagem com alegações falsas e publicou uma retratação, em que pediu desculpas por não ter checado as informações divulgadas. Não foi possível identificar a origem do conteúdo que circula no WhastApp.

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