Feito em parceria com o Projeto Comprova. Leia mais aqui.
Conteúdo investigado: Texto publicado em um site e compartilhado nas redes sociais afirma que a Organização Mundial da Saúde “admite que mães totalmente vacinadas estão dando à luz bebês com graves defeitos cardíacos”. De acordo com o conteúdo, a UK Health Security Agency abordou o assunto e sua possível relação com a vacina contra a covid-19.
Onde foi publicado: Telegram e em um site de internet.
Conclusão do Comprova: É falso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha admitido que mães “totalmente vacinadas” estão tendo filhos com “graves defeitos cardíacos”, diferentemente do que afirma publicação em site compartilhada no Telegram.
Não há qualquer evidência relacionando imunizantes a problemas cardíacos em recém-nascidos. O link com a fonte da “informação” colocado no início do texto leva para um outro site com texto, em inglês, intitulado “OMS alerta para aumento incomum de casos de miocardite grave entre recém-nascidos e bebês no Reino Unido”. Este dado, sim, é correto e pode ser conferido na página da OMS. O documento não faz qualquer menção a vacinas.
Sobre elas, inclusive, o texto desinformativo aqui verificado inicialmente não cita a quais vacinas a OMS estaria se referindo, mas, depois do quarto parágrafo, fala sobre a relação da miocardite com os imunizantes contra a covid-19.
De fato, a miocardite é um evento adverso que pode ocorrer em decorrência dessa imunização, como o Comprova já mostrou, e, embora o tema seja amplamente explorado por grupos antivacina – como o site aqui verificado –, a chance de a inflamação no músculo cardíaco ocorrer é muito mais baixa do que a de uma pessoa se infectar pela covid-19. Por isso, além da OMS, órgãos de saúde do mundo todo, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, a United Kingdom Health Security Agency (UKHSA), do Reino Unido, o Center for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, recomendam que mulheres grávidas se vacinem contra o novo coronavírus.
Contatada pelo Comprova, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que atua como escritório regional da OMS, reforçou que se trata de um conteúdo falso e que a vacinação “só faz bem, tanto para mães quanto para seus bebês e toda a família”.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 19 de julho, o conteúdo teve 7,7 mil visualizações no Telegram.
Como verificamos: A equipe fez buscas no Google com as palavras-chave “OMS”, “vacina”, “bebês” e “miocárdio”. Não foram encontrados estudos ou pesquisas publicadas pela OMS que citassem qualquer relação entre vacinas e os efeitos em bebês.
Também pesquisou publicações do governo do Reino Unido sobre o assunto. Foram encontrados comunicados por parte do governo inglês sobre monitoramento de reações a miocardite e pericardite após vacinação contra covid-19.
O Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa da OPAS para questionar a veracidade do conteúdo publicado e com o site que publicou a desinformação.
Miocardite, grávidas e vacinas
Ao Comprova, a OPAS afirmou que, de fato, a OMS foi notificada pelo governo do Reino Unido sobre o aumento de casos de miocardite grave em recém-nascidos, mas sem nenhuma relação com vacinas ou gestantes. Os casos são associados à infecção por enterovírus no País de Gales, entre junho de 2022 e abril de 2023.
O órgão, que atua como escritório regional da OMS, disse ainda que tanto a OPAS quanto a OMS recomendam “que as mulheres grávidas se vacinem com todas as doses necessárias e recomendadas – tanto as contra covid-19 e gripe quanto as de rotina do calendário nacional de vacinação – para que se protejam de doenças potencialmente mortais”.
De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), os enterovírus estão entre os agentes virais mais frequentemente relacionados a doenças em seres humanos. Fazem parte deste grupo mais de setenta tipos de vírus, que são transmitidos através da via fecal-oral, ou seja, quando uma pessoa ingere alimentos ou água com fezes contaminadas pelos vírus. Outra forma de contaminação é o compartilhamento de objetos infectados.
Alguns sintomas causados pelo enterovírus são dor de cabeça, febre, vômitos, dor de garganta, feridas na pele e úlceras dentro da boca. O diagnóstico é confirmado por exames laboratoriais, mas não há tratamento específico, mas a utilização de medicamentos que aliviam os sintomas.
O que diz o responsável pela publicação: Questionado sobre a fonte do texto, o site do Jornal Verdade Censurada, que publicou a desinformação, enviou um link de um portal conservador dos Estados Unidos e, mais tarde, outros links – nenhum comprova o que foi publicado por eles. Além disso, o site não respondeu se teria o documento da OMS citado na publicação.
O que podemos aprender com esta verificação: O post verificado mistura fatos com invenções, seguindo uma tática recorrente entre os desinformadores. Então, antes de acreditar no boato sem mesmo se informar sobre o assunto em sites de veículos de comunicação profissionais, devemos pensar se o conteúdo duvidoso faz sentido. Basta fazermos algumas perguntas para perceber que há algo errado na publicação. Se a OMS tivesse admitido que bebês estão nascendo com problemas por conta de suas mães vacinadas, isso não seria notícia em todos os veículos? Os órgãos de saúde do mundo todo continuariam incentivando grávidas a se vacinarem se crianças estivessem nascendo com alguma doença? Então, quando vir um conteúdo muito alarmista, como o verificado aqui, desconfie.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: Vacinas, principalmente as contra a covid-19, são temas frequentes das verificações do Comprova. Só neste ano, o projeto publicou, por exemplo, ser falso que elas foram proibidas e enganoso post de deputado que questiona a eficácia delas.
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