O que estão compartilhando: que a Organização das Nações Unidas (ONU) quer impor a agenda do “movimento gay” às religiões.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Postagens nas redes sociais distorcem um relatório apresentado na 53ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que ocorreu entre os dias 19 de junho e 14 de julho deste ano. O autor do relatório é Victor Madrigal-Borloz, especialista independente em orientação sexual e identidade de gênero. Ao contrário do que as publicações desinformativas afirmam, o estudo não diz que o movimento LGBT+ deve ser imposto às religiões sob risco de sofrerem sanções governamentais. Na realidade, a pesquisa explica o preconceito sofrido pela comunidade e expõe algumas recomendações para mitigar a discriminação.
Saiba mais: No relatório, Madrigal-Borloz explica que os países devem adotar medidas para erradicar a violência e a discriminação contra a população LGBT+. Segundo o especialista, governos, instituições religiosas e demais organizações se opõem a medidas contra a discriminação com a justificativa de que a diversidade viola princípios religiosos e/ou crenças socioculturais.
Ao final do relatório, o especialista faz algumas recomendações para combater a discriminação contra a comunidade LGBT+. Não há imposição de regras, diferentemente do que peças desinformativas afirmam. Dentre as sugestões, Madrigal-Borloz indica que países façam as reformas necessárias para garantir que a legislação e as políticas públicas estejam em conformidade com as normas dos direitos humanos, o que inclui o princípio da não-discriminação. Ele também recomenda que governos criem um ambiente seguro para todas as pessoas — incluindo LGBT+ — manifestarem sua religião ou crença sem medo da violência e do preconceito.
O pesquisador sugere ainda que os países não usem narrativas religiosas para justificar atos de violência motivados por orientação e identidade de gênero. Ele indica, ainda, que os governos investiguem os atos discriminatórios e assegurem a responsabilização dos autores. Não há menção a “imposição” por parte dos Estados de uma “agenda gay”.
Por fim, Madrigal-Borloz não restringe as recomendações apenas aos governos, como também aos líderes religiosos. Para eles, o estudioso solicita que não aceitem o incitamento à violência e discriminação contra a comunidade LGBT+. Ele pede que reconsiderem o “envolvimento institucional na perpetuação de leis que criminalizam intimidade entre pessoas do mesmo sexo e a identidade de gênero, em práticas de conversão e na tentativa de impedir indevidamente o reconhecimento legal da identidade de género com base na autoidentificação”.
O relatório, portanto, não é uma imposição aos países e às instituições religiosas. O documento também não obriga igrejas a se engajar com a luta pelos direitos LGBT+, sob risco de sofrerem sanções governamentais. Na verdade, o jurista Victor Madrigal-Borloz apenas explica o histórico de discriminação sofrido por indivíduos em razão de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero e recomenda algumas medidas para erradicar, ou, ao menos, mitigar o preconceito.
O mesmo boato também foi analisado pela Agência Lupa e Coletivo Bereia.
Como lidar com postagens do tipo: A pauta LGBT+ ainda é alvo de muito preconceito e, por isso, é recomendado ter atenção com postagens que sensacionalizem o assunto. Neste caso, o conteúdo distorce um relatório desenvolvido por um especialista em orientação sexual e identidade de gênero para fabricar uma mentira. Por conta disso, é importante pesquisar sobre o assunto antes de espalhar e confiar na alegação.
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