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Postagem usa IA para manipular vídeo do Fantástico e vender falso tratamento contra o diabetes

Suplemento anunciado em postagem no Facebook não tem autorização da Anvisa; empresa responsável pelo produto não respondeu à reportagem

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Atualização:

O que estão compartilhando: que o programa Fantástico, da TV Globo, teria exibido reportagem sobre ameaças da indústria farmacêutica contra o médico Lair Ribeiro. Ele teria divulgado um tratamento que ajuda no controle do diabetes, cuja fórmula teria sido aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O Fantástico não exibiu a reportagem indicada no vídeo do Facebook. A postagem utiliza recursos de inteligência artificial para simular a voz do apresentador Tadeu Schmidt, usando imagens de um programa que foi ao ar em 2020. A gravação também manipula a voz do médico.

Ao Verifica, a Anvisa informou que o produto anunciado no vídeo é um suplemento alimentar. De acordo com o órgão, o produto não foi avaliado nem autorizado pela agência. Suplementos alimentares não precisam de registro na Anvisa; apenas é feita a comunicação ao órgão de vigilância sanitária local onde o fabricante está situado.

A empresa responsável pelo produto não respondeu à reportagem.

Fantástico não exibiu nenhuma reportagem sobre o médico Lair Ribeiro estar sendo ameaçado pela indústria farmacêutica Foto: Reprodução

Saiba mais: A postagem verificada aqui utiliza a imagem do apresentador Tadeu Schmidt e do médico Lair Ribeiro, que já teve vídeos checados pelo Verifica, para vender um produto chamado New Glico. Na gravação, a voz que se passa por Lair diz que a fórmula é natural e contém em sua composição óleo de abacate americano com resveratrol concentrado. Ao final do vídeo, os usuários são orientados a clicar em um ícone escrito WhatsApp. O link direciona para uma conversa com um homem que vende o produto.

Em outubro de 2023, Ribeiro publicou no Instagram um vídeo que alerta a respeito de publicações que utilizam recursos de inteligência artificial para produzir recomendações falsas de produtos na área da saúde em nome dele. O alerta publicado pelo médico utiliza como exemplo uma postagem semelhante à que está sendo verificada aqui.

Suplemento promete controlar o diabetes

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Ruy Lyra, não há qualquer evidência da capacidade de controlar ou reverter o diabetes do óleo de abacate e do resveratrol (composto natural encontrado em uvas roxas que possui propriedades antioxidantes). Segundo o médico, é inadequado e grave prometer a cura do diabetes por meio de um produto que não tem nem evidência científica comprovada, nem indicação como medicamento para tratar o diabetes. Ainda não existe cura para a doença.

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Segundo Lyra, pacientes que acreditam em propagandas enganosas como essa correm o risco de ter uma descompensação glicêmica. Essas pessoas podem parar de tomar os medicamentos antidiabéticos e as consequências disso são complicações agudas e crônicas. “É muito grave, eu diria antiético, a venda de um medicamento que supostamente traria cura quando isso inexiste”, disse.

Lyra explicou que um medicamento tem que passar por estudos sérios que demonstrem sua eficácia na redução da glicose e sua segurança antes que possa ser recomendado para tratamento contra diabetes. “Não existe nada, absolutamente nada até o momento, que comprova uma perspectiva de benefício na glicemia tanto do abacate e seus compostos, como do resveratrol”, disse.

Produto não tem fabricação autorizada pela Anvisa

O Verifica identificou o site do produto anunciado na postagem verificada aqui. Logo no início da página, há a afirmação enganosa de que o produto tem fabricação autorizada pela Anvisa. O site também exibe duas versões da fórmula à venda, uma em cápsulas e outra em gotas. Nas duas embalagens, há a informação de que o produto é um suplemento alimentar de extrato de abacate e que a fórmula auxilia no controle do diabetes. Ao longo da página, o usuário encontra ícones em destaque escrito “quero eliminar a diabetes”, além de alegações de que o suplemento trata outros problemas de saúde.

Conforme informado pela Anvisa, suplementos alimentares estão dispensados de registro no órgão, portanto, não há autorização da agência para a fabricação do medicamento em questão. O órgão esclareceu que, para alimentos em geral, incluindo suplementos alimentares, não é permitida a realização de propagandas que alegam tratamento, prevenção ou cura de qualquer tipo de doença ou problema de saúde.

O Verifica tentou contato com representantes do produto pelo número de WhatsApp direcionado pela postagem no Facebook e por e-mail, mas não obteve resposta até a publicação desta verificação.

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