É falso que a atriz Fernanda Torres tenha declarado "torcer pelo coronavírus" e desejar a morte de "muita gente, principalmente quem elegeu Bolsonaro", ao contrário do que afirmam postagens no Facebook. Esses posts falsos fazem uma interpretação equivocada de um artigo da atriz publicado no jornal Folha de S. Paulo, no dia 22 de março. Um dos posts alcançou 3,2 mil compartilhamentos em pouco mais de duas semanas no Facebook.
As duas frases não constam no artigo "Ninguém sairá o mesmo desta quarentena", ao qual as postagens fazem referência. Nele, Fernanda Torres critica a participação do presidente Jair Bolsonaro em ato pró-governo, em 15 de março, contrariando orientações dos órgãos de saúde para evitar aglomerações; e o vídeo em que o bispo Edir Macedo diz aos fiéis que não se preocupem com a propagação do coronavírus, durante transmissão ao vivo em sua página do Facebook, no dia 11 daquele mês.
Em trecho do artigo, a autora escreve: "Torço para que o centro ressurja dessa emergência. E que o coronavírus, a exemplo da peste negra da Europa do século 14, venha abreviar o obscurantismo medieval travestido de liberal em que nos metemos". Ao contrário do que afirmam as peças de desinformação, a atriz não defende o avanço da doença sobre a população ou a morte de eleitores de Bolsonaro, mas o fim de posições que classifica como "obscurantistas" passada a crise de saúde.
Procurada pelo Estadão Verifica, a assessoria de Fernanda Torres reiterou que o conteúdo das postagens é falso e que o posicionamento da atriz consta em novo artigo publicado em 5 de abril, também na Folha de S. Paulo. "Em nenhum momento tratei a calamidade como algo benquisto", escreveu ela, que lamentou ainda xingamentos recebidos nas redes sociais por grupos "dedicados a agredir, distorcer e ameaçar online".
Declarações de artistas e questões relacionadas à cultura, como a Lei Rouanet, são alvos comuns de desinformação nas redes sociais. Recentemente, a pandemia de covid-19 impulsionou boato que alega ter faltado "dinheiro nos hospitais" porque a verba teria sido "desviada" para iniciativas culturais aprovadas por meio da lei de incentivo fiscal.
O site Boatos.org também publicou checagem sobre esse conteúdo, selecionado para análise por meio da parceria entre Estadão Verifica e Facebook. Para sugerir verificações, envie uma mensagem para (11) 99263-7900.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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