Não, presidente da Argentina não propôs eutanásia de idosos com mais de 70 anos

Conteúdo compartilhado no Facebook distorce afirmações feitas por Alberto Fernández em entrevista de 2020

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Foto do author Luciana Marschall

É falso que o presidente da Argentina, Alberto Fernández, tenha proposto “eutanásia generalizada” para idosos com mais de 70 anos. No Facebook, um vídeo de 53 segundos apresenta um trecho dele falando sobre as dificuldades enfrentadas pela economia frente à longevidade, ao explicar que as pessoas estão vivendo mais tempo e há menos gente trabalhando. As imagens são compartilhadas junto da seguinte afirmação: “o presidente da Argentina está propondo eutanásia generalizada para os idosos acima de 70 anos”. Em nenhum momento, entretanto, Fernández sugere que essas pessoas devam deixar de existir.

Fernández não citou a palavra "viejos" no vídeo compartilhado  Foto: Reprodução

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Há, ainda, no início do vídeo, uma legenda que leva a entender ser uma transcrição daquilo que Fernández está dizendo: “el mayor problema son los viejos (o maior problema são as pessoas idosas)”. Ela também é falsa. Na verdade, o Fernández diz que “el mayor problema que tiene la economía es cómo administrarse ante la salud y, eso, porque la búsqueda de la eternidad es ínsita al hombre (o maior problema para a economia é como administrar a saúde, isso porque a busca da eternidade é inerente ao homem)”. O argentino não utiliza o termo “viejos” e nem diz que eles são um problema.

O trecho utilizado na peça desinformativa foi retirado de uma entrevista concedida pelo presidente ao jornalista Jorge Fontevecchia, em abril de 2020, e publicada pelos veículos Perfil e NET TV. À época, o país mantinha quarentena para tentar conter a disseminação da covid-19 e o número de mortes.

A entrevista na íntegra também está disponível em duas partes (1 e 2) no canal oficial de Fernández no YouTube. O trecho utilizado no Facebook está na segunda parte e tem início aos 53 minutos e 32 segundos. Nele, o argentino diz que a medicina fornece cada vez mais recursos para que o homem viva por mais tempo, o que gera consequências econômicas. “Há 30 anos tínhamos que manter pessoas até os 70 anos de idade, agora temos que manter até os 85 e menos pessoas estão trabalhando”, afirma, explicando que isso gera um custo ao estado diante da menor contribuição e do maior número de pessoas recebendo pensões.

O conteúdo compartilhado nas redes sociais exclui um trecho seguinte, no qual o jornalista pergunta sobre a quarentena estabelecida na Argentina em meio à pandemia de covid-19. Fernández diz acreditar que para qualquer ser humano o valor da vida é a coisa mais importante que se tem.

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Lupa e Boatos.Org também verificaram conteúdos semelhantes, assim como a agência argentina Chequeado, que publicou duas checagens sobre a entrevista, uma em 2022 e outra em 2023.

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