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Post descontextualiza entrevista para dizer que primeira-dama de Canoas barrou doações a voluntários

Repórter da RBS entrou ao vivo para explicar que vítimas da chuva estavam indo a central logística buscar doações, mas o local não era destinado à distribuição, e sim à triagem de alimentos; trecho foi recortado

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Foto do author Clarissa Pacheco
Atualização:

Atualizado em 17 de maio com nota da da Prefeitura de Canoas

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O que estão espalhando: que a primeira-dama de Canoas (RS) proibiu a entrega de marmitas para voluntários que trabalham no socorro aos atingidos pelas chuvas no Rio Grande do Sul.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo usa um trecho da entrevista de uma bombeira voluntária ao repórter Arildo Palermo, da RBS, afiliada da TV Globo no Rio Grande do Sul, no dia 5 de maio. Ela diz que a primeira-dama de Canoas barrou a distribuição de doações no centro de logística da cidade, onde os alimentos passavam por triagem. Naquele local, os alimentos eram organizados para serem enviados a 56 abrigos, onde seriam distribuídos. Em momento algum o repórter ou a entrevistada afirmam que foi proibida a distribuição de marmitas para voluntários.

Entrevista da RBS foi cortada e vídeo viral omite trecho em que repórter explica que o local não era destinado à distribuição de doações, e sim de triagem. Foto: Reprodução/TikTok Foto: Reprodução/TikTok

Saiba mais: O trecho recortado e sem contexto foi retirado da edição de domingo, 5, do programa Ajuda Rio Grande, da RBS. No X, Tik Tok e Instagram, ele acumula mais de 200 mil visualizações. Leitores do Verifica também pediram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp, no número (11) 97683-7490.

Uma das publicações que usa o vídeo descontextualizado ainda inclui um comentário com diversas alegações já desmentidas pelo Verifica, como a de que os helicópteros do Exército foram proibidos de voar no Rio Grande do Sul e que, sem as autoridades, o trabalho estava sendo feito por empresários como Pablo Marçal e Luciano Hang.

Reportagem foi cortada

O repórter Arildo Palermo entra ao vivo a partir da Avenida Farroupilha, na cidade de Canoas, e a imagem mostra uma movimentação intensa de pessoas. Ele afirma: “Todas essas pessoas que o Roberto Melo está mostrando pra vocês no vídeo são pessoas que precisam de doações, pessoas que estão com fome atrás de doações aqui na cidade, muitas delas que foram resgatadas nos bairros mais atingidos aqui do município nas últimas horas. Esse é o ponto central logístico de doações aqui no município. A todo momento, chegam caminhões do Exército carregados de donativos e o pessoal passando também com bastante doações”.

Ele segue explicando que o local não é destinado à distribuição de doações, e sim à triagem delas, para que sejam distribuídas depois: “O que tá acontecendo aqui, gente, é um mal-entendido, porque muitas pessoas estão vindo até esse ponto achando que vão receber as doações diretamente. O que nós apuramos há pouco com a Prefeitura de Canoas é que esse ponto é de recebimento geral de doações, que depois serão organizados e entregues a escolas e outras instituições que precisam. O problema é que todas essas pessoas, eu reforço, elas estão com fome e elas precisam de doações”.

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Em nota, a Prefeitura de Canoas confirmou a fala do jornalista: “Em momento algum houve proibição da distribuição de doações para a população. Naquele local em questão, os alimentos são organizados e enviados para os abrigos e a Central de Entrega de Doações. A primeira-dama estava lá como voluntária auxiliando na logística das doações e na organização dos locais de distribuição”.

Nada disso aparece no vídeo viral, que começa a partir do momento em que o repórter diz que, após chegar um carro com cobertores, foi formada uma longa fila. Ele, então, passa a entrevistar uma mulher chamada Priscila, que é bombeira voluntária. Ela explica que a distribuição de doações estava sendo feita no local até as 16h, quando a primeira-dama interrompeu o trabalho.

Priscila recomenda, então, que as pessoas continuem doando, mas levem os donativos diretamente para os abrigos, e não para a central de logística, para que as vítimas possam receber comida ainda naquela noite, e não no dia seguinte, após a triagem:

“Estávamos fazendo a separação corretamente para destinar para as escolas, para os alojamentos e tudo, e começou a vir pequenos grupos com 20, 30 pessoas que estão alocadas em casas e começaram a pedir alimentos, e nós começamos também a distribuir para eles, e simplesmente fomos barrados. Hoje, às 16h, chegou a mulher do prefeito e nos barrou. Simplesmente proibiu a liberação de doações”, disse.

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Priscila garante que vai ficar no local para liberar comida para as pessoas, e pede que aqueles que estão levando doações até a central, se dirijam aos abrigos: “Então, o que eu peço? Continue doando. Eu estou postando nas redes sociais, continue fazendo doação. Mas, neste momento, já verifiquem os pontos que estão precisando, já levem diretamente pros alojamentos pra eles, porque, se vir diretamente pra cá, só vão começar a liberar amanhã”.

Ao final da entrevista, o repórter diz que a distribuição está sendo feita em 56 abrigos. “Aqui nesse espaço, na central logística de doações, por mais que as pessoas façam filas, infelizmente elas não vão conseguir sair com as doações”, concluiu.

Prefeito emitiu nota sobre doações

Três dias após a entrevista, a Prefeitura de Canoas inaugurou a Central de Entrega de Doações, na Avenida Getúlio Vargas, onde é feita a distribuição de alimentos não perecíveis e roupas todos os dias das 8h às 22h. Já o endereço onde a passagem ao vivo do último domingo foi feita, na Avenida Farroupilha, consta apenas como central de coletas, exclusiva para o recebimento de doações.

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Nas redes sociais da prefeitura e do prefeito, Jairo Jorge (PSD), as pessoas acusavam a gestão e a primeira-dama, Thais Pena, de reter as doações. Em sua conta pessoal do Instagram o prefeito divulgou uma nota afirmando que estava sendo alvo de fake news e disse que todos os abrigos também são pontos de coleta e distribuição de doações. O Verifica tentou contato com a prefeitura e com o prefeito para falar sobre as acusações contra a primeira-dama, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

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