Não, jovens poloneses não fizeram protesto por ‘se identificarem como cachorros’

Vídeo que mostra grupo ‘latindo’ foi filmado durante embate entre ativistas LGBT e organização católica

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Foto do author Gabriel Belic
Atualização:

Não é verdade que jovens que se “identificam como cachorros” tenham organizado um protesto na Polônia. Postagens nas redes sociais tiram de contexto um vídeo de 2020 de uma manifestação no país europeu contra uma lei anti-LGBT. No Facebook, postagens alegam que os ativistas “exigiam os seus direitos de viverem como cães”; uma das postagens faz comentários preconceituosos contra a população trans.

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Em setembro de 2020, de acordo com a imprensa da Polônia, integrantes do grupo católico “Cruzada dos Jovens” organizaram um evento no centro de Varsóvia, capital do país, em apoio à lei “Stop LGBT”. Os membros rezavam, distribuíam panfletos, solicitavam assinaturas a favor do projeto de lei e diziam lutar em defesa da família e da moralidade pública.

Durante a ação, os voluntários do grupo religioso tocavam gaita de foles quando foram abordados por jovens LGBT+, que começaram a latir na tentativa de abafar o som da música. Não foi a primeira vez que conservadores e manifestantes LGBT+ entraram em conflito na Polônia. Em agosto de 2020, nacionalistas poloneses e defensores dos direitos da comunidade LGBT+ se enfrentaram em frente à Universidade de Varsóvia.

Jovens poloneses não protestaram pelo direito de 'viver como cães' Foto: Arte/Estadão

O projeto “Stop LGBT” pretendia proibir a “propagação” do casamento entre pessoas do mesmo gênero, as Paradas do Orgulho e gestos públicos em apoio aos direitos da comunidade LGBT+. Krzysztof Kasprzak, um dos responsáveis por apresentar a lei, chegou a comparar o discurso a favor dos direitos LGBT+ ao nazismo e alegou que o movimento tentava “derrubar a ordem natural e introduzir o terror”.

A Polônia enfrenta uma série de dificuldades no avanço dos direitos das pessoas LGBT+. Em 2021, a Comissão Europeia entrou com uma ação legal contra a Polônia e a Hungria por “violação dos direitos fundamentais das pessoas LGBT”. Em 2019 e 2020, cerca de cem cidades e regiões se declararam como “zonas livres de LGBT”.

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Desinformação sobre trans

Pessoas transgênero são aquelas que se identificam com o gênero diferente daquele que lhe foi conferido no nascimento. Já pessoas cisgênero são aquelas que se identificam com o gênero atribuído ao nascer. As postagens checadas ironizam pessoas trans ao falar sobre jovens que se “identificam como cães”; com a viralização do vídeo, internautas compararam a situação mostrada no vídeo com “homens que se sentem mulheres”.

Postagens com desinformação sobre a população trans viralizaram depois que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) proferiu um discurso contra “homens que se sentem mulheres” no Dia Internacional da Mulher. Ele se tornou alvo de notícia-crime junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e o Ministério Público Federal pediu à Câmara dos Deputados que apure se ele cometeu transfobia.

O Estadão Verifica já desmentiu que a lutadora de MMA Gabi Garcia fosse trans. Também mostramos que postagens espalhavam um boato sobre a participação da primeira atleta trans a disputar as Olimpíadas e sobre uma nadadora trans dos Estados Unidos.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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