É falso que governadora de Pernambuco fingiu inaugurar obra concluída por Bolsonaro

As publicações distorcem vídeo de Raquel Lyra na Estação de Tratamento de Água Petrópolis, em Caruaru; obra é tocada pelo governo pernambucano e ainda não foi finalizada

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Atualização:

Feito em parceria com o Projeto Comprova. Saiba mais aqui.

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Conteúdo investigadoPublicação exibe vídeo da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), em uma aparente estação de tratamento de água. A tucana se mostra empolgada ao dizer que a água do Rio São Francisco chegou a Caruaru (PE). O post traz, além da filmagem, um comentário: “É sério que o PT está reinaugurando obras do Bolsonaro e dizendo que foram eles que terminaram?”.

Onde foi publicado: X e Telegram.

Conclusão do Comprova: É falso que o PT, à frente do governo federal, ou a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), tenham reinaugurado uma obra que supostamente teria sido concluída pela gestão de Jair Bolsonaro (PL), diferentemente do que alegam publicações nas redes sociais.

As postagens exibem um vídeo de Lyra gravado em 16 de dezembro de 2023 na Estação de Tratamento de Água (ETA) Petrópolis, em Caruaru, ao testemunhar a chegada da água do Rio São Francisco ao local a partir da Adutora do Agreste Pernambucano. Este empreendimento ainda está em construção e vai ligar municípios do interior do estado à estrutura de transposição do São Francisco.

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A Adutora do Agreste é uma obra do governo de Pernambuco executada pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). Ela conta também com aportes da União desde 2014. Atualmente, o empreendimento apresenta 79,40% de execução física.

O projeto original da Adutora do Agreste prevê que ela se conecte ao Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) a partir do chamado Ramal do Agreste, também em construção e de responsabilidade do governo federal.

No entanto, antes que esse ramal esteja concluído, o governo pernambucano e a Compesa viabilizaram como alternativa a Adutora de Moxotó, para já dar funcionalidade à Adutora do Agreste, ao captar água da Barragem do Moxotó, também incluída no sistema integrado da transposição do Rio São Francisco.

Obra mostrada no vídeo, Adutora do Agreste Pernambucano entrou em fase de teste operacional sob a gestão Lula. Foto: Reprodução

Em dezembro de 2023, um trecho da Adutora do Agreste entrou em fase de teste operacional ao captar água a partir da Adutora de Moxotó, de acordo com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), que gere os repasses da União ao empreendimento.

A ETA Petrópolis, em Caruaru, que já pertencia ao sistema de abastecimento de água da Compesa, passou a receber água nesta etapa de teste no último 10 de dezembro, seis dias antes da visita da governadora Raquel Lyra, conforme foi divulgado pela Compesa.

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A transposição do Rio São Francisco é alvo frequente de desinformação. Em outras ocasiões, o Comprova já explicou o caso da transposição e desmentiu conteúdos falsos e enganosos sobre o tema, principalmente em relação a quem seria o “dono” da obra. O projeto nasceu em 1985, saiu do papel apenas em 2007 e passou por diversas mãos ao longo dos anos.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, até o dia 21 de dezembro, a publicação tinha 734,6 mil visualizações, mil curtidas e 2 mil compartilhamentos. Na mesma data, um post semelhante em um canal do mesmo autor no Telegram tinha 10,1 mil visualizações.

Como verificamos: A primeira ação foi consultar o Google em busca por informações acerca do assunto. Após a procura por termos como “inauguração de obras em Pernambuco”, “obras inauguradas por Raquel Lyra”, “PT inaugura obras do governo de Bolsonaro” encontramos diversas notícias (G1Diário de PernambucoJC) sobre a obra que aparece no vídeo.

Também encontramos informações de sites oficiais dos governos federal e de Pernambuco, os quais esclarecem detalhes sobre a obra da Adutora do Agreste e da Estação de Tratamento de Água Petrópolis, ambas de responsabilidade da Companhia Pernambucana de Saneamento.

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O Comprova ainda tentou contato com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, do qual obteve retorno, com o governo de Pernambuco e com a página autora da postagem, que não responderam até esta publicação.

Adutora do Agreste passou por diferentes governos

A obra da Adutora do Agreste teve início em 2013, com a previsão de levar água do Rio São Francisco para ao menos 23 municípios do agreste e do sertão de Pernambuco que lidam com escassez hídrica.

A chamada primeira fase da adutora inclui cinco lotes, cada um com um percentual diferente de execução física até dezembro de 2023. São eles: lote 1 (79,2%), 2 (93,2%), 3 (89,4%), 4 (84,5%) e 5 (51,5%). Caruaru, cidade visitada pela governadora Raquel Lyra, está na intersecção entre os lotes 1, 4 e 5.

Os percentuais foram informados ao Comprova pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, segundo o qual o assentamento dos tubos da obra atingiu 88,11% neste mês.

“O avanço da Adutora do Agreste em 2023 foi a conclusão da Estação Elevatória de Água Bruta Ipojuca, a execução do ramal da Adutora do Agreste para a Estação de Tratamento de Água Petrópolis, em Caruaru, pela Compesa, e a execução dos testes, também pela Compesa, do trecho da Adutora do Agreste entre Belo Jardim e Caruaru. São ações reais e essenciais que não aparecem nas porcentagens de execução de contratos”, escreveu a pasta, em resposta ao Comprova.

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Visão geral do Sistema Adutor do Agreste. Foto: TCU/Divulgação

Também estarão integradas à Adutora do Agreste Pernambucano as adutoras do Moxotó e do Jatobá, ambas já concluídas, e o Sistema Adutor dos Poços de Tupanatinga, com 91,6% de execução física.

Até dezembro do ano passado, ainda sob gestão Jair Bolsonaro, a obra da Adutora do Agreste não havia avançado o bastante para levar água à ETA Petrópolis, também segundo o MIDR. Naquela altura, o lote 1 tinha 78% executados; o lote 2, 93%; o lote 3, 89%; o lote 4, 84%; e o lote 5, 51%.

Apesar de ser executada pela Compesa, uma empresa que tem como acionista majoritário o governo de Pernambuco, a construção da Adutora do Agreste também recebe recursos federais desde 2014.

Naquele ano, sob gestão Dilma Rousseff (PT), houve o maior valor empenhado (reservado no Orçamento federal) para a construção desde então, segundo dados do Portal da Transparência: R$ 236.553.000. Também foram garantidos recursos da União para a obra ao longo dos governos de Michel Temer (MDB), Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT).

Em 2023, a primeira fase da Adutora do Agreste foi incluída como uma prioridade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal vitrine da gestão Lula para a infraestrutura. A previsão atual é de que ela esteja concluída em dezembro de 2025. O Novo PAC também vai priorizar o financiamento de estudos para viabilizar uma segunda fase da adutora.

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O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato via e-mail com a página responsável pela postagem, mas não houve retorno até esta publicação. Não é a primeira vez que conteúdos veiculados pelo mesmo autor são investigados. Anteriormente, já foi verificado que policiais foram expulsos pelo MST de protesto em rodovia no PR, e não feitos reféns, bem como que vídeo de mulher com rosto de Lula e delegado parecido com Bolsonaro é uma sátira.

O que podemos aprender com esta verificação: As redes sociais são espaços muito utilizados para propagar peças de desinformação, sendo cada vez mais necessário manter a atenção e verificar a veracidade de conteúdos compartilhados nesses espaços. No caso de informações falsas como a destacada ao longo deste material, nota-se que uma rápida busca no Google levaria a conteúdos com os dados reais sobre o tema. Diante de um grande volume de informações compartilhadas nas redes, conferir a veracidade de certos conteúdos antes de repercuti-los pode ajudar a não propagar mais desinformação.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Projeto de Integração do Rio São Francisco e as obras integradas a ele são alvos frequentes de dúvidas e conteúdos de desinformação. Entre outras verificações, o Comprova já mostrou que Bolsonaro não concluiu 84% das obras da transposição, como alegava um vídeo, e que um trecho do Eixo Norte do projeto não foi fechado pelo governo Lula. Checagens recentes mostraram que o governo federal não bloqueou água do Nordeste e também não desligou bombas da transposição do Velho Chico.

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