É falso que Putin tenha falado em intervir nas eleições no Brasil

Vídeo tem legenda falsa colocada sobre discurso do mandatário russo para desinformar sobre o processo eleitoral

PUBLICIDADE

Por Flavio Lobo
Atualização:

É falso que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tenha dito que iria intervir nas eleições brasileiras. Um vídeo no Instagram coloca uma legenda falsa sobre um discurso do dirigente russo para parecer que ele disse que acompanha "várias denúncias de fraudes" feitas pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL). Na verdade, ele comemorava a participação do Brasil em um fórum de discussão internacional.

 

PUBLICIDADE

O trecho de fala exibido não menciona denúncias ou eleições nem contém a ameaça de intervenção que aparece na legenda. Especialistas no idioma russo consultados pelo Estadão Verifica - Irineu Franco Perpétuo e Francisco de Araújo, tradutores de literatura russa com trabalhos publicados pelas editoras 34, Todavia, Globo, Alfaguara, Carambaia e Jabuticaba - esclarecem que, na verdade, Putin agradece a participação do Brasil e do presidente Bolsonaro no Fórum Econômico de São Petersburgo. Uma tradução exata seria:

"O presidente Jair Bolsonaro vai conversar com empresários que são membros desses conselhos. Ressalto que o Brasil sempre esteve amplamente representado nos fóruns comerciais internacionais de São Petersburgo."

A publicação é um recorte de outro vídeo, que mostra um trecho maior dessa mesma fala de Putin, e que também tem uma legenda que falseia o que diz o presidente russo, checado pelo Aos Fatos. As duas postagens utilizam vídeo de discurso feito por Putin em fevereiro de 2022 ao dar boas-vindas a Bolsonaro na visita do presidente brasileiro à Rússia. A íntegra dos discursos dos dois chefes de Estado, traduzidos para o inglês, está disponível em site oficial do governo russo.

Publicidade

A visita de Bolsonaro à Rússia

A visita aconteceu em meio à escalada das tensões que resultaram, no dia 20 de fevereiro, na invasão de territórios ucranianos por forças russas, que marcou o início da guerra que se prolonga até hoje. A confirmação e realização da visita presidencial naquele contexto - iniciativa vista como inoportuna por integrantes do próprio governo brasileiro e diplomatas do Itamaraty, por sinalizar apoio mútuo entre os dois chefes de Estado num momento em que se acirrava a oposição internacional à Rússia - foi uma decisão de Bolsonaro interpretada por analistas e veículos de imprensa e como tentativa de se mostrar atuante e prestigiado no cenário global.

Outro fator que pode ter pesado na decisão de manter, apesar das circunstâncias, aquela viagem presidencial - que também incluiu a Hungria - foram, segundo analistas, as imagens de líderes fortes e autoritários associadas tanto a Putin quanto ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. A proximidade em relação a essas lideranças poderia, segundo essa análise, animar a base bolsonarista e render trunfos eleitorais para o presidente.

Durante a visita de Bolsonaro à Rússia e nos dias seguintes, chegaram a circular, nas redes sociais, publicações dizendo que o presidente brasileiro teria evitado a guerra convencendo Putin a não invadir a Ucrânia - desinformação desbancada pelo Estadão Verifica em 17 de fevereiro, três dias antes do começo da guerra.

Publicidade

Sistema de votação e totalização de votos tem segurança atestada

A confiabilidade dos resultados das eleições deste ano no Brasil foi atestada e reconhecida por instituições e observadores nacionais e internacionais, entre as quais se destacam a própria Justiça Eleitoral, as presidências da Câmara e do Senado, Tribunal de Contas da União (TCU), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização dos Estados Americanos (OEA). E o relatório das Forças Armadas - muito aguardado por apoiadores do presidente, conforme demonstra a difusão de publicações sobre o assunto nas redes sociais -, finalmente apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral no dia 9 de novembro, demonstra que os militares não encontraram nenhuma fraude, erro ou problema que pudesse pôr em dúvida a lisura e precisão do processo e dos resultados eleitorais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.