Quantidade de arsênio encontrada no arroz é insignificante e não faz mal à saúde

Vídeo faz alerta sobre presença de metal em arroz integral, mas não explica que concentração não é alta o suficiente para fazer mal; autor do conteúdo afirmou que não tinha intenção de desestimular consumo do alimento

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Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo que desaconselha o consumo de arroz integral, dentre outros motivos, pelo fato dele ter uma concentração maior de arsênio, um metal pesado considerado tóxico, do que o arroz branco.

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O Estadão Verifica apurou e concluiu que: falta contexto. A quantidade de arsênio no arroz branco e no arroz integral é muito baixa e o consumo não faz mal à saúde. Amostras dos dois tipos de arroz monitoradas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentaram quantidades de arsênio dentro do limite determinado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mostrando que ambos podem ser consumidos sem danos. Especialistas ouvidos pelo Estadão Verifica explicam que o arroz integral não é tóxico e é indicado para pessoas que têm diabetes, que têm o intestino preso e que estão em processo de emagrecimento.

Procurado, o autor do conteúdo disse que a intenção do vídeo não era desestimular o consumo de arroz integral pela população.

O fato de o arroz integral ter maior concentração de arsênio não significa que ele seja prejudicial à saúde. Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: Circula nas redes sociais um vídeo de um homem listando as razões pelas quais ele opta pelo arroz branco, ao invés, do integral. Ele diz que o primeiro motivo é a presença de metais pesados: “o arroz integral acumula muito mais arsênio, que é extremamente tóxico aos humanos, do que o arroz branco, por causa da camada extra que fica no grão”, afirma ele.

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O vídeo não deixa claro que o arsênio encontrado no arroz integral não tem quantidade suficiente para fazer mal à saúde.

Quantidade permitida de arsênio no arroz é muito pequena

A Anvisa confirma que é possível encontrar arsênio em quantidades muito pequenas no arroz consumido no Brasil. O metal é considerado um contaminante, que por definição é qualquer substância adicionada não intencionalmente aos alimentos.

A agência explicou ao Verifica que a presença do metal pode ocorrer em diferentes etapas de produção (industrialização, processamento, preparação, tratamento, embalagem, transporte ou armazenamento) ou como resultado de contaminação ambiental. Vale destacar ainda que o arsênio é uma substância que ocorre naturalmente na água, solo e rochas.

Diante do fato de que o arsênio estará presente no arroz é que foi determinado um limite máximo tolerado (LMT).”Os limites são estabelecidos com base nas informações toxicológicas e em avaliações de risco, de forma que a ingestão do alimento não atinja quantidades do contaminante que possam acarretar danos à saúde”, explicou a Anvisa.

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No Brasil, o LMT do arroz branco é 0,20 mg de arsênio inorgânico para cada quilo e 0,35 mg de arsênio inorgânico para cada quilo de arroz integral.

Arsênio no arroz está dentro do limite

O Ministério da Agricultura e Pecuária frequentemente monitora a presença do arsênio no arroz, por meio do Programa Nacional de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal (PNCRC/Vegetal). “De acordo com os últimos dados, o índice de conformidade em arroz polido é de 98,5% e no arroz integral é de 100,0%. Ou seja, todas as amostras analisadas apresentaram detecção de arsênio abaixo do LMT determinado para arsênio em arroz pela Anvisa”, explicou o ministério.

O professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC Bruno Lemos Batista explica que os valores de concentrações máximas em alimentos são revisados e discutidos periodicamente entre os países do mundo ligados à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-OMS). No País, a legislação que regulamenta a presença de contaminantes em alimentos é a Resolução RDC 722/2022 e a Instrução Normativa 160/2022.

O professor avalia que as normas brasileiras em curso garantem que as concentrações de contaminantes que são detectadas nos grãos, dentre eles o arroz, não oferecem um risco importante à população. Ele é um dos autores do artigo científico Arsênio e arroz: Toxicidade, metabolismo e segurança alimentar e disse desconhecer a existência de estudo que coloque em xeque o arroz integral.

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“Não existe dizer que um arroz é mais tóxico que outro arroz”, explica. “O fato de conter mais ou menos uma substância potencialmente tóxica não quer dizer que necessariamente ela será absorvida, entrará na corrente sanguínea e exercerá seus efeitos”.

Quais são os benefícios do arroz integral

A professora do Departamento de Nutrição Básica e Experimental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Denise Bouts avalia que o vídeo alvo desta checagem pode assustar as pessoas que estejam buscando se alimentar melhor.

Ela explica que o arroz integral tem fibras dietéticas, que o arroz branco não tem, e que isso pode ser benéfico para alguns grupos populacionais. Como, por exemplo, os diabéticos, porque certas fibras podem ajudar a diminuir a absorção de glicose; as pessoas que têm intestino preso, porque as fibras ajudam a regular o trânsito intestinal; e os que estão em um processo de emagrecimento, porque as fibras dão maior saciedade.

A professora reconhece que a presença do arsênio no arroz pode impressionar as pessoas, mas lembra que outros alimentos também apresentam metais pesados e continuam tendo benefícios. Ela cita como exemplo o chocolate com maior teor de cacau. “Ele costuma estar contaminado com cádmio, mas o cacau é bom para saúde, porque tem substâncias antioxidantes que ajudam a prevenir várias doenças”, explicou. “Temos que usar o bom senso. Pois se formos radicais, não comeremos quase nada”.

Em resposta ao Verifica, o autor do conteúdo afirmou que a proposta do vídeo era compartilhar motivos pelos quais ele prefere o arroz branco ao integral. “As pessoas que façam o que acharem melhor de acordo com seu estado de saúde e as informações que tiverem em mãos”, disse.

Como lidar com posts do tipo: Não há uma regra universal sobre alimentação que funcione para todas as pessoas. O que dá certo para um influenciador que divulga dicas na internet, não necessariamente será eficaz para você. Se uma informação disseminada por uma pessoa que você acompanha nas redes sociais parecer alarmante veja se outras fontes, como veículos profissionais de imprensa e sites governamentais, também estão falando sobre o assunto.

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