Dados sobre queda da fome no Brasil são reais e foram repassados pela ONU ao governo federal

Vídeo desinforma ao alegar que Secom inventou que 14,7 milhões de pessoas deixaram insegurança alimentar severa; número é verdadeiro

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Foto do author Luciana Marschall
Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo em que um homem alega que a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) publicou desinformação ao divulgar que quase 15 milhões de pessoas deixaram de passar fome no Brasil. O número não apareceria em relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso porque o governo federal não inventou que 14,7 milhões de pessoas deixaram a insegurança alimentar severa em 2023. O dado não consta no relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo, conhecido como Mapa da Fome, da ONU, mas foi repassado ao governo pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). A entidade confirmou ao Estadão Verifica que o número é real e que compartilhou a informação. O dado é baseado em estimativas anuais que a FAO não disponibiliza publicamente.

Procurado, o autor do vídeo, o influenciador Ed Raposo, declarou ter decidido apagar o conteúdo diante do que considerou uma dúvida. Para ele, a FAO ter passado o dado para o governo brasileiro não o torna absolutamente verdadeiro. Até a publicação desta checagem, o vídeo continuava no ar na conta dele no X (antigo Twitter).

Os dados existem e foram repassados pela FAO ao governo federal. Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: Na manhã de 24 de julho, a Secom publicou um texto informando que a insegurança alimentar severa caiu 85% no Brasil em 2023. Em números absolutos, informou o governo, 14,7 milhões deixaram de passar fome no País. Conforme a publicação, em 2022 a insegurança alimentar severa atingia 17,2 milhões de brasileiros, enquanto no ano passado eram 2,5 milhões. Percentualmente, a queda foi de 8% para 1,2% da população. Segundo a metodologia da FAO, é classificada como insegurança alimentar severa quando a pessoa está de fato sem acesso a alimentos e passa um dia inteiro ou mais sem comer.

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A divulgação ocorreu na mesma manhã em que foi lançado o relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo, durante reunião ministerial da Força-Tarefa do G20 para uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, no Rio de Janeiro.

Sobre o relatório, especificamente, a publicação da Secom destaca que o documento mostra que a insegurança alimentar severa caiu de 8,5% no triênio 2020-2022 para 6,6% no período 2021-2023. Isso corresponde a uma redução de 18,3 milhões para 14,3 milhões de brasileiros nesse grau de insegurança alimentar.

No ano passado, o governo havia informado que a insegurança severa era de 9,9% no triênio anterior. Ao Verifica, a Secom explicou que em 2024 o percentual foi ajustado de forma retroativa pela FAO para 8,5%. “A Organização refaz a série histórica de dados a cada ano para incorporar informações mais recentes recebidas dos países, o que pode levar à revisão de números anteriores conforme novas observações se tornam disponíveis”, explicou o órgão.

No dia 26 de julho, a Secom atualizou o conteúdo para incluir a informação de que os dados extraídos do relatório da ONU não são publicados em separado, com recorte anual, e que a FAO, excepcionalmente, informou os números individualizados de 2023 ao governo federal brasileiro. Na primeira versão (arquivada aqui) não havia essa explicação.

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A FAO confirmou essa informação ao Verifica, acrescentando que ela é baseada em estimativas anuais que a entidade não publica. Segundo a instituição, o motivo é a incerteza que surge da variabilidade da amostragem.

O mesmo é dito pelo representante da FAO no Brasil, Jorge Meza, em um vídeo que foi publicado no YouTube. Ele acrescenta que os números relativos à fome e à segurança alimentar continuam estagnados no mundo, o que pede mais ações e investimento, mas que boas notícias ocorrem na América Latina, inclusive do Brasil, que, como um todo, teve 5,4 milhões de pessoas a menos passando fome em 2023 em comparação com 2021.

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