O que estão compartilhando: que, por culpa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, produtores de cebola estão tendo que descartar a produção, já que o baixo preço de venda aos mercados não compensa o custo da produção. Segundo o homem que narra o vídeo, mas não aparece nas imagens, o quilo da cebola está sendo vendido pelos produtores por R$ 0,20 aos mercados.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Diversos vídeos têm circulado nas redes sociais no mês de novembro e virado notícia em sites locais e mídias especializadas, mostrando o descarte de milhares de sacas de cebola por produtores. O motivo do descarte é o baixo preço de venda do produto aos mercados, que não chega a cobrir os custos de logística.
É verdade que o preço da cebola vem caindo e o descarte também é real. No entanto, a queda no preço do hortifrúti não é provocada pela atuação do governo, e sim pela alta oferta de cebola no mercado. Com excesso de produto, os preços caem e a operação de venda não compensa para os produtores, que acabam jogando a cebola fora.
Apesar do movimento de queda, que vem sendo percebido há cinco meses, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o preço não é o mesmo em todos os lugares. Na semana de 22 de novembro, a saca de 20 kg de cebola mais cara do Brasil era vendida em São Paulo, capital (R$ 34,50 pela cebola amarela híbrida - cerrado), enquanto a mais barata era a dos produtores da região de Mossoró (RN), que vendiam a saca de 20 kg por R$ 9.
Saiba mais: Jogar cebola – ou outros produtos – fora por conta do baixo preço de venda não é uma estratégia nova, nem ocorre exclusivamente no atual governo. Uma busca por notícias de descarte de cebola no Google mostra que produtores já fizeram o mesmo pelo menos em 2017, 2018 e 2020, sempre motivados pelo baixo preço de venda.
O Verifica não conseguiu identificar em que local foi feito o vídeo investigado agora, mas é possível perceber que o plantio é feito com irrigação, já que há equipamentos utilizados neste tipo de lavoura ao fundo das imagens. No Brasil, segundo a Embrapa, quase toda a cebola é cultivada com irrigação, exceto na região Sul do País.
Por que o preço da cebola caiu?
Desta vez, o excesso de cebola – e a consequente queda no preço – foi um efeito do bom resultado do primeiro semestre. Na primeira metade do ano, especialmente entre os meses de maio e junho, a cebola amarela híbrida era vendida na casa dos R$ 90 a saca de 20 kg. Em junho, por exemplo, o quilo na região de Irecê (BA) saía por até R$ 4,79, com a saca de 20 kg sendo comercializada a R$ 95,91.
Em maio, os produtores do Triângulo Mineiro vendiam o quilo da cebola a R$ 4,36. Em Cristalina (GO), o quilo foi vendido entre maio e junho por até R$ 4,71, uma alta de 107% em relação ao mesmo período de 2023, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP (CEPEA Esalq/USP).
De acordo com a Conab, os preços elevados conseguidos pelos produtores no primeiro semestre animaram os produtores. “Os altos preços praticados no primeiro semestre acabaram por incentivar o plantio abundante para o segundo semestre, o que se configurou em excesso de oferta que está a causar prejuízos a diversos produtores, inclusive com os menores a saírem da atividade. Com isso, para os próximos ciclos, poderá ocorrer redução da área plantada e, assim, restrição da oferta de cebola, que resultará novamente em aumento grande de preços”, diz a Conab.
A Companhia acrescenta ainda que, com o término das chuvas, a partir de julho e agosto, as condições climáticas ainda contribuíram para acelerar a produção de Minas e Goiás. “Ganhos de produtividade ocorreram também no Nordeste e em São Paulo, aumentando a oferta em relação ao início do ano e derrubando os preços”, completa a nota.
Atualmente, a mesma saca de 20 kg cebola amarela híbrida, que era vendida a R$ 95,91 em Irecê, está saindo por R$ 16, ou seja R$ 0,80; a do Triângulo Mineiro custa R$ 12,50, ou R$ 0,62 o quilo; e a mais barata é vendida em Mossoró, no Rio Grande do Norte, por apenas R$ 9 a saca de 20 kg – R$ 0,45 por quilo. Segundo o CEPEA Esalq/USP, o que fez o preço da cebola cair no Nordeste foi justamente o excesso de produtos.
O pico da produção foi em setembro e os produtores do Vale do São Francisco e de Irecê seguem com dificuldades de vender as cebolas colhidas, já que o Centro-Sul do Brasil está sendo abastecido pela produção de São Paulo, Minas e Goiás, enquanto o Rio Grande do Norte consegue distribuir cebola para Fortaleza (CE) e Natal (RN).
No último domingo, 24, um produtor do município baiano de João Dourado, na região de Irecê, disse ao Globo Rural que havia descartado 17 mil sacas de cebola no início de novembro. O principal motivo foi a forte queda do preço. Ele disse que, no primeiro semestre, só aquela região tinha cebolas disponíveis, o que fez com que muitas pessoas resolvessem plantar o hortifrúti. Agora, há cebolas demais e o preço despencou, fazendo com que o valor de venda não compense.
O que o governo pode fazer?
Em vídeos que circulam na internet, produtores dizem que o preço da cebola, hoje, não paga sequer os custos da produção, causando prejuízos, sobretudo para o pagamento dos insumos necessários ao plantio e à colheita. De acordo com a Conab, o governo federal vem tentando diminuir os problemas para os produtores afetados.
Uma das medidas foi incluir a cebola na lista dos produtos que contam com o bônus de desconto no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O bônus do mês de novembro começou a valer no dia 10 e segue até o próximo dia 9 de dezembro, e indica o percentual de desconto a ser concedido nas operações e parcelas de crédito rural que serão objeto de pagamento ou amortização.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.