Responsável por transporte de urnas não é ex-vereador petista; modelo mostrado em vídeo não foi usado em SP

Carregamento de urnas de São Paulo para Brasília estava agendado e não tem relação com fala de presidente do PL sobre anulação de votos; unidades de modelo antigo do equipamento serão descartadas

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Por Luciana Marschall

É falso que o transporte de urnas eletrônicas registrado em vídeo em São Paulo, neste domingo, 20, tenha sido feito por empresa de um ex-vereador do PT, conforme divulgado por diferentes contas nas redes sociais. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) o deslocamento dos equipamentos de votação estava programado e não teve relação com a fala de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, sobre tentar invalidar votos registrados em urnas produzidas antes de 2020. As urnas mostradas na filmagem são do modelo 2009, não foram utilizadas nestas eleições em São Paulo e serão descartadas, segundo o TRE-SP.

 

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Ao menos três vídeos circulam amplamente em diferentes plataformas mostrando caixas com urnas sendo carregadas em caminhões baú. Em um deles, o autor da gravação mostra um prédio do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), localizado na rua Libero Badaró, no centro histórico da Capital paulista. Pelas janelas, são visíveis caixas empilhadas em diferentes andares e o responsável pelo vídeo afirma se tratarem de urnas eletrônicas.

Ainda filmando o prédio e caminhões estacionados na rua, ele acrescenta que o transporte das urnas foi iniciado após divulgação de vídeo de Valdemar Costa Neto, dando a entender que o movimento é suspeito. Em outro vídeo, ele grava um caminhão estacionado na rua sendo abastecido com caixas e é possível ver estampado nelas o modelo da urna, de 2009.

Inscrição em caixa indica modelo da urna  

O TRE-SP informou que estas urnas sequer foram utilizadas nas eleições no Estado. Além disso, o transporte já estava programado para este domingo. Uma leva de unidades havia sido transportada no dia 13 de novembro e há uma terceira agendada para o próximo dia 27. Segundo o órgão, o trabalho tem ocorrido aos domingos, mediante autorização da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), porque na região do prédio há restrição de circulação de caminhões durante dias úteis.

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As urnas estão sendo encaminhadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que seja realizada baixa patrimonial e descarte dos equipamentos. Ao todo, 24.445 unidades do modelo 2009 deverão passar pelo procedimento. "O descarte dessas urnas, que não foram utilizadas nestas eleições, somente foi possível em razão do recebimento pelo TRE de 44.880 urnas novas, modelo 2020", informou o tribunal.

Conforme o TSE, das 577.125 urnas eletrônicas utilizadas nas eleições deste ano, 73.284 são equipamentos do modelo 2009, que foram disponibilizadas em apenas alguns estados. São Paulo não utilizou o modelo de urna. Apesar de apresentarem algumas diferenças entre si, todas as versões rodam com o mesmo programa e passaram por testes de segurança.

Dono de transportadora é homônimo de filiado ao PT

Após os vídeos e algumas fotos circularem nas redes sociais, a partir da placa de um dos caminhões, usuários da internet chegaram à Transportadora ATA Ltda, cujo nome fantasia é MC Transporte e o dono é o empresário José Carlos Borges dos Santos, residente em Brasília, no Distrito Federal. Sem checar os detalhes, estas pessoas identificaram um homônimo do empresário, que foi vereador pelo PT no município de Casa Nova, na Bahia, e candidato à reeleição em 2020, quando não se elegeu.

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A partir disso, os dados do petista foram compartilhados associados aos da empresa de transporte com a alegação de que as urnas estavam sendo transportadas por alguém ligado ao partido que venceu a eleição para a Presidência, levantando a suspeita de haver alguma irregularidade no processo.

O ex-vereador possui um blog onde foi postado um esclarecimento sobre o caso. Ele relatou ter sido surpreendido com ligações tentando confirmar uma das postagens feitas no Twitter que o identificava como sócio administrador da transportadora, o que nega ser: "não tenho transportadora, não sou sócio de nenhuma empresa, a parte que aparece do CPF no documento não é o meu", declarou.

De fato, os números visíveis do CPF que aparecem em algumas das publicações correspondem ao documento de empresário José Carlos, morador de Brasília. Os mesmos números visíveis nas publicações falsas correspondem aos disponibilizados na ferramenta CruzaGrafos, que apresenta os dados referentes à transportadora.

O verdadeiro dono da empresa se pronunciou em vídeo que está sendo compartilhado também nas redes sociais. Na gravação, ele esclarece que as urnas estavam sendo transportadas de São Paulo para o TSE, em Brasília, e que a empresa da qual é dono venceu licitação do tribunal há quatro anos, realizando, desde então, transporte de urnas entre capitais do País.

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O Estadão Verifica entrou em contato por telefone com o empresário no início da tarde desta segunda-feira, 21, e ele se comprometeu a conversar com a reportagem à noite.

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