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Checamos a sabatina do ‘Estadão’ com Ricardo Nunes; veja o resultado

Candidato do MDB errou dados sobre pesquisas eleitorais, ônibus elétricos, plantio de árvores e tarifa de ônibus

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Foto do author Clarissa Pacheco
Foto do author Gabriel Belic
Foto do author Luciana Marschall
Atualização:

O candidato à Prefeitura de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) participou nesta quinta-feira, 12, de sabatina do Estadão. O Estadão Verifica, núcleo de checagem de fatos do jornal, analisou as alegações feitas pelo atual prefeito. Foram consideradas apenas afirmações factuais, como números, datas, comparações de grandeza e outras. Após a apuração, atribuímos as etiquetas “falso”, “enganoso”, “exagerado”, “subestimado”, “impreciso”, “falta contexto” e “verdadeiro”.

A assessoria do candidato foi procurada, mas não respondeu até a publicação da checagem. Veja o resultado abaixo.

Ricardo Nunes (MDB) em sabatina do Estadão. Foto: Werther Santana/Estadão

Rejeição em pesquisas

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O que Nunes disse: que tem conseguido manter a liderança nas pesquisas e a rejeição baixa. Ele acrescentou que Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) têm rejeição altíssima.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é impreciso. Nunes aparece numericamente à frente na pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira, 11. No entanto, considerando a margem de erro, o atual prefeito está em empate técnico com Boulos e Marçal. A pesquisa Datafolha divulgada no dia 5, a última antes da entrevista, também indicava empate técnico entre os três primeiros candidatos, com Nunes em segundo lugar. Quanto à rejeição, é verdade que Boulos, Marçal e Datena são mais rejeitados do que Nunes.

Ônibus elétricos

O que Nunes disse: que um ônibus a diesel custa R$ 700 mil, e um ônibus elétrico custa R$ 2,4 milhão. O custo mensal do coletivo a diesel é de R$ 25 mil por mês, enquanto o do elétrico será R$ 5 mil – o que geraria uma economia mensal de R$ 20 mil.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é impreciso. De acordo com reportagem do Estadão, um ônibus elétrico custa na faixa de R$ 2,5 milhões a R$ 3 milhões. O próprio prefeito já mencionou o valor de R$ 2,5 milhões para o ônibus elétrico anteriormente, durante uma conferência de ação climática em Buenos Aires, na Argentina, em 2022. A versão a diesel, de fato, custa entre R$ 700 mil a R$ 900 mil.

Plantio de árvores

O que Nunes disse: que São Paulo tem 600 mil árvores plantadas, e que, somente no ano passado, foram plantadas 80 mil.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é exagerado. De fato, a cidade de São Paulo tem mais de 600 mil árvores. No entanto, de acordo com a Planilha de Plantio de 2023, disponibilizada pela Divisão de Arborização Urbana (DAU), o plantio de árvores realizado no ano passado foi de 61.680.

Casas em área de risco

O que Nunes disse: que hoje há 14 mil casas em área de risco em São Paulo.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é subestimado. Um levantamento da Agência Pública, publicado em janeiro deste ano, apontou que o município de São Paulo tem 185.634 moradias em áreas com risco de deslizamento de terra ou solapamentos. Uma reportagem do g1, com dados de monitoramento da Defesa Civil Municipal, indica que a capital teve um crescimento de 7,2% no número de moradias em áreas de risco entre maio de 2023 e o início de junho de 2024, com 14.840 novas unidades habitacionais nessa situação. Ao todo, são 219.700 moradias em risco.

Acordo do Campo de Marte

O que Nunes disse: que, quando Jair Bolsonaro (PL) era presidente, o prefeito conseguiu fechar o acordo referente à área do Acordo Campo de Marte, em troca de zerar a dívida que a cidade tinha com a União, de R$ 25 bilhões.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. A dívida da prefeitura de São Paulo com a União realmente era de R$ 25 bilhões quando Nunes e Bolsonaro assinaram um acordo envolvendo o aeroporto Campo de Marte. Havia uma disputa judicial sobre a área desde 1958, quando a prefeitura ajuizou uma ação para retomar a área e obter uma indenização. Mas a prefeitura acabou “perdendo” R$ 24 bilhões, já que a dívida da União por usar a área sem pagar nada ao município chegava a R$ 49 bilhões, como mostrou o Estadão.

UPBus

O que Nunes disse: que foi ele quem fez a intervenção na UPBus, em que a prefeitura assumiu a administração da empresa.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: falta contexto. A intervenção nas empresas UPBus e Transwolff pela prefeitura aconteceu após determinação da Justiça. A UPBus e a Transwolff foram alvo de operação do Ministério Público em abril. O órgão investiga um esquema de lavagem de dinheiro do PCC por meio das empresas.

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Congelamento das tarifas

O que Ricardo Nunes disse: que ele é o prefeito que manteve a tarifa de ônibus congelada por mais tempo: quatro anos.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: falta contexto. O período em que a tarifa de ônibus permaneceu por mais tempo no mesmo preço foi entre 1º de agosto de 1947 e 1º de outubro de 1953. Foram 2.253 dias sem aumentos, até que o bilhete passou de Cr$ 1,00 para Cr$ 1,50. Porém, nesse período, oito prefeitos comandaram a cidade.

Atualmente, a tarifa está congelada há 1.716 dias, desde 1º de janeiro de 2020. Portanto, uma parte do “congelamento” a que Nunes se refere é de responsabilidade da gestão anterior, de Bruno Covas. O atual prefeito está há três anos e quatro meses no cargo.

Antes de Nunes, o prefeito que manteve a tarifa por mais tempo congelada foi Gilberto Kassab (PSD), por 1.131 dias. O preço ficou em R$ 2,30 de novembro de 2006 a janeiro de 2010, quando subiu para R$ 2,70. Os dados são do site da SPTrans.

Fiscais de posturas

O que Nunes disse: que contratou 230 fiscais de posturas, funcionário público que fiscaliza o cumprimento de normas municipais.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é exagerado. Em maio de 2023, a Prefeitura de São Paulo publicou o edital do concurso para o cargo de fiscal de posturas municipais, com 175 vagas. De acordo com o site Brasil de Fato, a vez anterior que o concurso foi aberto para o cargo foi em 2002, durante a gestão de Marta Suplicy (PT).

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Investimentos

O que Nunes disse: que neste ano haverá R$ 18 bilhões para investimentos; no ano passado, foram R$ 14 bilhões; no retrasado, R$ 8,5 bilhões.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo informou ao Estadão Verifica que a previsão total de investimentos para 2024 é de R$ 15,4 bilhões, valor recorde na história da cidade de São Paulo. Antes disso, em 2023, foram investidos R$ 12,7 bilhões; em 2022 foram R$ 5,3 bilhões; e em 2021 foram R$ 3,3 bilhões.

O que Nunes disse: que na gestão dele não houve e não haverá nenhum tipo de dificuldade no acesso ao aborto legal.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Em dezembro de 2023, a Prefeitura de São Paulo suspendeu a realização de abortos legais no Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, unidade de referência para o serviço e que fazia o procedimento há cerca de 30 anos. Na entrevista ao Estadão, Nunes justificou que transferiu o serviço para outras unidades porque precisava fazer cirurgias de endometriose.

Em janeiro deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) obrigou que a Prefeitura voltasse a oferecer o serviço no hospital Vila Nova Cachoeirinha, sob multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento, e determinou a busca ativa das mulheres que tinham tido o serviço negado. Na decisão, o TJ-SP alegou que o Hospital Vila Nova Cachoeirinha era o único que não impunha limite à idade gestacional. Nunes conseguiu reverter a decisão.

Uma reportagem da Agência Pública de maio deste ano mostra que a prefeitura é investigada por acessar dados sigilosos de abortos legais feitos do Hospital Vila Nova Cachoeirinha. O G1 mostrou que médicas que realizaram procedimentos foram suspensas.

Programa habitacional

O que Nunes disse: que a prefeitura está fazendo o maior programa habitacional do Brasil no Grajaú: 2.711 casas

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O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é falso. Na cidade de Campina Grande, na Paraíba, o Complexo Residencial Aluízio Campos conta com 4,1 mil casas e apartamentos. O empreendimento faz parte do programa Minha Casa Minha Vida.

Colaboradores da Saúde

O que Nunes disse: que há 118 mil funcionários só na área da Saúde, e que havia 81 mil em dezembro de 2016, quando terminou a gestão do PT.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Nunes refere-se a todos os servidores ativos na área da Saúde na Capital, não apenas àqueles vinculados à Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que são 21.107. Na conta do prefeito, entram servidores da SMS, profissionais com vínculos estadual e federal e contratações feitas por entidades parceiras, que detêm a maior parte do quadro. Em abril passado, a prefeitura informou que havia 111 mil profissionais e gestores na Saúde de São Paulo, além de mais de 20 mil médicos. Conforme o Relatório Anual de Gestão de 2016 da Secretaria Municipal de Saúde, no final do mandato do Partido dos Trabalhadores eram 80.839 profissionais ativos na Saúde.

O Estadão solicitou à assessoria de imprensa da prefeitura os dados atualizados, mas não recebeu resposta até essa publicação.

Substituição da frota de ônibus

O que Nunes disse: que já há recursos aprovados de mais de R$ 2 bilhões para fazer a substituição da frota de ônibus.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. O financiamento é de R$ 2,5 bilhões, aprovado no ano passado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a aquisição de ônibus elétricos pelo município de São Paulo. A previsão é de que o valor sirva para a compra de mil a 1,3 mil ônibus movidos a bateria, permitindo a substituição de cerca de 10% da frota atual da cidade.

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