A reclamação de uma voluntária que atua no resgate de vítimas da enchente no Rio Grande do Sul viralizou nas redes nos últimos dias. No vídeo, Maricel Dittrich, do grupo Comboio do Bem, afirma que voluntários e resgatados passaram o dia sob o sol ao lado da Arena do Grêmio, em Porto Alegre. Ela diz que o Exército só chegou com tendas para apoio à noite, apenas para aparecerem no Jornal Nacional, da Rede Globo. Mas a história não foi bem assim.
A própria Maricel explicou ao Estadão Verifica que, depois que seu vídeo viralizou, um coronel do Exército a procurou para esclarecer que a demora se deu pela logística necessária para transportar e montar as tendas. O Exército confirmou a informação ao Verifica. A montagem das tendas nem foi exibida no telejornal, que atribuiu aos voluntários a maior parte dos trabalhos de resgate no local.
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A declaração de Maricel foi feita uma semana após o episódio, em entrevista a um podcast publicado no dia 14 de maio. O relato dela é um pouco maior do que o trecho que viralizou nas redes sociais. Durante a entrevista, ela afirmou que havia a expectativa de que os ônibus do Exército chegariam ao local, ao lado do estádio do Grêmio, para levar resgatados até o Teatro Renascença, no bairro Menino Deus, onde funcionava um ponto de apoio. O primeiro ônibus chegou às 10h, mas os próximos não chegaram, e a espera foi se prolongando ao longo do dia.
Enquanto isso, voluntários e resgatados aguardavam sob o sol, disputando um pouco de sombra do viaduto ao lado do estádio, que fica na BR-290. Até aquele momento, não havia tendas do Exército disponíveis. No final da tarde, de acordo com o relato de Maricel, uma mulher ofereceu dois ônibus privados para levar as pessoas até a cidade de Gravataí. O Exército acabou aparecendo depois, por volta das 18h30.
Procurada pelo Verifica, Maricel disse que, no momento em que as coisas aconteciam, o sentimento foi de choque. Mas, depois, ela foi procurada por um coronel do Exército, que se prontificou a apurar o que havia ocorrido, e a situação foi esclarecida.
“[Ele disse que] as tendas foram montadas somente no final da tarde porque a logística era muito grande, a demanda era muito grande de trabalho, e realmente era”, contou. “E as tendas foram montadas naquele horário para os resgates e socorros futuros que teriam”.
Maricel atuou como voluntária em outros desastres, como em junho do ano passado, quando fortes chuvas atingiram o Estado. Ela está há 17 dias trabalhando em resgates. Para a voluntária, a situação relatada no podcast está encerrada. “Eu fiquei muito grata pelo retorno [do Exército], pelo respeito que eles tiveram de investigar a situação”, afirmou. “Tem muito trabalho a ser feito para ficar batendo em cima disso que já foi explicado para nós que estávamos ali. O mais importante de tudo é saber que não aconteceu como a gente tinha imaginado”.
Em nota, o Exército informou que “as barracas foram montadas para atender às demandas da população e das equipes de salvamento, citadas pelas próprias voluntárias no podcast, e que a ação de montagem foi acompanhada pela imprensa”. O Exército também confirmou que conversou com o grupo de voluntários para esclarecer o ocorrido.
Jornal Nacional não mostrou montagem de barracas no dia 6
Apesar de o Jornal Nacional ter sido citado durante a entrevista do podcast, a chegada da estrutura do Exército e a montagem das tendas próximo à Arena do Grêmio não foram exibidas na edição do dia 6 de maio. Naquele dia, o telejornal mostrou o embarque de um hospital de campanha na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, num avião de carga da Força Aérea Brasileira (FAB), o mesmo em que o apresentador William Bonner viajou para o Rio Grande do Sul.
Na mesma edição, o repórter Guilherme Balza faz uma entrada ao vivo da rodovia BR-290, em frente à Arena do Grêmio. É o mesmo local em que Maricel e outros voluntários trabalharam ao longo do dia nos resgates de pessoas ilhadas. Ele afirma: “Bonner, a gente fala da entrada aqui do bairro Humaitá, que é uma área, como o nosso repórter cinematográfico Leandro Araújo pode mostrar, que está completamente inundada”.
Ele afirma que, em alguns pontos, a água chega a dois metros, e continua: “As pessoas, em sua maioria, já foram retiradas de suas residências, um trabalho que foi feito fundamentalmente por voluntários. Os bombeiros, claro, trabalhando, homens do Exército, mas principalmente voluntários aqui entrando aqui no bairro para retirar a população, inclusive fazendo esse trabalho à noite, num bairro completamente às escuras. Quem não tem pra onde ir é obrigado a permanecer à noite ao relento, dentro do carro ou simplesmente ao relento aqui nessa alça de acesso ao viaduto porque não tem abrigo para todo mundo”.
Nas imagens, aparecem voluntários e ao menos dois bombeiros, mas não estruturas ou homens do Exército. Na mesma edição do Jornal Nacional, é possível ver um caminhão do Exército e alguns militares em outro ponto, no bairro São Geraldo, em Porto Alegre, onde a repórter Maria Eduarda Ely também fez uma entrada ao vivo.
No mesmo dia 6 de maio, outro trecho da BR-290, um pouco mais distante da Arena do Grêmio, foi liberado para a passagem emergencial de veículos com equipes de resgate e suprimentos. A via, que tinha desabado com a chuva, liberava o acesso de Eldorado do Sul a Arroio dos Ratos, como mostrou essa matéria do GZH.
Tendas do Exército aparecem em matéria do JN do dia 8 em outra cidade
O Jornal Nacional só exibiu a montagem de tendas do Exército no dia 8, na cidade de Eldorado do Sul, que também fica às margens da BR-290. A reportagem mostrou um comboio de veículos militares e a formação de um hospital de campanha.
O repórter Flávio Fachel explica que o hospital de campanha havia partido do Rio de Janeiro e que há dois dias esperava em Porto Alegre uma chance de se dirigir a Eldorado do Sul. A demora se dava porque havia um trecho inundado na BR-116, onde uma ponte tinha caído. A reconstrução da estrutura, feita de forma emergencial pelo Exército e pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), permitiu a passagem dos veículos.
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