Tomar banho após comer não causa AVC, ao contrário do que afirma vídeo

Vídeo que viralizou nas redes sociais espalha afirmação sem comprovação científica; médicos explicam que não há motivo para preocupação

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Por Gabriella Reis, especial para o Estadão

O que estão compartilhando: que tomar banho logo após uma refeição pode fazer mal e, em alguns casos, até mesmo causar um acidente vascular cerebral (AVC).

O Estadão investigou e concluiu que: é enganoso. De acordo com especialistas entrevistados pelo Verifica, podem ocorrer casos de mal-estar, mas não há comprovação científica de que um AVC possa ser desencadeado por um banho.

Tomar banho após comer não pode causar AVC, ao contrário do que afirma vídeo. Foto: Arte/Estadão

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Saiba mais: No vídeo compartilhado no Facebook, um homem afirma que tomar banho depois de comer pode causar uma fuga da rede sanguínea, concentrada na região digestiva devido à alimentação, para as partes inferiores do corpo. Isso geraria um possível choque e mal-estar, principalmente se o banho for frio.

O médico neurologista João Brainer Clares de Andrade, vice-coordenador do Diretório Científico de Doenças Cerebrovasculares, Neurointensivismo e Neurorradiologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), explica que não é bem assim. “É bem verdade que quando nos alimentamos, existe um redirecionamento de fluxo sanguíneo para o sistema digestório. No entanto, o cérebro tem mecanismos de autorregulação para manter o fluxo nos parâmetros necessários”, disse.

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A gastroenterologista do Hospital Sírio Libanês de São Paulo Débora Poli concorda que é equivocada a relação entre tomar banho e AVC mostrada no vídeo. “O banho gelado não consegue fazer mudanças suficientes na circulação a ponto de mudar a pressão de tal forma que não tenha circulação sanguínea no cérebro para provocar um acidente vascular cerebral”, destacou.

O que acontece com nosso corpo depois de uma refeição grande?

O proctologista do Hospital São Camilo de São Paulo Henrique Perobelli explica que após uma refeição grande, especialmente rica em gordura, há um aumento do aporte de oxigênio para o trato digestivo. Isso causa a diminuição temporária da oxigenação em outros órgãos, como a pele, cérebro e músculos. “Por isso, você sente uma certa prostração, cansaço e fadiga depois de comer bem. Você precisa descansar o seu corpo um pouco para que a digestão aconteça de forma completa”, disse.

Ainda de acordo com Perobelli, eventuais casos de mal-estar relacionados a banhos gelados podem ocorrer. O motivo é o aumento da circulação cutânea, que busca minimizar a perda de calor causada pelo choque térmico do contato entre a pele e a água fria.

“Você pode ter sintomas digestivos como náuseas, vômitos, vontade de ir ao banheiro e até diarreia”, afirmou o proctologista. “Isso é comum em pessoas que tomam banho muito gelado ou praticam exercícios após se alimentarem copiosamente. Por isso, sugerimos o repouso de, pelo menos, 1 hora antes de um exercício físico cansativo, em caso de uma alimentação mais intensa e rica em gorduras”.

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Diferentemente dos exercícios pesados, os leves podem ser benéficos durante a digestão, informa Débora Poli. “Atividade física leve após as refeições pode ser benéfica pois ajuda no controle da glicemia, melhora a movimentação do estômago e intestino”, disse a gastroenterologista. “Uma atividade física leve depois das refeições é indicada e não apresenta riscos”.

O que realmente pode causar um AVC?

Estudos da área apontam que as doenças do coração, hipertensão arterial, diabetes descompensado, obesidade, sedentarismo, tabagismo e depressão são os verdadeiros fatores de risco para AVC, afirma o neurologista João Brainer.

Medidas simples podem ajudar a diminuir o risco para pacientes. “Controle da pressão arterial e da diabetes, perda de peso, parar de fumar, fazer atividade física de maneira regular e avaliar também os problemas do coração, principalmente quando existe histórico familiar”, orientou o médico.

Com mais de 1,4 milhão de visualizações no Facebook, o vídeo foi originalmente publicado nos perfis do Instagram e Tik Tok de um homem chamado Vylly Miranda, que se apresenta como médico nas redes sociais. A postagem não está mais disponível nas páginas de Vylly.

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Durante a apuração desta reportagem, o Estadão tentou contato com Vylly Miranda, mas não teve resposta.

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