Vídeo de trator queimando plantação é de 2021 e não tem relação com incêndios em São Paulo

Imagens foram publicadas originalmente no TikTok; perfil que publicou conteúdo disse que gravação mostra ‘queima controlada’ em colheita de canavial

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Foto do author Clarissa Pacheco

O que estão compartilhando: vídeo mostra trator queimando canavial. A legenda da postagem sugere que as imagens têm relação com os focos de incêndio que atingiram o interior de São Paulo nos últimos dias.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo é real, mas não mostra os incêndios recentes no interior de São Paulo. As imagens foram postadas em dezembro de 2021 por um perfil do TikTok dedicado a operadores de máquinas agrícolas de Cuiabá (MT). Em resposta aos comentários questionando o motivo de a vegetação estar sendo queimada, o perfil respondeu que a prática se chama “queima controlada”. Outro perfil, dedicado à agronomia, republicou o vídeo em julho de 2023 e disse que alguns produtores usam o fogo para facilitar a colheita da cana.

O Verifica procurou a autora do post enganoso no X (antigo Twitter), mas não recebeu resposta até a publicação desta checagem.

 Foto: Reprodução/X

Saiba mais: O vídeo publicado no X acumula mais de 786 mil visualizações em pouco mais de 24 horas. Na legenda, a autora da publicação escreveu: “Eu passei mal 3 dias com dor de cabeça por causa da fumaça dos incêndios que esses pnc causam”.

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No entanto, ao longo das imagens e no final do vídeo é possível ver o nome do usuário que postou o vídeo originalmente no TikTok (@g.o.m.mt). Ao acessar o perfil, fica evidente que o post foi feito em 2021, e não tem relação com os incêndios atuais em São Paulo.

Queima na colheita da cana

No TikTok, em resposta a diversos comentários criticando o vídeo, o autor da publicação disse que a prática vista nas imagens se chama “queima controlada”. Em outros momentos, disse chamar “contra fogo”, uma forma de combater as chamas que já estavam no local e não permitir que avancem para o restante da plantação.

Em artigo publicado no JusBrasil em 2021, o advogado agroambiental Caio Freitas escreveu que as chamadas “queimadas controladas” são bastante comuns no processo produtivo da cana. Os produtores a adotam para facilitar a colheita manual, queimando as folhas verdes e deixando o terreno livre para a colheita manual da cana.

O Código Florestal Brasileiro proíbe a queima de vegetação, mas permite a prática “em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão estadual ambiental competente do Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente)”.

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Apesar disso, o uso do fogo é prejudicial ao meio ambiente e piora a qualidade do ar – por isso, é desencorajado. Em 2021, mesmo ano em que o vídeo foi feito, o Instituto Agronômico de São Paulo (IAC) apontou que o fogo não era vantajoso economicamente para o produtor porque literalmente queimava os recursos investidos.

“O fogo causa falha no canavial e nessas falhas vai nascer mato, exigindo ações de manejo para eliminá-lo; isso tudo reflete em menor produtividade e menor longevidade do canavial, com consequente maior necessidade de replantio”, explicou, na época, o diretor-geral do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell.

Naquele ano, 99,8% de toda a cana-de-açúcar cultivada em São Paulo tinha sido colhida sem o uso do fogo. Além de prejudicar o terreno, o fogo também piora a qualidade da cana para a indústria, disse.

Incêndios em São Paulo

Desde o final de semana, o interior de São Paulo vem sofrendo com incêndios florestais. Para o governo do Estado, até agora não há indícios de que as ações foram orquestradas, e as chamas se espalharam rapidamente por causa do vento e demais condições climáticas adversas. Já o governo federal acredita em uma ação orquestrada. Até agora, quatro pessoas foram presas por iniciar focos de incêndio intencionalmente.

De acordo com a Defesa Civil de São Paulo, 48 municípios estão em emergência por conta dos incêndios, mas, apesar do risco, não há novos focos ativos. Também não há rodovias obstruídas pelo fogo. Os dados mais recentes, do dia 25 de agosto, apontam para 66 pessoas feridas e dois óbitos.

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