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Vacina infantil disponível no SUS ainda é recomendada para evitar complicações, dizem especialistas

Postagens compartilham trecho de discurso de médico no Senado que coloca em dúvida a eficácia dos imunizantes

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Atualização:

Atualizada às 9h40 de 4 de março de 2024 para inclusão do posicionamento do médico Francisco Cardoso

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O que estão compartilhando: em discurso no Senado Federal, infectologista questiona como a vacina pediátrica da Pfizer poderá garantir a imunização se foi feita com a cepa original da covid-19, identificada em Wuhan. Segundo ele, o imunizante está proibido desde setembro de 2023 nos Estados Unidos e, por isso, “crianças brasileiras devem ser inferiores às americanas a julgar pelo critério do Ministério da Saúde”. O médico afirma que a vacina pediátrica está 3,5 mil mutações abaixo da variante JN.1 em circulação no mundo.

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde apontam que as vacinas pediátricas atuais são capazes de contribuir para prevenção e controle da covid-19 ou proteção das formas graves da doença mesmo em relação às variantes. Especialistas em pediatria e imunologia informaram que a Comirnaty, ou Pfizer Baby, – atualmente usada para imunizar crianças no Brasil – possui, sim, uma qualidade de proteção inferior às vacinas mais atuais, como a Pfizer Ômicron XBB.1.5. No entanto, isso não significa que elas não ofereçam nenhum tipo de proteção. Não é verdadeiro também que a vacina usada no Brasil tenha sido proibida nos Estados Unidos ou em outros países do mundo.

Vacina infantil oferecida pelo SUS garante proteção contra variantes, apontam especialistas Foto: Foto

Saiba mais: Durante discussão no Senado sobre a obrigatoriedade de vacinas contra a covid-19 para crianças, em 26 de fevereiro, o médico Francisco Cardoso questionou o uso do imunizante Comirnaty, de tampa vinho, para a faixa etária dos 6 meses a 5 anos de idade. De acordo com ele, as vacinas usadas pelo Ministério da Saúde estão desatualizadas frente às mutações do vírus e, por isso, não seriam capazes de garantir a imunização. O infectologista ainda afirmou que os Estados Unidos proibiram o uso da vacina para crianças.

A sugestão do infectologista de que o imunizante, também conhecido como Pfizer Baby, não garantiria a imunização frente às variantes em circulação é negada pelo Ministério da Saúde e especialistas consultados pelo Estadão Verifica. Por nota, o órgão governamental classificou como “falso” os argumentos feitos na sessão do Senado de que o imunizante pediátrico seria prejudicial à saúde. De acordo com o comunicado, apesar de ser feita com a cepa original do SARS-Cov-2, causador da covid, a vacina protege contra formas graves e óbitos causados por mutações do vírus.

O ministério ainda esclareceu que a vacina atualmente usada no Brasil não foi proibida pela agência de saúde dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), ou em nenhum outro lugar do mundo. Diferentemente do que disse o infectologista Cardoso, o país norte-americano substituiu o imunizante aplicado em crianças pela nova formulação da Pfizer correspondente à variante Omicron XBB.1.5. A vacina está sendo aplicada nos Estados Unidos em crianças a partir dos 6 anos de idade.

Especialistas apontam que a vacina atual é capaz de garantir proteção às crianças, enquanto não há novos imunizantes

No trecho de discurso, o médico argumenta que a JN.1, subvariante da Ômicron, representa “quase a totalidade de casos da covid” e, por isso, questionou como as vacinas feitas com a cepa original poderiam imunizar crianças contra as mutações. Porém, dados da Rede Genômica da Friocruz, responsável por acompanhar a linhagem do SARS-CoV-2, mostram que até 26 de fevereiro a JN.1 e a BA.2.86 representaram 54,9% das variantes que circulam no Brasil. A observação de que as vacinas não são eficazes ainda é contestada por órgãos de saúde e pesquisadores.

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Em dezembro de 2023, a OMS tornou a JN.1 como uma variante de interesse devido a sua “rapidíssima disseminação no mundo”. A nota divulgada no site da OMS avaliou que o risco era “baixo” para a saúde pública, mas ressaltou que o inverno no Hemisfério Norte poderia aumentar a carga de infecções respiratórias. No texto, a organização mundial frisou que “as vacinas atuais continuam a oferecer proteção contra doenças graves e morte por esta e outras variantes em circulação”.

A publicação do Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) sobre a variante JN.1 no Brasil também comentou as mesmas conclusões da OMS. “Todas as vacinas contra a covid-19 aprovadas pelas agências reguladoras e pela Organização Mundial da Saúde são consideradas protetoras contra formas graves da covid-19, independentemente da variante de SARS-CoV-2, e infecções naturais prévias também contribuem para essa proteção”, afirmou o texto.

Renato Kfouri, pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explicou que, apesar da Pfizer Cominarty ser feita com a cepa original do vírus causador da covid, isso não significa que ela não dê nenhuma proteção aos imunizados. “Há vacinas mais atualizadas para combater variantes, porém não é verdade que o imunizante disponível não protege nada. A qualidade da proteção é inferior, mas ainda é necessário que a imunização continue com as que temos”, disse.

O mesmo também foi apontado pela pediatra Heloisa Giamberardino, presidente da Regional Paraná da SBIm: “Enquanto não temos as vacinas mais atualizadas, temos que utilizar as ferramentas disponíveis. A geração de novos imunizantes contra a doença deve ser constante, já que o vírus tornou-se endêmico”. Ela ainda enfatizou que a vacinação na faixa etária de 6 meses a 5 anos “protege as crianças contra formas graves, hospitalizações e óbitos por covid”.

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Segundo a médica, a imunização infantil reduz em 91% o risco de Síndrome Inflamatória Multissistêmica, comparando aos não-vacinados. O quadro é uma condição grave associada à covid-19 que afeta os vasos sanguíneos de crianças e adolescentes. A pediatra ainda explica que a imunização também reduz a covid longa, aquela causada por sintomas que permanecem após a infecção, e miocardites.

Estados Unidos não proibiu imunizante usado no Brasil

Os EUA autorizou o uso da nova vacina Pfizer em setembro de 2023 para incluir a formulação que corresponde à variante Omicron XBB.1.5. O imunizante foi permitido para indivíduos a partir dos 6 meses de idade. Diferentemente do que diz Fernando Cardoso no vídeo analisado, o que foi proibido no país norte-americano foi a vacina da Pfizer Bivalente – atualmente aplicada em adultos no Brasil –, devido à aquisição do novo imunizante que protege contra as variantes em circulação.

O especialista Renato Kfouri explica que a agilidade para a produção de vacinas no mundo ainda é uma dificuldade, devido a imprevisibilidade na mutação do vírus da covid. “Os Estados Unidos já tem a vacina Ômicron XBB.1.5 para o inverno. No entanto, o vírus já está mudando para a subvariante JN.1, ou seja, é muito rápido”, disse. Segundo o médico, a expectativa é que o Brasil também tenha o novo imunizante entre março e abril deste ano.

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Em dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da Pfizer Ômicron para crianças. De acordo com a agência de saúde, o imunizante atualizado pode ser incorporado futuramente ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). O Ministério da Saúde também divulgou que o contrato com a Pfizer prevê o fornecimento de versões mais atualizadas dos imunizantes, porém ainda não foram divulgadas datas para a chegada da vacina no País.

Vacinação de crianças contra a covid-19 é obrigatória e integrou o Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 2024. 

Senado discute obrigatoriedade de vacinação para crianças

A vacina Comirnaty, conhecida também como Pfizer Baby, tornou-se obrigatória para crianças entre os 6 meses e os 4 anos em janeiro deste ano. As doses contra a covid foram incluídas às outras 17 vacinas obrigatórias previstas no PNI até os 10 anos. Na última segunda-feira, 26, o Senado passou a discutir a obrigatoriedade da imunização contra a doença.

Na sessão, alguns dos parlamentares defenderam a ampliação de estudos para a tomada de decisão de incluir ou não as doses no calendário nacional. Entre os especialistas convidados estava o médico Francisco Cardoso, autor do vídeo verificado, que criticou a obrigatoriedade da vacinação e a Nota Técnica 118/2023, do Ministério da Saúde. Ainda serão ouvidos outros especialistas na área e a ministra da Saúde, Nísia Trindade.

Como lidar com postagens do tipo: Existem inúmeros conteúdos desinformativos voltados à descredibilizar a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19 nas redes sociais. No caso aqui verificado, o discurso no Senado tenta levar as pessoas a crerem que os imunizantes atuais contra a covid-19 para as crianças são inúteis diante das variantes em circulação. Antes de confiar nas alegações, é importante buscar por pronunciamentos oficiais dos órgãos de saúde ou estudos feitos por instituições confiáveis de pesquisa. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde divulgam frequentemente boletins atualizados sobre as vacinas e defendem a segurança dos imunizantes para a proteção contra a doença.

Os comentários deixados na postagem checada estão repletos de desinformação sobre a vacinação da covid-19. “Não vacine seus filhos. É melhor esperar mais estudos pra vacinar seus filhos com segurança”, disse uma usuária. Ela ignora que os imunizantes só foram aprovados após rigorosos estudos que comprovaram segurança e eficácia. Outra usuária espalha um boato falso de que as vacinas conteriam soluções metálicas magnéticas.

O que diz o médico

Consultado pela reportagem, o médico Fernando Cardoso explicou que não disse que a OMS não aconselha a vacinação e, sim, que a organização “não recomenda a obrigatoriedade”. Por sua vez, a checagem não havia citado tal fala do infectologista. Ele ainda disse que “não é verdade que os americanos continuam recomendando a Pfizer Baby” e que “desde setembro apenas a Pfizer Ômicron é aprovada para uso”. No site da FDA, é possível ver que o novo imunizante é autorizado para uso em crianças a partir dos seis meses. O que o médico havia dito no conteúdo analisado é que a vacina mais antiga foi “proibida”, mas a informação não é verdadeira.

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