O que estão compartilhando: que a farmacêutica Pfizer divulgou uma lista de 1.291 efeitos colaterais graves de sua vacina contra a covid-19.
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O dado aparece em documento da Pfizer enviado à agência sanitária norte-americana (FDA) em 2021, mas listava enfermidades de especial interesse para monitoramento após aplicação da vacina, e não efeitos colaterais comprovados do imunizante. A vacina contra covid-19 é segura e as reações adversas mais comuns são dor no local da injeção, dor de cabeça, cansaço, diarreia e febre.
Saiba mais: O Estadão Verifica publicou, em junho do ano passado, uma checagem que desmente a alegação, que agora voltou a circular. Como mostrado, a afirmação de que Pfizer divulgou haver “mais de mil efeitos colaterais da vacina” configura uma distorção de um documento da empresa entregue à Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória americana, sobre o monitoramento da segurança do imunizante após autorização do uso emergencial nos Estados Unidos, em 2020.
O documento pode ser acessado aqui. A lista com as supostas 1.291 enfermidades provocadas pela vacina aparece nas últimas páginas. No entanto, não se trata de efeitos colaterais comprovados do imunizante, mas de “eventos adversos de especial interesse (AESI)”, que precisam ser monitorados, mas que não têm necessariamente relação de causalidade com a aplicação da vacina. Como mostrou checagem da AFP da mesma alegação, com base em definição da OMS, AESI é “um evento médico significativo pré-determinado que tem o potencial de ter um nexo causal com uma vacina e que deve ser monitorado com atenção e confirmado por estudos específicos adicionais”.
Os efeitos colaterais confirmados da vacina da Pfizer, portanto, não são os que constam dessa lista, mas os que aparecem na bula do medicamento (para o paciente, a partir da página 9). As reações mais comuns, que ocorrem em 10% dos pacientes vacinados, são: dor de cabeça, diarreia, dor nas articulações, dor muscular, dor e inchaço no local de injeção, cansaço, calafrios e febre.
Além do Estadão Verifica e da AFP, outras agências de checagem no Brasil e no exterior publicaram matérias negando a veracidade da alegação verificada nesta checagem: Fato ou Fake, Lupa, Boatos.org, Vistinomer (Macedônia), Dubawa (África Ocidental) e Observador (Portugal).
Monitoramento de eventos adversos no Brasil
No Brasil, os possíveis efeitos adversos relacionados às vacinas são denominados de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (Esavi) e são monitorados pelo Ministério da Saúde. Segundo a pasta, Esavi “são qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação, não possuindo necessariamente uma relação causal com o uso de uma vacina”.
O último boletim divulgado sobre a análise dos casos mostra, na página 19, que, considerando todas as faixas etárias, os eventos graves notificados com provável ou possível relação causal com a vacinação foram principalmente: reações de hipersensibilidade graves, síndrome de trombose com trombocitopenia (STT), pericardite e miocardite e síndrome de Guillain Barré.
Ainda na página 19, o boletim afirma, nas considerações finais, que em relação aos eventos graves, “apenas 0,005% do total de doses aplicadas no período analisado (cerca de 510 milhões, incluindo aplicação em adultos) evoluiu para essa classificação, ou seja, a maciça maioria desses eventos não teve qualquer relação causal com a vacinação”.
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