Esta checagem foi produzida por jornalistas da coalizão do Comprova. Leia mais sobre nossa parceria aqui.
Conteúdo investigado: Tuíte em que o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) publica títulos de reportagens da BBC News Brasil, da Associação Médica Brasileira e do G1 e escreve: “Mas não foi só a vacina Astrazeneca retirada da vacinação pelo Ministério da Saúde. A Jansen e a Coronavac também foram. Falta de eficácia e efeitos colaterais com risco, foram alegados. Na verdade não haviam completado os testes quando foram autorizadas pela Anvisa, de forma emergencial. Parte da fase 3 de testagem, foi feito direta em toda população, sem ter ideia ainda do que aconteceria…É isso?”.
Onde foi publicado: Twitter.
Conclusão do Comprova: O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) engana ao afirmar, em tuíte, que as vacinas da Astrazeneca e da Janssen e a Coronavac foram retiradas pelo Ministério da Saúde da campanha de imunização contra a covid-19. Ele desinforma ao escrever que “falta de eficácia e efeitos colaterais com risco foram alegados” e que elas foram aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com testes ainda incompletos.
Na publicação, o deputado posta prints de reportagens de diferentes sites. O título do texto da BBC News Brasil é “Por que Brasil deixou de recomendar uso das vacinas Astrazeneca e Janssen contra covid-19?”; o da Associação Médica Brasileira (AMB), “Sem demanda e registro definitivo, Butantan suspende produção de Coronavac”; e, por último, o do G1, “Investigação sobre morte de gestante de 35 anos levou à suspensão do uso da vacina Astrazeneca, diz Anvisa”.
Sobre o texto da BBC, a própria reportagem diz que “a interrupção do uso e produção do imunizante [Astrazeneca] pelo Ministério da Saúde nada tem a ver com a eficácia, mas sim com um possível risco aumentado de trombose dias após a vacinação, segundo documento publicado pelo Ministério da Saúde” e que o Ministério ainda prevê o uso da vacina “caso outras opções estejam em falta”. A reportagem é de 12 de abril. Um dia depois, o governo federal publicou documento de dezembro afirmando que a Astrazeneca continua sendo indicada para pessoas a partir de 40 anos – ou seja, diferentemente do que diz o deputado, ela continua sendo aplicada.
Já o texto da AMB copia o título de uma reportagem do UOL de 25 de junho de 2022, que também não diz que a vacina foi retirada da campanha, apenas que não havia mais pedido do ministério para que o Instituto Butantan, seu fabricante, a produzisse. “O Ministério da Saúde planeja usar a vacina produzida pelo Butantan —e criada pelo laboratório chinês Sinovac— apenas para o público infantil, de 3 a 11 anos. A pasta anunciou ter assinado um aditivo de contrato com o instituto para adquirir um total de 2,6 milhões de doses”, diz o texto.
O terceiro print publicado por Terra, do G1, é de 11 maio de 2021 e trata da suspensão da aplicação da Astrazeneca em grávidas. A reportagem informa que, de acordo com o ministério, apenas gestantes com comorbidades seriam imunizadas, e com Coronavac ou Pfizer. Mas comunicado do órgão em 9 de julho do mesmo ano anunciou a retomada da vacinação para todas as grávidas. Segundo a recomendação, que segue valendo, gestantes devem se vacinar com imunizantes Coronavac e Pfizer.
Em contato com o Comprova, a Fiocruz enviou link para um texto publicado em seu site em 14 de abril. Nele, afirma que “o imunizante [Astrazeneca] continua sendo considerado seguro e eficaz” pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa e que “o acordo de cooperação técnica do Ministério da Saúde com o Biomanguinhos/Fiocruz para produção de insumos, incluindo a vacina AstraZeneca, segue vigente”.
Também procurado, o Ministério da Saúde afirmou que o post contém informação falsa e reforçou a segurança e eficácia de todas as vacinas ofertadas para a população. “O atual cenário da covid-19 no país, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada”, escreveu o órgão. “Os eventos adversos, inerentes a qualquer medicamento ou imunizante, são raros” e apresentam “risco significativamente inferior ao de complicações causadas pela infecção da covid-19″.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O tuíte verificado aqui foi compartilhado mais de 3,3 mil vezes e teve mais de 10,3 mil comentários até 24 de abril.
Como verificamos: O primeiro passo foi buscar as reportagens cujos prints foram publicados no tuíte enganoso e verificar seu conteúdo. A equipe também pesquisou sobre as decisões mais recentes do Ministério da Saúde e da Anvisa em relação aos imunizantes nos sites dos órgãos e em reportagens de veículos profissionais.
Além disso, contatou o Ministério da Saúde, o Instituto Butantan e a Fiocruz.
O que diz o responsável pela publicação: Procurada pela reportagem a partir do e-mail informado no site da Câmara dos Deputados, a equipe de Osmar Terra – que já teve outros posts relacionados à pandemia classificados como enganosos ou falsos pelo Comprova (como o que ele usava dados de um único hospital para dizer que a covid-19 estava reduzindo no Rio Grande do Sul e o que ele publicava informações imprecisas para colocar em dúvida a eficiência de medidas de distanciamento social) – não respondeu até a publicação deste texto.
O que podemos aprender com esta verificação: Conteúdos duvidosos sobre as vacinas contra a covid vêm sendo publicados nas redes sociais desde antes de elas serem ofertadas à população, embora sejam comprovadamente seguras e eficazes. Quando nos depararmos com peças que questionem isso, devemos ficar atentos e buscar informações confiáveis em sites de veículos profissionais e de órgãos como Ministério da Saúde e Anvisa, além do da Organização Mundial da Saúde.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova publicou recentemente um texto para ajudar o leitor a entender a situação da vacina da Astrazeneca e por que sua recomendação mudou. Também já explicou que o imunizante contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live e que os eventos adversos graves pós-imunização são raros e benefícios superam os riscos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.