A entrega de três viaturas na cor lilás para a Patrulha Maria da Penha da Polícia Militar do Piauí tem sido alvo de desinformação nas redes. No Facebook, usuários afirmam que “as novas viaturas da Polícia Militar” já chegaram ao Piauí e questionam quais serão os próximos Estados a usarem veículos da mesma cor. Mas falta contexto às publicações: a cor não é novo padrão de todas as viaturas do Estado, mas sim para os veículos usados especificamente para o combate à violência contra a mulher.
A finalidade da viatura padronizada na cor lilás é facilmente identificada: na porta do veículo há o nome da Polícia Militar e o brasão da corporação. Logo abaixo aparecem os nomes da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Piauí, da Secretaria de Estado das Mulheres e do Governo do Estado do Piauí.
Logo em seguida aparece a logomarca do aplicativo Salve Maria, uma plataforma gratuita desenvolvida pelo governo do Piauí que permite que mulheres vítimas de violência ou qualquer outra pessoa acionem a Polícia Militar através de um botão do pânico. Ao lado do Salve Maria aparece o número 180, canal para denunciar violência contra a mulher, e, por fim, o 190, número padrão para acionar polícias militares no Brasil.
Os veículos foram entregues no dia 10 de fevereiro pelo secretário de segurança pública do Piauí, Chico Lucas, na presença do comandante-geral da PM, coronel Scheiwann Lopes, e de outras autoridades da corporação no Piauí Entre elas, a major Elisamar, coordenadora de Prevenção e Enfrentamento à Violência Doméstica, e a capitã Leoneide, coordenadora Adjunta e comandante da Patrulha Maria da Penha da PM do Piauí, que recebeu as chaves dos novos veículos.
Durante a solenidade, a comandante de Polícia Comunitária do Piauí, coronel Elza, explicou que a cor foi escolhida porque é usada pelos movimento de luta pelos direitos das mulheres. “A importância das viaturas nessa coloração é porque buscaremos, de uma forma mais objetiva e mais direta, constranger o agressor para que ele se sinta envergonhado na presença da viatura lilás, na porta da residência dele. Todas as pessoas vão saber que ali existe um agressor de mulheres”, ressaltou a capitã Leoneide.
“O agressor que não respeitar a campanha ‘Só se eu quiser…#NãoéNão’, que não respeitar o corpo feminino, que não respeitar a vontade feminina, ele vai ser conduzido na viatura lilás por mulheres. É isso que a gente quer mostrar, que o homem tem o dever de respeitar a vontade feminina, o direto das mulheres. Então, a viatura lilás é para dar visibilidade e mostrar que as mulheres têm sim, por parte do governo do Estado, o apoio na proteção à sua integridade”, completou o secretário de Segurança Pública.
Outros lugares já usam estratégias parecidas no combate à violência doméstica. No Pará, a viatura usada pela Ronda Maria da Penha é rosa, assim como no Amazonas. Na Bahia, a viatura tem detalhes na cor rosa
Comentários misóginos e homofóbicos
Curiosamente, a escolha da cor das viaturas para a Patrulha Maria da Penha foi alvo de comentários misóginos e homofóbicos nas redes. Alguns dizem que a viatura “fofa” facilmente viraria uma “peneira” nas mãos de bandidos, outros chamam a escolha de “palhaçada”, dizem que a corporação que usará o veículo será a “Bofe de Elite” e que as viaturas na “cor da Barbie” foram doadas por ONGs a policiais gays. Houve até quem atribuísse a escolha ao socialismo e ao comunismo, como uma tentativa de “desmoralizar” a Polícia Militar: “o próximo sarar o exército (sic)”, teme o autor de um comentário.
Uma das postagens compartilha, junto com as viaturas, uma fotografia de quatro policiais com fardamento rosa, seguido da frase: “Para combinar com a viatura lilás e diminuir ainda mais os índices de violência”. Os policiais que aparecem na imagem não são do Piauí, nem brasileiros. A foto usada foi feita em 2015 na cidade canadense de Thunder Bay, em Ontário.
Durante uma semana, os policiais de Thunder Bay usaram camisa rosa durante visitas a escolas e eventos comunitários para conscientizar contra o bullying. A campanha, encabeçada por uma associação de policiais de Ontário, se chamava ‘Pink is the New Blue’ (Rosa é o novo azul).
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