PUBLICIDADE

O que se sabe sobre o vídeo que mostra crianças em gaiolas e é associado, sem evidências, ao Hamas

Imagens foram publicadas no TikTok dias antes de o grupo palestino atacar Israel; responsável pela conta diz que os meninos são seus parentes e não israelenses sequestrados

PUBLICIDADE

Foto do author Luciana Marschall
Por Bernardo Costa e Luciana Marschall
Atualização:

O que estão compartilhando: que o Hamas divulgou vídeo que mostra pequenas crianças israelenses sequestradas e enjauladas.

PUBLICIDADE

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: o vídeo foi publicado por uma conta no TikTok (@user6903068251281) dias antes do ataque do Hamas a Israel. O responsável pelo perfil publicou um novo vídeo nesta quarta-feira, 11, em que diz que as crianças mostradas nas imagens são suas parentes, e não meninos israelenses sequestrados. O site palestino Kashif afirma que o sotaque do autor do vídeo é de Gaza.

No domingo, 8, a agência de checagens israelense FakeReporter afirmou que o vídeo das crianças havia sido publicado alguns dias antes do ataque do Hamas a Israel, em uma conta no TikTok que posteriormente foi desativada — e que nesta quarta-feira voltou ao ar. Na segunda, 9, o site espanhol Maldita identificou um segundo vídeo que mostra algumas das mesmas crianças sentadas e livres das grades. Essas imagens foram postadas pelo mesmo perfil do TikTok.

A agência de checagem dinamarquesa TjekDet descobriu que pelo menos um dos áudios ouvidos no conteúdo foi acrescentado posteriormente, porque se trata de uma uma trilha popular entre os usuários do TikTok. Na noite da segunda, 9, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, afirmou, em entrevista, que palestinos mantêm crianças enjauladas, mas não citou o vídeo aqui verificado nem deu mais detalhes da alegação.

O vídeo associado ao ataque do Hamas a Israel já estava na internet dias antes. Foto: Reprodução

Saiba mais: Um vídeo que começou a circular amplamente no domingo, 8, em diversas redes sociais, como Facebook, Instagram, Twitter e TikTok, mostra cinco crianças na faixa dos dois anos de idade em uma gaiola comumente usada para aprisionar galinhas. É possível ver uma ave no compartimento abaixo do que as crianças ocupam. O áudio mistura vozes infantis com uma música instrumental e risadas de um homem que, supostamente, estaria gravando as imagens. Não é possível determinar, contudo, se é o som original do vídeo. Junto dessas imagens é compartilhada a alegação de que as crianças seriam israelenses feitas reféns pelos palestinos.

No último sábado, 7, Israel e o Hamas declararam estar em guerra depois que militantes do grupo palestino realizaram um grande ataque contra Israel, disparando milhares de foguetes contra cidades israelenses, matando civis e fazendo reféns. Vídeos registrando sequestros de israelenses foram publicados pela imprensa, mas nenhum deles continha as imagens das crianças aqui verificadas.

Ainda no domingo, quando o vídeo começou a ser amplamente compartilhado não apenas por usuários brasileiros, mas de todo o mundo, a agência de checagem de fatos FakeReporter publicou em sua conta no X (ex-Twitter) que as imagens das crianças já estavam online antes do ataque realizado no sábado. Uma captura de tela realizada no dia 8 pela agência mostra que o conteúdo havia sido postado quatro dias antes, ou seja, em 4 de outubro, na última quarta-feira, por um usuário do TikTok. Após a checagem, a conta desapareceu da plataforma.

Publicidade

O Estadão Verifica solicitou mais detalhes à agência, que publicou novo post na tarde de segunda-feira, 9, acrescentando capturas de tela mais detalhadas da publicação localizada no TikTok e incluindo o link, agora quebrado.

Também na segunda, a agência de checagem espanhola Maldita divulgou uma investigação sobre o assunto. Ao analisarem as informações compartilhadas por FakeReporter, os espanhóis chegaram ao cache (cópia arquivada) do link da postagem armazenado pelo Google e localizaram um segundo vídeo, enviado pelo mesmo usuário, em 8 de outubro, como resposta a um comentário na publicação inicial. Nele, aparentemente parte das crianças antes enjauladas aparece sentada e livre.

A conta no TikTok (@user6903068251281) que originalmente havia postado o vídeo foi recuperada nesta quartapelo usuário. A gravação das crianças dentro de gaiolas não consta no canal. Percebe-se que a foto do perfil é a mesma que aparece nas capturas de tela feitas quando o vídeo ainda estava no ar. Há vídeos postados pelo usuário anteriormente ao ataque do Hamas contra Israel, que aconteceu no sábado, dia 7, o que descarta a hipótese de que o perfil tenha sido criado recentemente, após conflito e a viralização do vídeo.

Com o auxílio da ferramenta Transcriber Bot, do Telegram, foi possível obter uma tradução automática do que o homem diz no último vídeo.

Tradução por meio de ferramenta do Telegram do áudio do vídeo mais recente postado pelo homem após o retorno da conta no TikTok. Foto: Reprodução/Telegram

O mesmo texto foi submetido ao Google Tradutor. O resultado é o que segue:

Imagem com a tradução no Google Tradutor do texto transcrito na ferramenta do Telegram Foto: Reprodução/Google Tradutor

De acordo com a tradução, percebe-se que o homem diz que as crianças são seus parentes e não são israelenses.

Já a agência dinamarquesa TjekDet identificou que há pelo menos duas trilhas de áudio no vídeo: uma que possui vozes de crianças e que pode ser o som original e outra de um homem rindo e falando. Essa última provavelmente foi acrescentada porque se trata de uma uma trilha popular entre os usuários do TikTok, utilizada como um elemento em diferentes tipos de vídeos.

Publicidade

Na noite de segunda, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, concedeu entrevista coletiva e afirmou que crianças são mantida em jaulas pelo Hamas, mas não citou o vídeo viralizado, tampouco apresentou provas da alegação. O Estadão Verifica procurou o governo de Israel e perguntou se o país identificou o sequestro das crianças que aparecem no vídeo, mas não recebeu retorno.

Este conteúdo também foi checado pelo Boatos.Org.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.