Vídeo de 2017 foi editado para parecer que Bolsonaro apoia namoro com meninas de 10 anos

Na realidade, presidente criticava lei de imigração; na gravação original, ele espalha a informação falsa de que estrangeiros que chegam ao Brasil teriam essa prática

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Por Projeto Comprova

Esta checagem foi produzida por jornalistas da coalizão do Comprova. Leia mais sobre nossa parceria aqui.

Conteúdo investigadoVídeo publicado no Twitter extrai uma fala do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), em que ele trata de privatizações e da China para relacionar o trecho com a história das meninas venezuelanas. Na legenda, o perfil que fez a postagem escreveu: "'Pintou um clima' - 2022. 'Se quiser n*m#r*r e #ngr*vid*r uma filha nossa, de dez anos de idade, pode!'- 2017. Vídeo de agosto de 2017, deletado e recuperado de um dos sistemas da família Bolsonaro, usem essa informação e mídia de forma correta".

 

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Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um post segundo o qual Jair Bolsonaro teria afirmado que é permitido namorar meninas de 10 anos e engravidá-las durante discurso para pessoas na rua, em agosto de 2017. O tuíte desinforma ao relacionar a declaração de outubro de 2022 em que o presidente usa a expressão "pintou um clima", referindo-se a meninas venezuelanas, para sugerir que ele concorda que adultos podem namorar e engravidar crianças.

O vídeo do discurso do presidente, que em 2017 era deputado federal pelo Rio de Janeiro, foi editado no conteúdo aqui investigado. No original, publicado no canal de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), a declaração completa é: "O Brasil é um país sem fronteiras. Se parar um navio aqui do lado de fora agora e chegar um milhão de caras nadando aqui, vocês não podem fazer nada. É direito deles. E se quiser namorar uma filha nossa de 10 anos de idade e engravidá-la, pode, porque é a tradição de muita gente aí fora, namorar, engravidar menina de 10 anos de idade", afirma Bolsonaro.

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Na sequência, o hoje presidente da República também critica a mutilação genital feminina e a relaciona aos imigrantes. "Se nascer uma criança e quiser cortar o clitóris dela, também pode, porque, lá fora, a mulher é submetida a esse tipo de cirurgia logo que nasce", completa.

Diferentemente do que Bolsonaro diz no vídeo original, estrangeiros que chegam ao Brasil, seja como turista, imigrante ou refugiado, devem seguir a lei brasileira. Não há evidência que os imigrantes que chegam ao país adotem as práticas mencionadas pelo presidente.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O conteúdo investigado obteve 323,5 mil visualizações; 16,2 mil curtidas; 6.409 retuítes; 1.309 tuítes com comentários e 996 comentários no Twitter até o dia 29 de outubro de 2022.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil que fez a publicação, via mensagem direta no Twitter, mas não houve resposta até a publicação deste material.

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Como verificamos: O primeiro passo foi buscar no Google o vídeo que o tuíte verificado afirma ter sido apagado. Então, a equipe assistiu à gravação e comparou o áudio com o vídeo usado no post.

A próxima etapa foi pesquisar sobre os temas citados por Bolsonaro no vídeo, ler reportagens e leis sobre os assuntos.

A reportagem também entrou em contato com a assessoria de imprensa do PL, solicitando um posicionamento de Bolsonaro sobre a publicação enganosa. A demanda foi encaminhada à campanha de Bolsonaro, mas não houve resposta até a publicação desta checagem.

O perfil responsável pela publicação alvo da checagem também foi questionado, mas não respondeu.

Mutilação genital e casamento infantil

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De acordo com relatório elaborado pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) de 2018, haitianos, venezuelanos e colombianos foram as três principais nacionalidades que formaram o grupo de imigrantes no Brasil em 2018. A prática de mutilação feminina citada por Bolsonaro, contudo, não é recorrente nos países que lideram o fluxo migratório no Brasil.

Segundo o Fundo para as Nações Unidas para a Infância (Unicef), estima-se que casos de mutilação genital feminina estejam concentrados em alguns países da região do Chifre da África, Oriente Médio e Ásia, com variações de prevalência. Ainda de acordo com o órgão das Nações Unidas, a mutilação genital feminina ocorre, quase em sua totalidade do território, na Somália, Guiné e Djibouti, com níveis de frequência acima de 90%.

Na América do Sul, de acordo com mapa elaborado pela organização The WomanStats Project, a prática quase nunca ocorre, com exceção apenas da Colômbia, Peru e Equador. No entanto, o estudo classifica o procedimento nesses países como algo raro ou limitado a uma minoria étnica em que esse tipo de mutilação é comum.

Em relação aos dados de união matrimonial de crianças, o Unicef disponibiliza dados relacionados ao casamento de adolescentes de 15 e 18 anos. Entre as migrações predominantes, o Haiti registrou dois casamentos de meninas de 15 anos, conforme dados de 2016 e 2017. A Colômbia, por sua vez, registrou cinco uniões, com base nos dados de 2015. Por fim, não houve registro de casamento de meninas de 15 anos na Venezuela.

Casamento infantil no Brasil

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Bolsonaro menciona que homens vindos de fora do Brasil poderiam se casar e engravidar crianças brasileiras. No entanto, o casamento infantil ainda é prática existente no Brasil entre os próprios brasileiros. De acordo com pesquisa do Unicef, o país, o quinto mais populoso, ocupa, em números absolutos, o quarto lugar no mundo em casamentos infantis. Índia, Bangladesh e Nigéria estão à frente no ranking.

Ranking dos mais populosos

Segundo reportagem da Agência Câmara de Notícias, em 2016, houve 137.973 casamentos ou uniões envolvendo pessoas de até 19 anos, sendo 28.379 meninos e 109.594 meninas.

Outro dado, publicado na Folha, mostra que só em 2019 mais de 80 mil meninas de até 19 anos se casaram oficialmente no Brasil. Segundo o IBGE, 169 delas tinham menos de 15 anos.

lei 13.811, de 2019, proíbe o casamento de pessoas que não completaram 16 anos no Brasil.

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Lei de Migração

Na peça verificada, a fala do presidente em relação à entrada de estrangeiros que pretendem residir de forma temporária ou definitiva no Brasil está incorreta. A Lei nº 13.445, de 2017, define os direitos e os deveres do migrante e do visitante no Brasil. Nas especificidades da lei, fica explícito que estrangeiros que tiverem visto brasileiro negado serão impedidos de ingressar no país enquanto as condições permanecerem recusadas.

Em nota, a Câmara dos Deputados afirmou que "a opção do legislador por privilegiar os aspectos humanitários não significa que o Estado brasileiro abdicou dos instrumentos e formalidades relacionados ao controle de entrada, permanência e saída dos estrangeiros e à adoção de políticas migratórias com foco no desenvolvimento local".

Direitos e deveres

Diferentemente do que Bolsonaro diz no vídeo original, estrangeiros que chegam ao Brasil, seja como turista, imigrante ou refugiado, devem seguir a lei brasileira.

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Em seu título II, "Dos direitos e deveres individuais e coletivos", o Estatuto do Estrangeiro diz que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade".

Os estrangeiros residentes no Brasil devem seguir a lei brasileira e, portanto, não podem se casar com menores de 16 anos, o que é considerado crime, como já informado acima.

Sobre engravidar menores de idade, o Código Penal Brasileiro diz que é estupro de vulnerável "ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos".

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à presidência podem gerar interpretações equivocadas sobre a realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm o direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou ser montagem um tuíte atribuído a Bolsonaro com menção de acabar com o feriado de Nossa Senhora Aparecida; que deputado eleito repetiu alegações já desmentidas para ligar Lula ao narcotráfico e as FARC e que o público não vaiou Bolsonaro em show de Gusttavo Lima em Aracaju, ao contrário do que mostra vídeo.

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Neste final de semana, a equipe do Comprova se uniu a outras 6 iniciativas de checagem de fatos no Brasil para verificar conjuntamente a desinformação sobre as eleições. A parceria reúne AFP, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Fato ou Fake e Lupa.

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