Circula nas redes sociais um vídeo que supostamente mostraria uma explosão encenada na Palestina, produzida com o objetivo de culpar Israel. Na verdade, a gravação foi feita no Iraque em 2016 e registrou a operação de uma equipe de inteligência policial do Iraque contra o grupo terrorista Estado Islâmico.
O vídeo tem uma inscrição em inglês que diz: "A mentira palestina". A gravação mostra o momento em que um carro explode em uma rua deserta. Pessoas se aproximam e se deitam no chão, como se simulassem ser vítimas. Em seguida, outras pessoas chegam com carros para socorrê-las.
A pessoa que narra o vídeo diz que se trata da "indústria de cinema do grupo terrorista Hamas". "A partir daí, quando se deitam, começa o vídeo editado que todo mundo vê", diz o narrador. Leitores solicitaram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp do Estadão Verifica, 11 97683-7490.
Não há muitos elementos que permitam identificar a origem do vídeo. Inicialmente, a única informação que podemos extrair é que ele foi gravado em 30 de outubro de 2016. A data da gravação aparece no canto direito superior da imagem.
Procuramos no Google notícias de uma explosão na data do vídeo. A busca mostrou duas notícias, uma da agência internacional de notícias Reuters e outra da Associated Press, com notícia da explosão de um carro-bomba numa rua comercial de Bagdá, capital do Iraque. Ambas associam a informação a policiais que não permitiram sua identificação.
As duas notícias não traziam nenhum vídeo que confirmasse se tratar da mesma situação retratada no vídeo em checagem. Para tentar localizar a origem do vídeo, congelamos um frame e utilizamos a busca reversa do buscador Yandex. A busca trouxe muitas páginas em russo, mas também um link para o site de jornalismo investigativo Bellingcat.
Na reportagem "Notório caso de um carro-bomba no Iraque", o repórter Christiaan Triebert identificou que o vídeo foi primeiramente postado no Twitter na noite de 31 de outubro de 2016. No dia seguinte, foi publicado na conta do veículo de comunicação iraquiano Iraqi Network Press Plus (INP+).
Muitas teorias surgiram à época da divulgação das imagens, principalmente de um atentado forjado para inflar as rivalidades entre grupos islâmicos dentro do Iraque. O Bellingcat também encontrou uma menção do ataque na rede de notícias do grupo terrorista Estado Islâmico, na qual eles assumiam a autoria do atentado.
Ataque fazia parte de operação secreta da polícia iraquiana
À época da publicação do texto, o repórter não conseguiu concluir sobre a veracidade do ataque. No entanto, em 7 de novembro de 2019, ele fez uma atualização no texto para contar que o mistério havia sido resolvido pelo jornal norte-americano The New York Times e pelo neozelandês New Zealand Herald.
Os dois jornais contaram que o falso atentado fez parte de uma operação de contraterrorismo da equipe Falcon Intelligence Cell, da polícia iraquiana. Um de seus agentes, o capitão Harith al-Sudani, havia se infiltrado entre os líderes do grupo terrorista Estado Islâmico e recebia missões terroristas de colocar bombas em locais estratégicos para serem detonadas.
O que ele fazia, na realidade, era entregar as bombas à sua equipe para serem desativadas. Como era preciso manter o disfarce, ele simulava as explosões e as fatalidades. Foi essa operação que a câmera local de Bagdá captou naquele dia.
A reportagem "Bombas falsas e atores fingindo estarem mortos: A operação secreta mais perigosa do mundo", do New Zealand Herald, possui frames do vídeo que confirmam se tratar do mesmo material tirado de contexto nas redes sociais.
Ataques entre Hamas e Israel
O mês de maio foi marcado por uma escalada na violência entre o Hamas e o exército israelense. A tensão cresceu também dentro de Israel, onde manifestações da população árabe acabavam em confronto com a polícia. Nesse ambiente, o conflito foi alvo de desinformação nas redes.
Como mostrou o New York Times, até mesmo o porta-voz do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu tuitou um vídeo que afirmava ser de militantes do Hamas na Faixa de Gaza. No entanto, as evidências mostram que o vídeo era de 2018 e provavelmente foi gravado na Síria ou na Líbia.
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