O que estão compartilhando: um vídeo que mostra um “mosquito gigante”, que seria um Aedes aegypti geneticamente modificado. A legenda da postagem afirma que Bill Gates produz cerca de 30 milhões desses mosquitos, fato que teria acarretado a proliferação do vetor da dengue na Argentina e no Uruguai.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Especialista consultado pelo Estadão Verifica afirmou que as imagens não mostram um Aedes aegypti geneticamente modificado, e sim uma mosca predadora da família Asilidae. A postagem também espalha desinformação ao afirmar que Bill Gates produz “cerca de 30 milhões de mosquitos geneticamente modificados”. Esses mosquitos, conhecidos como “Aedes do bem”, não são produzidos e nem financiados por Bill Gates.
Saiba mais: Circula nas redes sociais o vídeo de um “mosquito gigante”. O autor da filmagem compara o tamanho do inseto com um condimento alimentar em sachê e com o seu dedo indicador. De acordo com a postagem, que acumula mais de 150 mil visualizações no Instagram, as imagens mostrariam um Aedes aegypti geneticamente modificado, mas isso não é verdade.
A pedido do Estadão Verifica, Carlos Lamas, curador de diptera (ordem que engloba mosquitos, moscas, entre outros) do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), analisou a gravação e afirmou que as imagens mostram uma mosca predadora da família Asilidae. “Essas moscas são bastante comuns e muitas espécies atingem tamanhos maiores que esta que aparece no vídeo. Portanto, não é um mosquito hematófago (que se alimenta de sangue), muito menos um Aedes aegypti geneticamente modificado”, explicou.
Postagem repete boato já desmentido sobre Bill Gates
De acordo com a postagem, o bilionário Bill Gates seria responsável por produzir cerca de 30 milhões de Aedes aegypti geneticamente modificados. A legenda também afirma que o fundador da Microsoft teria liberado os mosquitos após oferecer vacinas contra a dengue. As duas afirmações são falsas.
Uma checagem do jornal português Observador explicou que, na realidade, a Fundação Bill e Melinda Gates apoia o “World Mosquito Program” (em português, Programa Mundial contra Mosquitos). O projeto é apoiado por um grupo de empresas sem fins lucrativos e liderado pela Universidade Monash, na Austrália. O intuito do programa é “proteger a comunidade global de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue, zika, febre amarela e chikungunya”.
O método utilizado pelo Programa Mundial contra Mosquitos não envolve mudança genética. Conforme explicado pelo site do projeto, os mosquitos Aedes aegypti são infectados pela bactéria Wolbachia, responsável por reduzir a capacidade dos insetos de transmitir vírus como dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Já os mosquitos geneticamente modificados são os chamados “Aedes do bem”, produzidos pela empresa britânica Oxitec, que atua no Brasil há mais de dez anos. Como mostrou uma outra checagem do Estadão Verifica, eles não são produzidos por Bill Gates, nem contam com financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates.
Em nota à reportagem, a Fundação Bill e Melinda Gates desmentiu as postagens que vinculam o trabalho da instituição filantrópica sobre a dengue aos casos da doença registrados no Brasil, Argentina e Uruguai. Além disso, afirmou que não tem relação com os trabalhos que envolvem mosquitos geneticamente modificados. “A fundação não financia nenhum dos trabalhos da Oxitec envolvendo a liberação do mosquito Aedes aegypti na América Latina”, acrescentou.
A publicação também desinforma ao sugerir que os mosquitos geneticamente modificados servem como “negócio” para a vacina contra a dengue. Na verdade, como explicou Verifica, o objetivo da produção desses mosquitos é diminuir a população de fêmeas, que picam as pessoas. Dessa forma, se reduz a proliferação da doença.
Como lidar com postagens do tipo: a publicação aqui analisada utiliza um vídeo sem contexto para reproduzir um boato que já foi amplamente desmentido por agências de checagem. Nestes casos, é possível fazer uma busca por meio de palavras-chave no seu buscador de preferência para encontrar verificações sobre o tema (aqui, a reportagem buscou por “Bill Gates” e “mosquitos geneticamente modificados”).
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