O que estão compartilhando: vídeo mostra protesto com bloqueio em uma estrada. Na tela, está escrito: “nordestinos fazendo bloqueios em rodovias para liberação de água do Rio São Francisco”
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O vídeo é antigo e mostra protesto de outubro de 2023 de agricultores de projetos de irrigação do Sistema Itaparica. Eles reclamavam de corte de energia elétrica e água na região. O Sistema Itaparica não é abastecido pelo Projeto de Integração do Rio São Francisco. Segundo o presidente de Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia, Natanael Caetano da Silva, o abastecimento atualmente está normalizado na região. Apesar disso, ainda há contas de energia em atraso.
Saiba mais: o vídeo mostra uma fila de caminhões e outros veículos parados ao longo da estrada. À direita do vídeo, aparece um grupo de pessoas envolvidas no projeto. Algumas filmam o bloqueio com celulares. Por meio de um busca reversa de imagens (saiba como fazer), foi possível constatar que o vídeo não é atual: ele mostra um protesto no dia 4 de outubro de 2023, no Km 82 da BR 116, próximo ao Trevo do Ibó, em Belém do São Francisco, no Sertão Pernambucano.
A busca reversa levou a uma reportagem do GRTV 2ª Edição, da TV Grande Rio, afiliada da TV Globo em Petrolina. Na reportagem, é possível ver os mesmos elementos (veja abaixo) que constam no vídeo verificado, que circulou originalmente nas redes sociais no dia 6 de outubro de 2023.
Na ocasião, agricultores dos projetos de irrigação Pedra Branca, Fulgêncio e Brígida, que integram o Sistema Itaparica, protestavam contra falta de fornecimento de água e energia na região. À época, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República publicou texto, em 19 de outubro de 2023, afirmando que o Sistema Itaparica não integra a Transposição do Rio São Francisco. E que o abastecimento havia sido normalizado no dia 13 daquele mês. Procurado pelo Estadão Verifica, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) reafirmou que Sistema Itaparica não integra a Transposição do Rio São Francisco.
O Sistema Itaparica é formado por dez projetos públicos de irrigação implantados pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) na década de 1990. Eles estão situados nos Estados de Pernambuco e Bahia, e abrigam as famílias que viviam na área onde foi implantado o lago da usina hidrelétrica de Luiz Gonzaga (PE). O Sistema Itaparica é administrado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
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O Estadão Verifica contatou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia (PE), que representa agricultores dos projetos de irrigação de Icó-Mandantes e Barreiras. O presidente do sindicato, Natanael Caetano da Silva, explicou que os protestos realizados por agricultores do Sistema Itaparica, ao longo de 2023 e 2024, se referem ao corte de energia elétrica pela concessionária Neoenergia devido a atraso de pagamentos pela Codevasf.
“Com contas em atraso, a concessionária corta a energia e ficamos se ter como ligar as bombas para irrigar as plantações, o principal meio de subsistência dos moradores. Com isso, o abastecimento de água para escolas e postos de saúde também fica prejudicado”, esclareceu.
Segundo o presidente do sindicato, o abastecimento de energia elétrica e de água atualmente está normalizado nos projetos de irrigação Pedra Branca, Fulgêncio e Brígida, cujos cortes resultaram no protesto de 2023. “Até onde eu sei, a situação também está normalizada em todos os outros projetos do Sistema Itaparica, embora ainda haja contas de energia em atraso, como as do projeto Fulgêncio”, disse Natanael da Silva.
O Estadão Verifica procurou a Codevasf e a Neonergia. Em nota, a Neonergia disse que, embora a Codevasf tenha quitado no início deste mês parte do débito acumulado ao longo do ano anterior, a companhia permanece inadimplente e as unidades de irrigação seguem suscetíveis à suspensão do fornecimento de energia.
A Codevasf afirmou que o abastecimento de energia elétrica e água nos projetos de irrigação Pedra Branca, Fulgêncio e Brígida, assim como nos demais projetos do Sistema Itaparica, está ocorrendo normalmente. Questionada sobre contas de energia em atraso, a Codevasf respondeu que “as contas do Projeto Fulgêncio foram parcialmente liquidadas”.