O que estão compartilhando: publicação no Facebook do dia 12 de setembro exibe vídeo em que prefeito questiona se as águas das três usinas hidrelétricas do Rio das Antas, no Rio Grande do Sul, foram liberadas de “uma hora para outra” causando as enxurradas que devastaram cidades.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: está fora de contexto. O vídeo do prefeito foi publicado em 8 de setembro e, mais tarde no mesmo dia, órgãos de fiscalização e controle informaram que as cheias não poderiam ser agravadas por conta da estrutura das hidrelétricas. As enchentes que atingiram municípios da região serrana e do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, entre os dias 4 e 5 de setembro, não foram causadas pela liberação de águas das usinas hidrelétricas do Rio das Antas porque as barragens não possuem comportas capazes de regular o fluxo de água.
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Saiba mais: Postagem feita no Facebook exibe vídeo em que o prefeito de Bento Gonçalves (RS), Diogo Segabinazzi Siqueira, questiona se as águas das hidrelétricas próximas às regiões atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul foram liberadas de “uma hora para a outra” sem informe à população. Ele diz que enviou um ofício à Companhia Energética do Rio das Antas (Ceran) e ao governo federal com os questionamentos.
Após a publicação do vídeo do prefeito, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul afirmou que “não há evidências de que as barragens tenham influenciado no agravamento da enxurrada”. A Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), que administra três hidrelétricas da região, ressaltou que a água excedente passou por cima das barragens, sem nenhum tipo de liberação mecânica.
Por nota, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela fiscalização de geração hidrelétrica, disse que as cheias não poderiam ser agravadas por conta da estrutura das barragens. A Agência Nacional de Águas (ANA) também confirmou que a produção de energia é feita apenas com a força da correnteza, sem uso de comportas para regular o fluxo de água.
Ao Estadão Verifica, a prefeitura de Bento Gonçalves informou que “o município vivenciou uma enchente com nível recorde e, para entender o que pode ter ocorrido no dia, realizou questionamentos técnicos à empresa responsável pelas barragens”. A tragédia atingiu mais de 350 pessoas e 315 residências na cidade.
Segundo a prefeitura, a Ceran já encaminhou as respostas ao Ministério Público Federal (MPF) que instaurou um inquérito civil, no dia 7 de setembro, para identificar eventuais irregularidades e possíveis ações preventivas que poderiam ser adotadas no enfrentamento de situações climáticas extremas.
Não há comportas que controlam o fluxo de água nas barragens
A Ceran, empresa que opera três usinas na região, garantiu que as estruturas foram monitoradas em tempo real e não apresentaram risco de rompimento. Em nota, a companhia ressaltou que as barragens não têm capacidade de armazenamento de água e que o excedente passa por cima da estrutura. A usina de Castro Alves – mais atingida pela chuva – não têm comportas que controlam o fluxo do rio.
Como explicaram os órgãos de fiscalização federais, as hidrelétricas operam a fio d’água, ou seja, as vazões que chegam são no mesmo patamar das que saem. “As usinas do complexo Ceran não possuem reservatório de regularização, que permitiriam o amortecimento de cheias. Da mesma forma, as cheias não poderiam ser agravadas pois as barragens são do tipo soleira livre. As vazões recebidas são totalmente diluídas”, disse a Aneel.
As outras duas barragens, de Monte Claro e 14 de Julho, por serem maiores que a Castro Alves, têm duas comportas de vertedouro. Segundo a empresa, elas são abertas somente quando a água já está passando sobre a crista da barragem, para não sobrecarregar as estruturas e garantir a segurança. As estruturas não têm a capacidade de alterar a vazão do rio.
A Ceran também confirmou que não houve rompimento das barragens. “Durante as cheias monitoramos em tempo real todas as estruturas, que em nenhum momento, apresentaram anomalias que indicassem risco de rompimento, o que não levou ao acionamento das sirenes de emergência. Reforçamos que todos os protocolos de segurança de barragem foram cumpridos durante o evento, incluindo as comunicações com as Defesas Civis dos municípios, que atuaram junto à população.”, publicou a companhia.
Em 11 de setembro, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal também negou a alegação de que as barragens teriam causado os alagamentos. “Em plena tragédia que atingiu 92 municípios do Rio Grande do Sul, peças de desinformação estão alegando que parte da alta dos rios foi consequência de uma abertura proposital de comportas em represas da região. As barragens no Rio das Antas, controladas por empresa privada, possuem vertedouros do tipo soleira livre, ou seja, não possuem estruturas que possibilitem o controle da vazão do rio”.
Ciclone causou catástrofe no Rio Grande do Sul
A tragédia que devastou cidades do Sul foi causada por um ciclone extratropical e deixou, até o momento, 47 mortos. O sistema meteorológico causou enchentes, destelhamento de casas, queda de árvores e mortes por conta de uma área de baixa pressão atmosférica, onde os ventos giram em um círculo completo, no sentido horário no Hemisfério Sul. Eles se originam a partir de grandes contrastes de temperatura.
Como publicou o Estadão, em consulta ao Climatempo, “quanto mais baixa a pressão atmosférica, mais intensos são os ventos e maior é o potencial para formação de nuvens carregadas, que podem provocar chuva intensa. O processo de formação de um ciclone extratropical, próximo do continente, pode provocar muitas horas consecutivas de chuva e os grandes acumulados podem causar enchentes, encharcamento do solo e deslizamentos de terra”, acrescenta a Climatempo.
O fenômeno que atingiu o Estado causou uma situação muito parecida com outros eventos de formação de frente fria e de ciclones que têm ocorrido no Sul do País desde meados de junho.
Como lidar com postagens do tipo: Devido à magnitude da catástrofe que atingiu o Rio Grande do Sul, muitas alegações confusas, incompletas e falsas circulam para gerar ainda mais pânico ou apontar possíveis culpados. Neste momento, é importante procurar por informações de qualidade na imprensa profissional sobre o ocorrido.
O Projeto Comprova e o Aos Fatos também publicaram checagens sobre o assunto.
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