O que estão compartilhando: que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi reconhecido pelo mundo todo como “bandido, antidemocrático, antipatriota e apoiador de terrorismo”.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso porque o vídeo não tem relação com o conflito recente entre Hamas e Israel. Publicações nas redes sociais reproduzem trecho de um discurso do senador republicano Ted Cruz, do Texas, nos Estados Unidos. A fala, contudo, é de setembro deste ano. Na ocasião, o político questionou o Secretário de Estado Adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, sobre possíveis sanções que o governo dos Estados Unidos poderia aplicar ao Brasil em razão da atracação de dois navios de guerra iranianos no porto do Rio de Janeiro em fevereiro.
Saiba mais: publicações virais tentam relacionar o pronunciamento do político norte-americano aos recentes confrontos no Oriente Médio, que envolvem Israel e o grupo extremista Hamas. O discurso de Ted Cruz, contudo, é anterior à guerra, que foi iniciada no dia 7 de outubro após ataques terroristas do Hamas. Já no dia 7, Lula condenou os ataques e convocou uma reunião de emergência no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
No dia 7 de setembro, um mês antes do início dos recentes conflitos entre Israel e o Hamas, o senador Ted Cruz questionou Brian Nichols sobre eventuais sanções que o governo norte-americano poderia aplicar ao Brasil, sob justificativa de que dois navios de guerra iranianos atracaram no porto do Rio de Janeiro em fevereiro.
À época, a Marinha do Brasil havia autorizado que os dois navios iranianos atracassem no porto do Rio de Janeiro. A autorização foi concedida pelo Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, Carlos Eduardo Horta Arentz, e contrariava solicitação dos Estados Unidos para que não fosse permitida a entrada das embarcações militares em territórios brasileiros. A decisão causou desconforto diplomático entre Brasil e Estados Unidos.
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Ao Estadão, a Marinha afirmou que o processo de autorização para a entrada de um navio estrangeiro no Brasil é feito pelo Ministério das Relações Exteriores pelo país ao qual as embarcações pertencem. Após a autorização do ministério, a Marinha emite um documento oficial autorizando a entrada, que é publicado no Diário Oficial da União.
No dia 28 de fevereiro, Ted Cruz já havia criticado o Brasil pelo episódio. Em comunicado, o republicano disse que “a atracação de navios de guerra iranianos no Brasil é um desenvolvimento perigoso e uma ameaça direta à segurança dos americanos”. Na ocasião, ele também pediu que o governo Biden impusesse sanções ao País e reavaliasse os laços entre EUA e Brasil.
O trecho compartilhado nas redes sociais, contudo, é um depoimento mais recente do político conservador. No início de setembro, o senador disse que Biden já utilizou sanções anteriormente contra países ocidentais que não respeitaram leis norte-americanas. De acordo com o republicano, Biden estaria protegendo o presidente Lula, que seria “seu autoproclamado amigo próximo”.
Ainda em seu depoimento, Cruz disse que está “profundamente preocupado” com o Ocidente, que, segundo ele, está “sobrecarregado pelo antiamericanismo”. Ele chamou o presidente Lula de “chavista antiamericano que abraça o Partido Comunista Chinês, Vladimir Putin e o regime iraniano” e elogiou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o qual chamou de “líder pró-americano”.
Cabe pontuar, no entanto, que os depoimentos de Ted Cruz não representam, necessariamente, o governo de Joe Biden, tampouco um posicionamento “internacional”, como sugere a postagem aqui analisada.
Vídeos de Ted Cruz já foram utilizados anteriormente para espalhar desinformação. O Estadão Verifica já desmentiu, por exemplo, que o senador norte-americano estaria preparando sanções ao Brasil devido às declarações de Lula sobre Vladimir Putin durante o G-20.
Como lidar com postagens do tipo: A peça verificada utiliza um vídeo real, mas fora de contexto, para fabricar uma mentira. Nesses casos, é importante buscar mais detalhes sobre a conjuntura do vídeo compartilhado nas redes sociais. Uma pesquisa no Google por palavras-chave pode ajudar.
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