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Vídeo em que homem beija criança não foi gravado na Ilha do Marajó

Caso aconteceu no Mato Grosso do Sul, em 2021; postagens utilizam gravação como suposta prova de denúncias de tráfico de menores na região do Pará

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O que estão compartilhando: um vídeo que mostra um homem adulto beijando uma criança na boca. A legenda diz que o caso teria acontecido na Ilha de Marajó, no Pará.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A gravação é verídica, mas é compartilhada fora de contexto nas redes sociais. Ela foi feita durante um passeio de barco no rio Paraná, em Mato Grosso do Sul, em novembro de 2021.

Vídeo de homem beijando criança não foi filmado na Ilha do Marajó, ao contrário do que afirma postagem Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: por meio de uma busca reversa de imagens (veja aqui como fazer) e pesquisas por palavras-chave, o Estadão Verifica identificou uma reportagem publicada pelo g1 do Mato Grosso do Sul, de 24 de novembro de 2021, que informava sobre o caso.

No vídeo, um homem adulto beija uma criança na boca. Em seguida, ele sorri para a câmera e, depois, beija a cabeça da menina. As imagens foram registradas pela mãe da criança, que aparece sorrindo na gravação. A filmagem foi feita durante um passeio de barco no rio Paraná.

Na época, o vídeo ganhou repercussão em Itaquiraí, no Mato Grosso do Sul. Em sequência, a Polícia Civil iniciou uma investigação e acionou o Conselho Tutelar. O casal foi encaminhado à delegacia, interrogado e posteriormente liberado, já que não houve flagrante.

Segundo o delegado responsável pelo caso informou ao g1, houve um pedido de prisão preventiva do homem logo após o interrogatório. Ele não chegou a ser preso, pois foi assassinado ainda no mesmo dia.

“Conseguimos o endereço do homem e fomos atrás dos envolvidos. Interrogamos ele, que admitiu o beijo, mas alegou que não abusou da criança. Como não houve flagrante, ele foi interrogado e liberado para retornar para casa. Ainda na terça, após o interrogatório, entramos com pedido de prisão preventiva deste homem. Porém, à noite, ele foi morto”, afirmou o delegado responsável.

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Ainda segundo o delegado, as investigações em relação a ele foram dadas como concluídas após o assassinato do homem, em razão de sua morte. Na época, a investigação continuou para apurar uma eventual conivência da mãe, que negou ter percebido o beijo durante a gravação.

A Polícia Civil do MS em Itaquiraí também investigava o assassinato do homem. À época, de acordo com o g1, havia dois suspeitos, cujos nomes e relação com a vítima não foram divulgados. O Estadão Verifica entrou em contato com a Polícia Civil do MS para apurar atualizações sobre a investigação, mas não recebeu retorno até o encerramento desta checagem.

Postagens associam caso à Ilha de Marajó

Nos últimos dias, postagens têm compartilhado diversos conteúdos relacionados à Ilha de Marajó. A disseminação dos conteúdos virais ocorre logo após a apresentação da cantora paraense Aymeê Rocha em um reality show de música gospel, no qual cantou uma música autoral que narra sobre supostos casos de exploração sexual infantil na região.

As publicações nas redes sociais trazem à tona uma denúncia nunca comprovada feita pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), em outubro de 2022, em uma igreja da Assembleia de Deus, em Goiânia (GO). Damares citou três CPIs sobre o assunto como supostas evidências da veracidade da denúncia. O Estadão consultou os relatórios das comissões e não encontrou as alegações mencionadas.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Em setembro de 2023, a Procuradoria da República no Pará afirmou que nenhuma das acusações foi confirmada, mesmo após a mobilização de uma força-tarefa para investigar o caso e de uma grande aplicação de recursos públicos. O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública na 5ª Vara Federal Cível em Belém e pediu que a senadora seja condenada a pagar R$ 2,5 milhões de indenização por denúncias infundadas, com a mesma pena solicitada contra a União.

O MPF reconhece “as graves violações de direitos humanos e a ocorrência de crimes graves na região do Marajó, incluindo exploração sexual de crianças e adolescentes”. Afirmou, contudo, que nunca recebeu denúncias semelhantes às feitas pela ministra em 30 anos. De acordo com o órgão, os registros compartilhados pelo ministério então chefiado pela senadora eram “desorganizados” e “genéricos”.

No vídeo aqui checado, a postagem também exibe uma gravação de policiais retirando um número grande de crianças de dentro de um carro. E diz que o fato teria acontecido na região de Marajó. Na verdade, como já mostrou o Estadão Verifica, as imagens foram feitas no Uzbequistão e não mostram um caso de tráfico humano.

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No ano passado, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) instituiu o Programa Cidadania Marajó, por meio da Portaria nº 292, de 17 de maio 2023. De acordo com o órgão, o programa tem propósito de “promover a cidadania, garantir os direitos fundamentais e combater a exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes”.

O Aos Fatos também desmentiu a peça verificada.

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