Vídeo inventa fechamento de montadoras e faz falsa projeção de desemprego

Autor da postagem não trabalha na Citröen, que negou que sairia do País; Toyota também não fechou as portas

PUBLICIDADE

Esta checagem foi produzida por jornalistas da coalizão do Comprova. Leia mais sobre nossa parceria aqui.

PUBLICIDADE

Conteúdo investigado: Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um homem alegando que é funcionário da Citroën e que a montadora fechou as portas no Brasil, demitindo 13 mil funcionários. Ele acrescenta que a Toyota também acaba de fechar suas unidades e que até maio o país terá 15 milhões de desempregados. Ao final, coloca a culpa desse cenário no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, segundo ele, teria planejado assumir o governo para aos poucos quebrar o país.

Onde foi publicado: X e TikTok.

Conclusão do Comprova: As montadoras Citroën e Toyota não encerraram suas atividades no Brasil, demitindo milhares de pessoas. A alegação falsa aqui checada circula desde janeiro de 2023 e já foi desmentida anteriormente, por Reuters e UOL Confere.

Publicidade

A Stellantis, dona da marca Citroën, negou ao Comprova que o homem que aparece nas imagens tenha integrado os quadros da companhia e afirmou que as declarações contidas no vídeo são falsas.

Montadoras negam terem fechado as portas no Brasil. Foto: Reprodução/Tiktok

Conforme a montadora, a planta de produção de veículos e motores de Porto Real, no Rio de Janeiro, onde os veículos Citroën são fabricados, é um ativo importante e estratégico, e continuará em funcionamento. “A unidade segue preparada para atender às demandas dos consumidores e ao crescimento do mercado”, informou a empresa, em nota.

A Toyota, por sua vez, informou não ter realizado, neste ano, anúncio referente ao fechamento de unidades. A empresa explicou que, em novembro de 2023, concluiu um processo de transferência das operações da fábrica da cidade paulista de São Bernardo do Campo para as demais unidades (em Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, no interior de São Paulo). “Reafirmamos nosso compromisso com o Brasil, desmentindo quaisquer alegações de encerramento das operações no país”, afirma a montadora.

Em relação ao fechamento da fábrica em São Bernardo, a Toyota informou que a decisão se deu pela concentração estratégica das operações no interior de São Paulo. Não foi informado o número de funcionários desligados da unidade, mas, conforme publicado por Época Negócios, havia 550 trabalhadores no local.

Publicidade

Em janeiro de 2023, primeiro ano do governo Lula, quando o vídeo começou a circular, o homem que faz as falsas alegações previa entre 13 e 15 milhões de desempregados no Brasil em maio. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, principal instrumento para monitoramento da força de trabalho no país, o contingente dos desocupados no Brasil no segundo trimestre de 2023 era de 8,6 milhões, bem abaixo do número citado no conteúdo checado.

A taxa de desocupação do país no segundo trimestre (abril, maio e junho) de 2023 foi de 8%, caindo 0,8% ante o primeiro trimestre (8,8%) e 1,3% frente ao mesmo trimestre de 2022 (9,3%), durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego caiu 1,8% em 2023 em comparação ao ano de 2022. Os dados da Pnad Contínua demonstram que a taxa de desocupação em 2023 foi de 7,8% e a de 2022 foi de 9,6%. Em 2023, o Brasil tinha uma população desocupada de 8,5 milhões.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Publicidade

PUBLICIDADE

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo aqui checado foi visualizado 169,7 mil vezes no TikTok e outras 109,3 mil vezes no Twitter.

Como verificamos: Uma busca no Google pelas palavras chaves “Citroën”, “Toyota”, “demissões”, “sair” e “Brasil” levou a uma verificação do Uol Confere que desmentiu em abril de 2023 o vídeo aqui checado. Além disso, pesquisamos por notícias em canais confiáveis que confirmassem a alegação, mas não encontramos nenhum resultado. Em seguida, procuramos as duas montadoras e buscamos os dados de desemprego referentes ao primeiro ano do governo Lula. Por fim, tentamos falar com o responsável pelo compartilhamento do vídeo e pelo homem que aparece na gravação.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova enviou mensagem via Kwai para Luiz Antônio Dornelas Lopes, que se identifica no vídeo como funcionário da Citroën, e via TikTok para Edvaldo Alves Machado, que compartilhou o conteúdo recentemente. Nenhum deles respondeu.

O que podemos aprender com esta verificação: Este caso destaca a importância de verificar informações com fontes confiáveis antes de compartilhar conteúdos. O vídeo em questão já havia sido desmentido anteriormente por agências de checagem de fatos e as duas empresas citadas haviam negado as alegações. Informações alarmantes, como as de demissões em massa e de grande impacto na economia, sempre devem ser confirmadas junto a fontes confiáveis, como veículos de comunicação profissionais, por exemplo.

Publicidade

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi verificado em 2023 por Reuters e UOL Confere. Boatos sobre diferentes negócios foram desmentidos anteriormente pelo Comprova, que identificou ser falso que a Ford vai deixar de produzir veículos de passageiros globalmente, ser enganoso que fábricas estejam fechando filiais na Argentina para vir ao Brasil e que um áudio inventa que produção de montadora está esgotada até 2021 para afirmar que Brasil pode se tornar maior economia do mundo. Sobre emprego, já demonstramos que uma publicação engana ao comparar dados de Lula e Dilma com Bolsonaro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.