Com a proposta de levar as discussões sobre arquitetura a um público não especializado - e, com isso, ajudar a melhorar a produção dos próprios arquitetos -, a Trienal de Lisboa encerrou suas exposições esta semana e já está em busca de um novo curador. Seu presidente, José Mateus, falou ao Casa sobre a lógica de curadoria ativista e dos planos para a próxima edição, em 2013.
A Trienal de Arquitetura de Lisboa é uma mostra dirigida a leigos. Por quê?
Porque falta exigência em relação à qualidade da arquitetura. As pessoas se contentam com pouco, porque conhecem pouco. Por isso nos guiamos por uma lógica de curadoria ativista, que quer gerar mais do que reflexão.
Que iniciativas foram desenhadas para atrair o público não especializado?
A primeira foi garantir que os temas da Trienal estimulassem discussão entre leigos. Na primeira edição, refletimos sobre o uso das cidades, explorando o tema dos vazios urbanos. Na segunda, falamos de casas como reflexos culturais, geográficos e antropológicos.
Por que decidiram distribuir as mostras que compõem a Trienal em diversos museus?
Queríamos, com essa ramificação, que as pessoas praticamente tropeçassem em nossas exposições. Também fizemos um esforço de captação de recursos para garantir que a entrada fosse gratuita em todas elas. E deu certo: nesta segunda edição, estimamos um público total superior a 120 mil pessoas. Na primeira edição, realizada em 2007, foram 52 mil.
Duas exposições exibem projetos selecionados em concursos. Fale mais sobre eles.
São os projetos Cova da Moura e Casa em Luanda, reunidos no Museu da Eletricidade. O primeiro, dirigido a estudantes de arquitetura, pedia que soluções urbanísticas para melhorar a qualidade de vida no bairro de Cova da Moura. O segundo, voltado a arquitetos em exercício, buscava a melhor proposta de habitação econômica para Luanda, onde os custos são muito elevados.
Há planos de tirar do papel os projetos que venceram o concurso Casa em Luanda?
Gostaria, pessoalmente, que pelo menos uma casa fosse construída. É parte da nossa lógica de curadoria ativista. Para isso, estamos em uma negociação, ainda sigilosa, como uma empresa que atua aqui em Portugal e também em Angola. Só não sabemos quais dos projetos finalistas será construído. A solução de uma casa de taipa de pilão, como a que venceu o concurso, é mal percebida em Angola, onde as pessoas buscam materiais que deem sinais de enriquecimento.
Que outras iniciativas estão previstas ?
Queremos publicar os projetos em livros do tipo fac-símile, semelhantes ao Modern Arquitects. E vamos, agora no primeiro trimestre de 2011, abrir um concurso internacional para selecionar o curador da Trienal de 2013.
Que perfil de curador vocês buscam?
Tem de ser o melhor do mundo inteiro (risos). A ideia é dar um grande salto de qualidade em 2013, levando as exposições também para o Porto e outros países. O profissional que propuser o tema e projeto de curadoria mais interessante será o escolhido. Os interessados podem conferir nosso site.
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