Cosméticos sólidos e veganos ganham clientes com apelo socioambiental

Empresas apostam em produtos em barras com embalagem biodegradável; bandeira da conservação ambiental tem eco também em marca de maquiagens

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Por Redação

Os cosméticos sólidos tomaram conta das redes sociais e dos e-commerces nos últimos meses. A proposta de produtos compactos e que não produzem lixo com embalagens plásticas é atrativa para um público cada vez mais preocupado com o ambiente e questões de sustentabilidade. Nesta seara de inovações, cada vez mais marcas apostam em produtos como xampu, condicionador e batom, entre outros, vendidos em barras.

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De acordo com uma pesquisa conduzida pela Offerwise Research, empresa de pesquisa de mercado, o descarte de lixo é uma das maiores preocupações ambientais dos brasileiros. E, para contribuir com a redução da produção de lixo, 59,8% dos consumidores afirmaram que comprariam produtos eco-friendly.

A Positiv.a é uma dessas marcas, que comercializa produtos veganos e naturais para limpeza e cuidados com o corpo. Uma das estrelas da empresa é o desodorante com embalagem feita sem plástico, compostável e reciclável. 

“Não existe o indivíduo sem a natureza, e estamos explorando a natureza sem pensar que somos parte dela. Por isso é importante pensar no ciclo de vida do produto”, conta Marcella Zambardino, co-CEO da Positiv.a. Segundo ela, o lançamento do desodorante, em setembro de 2020, teve sucesso imediato. A Positiv.a estimava vender 2 mil unidades, mas recebeu 4,5 mil pedidos e lidou com uma ruptura de estoque.

A Positiv.a comercializa produtos veganos e naturais para limpeza e cuidados com o corpo. Foto: Divulgação Positiv.a

Os compradores em sua maioria eram mulheres e pessoas com alergias, que buscam alternativas veganas ou eco-friendly. Com essa alta, a marca viu seu faturamento chegar a R$ 9 milhões em 2020, o que representa um aumento de 96% em comparação com o ano anterior, com vendas feitas pela internet e em lojas parceiras.

A B.O.B. (Bars Over Bottles) é outra marca do nicho, lançada no fim de 2019 para vender xampus, condicionadores e outros cosméticos capilares em barra. De acordo com a empresa, produtos vendidos na forma líquida são compostos por cerca de 80% água e, sendo de maneira sólida, é possível concentrar os ativos necessários sem impactar o ambiente.

Além de reduzir o uso de água, a B.O.B também aposta em produtos que são veganos e embalagens de biodegradáveis para atrair clientes. A empresa previa faturamento de R$ 10 milhões para 2020, com vendas também impulsionadas por uma maior conscientização dos consumidores sobre a geração de lixo em casa na pandemia. A empresa não revela com qual faturamento fechou o ano passado.

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“O pilar de sustentabilidade já é um fator de decisão na escolha de um produto. E está muito claro para a gente que é o consumidor que vai puxar a transformação do mercado, em busca de um ciclo de produção circular e mais sustentável”, diz Andreia Quercia, cofundadora da marca.

Maquiagens sólidas e veganas

Além dos cuidados com o corpo, as maquiagens sólidas também ganharam destaque nos últimos tempos no mercado. A AmoKarité foca em cosméticos naturais, veganos e multifuncionais: o mesmo pigmento pode ser utilizado como batom, sombra ou blush. O formato lúdico de frutinhas faz referência às origens dos pigmentos e ingredientes (formato de um morango, por exemplo), que também incluem extraídos de rochas e manteiga de karité.

A marca surgiu de uma demanda pessoal da fundadora, a publicitária Estephanie Racy, que, ao se tornar vegana em 2019, passou a prestar mais atenção nos ingredientes dos produtos que utilizava. Percebeu que nenhum se encaixa ao seu novo estilo de vida. 

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O negócio, que começou com uma produção caseira em um apartamento no centro de São Paulo, hoje opera de Gonçalves (MG) e conta com uma fábrica de cerca de 300 metros quadrados. As vendas são feitas totalmente online no site próprio da AmoKarité e, segundo a empreendedora, a meta de faturamento é de R$ 1,5 milhão em 2021, com objetivo de crescimento de 100% em 2022. 

Para a fundadora, uma questão trazida pela pandemia no ramo é ter que concentrar as vendas no espaço virtual pela insegurança de abrir lojas físicas. “Para maquiagem, é uma coisa complicada. Porque as pessoas precisam, querem testar aquilo, ver, passar na pele, dar uma volta, ver como fica, se fica mesmo. Então acho que isso é um dos maiores desafios – é a pessoa comprar ‘às cegas’”, diz.  

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A AmoKaritécomeçou comprodução caseira e hoje operaem uma fábrica de cerca de 300 metros quadrados. Foto: Amo Karité/Divulgação

Estephanie conta que “condensar” várias funções em um mesmo produto e apresentá-lo na forma sólida – reduzindo o lixo envolvido na venda – era algo muito importante para a marca, já que veganismo e preocupação ambiental costumam caminhar lado a lado. “Não fazia sentido, para mim, ter uma maquiagem vegana, beleza natural, que faz bem, mas com essas embalagens plásticas que demoram até 400 anos para se degradar no ambiente.”

A fundadora da AmoKarité destaca também que um dos grandes diferenciais da empresa são as funções nutritivas e hidratantes das maquiagens. Nas redes sociais, a empresa mantém um contato direto com os clientes, personalizando a comunicação e promovendo o marketing digital. “Queremos mostrar que a nossa maquiagem não vai fazer um reboco no seu rosto.”

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Consumidores do desperdício zero

Esse resgate do natural não só na composição dos cosméticos como também na aparência de quem usa é um dos benefícios apontados pela criadora de conteúdo Cristal Muniz. Desde 2014, ela relata sua experiência e compartilha dicas de como viver uma rotina zero waste, ou seja, que busca o menor desperdício e menor produção de lixo possíveis, e encontrou nos produtos sólidos e naturais grandes aliados. 

Há cerca de seis anos, ela adotou xampus sólidos e, ao longo do tempo, testou diversas opções com diferentes efeitos nos cabelos. Outros sólidos testados incluem tabletes para escovar os dentes, hidratante corporal e sabonete facial. Cristal destaca, porém, que cosméticos naturais podem não funcionar para todos os corpos, é preciso testar.

A mentora de negócios ecológicos Lívia Humaire também ressalta que, ao adotar práticas mais sustentáveis, especialmente em relação a cosméticos, existe um período de adaptação ao novo. Com xampus sólidos, por exemplo, é normal que o cabelo “estranhe” produtos diferentes, o que pode inicialmente levar a uma oleosidade ou ressecamento.

Andreia Quercia e Victor Falzoni, cofundadoresda marca B.O.B. Foto: Leo Martins/Estadao

“Tudo tem uma transição, porque se a gente for ver, para a gente transitar de um mundo onde a sustentabilidade está completamente abalada, para uma relação mais simbiótica com o planeta, mais sustentável, mais ecológica, a gente vai ter que fazer transição em diversas áreas da nossa vida”, diz.

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Inspirada por essa filosofia, Lívia criou a plataforma Transições Eco-Lógicas, onde debate medidas mais sustentáveis e orienta novos empreendedores a criarem negócios de menor impacto ambiental. Ela aderiu ao zero waste em 2014 e, em 2018, inspirada por empreendimentos estrangeiros, fundou a Mapeei - Uma Vida sem Plástico, em São Paulo, primeira loja dedicada ao movimento no Brasil.

Lívia vendeu sua parte no empreendimento para um de seus sócios em 2020, mas a ideia central de um espaço com a menor produção de lixo possível continua: a loja opera em ponto físico na rua Augusta e também online, com produtos de marcas parceiras com apelo zero lixo e natural, em embalagens reaproveitáveis ou biodegradáveis. O catálogo inclui itens que vão desde absorventes de pano e escovas de dente em bambu a cosméticos e itens de limpeza, incluindo itens da Positiv.a e da B.O.B.

Hoje realocada para a Suíça, Lívia busca orientar novos empreendedores a partir de sua própria experiência e desafios montando seu negócio. Ela buscou soluções para detalhes que iam desde o papel de recibos e notas fiscais até como operar um e-commerce sem plástico.

“Os detalhes, para mim, fazem muita diferença. Você pode vender produto sustentável ou você pode ser um negócio sustentável, e tem uma grande diferença nisso”, diz. “Eu sempre busco trabalhar para que os negócios sejam ecológicos e que eles possam ser regenerativos, em vez de negócios degenerativos.”

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