SÃO PAULO - A USP está em 93º lugar na lista das 100 melhores universidades do mundo em Ciências da Vida, no ranking de 2013 do Times Higher Education (THE), o mais prestigioso indexador internacional do gênero. São cerca de 50 as Ciências da Vida abrangidas por essa classificação, o que inclui anatomia, bioquímica, biologia, botânica, ecologia, genética, ciências da saúde, imunologia, biologia marítima, neurociência, farmacologia e zoologia.
Em 2013, a USP ficou em 61º/70º lugar no ranking do THE das 100 universidades de melhor reputação no mundo. Esse ranking é construído com base em avaliação subjetiva e pontuação atribuída por 16.639 pesquisadores de 144 países. A proporção de pesquisadores por área de conhecimento é balanceada. São pesquisadores consagrados, acadêmicos com publicações, pessoas mais bem situadas no mundo acadêmico e "que melhor conhecem a excelência de nossas universidades".
No entanto, a USP, em seu conjunto, neste ano não aparece na lista das 200 melhores universidades. Entrou no ranking em 2005, em 196º lugar, subiu para o 178º em 2012 e subiu mais ainda, para o 158º, em 2012. Nesse ano, teve a mesma pontuação que as Universidades de Tel-Aviv e de Birmingham e melhor pontuação que prestigiosas universidades como a de Ottawa (Canadá), de Bonn (Alemanha) e Liverpool (Inglaterra). A USP não caiu sozinha na classificação do THE. Tel-Aviv, Bonn, Ottawa e Liverpool também caíram, embora ainda apareçam na lista das 200 melhores.
O desencontro entre o índice de reputação e o índice das melhores universidades, no que à USP se refere, sugere cautela na avaliação. A reputação depende de uma lenta construção de prestígio e indica um crédito que não se esgota, ainda que temporariamente, como o calculado por outros indicadores. A reputação reconhece uma história passada e um potencial de futuro.
Já o índice de melhor universidade reúne pontuações em 13 indicadores, como ensino, pesquisa, citações de trabalhos por outros pesquisadores, interação universidade/indústria, internacionalização, pesquisas que tenham pelo menos um coautor de universidades de outros países. As três universidades públicas paulistas - USP, Unicamp e Unesp - têm se empenhado significativamente para lograr melhor desempenho nesses itens,.
No sentido da internacionalização, vale destacar a contribuição decisiva da Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -, que vem celebrando convênios com um grande número de universidades de dezenas de países, nos vários continentes, para envio de pesquisadores e estudantes das universidades paulistas e para recebimento de pesquisadores e estudantes estrangeiros nas universidades daqui. Dessa colaboração deve se desenvolver melhor conhecimento do que se faz em nossas universidades e também oportunidades de publicações conjuntas. A Fapesp tem intensificado, com bons resultados, o apoio a projetos conjuntos entre a universidade e a indústria, um campo em que a cooperação ainda poderá crescer muito.
Nosso gargalo está na publicação de artigos científicos em revistas internacionais, publicadas em inglês. Temos excelentes revistas científicas no Brasil, em todas as áreas. Porém, publicadas em português, atendem a nossa patriótica veneração da língua nacional, mas não caem diante dos olhos dos pesquisadores de outros países. Diga-se em favor do pesquisador brasileiro que, frequentemente, lê e até escreve em mais de uma língua estrangeira, mérito que não tem a maioria dos pesquisadores americanos e ingleses que, quase sempre falam, leem e escrevem apenas em sua própria língua.
É claro que há fatores adversos a que a USP, a Unicamp e a Unesp logrem concretizar no futuro próximo seu melhor potencial. O número de dias ociosos em nossas universidades é muito superior ao das universidades com melhor desempenho. Temos aulas em pouco mais da metade do ano letivo: quase quatro meses de férias, Semana Santa, Semana da Pátria, feriadões e, na USP, as greves que praticamente entraram no calendário escolar. É pouco provável que as descontinuidades que demarcam esse calendário de ociosidade e conflito contribuam para a apropriada formação dos estudantes. Mesmo com a farsa das reposições de aulas. Pouco provável, também, que a casta dos estudantes de marreta de demolição em punho, como vimos na semana passada na USP, a turma do quebra e ocupa, represente uma poderosa contribuição ao desenvolvimento da ciência e à melhora de nossa competência no ensino e na pesquisa.
Prejudicam e prejudicam-se. As universidades do topo da lista são no geral de ensino em tempo integral, com severas exigências quanto ao rendimento escolar e a disciplina. Em Cambridge, sempre entre as cinco universidades mais importantes e a maior coleção de Prêmios Nobel do mundo, aluno reprovado numa única disciplina é simplesmente expulso. Sem contar que essas universidades são poupadas das descabidas despesas com os reparos de depredações, dinheiro que é para ser usado no ensino e na pesquisa.
* José de Souza Martins foi, em 1993-1994, professor da Cátedra Simón Bolívar, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), e Fellow de Trinity Hall. É autor, entre outros livros, de A Sociologia Como Aventura (Contexto)
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