A quarentena na Itália

William Mariotto e Lucas Almeida

16 de março de 2020 | 21h40

CONTEÚDO ABERTO PARA NÃO-ASSINANTES

Desde terça-feira, 9, o governo da Itália anunciou uma ampliação da quarentena para todo o país com o objetivo de conter o avanço do coronavírus. Restrições de deslocamento foram adotadas em todo o território italiano. O Estado conversou com pessoas que vivem no país e contam como tiveram as vidas afetadas.


Gabriella Lombi,
62 anos, funcionária pública. Mora na capital Itália. (Roma)

‘Estamos todos em casa, na esperança de combater esse inimigo’

“Me chamo Gabriella e moro em Roma. Na rua onde moro, normalmente passam muitas pessoas, existem muitas lojas, bares, pizzarias, restaurantes, cabeleireiros, um campo de futebol onde normalmente os rapazes vão jogar.
Nessa rua, agora passam poucas pessoas. Todos devem ficar em casa, ninguém pode sair, só em casos excepcionais. Para ir ao médico, só em casos urgentes.

Também só se pode sair para comprar comida, ir na farmácia. Todos tem que ter uma justificativa para sair. Para ir ao médico, só em casos urgentes. Também só se pode sair para comprar comida, ir na farmácia. Todos tem que ter uma justificativa para sair.No meu bairro, as pessoas idosas passeavam, iam tomar café no bar na rua perto de casa. As pessoas passavam os dias conversando sob o sol, a rua era cheia de jovens, de mulheres que se encontravam.

Mas, agora, estamos todos em casa, e unidos na esperança de poder combater esse inimigo invisível que nos pegou de surpresa. Estamos muito contrariados e também muito tristes. Essa é uma batalha muito difícil. Porém, estamos todos solidários e sei que conseguiremos vencer esse inimigo e tudo voltará ao normal.

Estou certa que, com muita coragem e perseverança, sairemos novamente às ruas, iremos aos parques e aproveitaremos essa maravilhosa cidade.”

TV/Estadão

Vincenzo Vosa,
53 anos, engenheiro. Nascido em Napoli, mas mora na capital há mais de 20 anos. (Roma)

‘Não cheguem ao ponto que chegamos na Itália’

“Sou nascido em Nápoles e moro em Roma há cerca de 20 anos. Sou casado com uma brasileira e minha filha tem dupla cidadania. Gostaria de dar esse depoimento para mostrar como foi enfrentado o problema do novo coronavírus na Itália e os erros que foram cometidos. Espero que os brasileiros enfrentem essa situação da melhor maneira possível, para bloquear o quanto antes a epidemia. Na Itália, como em todo mundo, vimos a propagação do vírus na China.

Mas pensávamos estar de algum modo protegidos, afinal a China está muito longe. As iniciativas que foram tomadas para bloquear a difusão do vírus na Itália provavelmente não foram muito incisivas e havia informações contraditórias.

Primeiro, definimos zonas vermelhas no norte da Itália. Havia um isolamento total, deixando que no resto do país as pessoas pudessem se locomover, as escolas ficaram abertas, os escritórios continuaram funcionando. As atividade normais se desenvolviam como se nada estivesse acontecendo.

O resultado é que os casos se multiplicaram e o governo decidiu pela quarentena em todo o país. Agora, escolas, comércios e as principais repartições estão fechadas. Minha família tinha consultas que foram canceladas. Trabalho como vendedor e as visitas aos clientes foram canceladas, assim como eventos, feiras, cursos de formação. Tudo está parado.

A situação mudou rapidamente e muito radicalmente. Por isso, a mensagem que gostaria de dar aos cidadãos brasileiros é: não cheguem ao ponto que chegamos na Itália para tomarem as medidas essenciais. Lavem as mãos, evitem contatos físicos, abraços, apertos de mão. Tentem evitar, na medida do possível, não ir a locais lotados. Tentem tomar todas as iniciativas que a Itália tomou, infelizmente, com grande atraso.”

TV/Estadão

Karin Fogaça de Almeida,
39 anos, fisioterapeuta, mora há 14 anos na Itália (Roma)

‘É tudo muito novo, assustador’

“Moro em Roma há alguns anos e trabalho em uma cidade próxima chamada Latina (uma comuna italiana da região do Lácio). Desde quinta-feira passada, 5, trabalho de casa. No dia a dia, nos supermercados, só podem entrar apenas cinco pessoas por vez, para evitar qualquer tipo de aglomeração. Meios de transportes e farmácias continuam com serviço normal, mas o restante praticamente parou. Não há lojas abertas.

Eu trabalho em empresa que presta assistência domiciliar, nosso serviço continua. Temos que pedir uma permissão para poder rodar pela cidade. Se a polícia parar a gente, precisamos justificar por que estamos fora de casa.

É tudo muito novo, assustador. Nunca vivemos essa situação. Dentro de casa, a vida parece normal. Os alimentos não estão faltando. Mercados estão sendo abastecidos normalmente, assim como farmácias.

É só mesmo o fato de não poder sair de casa e não ter contato com outras pessoas. E se tiver contato, manter distância de segurança, de pelo menos um metro. Coisas muito difíceis de serem aplicadas.”

TV/Estadão

Daniele Brancaleoni,
de 55 anos, morador de Rimini (Região de Emilia-Romagna)

‘Aqui está tudo fechado, completamente deserto’

Daniele nos leva pelas ruas, agora desertas, da cidade de Rimini. Balneário no mar Adriático que no verão atrai muitos visitantes de toda a Europa. A cidade também é famosa por ser a terra natal de Federico Fellini e aparecer em alguns de seus filmes.

Estamos aqui. “Este sou eu na minha bicicleta. Posso andar tranquilamente no meio da rua. Essa é a zona de pedestres que normalmente está cheia de gente.

Chegando na estação, onde estão fazendo obras de reestruturação porque há cerca de um mês foi inaugurado o metrô. Não há muita gente, os ônibus também estão vazios. Sempre por causa das proibições. Agora estamos indo em direção ao centro, o coração da cidade, o templo Malatestiano e a Piazza Tre Martiri.

Deixamos a rua 4 de Novembro e nos movemos na famosa Piazza Tre Martiri. E ao fundo se vê a Ponte de Tibério, de época romana. E aqui uma cópia da estátua do imperador César Otaviano. Partindo do Bulevar da Estação, como podem notar aqui está tudo fechado, completamente deserto, sobretudo os carros não podem circular. Agora estamos chegando na frente do Templo Malatestiano, este é o coração de Rimini.

TV/Estadão

Alberto Battiston,
de 56 anos, morador de Mestre (Veneza)

‘Para sair de casa, temos de levar uma declaração assinada’

“Moro na província de Veneza. Gostaria de contar o que está acontecendo neste momento na Itália, onde estamos vivendo o problema do coronavírus. Eu sou um violinista, sou professor em um conservatório em Udine (região com cerca de 96 mil habitantes).
Esta é a terceira semana que meus alunos não podem ter aulas porque todas as escolas na Itália, das creches às universidades, estão fechadas por causa do novo coronavírus.

Eu também faço parte de um quarteto de arcos e deveria fazer alguns concertos, que foram todos cancelados.Esta é a terceira semana que meus alunos não podem ter aulas porque todas as escolas na Itália, das creches às universidades, estão fechadas por causa do novo coronavírus. Eu também faço parte de um quarteto de arcos e deveria fazer alguns concertos, que foram todos cancelados.

Estamos vivendo um momento muito difícil. Para sair de casa, temos de fazer uma declaração assinada, enviada pelo Ministério do Interior. Podemos levar multa de 200 euros (cerca de R$ 1 mil) se não há uma boa justificativa (para sair de casa). As justificativas não são muitas: comprovadas exigências de trabalho, situação de necessidade, motivos de saúde e volta para o próprio domicílio.

Esta é uma violação da liberdade, mas, se queremos nos defender desse vírus, é necessário que nos atenhamos a essas regras. Lembro que um amigo de meu filho foi parado no carro e como não tinha uma justificativa suficiente, levou uma multa de 200 euros. Infelizmente essa é a situação italiana e esperamos que contenhamos esse vírus ou será ainda pior.”

TV/Estadão

Declaração italiana de responsabilidade pelo coronavírus

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