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Foto: Acervo da Família de Cora Coralina

Cora Coralina, 130 anos: Os poemas, as receitas e os livros

Texto: Maria Fernanda Rodrigues

20 de agosto de 2019 | 06h00

Cora Coralina, a poeta doceira mais querida do Brasil, nasceu há 130 anos, no dia 20 de agosto de 1889. Conheça seus poemas, receitas e livros.


De Aninha a Cora Coralina

Cora Coralina dizia que era a menina feia da Ponte da Lapa. Uma menina triste e nervosa, amarela de rosto empalamado e pernas moles, que tinha duas irmãs lindas e que poderia ter sido amada por ser a caçula, mas então veio mais uma e ocupou seu lugar. Por isso, ela escreveu certa vez, ficou sozinha, fechada em seu mundo imaginário.

Ao longo de seus 95 anos de vida – de muito trabalho, garra e coragem e de alguma alegria –, Cora Coralina carregou essa menina ao seu lado, e quando começou a escrever mais sistematicamente e a publicar seus livros, já mais velha, lá estavam a garota, a casa da infância, que foi a casa da velhice, as memórias – tudo o que ela viu, sentiu, viveu neste quase um século, e que não foi pouco.

Nascida Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas em agosto de 1889, meses antes da Proclamação da República, ela começou a escrever muito cedo, antes dos 15 anos, mas só foi publicar seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, em 1965 - depois de casar, trocar sua Vila Boa de Goiás natal por São Paulo - e depois pelo interior, criar quatro filhos, enviuvar, vender tecido, doce e livro. Àquela altura, já era uma senhora de 75 anos.

À obra com a qual estreou na literatura pela José Olympio (foi para a lendária editora, aliás, que, muito antes de sua estreia na literatura, ela vendia livros de porta em porta), seguiram-se outras duas: Meu Livro de Cordel (1976) e Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (1983).

Foto: Reprodução/Museu Casa de Cora Coralina

Ela já era conhecida na região, mas um texto publicado por Carlos Drummond de Andrade no Jornal do Brasil em dezembro de 1980 tratou de apresentar Cora Coralina, uma pessoa “rica apenas de sua poesia”, a literatos e leitores. Nesse texto, o poeta, com quem ela se correspondeu brevemente depois, dizia que Cora era a pessoa mais importante de Goiás. Ele escreveu ainda: “Na estrada que é Cora Coralina, passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje. O verso é simples, mas abrange a realidade vária.” E a simplicidade foi mesmo a sua marca (leia alguns poemas abaixo).

Na estrada que é Cora Coralina, passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje. O verso é simples, mas abrange a realidade vária.
Carlos Drummond de Andrade, em texto publicado no Jornal do Brasil em dezembro de 1980

Quinze anos antes desse artigo, o Estado já estava atento à poeta e seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, figurou entre os lançamentos do Suplemento Literário de 26 de junho de 1965. O texto comentava que Cora dizia, na apresentação da edição, que ali não estavam impressos versos, mas sim “um modo diferente de contar velhas estórias”.

Foto: Reprodução/Museu Casa de Cora Coralina

Ela publicaria mais um volume, Estórias da Casa Velha da Ponte, previsto para 1984, mas ela estava cansada. Em Vintém de Cobre ela escreveu: “Tudo em mim vai se apagando. / Cede minha força de mulher de luta em dizer: / estou cansada. / A claridade se faz em névoa e bruma. / O livro amado: o negro das letras se embaralham, / entortam as linhas paralelas. / Dançam as palavras, / a distância se faz em quebra luz. / Deixo de reconhecer rostos amigos, familiares. / Um véu tênue vai se incorporando no campo da retina. / Passam lentamente como ovelhas mansas os vultos conhecidos / que já não reconheço. / É a catarata amortalhando a visão que se faz sombra. / Sinto que cede meu valor de mulher de luta, / e eu me confesso: / estou cansada.”

Cora morreu em 10 de abril de 1985. Estava com uma gripe forte, quando foi levada, pela manhã, para um hospital de Goiânia. A gripe tinha evoluído para pneumonia e ela morreu à tarde, pouco depois de dar entrada no hospital.

Hoje, há mais de uma dezena de livros com textos de Cora Coralina nas livrarias - para adultos e crianças (veja abaixo). E, segundo sua filha caçula, Vicência Brêtas Tahan, há muitos inéditos no baú de Cora, que ela organizou em várias pastas azuis e guarda em seu apartamento, em São Paulo.


Foto: Ninton Fukuda/Estadão

Em família

Foto: Ninton Fukuda/Estadão

Vicência Brêtas Tahan
tem 90 anos e é a única filha viva de Cora Coralina. “Raspa de tacho”, como ela diz, Vicência guarda os escritos de sua mãe em pastas muito bem organizadas em sua casa, em São Paulo, e contou, em entrevista publicada pelo Estado, que há inéditos suficientes para produzir mais cinco ou seis livros.

Ela também falou sobre a relação com a mãe. “Do que eu sinto mais saudade? Da conversa dela, do espírito dela. E da comida também”, respondeu.


Poemas

Muitos dos versos mais marcantes de Cora Coralina são autobiográficos, e outros tantos de circunstância - inspirados por fatos do dia a dia ou o que chamasse a atenção da poeta. Marcados pela simplicidade, mas nunca simplórios, eles têm sido lidos por várias gerações de brasileiros. Leia alguns de seus melhores poemas escolhendo pelo tema.

Variação

Paráfrase

O mar rolou uma onda.
Na onda veio uma alga.
Na alga achei uma concha.
Dentro da concha teu nome.

Pisei descalça na areia
toda vestida de algas.
Tomei o mar entre os dedos.
Ondas peguei com as mãos.
O mar me levou com ele.

Palácio vi das sereias.
Cavalo‑marinho
montei,
crinas brancas de seda,
cascos ferrados de prata,
escumas de maresia.

Na garupa do meu cavalo,
levo meu peixe de ouro.
Comando a rosa dos ventos
e não me chamo Maria.

Na serenata do sonho
ouvi um sonido de estrelas.
Discos de ouro rolando
trazendo impresso teu nome.
Você passava, eu sorria
escondida na janela,
cortinas me disfarçando.
Num tempo era menina.
Num instante virei mulher.
Queria ver sem ser vista.
Ser vista fingindo não ver.

Fugi tanto que o encontrei
no relance de um olhar.
Pelos caminhos andamos
no tempo de semear.

A vida é uma flor dourada
tem raiz na minha mão.
Quando semeio meus versos,
não sinto o mundo rolando
perdida no meu sonhar
nos caminhos que tracei.

Meus riscos verdes de luz,
caminhos dentro de mim.
Estradas verdes do mar,
abertas largas sem fim.

Por esses caminhos caminho
levando feixes nas mãos.
Trigo, joio – não pergunto
o fim do meu caminhar.
Cirandinha vou cirandando,
marinheiro de marinhar,
o mar é longo sem fim.
Meu barqueiro, meu amor,
bandeiras do meu roteiro.
Meu barco de espuma do mar.
Onda verde leva e traz,
cantigas de marinhagem.

Vou rodando. Vou dançando,
tecendo meu pau de fita.
Sementes vou semeando
nos campos da fantasia.
Vou girando. Vou cantando
e... não me chamo Maria.

Minha Cidade

Goiás, minha cidade...
Eu sou aquela amorosa
de tuas ruas estreitas,
curtas,
indecisas,
entrando,
saindo
uma das outras.
Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.

Eu sou aquela mulher
que ficou velha,
esquecida,
nos teus larguinhos e nos teus becos tristes,
contando estórias,
fazendo adivinhação.
Cantando teu passado.
Cantando teu futuro.

Eu vivo nas tuas igrejas
e sobrados
e telhados
e paredes.

Eu sou aquele teu velho muro
verde de avencas
onde se debruça
um antigo jasmineiro,
cheiroso
na ruinha pobre e suja.

Eu sou estas casas
encostadas
cochichando umas com as outras.
Eu sou a ramada
dessas árvores,
sem nome e sem valia,
sem flores e sem frutos,
de que gostam
a gente cansada e os pássaros vadios.

Eu sou o caule
dessas trepadeiras sem classe,
nascidas na frincha das pedras.
Bravias.
Renitentes.
Indomáveis.
Cortadas.
Maltratadas.
Pisadas.
E renascendo.

Eu sou a dureza desses morros,
revestidos,
enflorados,
lascados a machado,
lanhados, lacerados.
Queimados pelo fogo.
Pastados.
Calcinados
e renascidos.
Minha vida,
meus sentidos,
minha estética,
todas as vibrações
de minha sensibilidade de mulher,
têm, aqui, suas raízes.

Eu sou a menina feia
da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.

Semente e Fruto

Um dia, houve.
Eu era jovem, cheia de sonhos.
Rica de imensa pobreza
que me limitava
entre oito mulheres que me governavam.
E eu parti em busca do meu destino.
Ninguém me estendeu a mão.
Ninguém me ajudou e todos me jogaram pedras.

Despojada. Apedrejada.
Sozinha e perdida nos caminhos incertos da vida.
E fui caminhando, caminhando…
E me nasceram filhos.
E foram eles, frágeis e pequeninos,
carecendo de cuidados,
crescendo devagarinho.
E foram eles a rocha onde me amparei,
anteparo à tormenta que viera sobre mim.

Foram eles, na sua fragilidade infante,
poste e alicerce, paredes e cobertura,
segurança de um lar
que o vento da insânia
ameaçava desabar.
Filhos, pequeninos e frágeis…
eu os carregava, eu os alimentava?
Não. Foram eles que me carregaram,
que me alimentaram.

Foram correntes, amarras, embasamentos.
Foram fortes demais.
Construíram a minha resistência.
Filhos, fostes pão e água no meu deserto.
Sombra na minha solidão.
Refúgio do meu nada.
Removi pedras, quebrei as arestas da vida e plantei roseiras.
Fostes, para mim, semente e fruto.
Na vossa inconsciência infantil.
Fostes unidade e agregação.

Crescestes numa escola de luta e trabalho,
depois, cada qual se foi ao seu melhor destino.
E a velha mãe sozinha
devia ainda um exemplo
de trabalho e de coragem.
Minha última dívida de gratidão
aos filhos.
Fiz a caminhada de retorno às raízes ancestrais.
Voltei às origens da minha vida,
escrevi o “Cântico da Volta”.

Assim devia ser.
Fiz um nome bonito de doceira, glória maior.
E nas pedras rudes do meu berço
gravei poemas.

Ofertas de Aninha (Aos Moços)

Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.

Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.

Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.

Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.

Menina Mal-Amada

Fui levada à escola mal completados cinco anos.
Eu era medrosa e nervosa. Chorona, feia, de nenhum agrado,
menina abobada, rejeitada.
Ao nascer frustrei as esperanças de minha mãe.
Ela tinha já duas filhas, do primeiro e do segundo casamento com meu Pai.
Decorreu sua gestação com a doença irreversível de meu Pai,
desenganado pelos médicos.
Era justo seu desejo de um filho homem
e essa contradição da minha presença se fez sentir agravada com minha figura molenga,
fontinelas abertas em todo crânio.
Retrato vivo do velho doente, diziam todos.
Me achei sozinha na vida. Desamada, indesejada desde sempre.
Venci vagarosamente o desamor, a decepção de minha mãe.
Valeu e muito minha madrinha de carregar – Mãe Didi.
Minha vida ao me arrastar pelo chão depois de vários trambolhões
na escada, galo na testa, gritaria e algumas palmadas, da bica d’água
passava para a cozinha em volta da Lizarda, criada da casa, como se dizia.
Cozinheira, dona dos torresmos que ela me dava e que me causavam
constantes diarreias e vômitos. Enquanto ia crescendo, lá pelo terreiro,
suja, desnuda, sem carinho e descuidada, sempre aos trambolhões
com minhas pernas moles.
Ganhei até mesmo um apelido entre outros, perna mole, pandorga,
chorona, manhosa.
Na cozinha Siá Lizarda explorava meus préstimos.
Me punha a escolher marinheiros do arroz, esse era beneficiado
nos monjolos das fazendas e traziam, além da marinhagem,
pedrinhas trituradas que davam trabalho lento de separar.
Também o feijão, embora mais fácil.
Eram meus préstimos em promessas de torresmos com farinha.

Mãe, lá em cima, não tomava conhecimento desses detalhes.
Sempre sozinha, crescendo devagar, menina inzoneira, buliçosa, malina.
Escola difícil. Dificuldade de aprender.
Fui vencendo. Afinal menina moça, depois adolescente.
Meus pruridos literários, os primeiros escritinhos, sempre rejeitada.
Não, ela não. Menina atrasada da escola da mestra Silvina…
Alguém escreve para ela… Luís do Couto, o primo.
Assim fui negada, pedrinha rejeitada, até a saída de Luís do Couto
para São José do Duro, muito longe, divisa com a Bahia.
Ele nomeado, Juiz de Direito.
Vamos ver, agora, como faz a Coralina…
Nesse tempo, já não era inzoneira. Recebi denominação maior,
alto lá! Francesa.
Passei a ser detraquê, devo dizer, isto na família.
A família limitava. Jamais um pequeno estímulo.
Somente minha bisavó e tia Nhorita.
Vou contando.

Minha mãe, muito viúva, isolava‑se
no seu mundo de frustrações,
ligada maternalmente à caçula do seu terceiro casamento.
Eu, perna mole, pandorga, moleirona, vencendo sozinha as etapas
destes primeiros tempos. Afinal, paramos no detraquê.

Tudo isso aumentava minha solidão e eu me fechava, circunscrita
no meu mundo do faz de conta…
E vamos trabalhar no pesado. Não ganhar pecha de moça romântica,
que em Goiás não achava casamento.
Tinha medo de ficar moça velha sem casar.
Me apegava demais com Santo Antônio, Santa Anna,
padroeira de Goiás.
Minha madrinha para as dificuldades da vida.

Muito me valeu a escola.
Um dia, certo dia, a mestra se impacientou.
Gaguejava a lição, truncava tudo. Não dava mesmo.
A mestra se alterou de todo, perdeu a paciência,
e mandou enérgica: estende a mão.
Ela se fez gigante no meu medo maior, sem tamanho.
Mandou de novo: estende a mão.
Eu de medo encolhia o braço.

Estende a mão! Mão de Aninha, tão pequena!
A meninada, pensando nalguns avulsos para eles,
nem respirava, intimidada.
Tensa, espectante, repassada.
Era sempre assim na hora dos bolos em mãos alheias.
Aninha, estende a mão. Mão de Aninha, tão pequena.
A palmatória cresceu no meu medo, seu rodelo se fez maior,
o cabo se fez cabo de machado, a mestra se fez gigante
e o bolo estralou na pequena mão obediente.
Meu berro! e a mijada incontinente, irreprimida.
Só? Não. O coro do banco dos meninos, a vaia impiedosa.
– Mijou de medo… Mijou de medo… Mijou de medo…
A mestra bateu a régua na mesa, enfiou a palmatória na gaveta,
e, receosa de piores consequências, me mandou pra casa, toda mijada,
sofrida, humilhada, soluçando, a mão em fogo.

Em casa ganhei umas admoestações sensatas.
A metade compadecida de uma bolacha das reservas de minha bisavó,
e me valeu a biquinha d’água, o alívio à minha mão escaldada.
Ao meu soluçar respondia a casa: “é pra o seu bem, pra ocê aprender,
senão não aprende, fica burra, só servindo pro pilão”.
Sei que todo castigo que me davam era para meu bem.
Eu não sabia que bem seria este representado por bolos na mão,
chineladas e reprimendas, sentada de castigo com a carta de ABC na mão.
O bem que eu entendia era a bolacha que me dava minha bisavó
e os biscoitos e brevidade da tia Nhorita.
Estes, entravam no meu entendimento. Do resto não tinha nenhuma noção.

Fui menina chorona, enjoada, moleirona.
Depois, inzoneira, malina.
Depois, exibida. Detraquê.
Até em francês eu fui marcada.
Sim, que aquela gente do passado,
tinha sempre à mão o seu francês.
Se souberes viver, no fim te sentirás feliz.
Envelhecer é entrar no reino da grande Paz.
Serenidade maior.
Olhar para frente e para trás,
e dizer: dever cumprido.

O que mais se pode na vida desejar?…
Sentada na margem do caminho percorrido,
ver os que passam, ansiosos, correndo, tropeçando.
E dizer baixinho:
corri tanto quanto você.
E você se quedará, um dia, como eu.
A certeza de ter vivido e vencido
a maratona da vida.

No Passado
tanta coisa me faltou.
Tanta coisa desejei sem alcançar.
Hoje, nada me falta,
me faltando sempre o que não tive.

Eu era uma pobre menina mal‑amada.
Frustrei as esperanças de minha mãe, desde o meu nascimento.
Ela esperava e desejava um filho homem, vendo meu pai doente
irreversível.
Em vez, nasceu aquela que se chamaria Aninha.
Duas criaturas idosas me deram seus carinhos:
minha bisavó e minha tia Nhorita.
Minha bisavó me acudia quando das chineladas cruéis da minha mãe.
No mais, eu devia ser, hoje reconheço, menina enjoada, enfadando
as jovens da casa e elas se vingavam da minha presença aborrecida,
me pirraçando, explorando meu atraso mental, me fazendo chorar
e levar queixas doloridas para a mãe
que perdida no seu mundo de leitura e negócios não dava atenção.
Quem punia por Aninha era mesmo minha bisavó.
Me ensinava as coisas, corrigia paciente meus malfeitos de criança
e exortava minhas irmãs a me aceitarem.
Daí minha fuga para o enorme quintal onde meus sentidos foram se aguçando
para as pequenas ocorrências de que não participavam minhas irmãs.
Minhas impressões foram se acumulando lentamente
e eu passei a viver uma vida estranha de mentiras e realidades.
E fui marcada: menina inzoneira.
Sem saber o significado da palavra, acostumada ao tratamento ridicularizante,
esta palavra me doía.
Certo foi que eu engenhava coisas, inventava convivência
com cigarras,
descia na casa das formigas, brincava de roda com elas,
cantava “Senhora D. Sancha”, trocava anelzinho.
Eu contava essas coisas lá dentro, ninguém compreendia.
Chamavam, mãe: vem ver Aninha…
Mãe vinha, ralhava forte.
Não queria que eu fosse para o quintal, passava a chave no portão.
Tinha medo, fosse um ramo de loucura, sendo eu filha de velho doente.
Era nesse tempo, amarela de olhos empapuçados, lábios descorados.
Tinha boqueira, uma esfoliação entre os dedos das mãos, diziam: “cieiro”.

Minhas irmãs tinham medo que pegasse nelas.
Não me deixavam participar de seus brinquedos.
Aparecia na casa menina de fora, minha irmã mais velha passava o braço
no ombro e segredava: “Não brinca com Aninha não. Ela tem cieiro
e pega na gente”.
Eu ia atrás, batida, enxotada.
Infância… Daí meu repúdio invencível à palavra saudade,
infância…
Infância… Hoje, será.

Minha Infância
(Freudiana)

Éramos quatro as filhas de minha mãe.
Entre elas ocupei sempre o pior lugar.
Duas me precederam – eram lindas, mimadas.
Devia ser a última, no entanto,
veio outra que ficou sendo a caçula.

Quando nasci, meu velho Pai agonizava,
logo após morria.
Cresci filha sem pai,
secundária na turma das irmãs.

Eu era triste, nervosa e feia.
Amarela, de rosto empalamado.
De pernas moles, caindo à toa.
Os que assim me viam – diziam:
“– Essa menina é o retrato vivo
do velho pai doente”.
Tinha medo das estórias
que ouvia, então, contar:
assombração, lobisomem, mula sem cabeça.
Almas penadas do outro mundo e do capeta.
Tinha as pernas moles
e os joelhos sempre machucados,
feridos, esfolados.
De tanto que caía.
Caía à toa.

Caía nos degraus.
Caía no lajedo do terreiro.
Chorava, importunava.
De dentro a casa comandava:
“– Levanta, moleirona”.

Minhas pernas moles desajudavam.
Gritava, gemia.
De dentro a casa respondia:
“– Levanta, pandorga”.

Caía à toa...
nos degraus da escada,
no lajeado do terreiro.
Chorava. Chamava. Reclamava.
De dentro a casa se impacientava:
“– Levanta, perna‑mole...”

E a moleirona, pandorga, perna‑mole
se levantava com seu próprio esforço.

Meus brinquedos...
Coquilhos de palmeira.
Bonecas de pano.
Caquinhos de louça.
Cavalinhos de forquilha.
Viagens infindáveis...
Meu mundo imaginário
mesclado à realidade.

E a casa me cortava: “menina inzoneira!”
Companhia indesejável – sempre pronta
a sair com minhas irmãs,
era de ver as arrelias
e as tramas que faziam
para saírem juntas
e me deixarem sozinha,
sempre em casa.

A rua... a rua!...
(Atração lúdica, anseio vivo da criança,
mundo sugestivo de maravilhosas descobertas)
– proibida às meninas do meu tempo.
Rígidos preconceitos familiares,
normas abusivas de educação
– emparedavam.

A rua. A ponte. Gente que passava,
o rio mesmo, correndo debaixo da janela,
eu via por um vidro quebrado, da vidraça
empanada.

Na quietude sepulcral da casa,
era proibida, incomodava, a fala alta,
a risada franca, o grito espontâneo,
a turbulência ativa das crianças.

Contenção... motivação... Comportamento estreito,
limitando, estreitando exuberâncias,
pisando sensibilidades.
A gesta dentro de mim...
Um mundo heroico, sublimado,
superposto, insuspeitado,
misturado à realidade.

E a casa alheada, sem pressentir a gestação,
acrimoniosa repisava:
“– Menina inzoneira!”
O sinapismo do ablativo
queimava.

Intimidada, diminuída. Incompreendida.
Atitudes impostas, falsas, contrafeitas.
Repreensões ferinas, humilhantes.
E o medo de falar...
E a certeza de estar sempre errando...
Aprender a ficar calada.
Menina abobada, ouvindo sem responder.

Daí, no fim da minha vida,
esta cinza que me cobre...
Este desejo obscuro, amargo, anárquico
de me esconder,
mudar o ser, não ser,
sumir, desaparecer,
e reaparecer
numa anônima criatura
sem compromisso de classe, de família.

Eu era triste, nervosa e feia.
Chorona.
Amarela de rosto empalamado,
de pernas moles, caindo à toa.
Um velho tio que assim me via
dizia:
“– Esta filha de minha sobrinha é idiota.
Melhor fora não ter nascido!”

Melhor fora não ter nascido...
Feia, medrosa e triste.
Criada à moda antiga,
– ralhos e castigos.
Espezinhada, domada.
Que trabalho imenso dei à casa
para me torcer, retorcer,
medir e desmedir.
E me fazer tão outra,
diferente,
do que eu deveria ser.
Triste, nervosa e feia.
Amarela de rosto empapuçado.
De pernas moles, caindo à toa.
Retrato vivo de um velho doente.
Indesejável entre as irmãs.

Sem carinho de Mãe.
Sem proteção de Pai...
– melhor fora não ter nascido.

E nunca realizei nada na vida.
Sempre a inferioridade me tolheu.
E foi assim, sem luta, que me acomodei
na mediocridade de meu destino.

O Prato Azul‑Pombinho

Minha bisavó – que Deus a tenha em glória –
sempre contava e recontava
em sentidas recordações
de outros tempos
a estória de saudade
daquele prato azul‑pombinho.

Era uma estória minuciosa.
Comprida, detalhada.
Sentimental.
Puxada em suspiros saudosistas
e ais presentes.
E terminava, invariavelmente,
depois do caso esmiuçado:
“– Nem gosto de lembrar disso...”
É que a estória se prendia
aos tempos idos em que vivia
minha bisavó
que fizera deles seu presente e seu futuro.

Voltando ao prato azul‑pombinho
que conheci quando menina
e que deixou em mim
lembrança imperecível.
Era um prato sozinho,
último remanescente, sobrevivente,
sobra mesmo, de uma coleção,
de um aparelho antigo
de 92 peças.
Isto contava com emoção, minha bisavó,
que Deus haja.

Era um prato original,
muito grande, fora de tamanho,
um tanto oval.
Prato de centro, de antigas mesas senhoriais
de família numerosa.
De fastos de casamento e dias de batizado.

Pesado. Com duas asas por onde segurar.
Prato de bom‑bocado
e de mães‑bentas.
De fios de ovos.
De receita dobrada
de grandes pudins,
recendendo a cravo,
nadando em calda.

Era, na verdade, um enlevo.
Tinha seus desenhos
em miniaturas delicadas.
Todo azul‑forte,
em fundo claro
num meio‑relevo.
Galhadas de árvores e flores,
estilizadas.
Um templo enfeitado de lanternas.
Figuras rotundas de entremez.
Uma ilha. Um quiosque rendilhado.
Um braço de mar.
Um pagode e um palácio chinês.
Uma ponte.
Um barco com sua coberta de seda.
Pombos sobrevoando.

Minha bisavó
traduzia com sentimento sem igual,
a lenda oriental
estampada no fundo daquele prato.
Eu era toda ouvidos.
Ouvia com os olhos, com o nariz, com a boca,
com todos os sentidos,
aquela estória da Princesinha Lui,
lá da China – muito longe de Goiás –
que tinha fugido do palácio, um dia,
com um plebeu do seu agrado
e se refugiado num quiosque muito lindo
com aquele a quem queria,
enquanto o velho mandarim – seu pai –
concertava, com outro mandarim de nobre casta,
detalhes complicados e cerimoniosos
do seu casamento com um príncipe todo‑poderoso,
chamado Li.

Então, o velho mandarim,
que aparecia também no prato,
de rabicho e de quimono,
com gestos de espavento e cercado de aparato,
decretou que os criados do palácio
incendiassem o quiosque
onde se encontravam os fugitivos namorados.

E lá estavam no fundo do prato,
– oh, encanto da minha meninice! –
pintadinhos de azul,
uns atrás dos outros – atravessando a ponte,
com seus chapeuzinhos de bateia
e suas japoninhas largas,
cinco miniaturas de chinês.
Cada qual com sua tocha acesa
– na pintura –
para pôr fogo no quiosque
– da pintura.
Mas ao largo do mar alto
balouçava um barco altivo
com sua coberta de prata,
levando longe o casal fugitivo.

Havia, como já disse,
pombos esvoaçando.
E um deles levava, numa argolinha do pé,
mensagem da boa ama,
dando aviso a sua princesa e dama,
da vingança do velho mandarim.

Os namorados então,
na calada da noite,
passaram sorrateiros para o barco,
driblando o velho, como se diz hoje.
E era aquele barco que balouçava
no mar alto da velha China,
no fundo do prato.

Eu era curiosa para saber o final da estória.
Mas o resto, por muito que pedisse,
não contava minha bisavó.
Dali para a frente a estória era omissa.
Dizia ela – que o resto não estava no prato
nem constava do relato.
Do resto, ela não sabia.
E dava o ponto final recomendado.
“— Cuidado com esse prato!
É o último de 92”.

Devo dizer – esclarecendo,
esses 92 não foram do meu tempo.
Explicava minha bisavó
que os outros – quebrados, sumidos,
talvez roubados –
traziam outros recados, outras legendas,
prebendas de um tal Confúcio
e baladas de um vate
chamado Hipeng.

Do meu tempo só foi mesmo
aquele último
que, em raros dias de cerimônia
ou festas do Divino,
figurava na mesa em grande pompa,
carregado de doces secos, variados,
muito finos,
encimados por uma coroa
alvacenta e macia
de cocadas de fita.

Às vezes, ia de empréstimo
à casa da boa tia Nhorita.
E era certo no centro da mesa
de aniversário, com sua montanha
de empadas, bem tostadas.
No dia seguinte, voltava,
conduzido por um portador
que era sempre o Abdênago, preto de valor,
de alta e mútua confiança.

Voltava com muito‑obrigados
e, melhor – cheinho
de doces e salgados.
Tornava a relíquia para o relicário
que no caso era um grande e velho armário,
alto e bem fechado.
– “Cuidado com o prato azul‑pombinho” –
dizia minha bisavó,
cada vez que o punha de lado.

Um dia, por azar,
sem se saber, sem se esperar,
artes do salta‑caminho,
partes do capeta,
fora de seu lugar, apareceu quebrado,
feito em pedaços – sim senhor –
o prato azul‑pombinho.
Foi um espanto. Um torvelinho.
Exclamações. Histeria coletiva.
Um deus nos acuda. Um rebuliço.
Quem foi, quem não foi?...

O pessoal da casa se assanhava.
Cada qual jurava por si.
Achava seus bons álibis.
Punia pelos outros.
Se defendia com energia.
Minha bisavó teve “aquela coisa”.
(Ela sempre tinha “aquela coisa” em casos tais.)
Sobreveio o flato.
Arrotando alto, por fim, até chorou...

Eu (emocionada), vendo o pranto de minha bisavó,
lembrando só
da princesinha Lui –
que já tinha passado a viver no meu inconsciente
como ser presente,
comecei a chorar
– que chorona sempre fui.

Foi o bastante para ser apontada e acusada
de ter quebrado o prato.
Chorei mais alto, na maior tristeza,
comprometendo qualquer tentativa de defesa.
De nada valeu minha fraca negativa.
Fez‑se
o levantamento de minha vida pregressa
de menina
e a revisão de uns tantos processos arquivados.
Tinha já quebrado – em tempos alternados,
três pratos, uma compoteira de estimação,
uma tigela, vários pires e a tampa de uma terrina.

Meus antecedentes, até,
não eram muito bons.
Com relação a coisas quebradas
nada me abonava.
E o processo se fez, pois, à revelia da ré,
e com esta agravante:
tinha colado no meu ser magricela, de menina,
vários vocativos
adesivos, pejorativos:
inzoneira, buliçosa e malina.

Por indução e conclusão,
era eu mesma que tinha quebrado o prato azul‑pombinho.

Reuniu‑se
o conselho de família
e veio a condenação à moda do tempo:
uma boa tunda de chineladas.

Aí ponderou minha bisavó
umas tantas atenuantes a meu favor.
E o castigo foi comutado
para outro, bem lembrado, que melhor servisse a todos
de escarmento e de lição:
trazer no pescoço por tempo indeterminado,
amarrado de um cordão,
um caco do prato quebrado.

O dito, melhor feito.
Logo se torceu no fuso
um cordão de novelão.
Encerado foi. Amarrou‑se
a ele um caco, de bom jeito,
em forma de meia‑lua.
E a modo de colar, foi posto em seu lugar,
isto é, no meu pescoço.
Ainda mais
agravada a penalidade:
proibição de chegar na porta da rua.
Era assim, antigamente.

Dizia‑se
aquele, um castigo atinente,
de ótima procedência. Boa coerência.
Exemplar e de alta moral.

Chorei sozinha minhas mágoas de criança.
Depois, me acostumei com aquilo.
No fim, até brincava com o caco pendurado.
E foi assim que guardei
no armarinho da memória, bem guardado,
e posso contar aos meus leitores,
direitinho,
a estória, tão singela,
do prato azul‑pombinho.

Sombras

Tudo em mim vai se apagando.
Cede minha força de mulher de luta em dizer:
estou cansada.

A claridade se faz em névoa e bruma.
O livro amado: o negro das letras se embaralham,
entortam as linhas paralelas.
Dançam as palavras,
a distância se faz em quebra‑luz.

Deixo de reconhecer rostos amigos, familiares.
Um véu tênue vai se incorporando no campo da retina.
Passam lentamente como ovelhas mansas os vultos conhecidos
que já não reconheço.

É a catarata amortalhando a visão que se faz sombra.

Sinto que cede meu valor de mulher de luta,
e eu me confesso:
estou cansada.


Receitas

Cora Coralina era uma cozinheira de mão cheia e foi vendendo seus famosos doces glaceados que ela conseguiu comprar a parte que faltava para ela ser a única dona da Casa Velha da Ponte. Eles foram também seu ganha-pão. Herdeira dos cadernos de receita da mãe, Vicência Brêtas Tahan organizou um livro com os principais quitutes de Cora. Como as receitas iam muito açúcar, banha e outros itens não tão bem-vistos hoje, duas cozinheiras testaram as receitas e fizeram sugestões de mudança. No livro, a receita original de Cora é seguida pela nova versão.

Veja 4 receitas selecionadas para o livro Cora Coralina: Doceira e Poeta: Pudim São José, Bolo de Trigo, Doce de Leite e Doce de Mamão Vermelho.

Pudim São José

1 quilo de massa de cará cozido e passado em peneira, 1/2 quilo de fubá de arroz, 700 gramas de açúcar, 250 gramas de manteiga, 12 ovos batidos, sal e canela. Amassa-se bem, com 1/2 tablete de fermento dissolvido em meio copo de leite morno.

Põe-se em fôrmas untadas, deixa-se crescer durante 4 horas e leva-se ao forno.

Ingredientes:
250 gramas de cará cozido
2 colheres (sopa) de fubá de arroz
1 e 1/2 xícara (chá) de açúcar
150 gramas de manteiga sem sal
6 ovos
1 pitada de sal
1 colher (chá) de canela
2 copos de leite

Foto: Reprodução

Preparo:
Bata todos os ingredientes no liquidificador. Coloque em fôrma (com buraco no meio) caramelizada. Asse em forno a 180º por 35 minutos. Desenforme frio.


Bolo de trigo

2 xícaras (chá) de açúcar, 6 ovos, 3 xícaras (chá) de farinha de trigo, 1 xícara (chá)de manteiga e 1 colher (sopa) de fermento.

Bate-se tudo muito bem e leva-se ao forno em fôrma untada.

Ingredientes:
2 xícaras (chá) de açúcar
4 ovos
3 xícaras (chá) de farinha de trigo
150 gramas de manteiga sem sal
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 pitada de sal
1 xícara (chá) de leite

Foto: Reprodução

Preparo:
Bata as claras em neve e reserve. Em outro recipiente, bata o açúcar, as gemas, a manteiga e o leite por 10 minutos. Acrescente a farinha de trigo e o fermento, bata mais um pouco. Coloque as claras em neve e misture delicadamente. Use fôrma untada com manteiga e polvilhada com farinha de trigo.Asse por 40 minutos em forno a 180º.


Doce de leite

5 litros de leite, 1 quilo de açúcar, pedaços de casca de limão, se gostar, ou canela em pau.Leve ao fogo o tacho com o leite, o açúcar e a canela até que, reduzido e grosso, forme uma massa leve e que deve ser batida, fora do fogo, sempre com uma colher de pau.
O doce deve ser batido mais ou menos, conforme a finalidade: se for para ser cortado empedaços, deverá ser mais batido e, depois, despejado em tabuleiro para esfriar e cortar; se for para ser comido com colher, deverá ser menos batido.

Nota:
bater o doce vai torná-lo macio.

Ingredientes:
3 litros de leite
4 ovos
3 xícaras (chá) de açúcar
1 pau de canela ou casca de 1 limão.

Foto: Reprodução

Preparo:
Coloque o leite e o açúcar em uma panela ou tacho e leve ao fogo com um pires virado para baixo (no fundo do tacho) para que o leite não derrame. Deixe ferver até que comece a engrossar, retire o pires, coloque o pau de canela e mexa sem parar, até dar a consistência de um creme. Retire do fogo e coloque em uma compoteira. Sirva gelado. Se preferir o doce em pedaços, deixe mais 20 minutos em fogo baixo, mexendo sempre. Despeje em um tabuleiro para esfriar e corte.

Dica da Vicência:
Para o leite não talhar, coloque uma colherinha (café) de bicarbonato, quando o doce co­­meçar a engrossar.


Doce de mamão vermelho

Mamão de qualquer tamanho, vermelho, quase maduro, super firme. Descasque o mamão, retire as sementes e corte em pedaços. Coloque os pedaços em água com bicarbonato ou cal virgem de construção, uma colher de sopa para cada mamão médio. Depois de uma hora lave os pedaços em água pura. Prepare, à parte, calda em ponto de espelho, quantidade suficiente para cobrir os pedaços.

Quando ela estiver no ponto, coloque os pedaços de mamão e em fogo lento espere até que fiquem macios. Deixe dormir na calda, apurando no dia seguinte. Com o auxílio de uma colher de pau ou escumadeira, coloque para escorrer em peneira de taquara. Enquanto isso, apure bem a calda restante, até que comece a açucarar. Depois de escorridos, passe os pedaços de mamão na calda apurada para que fiquem glacerizados. Acabe de secá-los ao sol.

Nota:
o bicarbonato ou o cal servem para deixar os frutos durinhos por fora e macios por dentro.

Ingredientes:
1 mamão de 2 quilos
1 colher (sopa) de bicarbonato ou cal virgem
1 quilo de açúcar cristal

Foto: Reprodução

Preparo:
Siga a receita, mas antes de colocar os pedaços de mamão na calda, faça furos com o garfo para que a calda penetre durante o cozimento.

Dica:
se quiser uma apresentação mais simples, você pode levar a calda ao fogo, deixando apurar em ponto de calda firme, enquanto os pedaços já cozidos escorrem. Acrescente o mamão, deixe ferver por mais ou menos 10 minutos, coloque em uma compoteira e sirva frio.


Estante

Cora Coralina publicou três livros em vida: Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965), Meu Livro de Cordel (1976) e Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (1983). Hoje, há 16 títulos no catálogo da Global e nas livrarias, incluindo livros para crianças, com histórias que surgiram nos encontros e conversas com os netos.

• PARA ADULTOS


Melhores Poemas

Livro mais vendido da poeta goiana, Os Melhores Poemas - Cora Coralina (Global, 264 págs., R$ 49,90) foi publicado em 2009, em formato pocket, com seleção e prefácio de Darcy França Denófrio, mestre em Teoria Literária.


Vintém de Cobre

Cora Coralina batizou como Vintém de Cobre (Global, 240 págs, R$ 49,90), o nome da velha moeda, seu livro de memórias, ou de meias-confissões em versos, como ela preferia chamar. A obra foi publicada em 1983, depois de Carlos Drummond de Andrade ter tornado seu nome mais conhecido e dois anos antes de ela morrer.


Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais

Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (Global, 240 págs, R$ 49,90) foi o livro com que Cora Coralina estreou na literatura, em 1965, aos 75 anos. Com raízes profundas na alma popular, sabedoria dosada de ironia, de alguém que muito viveu e sofreu, mas de expressão tão suave, simples, este livro apresenta a 'nova' poeta aos leitores e à crítica.


Estórias da Casa Velha da Ponte

Como toda residência de interior habitada muito tempo pela mesma família, a casa velha da ponte vivia cheia de histórias. Tradições que embalaram a infância de Cora Coralina, criada na velha casa, já então decadente, e outras histórias vividas na cidade, que impressionavam a menina, são matéria-prima de Estórias da Casa Velha da Ponte (Global; 112 págs., R$ 45), que ela lançaria em 1984, mas abortou a ideia porque estava muito cansada.


Meu Livro de Cordel

A simplicidade, a qualidade mais distinta na poesia de Cora Coralina, está mais presente do que nunca em Meu Livro de Cordel (Global, 112 págs., R$ 45), segundo livro da poeta, lançado em 1976. O título é é uma homenagem da autora “a todas as estórias e poesias de cordel”, e um atestado de sua afinidade com “os anônimos menestréis nordestinos, povo da minha casta, meus irmãos do nordeste rude”


O Tesouro da Casa Velha

Um dos últimos trabalhos de Cora Coralina, O Tesouro da Casa Velha (Global, 144 págs., R$ 45) traz 18 contos de Cora Coralina - muitos dos quais baseados em suas reminiscências e em fatos vividos por ela ou por pessoas próximas. Não deu tempo de Cora terminar este livro, publicado postumamente.


Villa Boa de Goyaz

Embora tantos anos longe de sua terra, Cora Coralina conservou seu jeito goiano e seu amor a Villa Boa de Goyaz por todos os lugares onde viveu. Villa Boa de Goyaz (Global, 112 págs., R$ 42) é o canto de amor de Aninha a sua cidade.


Cora Coralina: Doceira e Poeta

Cora Coralina Doceira e Poeta (Global, 114 págs., R$ 149) não foi planejado apenas como um . Uma obra planejada não só como um livro de receitas, mas também em comemoração aos 120 anos de nascimento da poeta e em homenagem a essa mulher aguerrida, que sempre esteve à frente de seu tempo. Enquanto decidiam quais receitas integrariam o livro – escolhidas a dedo em cadernos amarelecidos pelo tempo –, a equipe percebeu que, mesmo tendo vivido mais de quarenta anos no estado de São Paulo, as receitas tinham uma profunda relação com os costumes goianos, em especial com a cidade de Villa Boa de Goyaz, terra natal de Cora Coralina. Com isso, os organizadores viajaram para Goiás com o objetivo de captar momentos reveladores dessa relação e tornar visíveis para os leitores as circunstâncias da vida da poeta.


• PARA CRIANÇAS


Os Meninos Verdes

Vicente, o jardineiro da Casa Velha da Ponte, se deparou com uma situação incomum: no quintal, entre as plantas que nascem lá, boas e más, apareceram duas diferentes. Ele quis arrancá-las, mas vovó Cora não deixou. Depois de um tempo, sob as duas plantas, os dois encontraram, ali, seres vivos, com todas as formas de crianças em miniatura. O que fazer? Destruí-los? Escondê-los? Cuidar deles? Essa é a história de Os Meninos Verdes (Global, 24 págs., R$ 39).


As Cocadas

O conto que deu origem ao livro As Cocadas (Global, 24 págs., R$ 42) foi publicado pela primeira vez em O Tesouro da Casa Velha. Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa, que envolve o leitor, desafia sua curiosidade e desperta o desejo de descobrir a resolução do conflito vivido pela personagem: uma menina que ajuda a fazer cocada, mas não pode comer o doce como gostaria.


A Menina, o Cofrinho e a Vovó

Essa história também surgiu de uma situação real. Cora, em visita à filha Vicência, conta que está juntando dinheiro para comprar uma geladeira - ela não tinha nenhuma e queria poder agilizar algumas etapas da produção de seus doces. A neta se sensibiliza, quebra seu porquinho e oferece suas economias à avó. O livro A Menina, o Cofrinho e a Vovó (Global, 24 págs., R$ 42) fala sobre uma senhora que morava sozinha numa cidade muito antiga e tinha sua casa-grande na beira de um rio e que por necessidade financeira decide fazer doces para vender - e precisa comprar uma geladeira.


Contas de Dividir e Trinta e Seis Bolos

Em Contas de Dividir e Trinta e Seis Bolos (Global, 48 págs., R$ 45), Cora Coralina conta uma história em que os membros de uma família vivem vários conflitos, entre eles, a perda de um filho, o divórcio, o uso da palmatória na aprendizagem escolar. Entre ver o filho crescer analfabeto e apanhar de palmatória, a tia preferiu arriscar e mandou Zezinho para a escola.


O Prato Azul-Pombinho

O poema O Prato Azul-Pombinho foi publicado no livro de estreia de Cora, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Um dos mais conhecidos de Cora, que virou livro ilustrado com o mesmo nome, O Prato Azul-Pombinho (Global, 36 págs., R$ 45), o poema fala sobre o castigo aplicado às crianças quando elas quebravam alguma louça. No texto, ela resgata o que aconteceu com o último prato de um antigo jogo de jantar guardado com cuidado pela bisavó, e com a menina que foi considerada culpada por quebrá-lo: levar no pescoço, amarrado em um cordão, um caco do prato quebrado.


De Medos e Assombrações

De Medo e Assombrações (Global, 64 págs., R$ 45) é um livro de Cora Coralina para jovens leitores, com contos de arrepiar a molecada. A autora nos faz voltar no tempo para a época em que as almas do outro mundo faziam procissões ou retornavam para dizer onde estava o pote de ouro.


A Moeda de Ouro Que Um Pato Engoliu

A Moeda de Ouro Que Um Pato Engoliu (Global, 16 págs., R$ 39) foi uma das histórias que Cora escreveu para um de seus netos, que gostava de procurar tesouros em sua casa. Nasceu em forma de carta, em 1965, e ganhou versão ilustrada depois. O livro acompanha um vilarejo que se prepara para comemorar o dia de São João e, para agradar ao padre, pretende servir um pato novo com arroz molinho. Mas, no ritual de preparar o pato, a cozinheira encontra uma moeda do ouro, de 1816, com a efígie de D. João VI, e começa o mistério.


Poema do Milho

Poema do Milho (Global, 32 págs, R$ 45) também surgiu em Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Nele, a autora revela o ritual do plantio e da colheita vivido na roça ao mesmo tempo em que reflete sobre questões sociais, entre elas, o uso da terra.


Para saber mais

A vida de Cora Coralina vem inspirando autores, pesquisadores e cineastas. Destacamos dois livros sobre a poeta - uma biografia e uma biografia romanceada


Raízes de Aninha

Cora Coralina - Raízes de Aninha (Ideias e Letras, 472 págs., R$ 51) é o retrato da vida privada e artística de Anna Lins dos Guimarães, que adotou o nome artístico de Cora Coralina. A obra, fruto de 20 anos de pesquisa de Rita Elisa Seda e de Clovis Carvalho Britto, traz, além de um rico material biográfico, um amplo acervo fotográfico da poeta


Cora Coragem, Cora Poesia

Cora Coragem, Cora Poesia (Global, 240 págs., R$ 45) é uma homenagem de Vicência Brêtas Tahan para sua mãe no centenário de nascimento dela. Trata-se uma uma biografia romanceada de Cora Coralina que apresenta um retrato carinhoso da mulher comum, ligada aos afazeres domésticos e aos filhos e que soube redimensionar tudo em apurada poesia.

Destacamos também o filme Cora Coralina: Todas as Vidas. Com direção de Renato Barbieri e produção de Marcio Curi, morto em 2016, o filme teve uma primeira exibição no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), em 2015, na cidade natal da poeta, foi apresentado em outros festivais e estreou nos cinemas em 2017. O docfic traz no elenco Walderez de Barros, Tereza Seiblitz, Camila Márdila, Zezé Mota e Beth Goulart e conta com depoimentos de familiares, amigos e pesquisadores da obra da poeta. Veja o trailer e confira entrevista feita com a atriz Walderez de Barros quando o filme chegou aos cinemas.


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