Era Uma Vez… Em Hollywood
Tarantino tem se valido das ferramentas do cinema para propor o revisionismo histórico. Não é diferente em Era Uma Vez… Em Hollywood, em que ele reconta o caso de Sharon Tate em paralelo ao do seu personagem fictício Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e do seu dublê, Cliff Booth (Brad Pitt), em atuações memoráveis.
O Irlandês
Uma das duas produções da Netflix indicadas ao prêmio principal, O Irlandês também reconta uma história real, e marca a volta de Scorsese ao tema da máfia americana, reunindo-se pela primeira vez Robert D, Al Pacino e Joe Pesci ao mesmo tempo. Produção caríssima que passou pouco tempo nas telonas, O Irlandês é uma viagem pelas vidas de Frank Sheeran e Jimmy Hoffa, líderes sindicais com poder e ambição nos EUA da segunda metade do século 20.
Adoráveis Mulheres
Adoráveis Mulheres foi praticamente ignorado no Globo de Ouro - os correspondentes estrangeiros de Hollywood não entenderam as intenções da diretora e roteirista Greta Gerwig. À luz das numerosas adaptações anteriores - além de filmes, o livro de Louisa May Alcott também inspirou peças e até uma ópera -, o que faz toda diferença é o começo e o fim de Adoráveis Mulheres. Greta Gerwig começa o filme com sua heroína, Jo, em movimento - correndo. Na abertura, ela consegue vender uma história curta ao editor (Tracy Letts) e ainda ouve dele uma série de recomendações - ou serão imposições? - sobre o que e como deve escrever. Durante o filme, muita coisa, mas principalmente Jo, mudou. Numa sociedade - num mundo - controlado pelos homens, será uma mulher dona de si mesma. Uma feminista ‘avant la lettre’.
História de um Casamento
No início de Anna Karenina, Tolstoi escreve que todas as famílias felizes são iguais e cada família infeliz o é à sua própria maneira. Essa, digamos, originalidade da infelicidade é ilustrada pela dupla Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson), protagonistas de História de um Casamento, de Noah Baumbach. A produção da Netflix, como tantas histórias infelizes, também começa por algo que passa por felicidade. O diretor tem insistido que o filme não é um retrato fiel do seu próprio casamento e separação. De fato, dados biográficos podem servir como pontos de partida para a ficção mas logo esta se livra de seus laços reais, liberta-se e começa a andar por sua conta e risco. Torna-se invenção e pode aspirar à universalidade da experiência humana.
Parasita
Mesmo no mundo afluente a questão das grandes disparidades sociais se impõe como problema. Se é dramática em países como o Brasil, não deixa de incomodar em paragens mais desenvolvidas, como a Coreia do Sul. É de lá que vem o inquietante Parasita, de Bong Joon-ho, a sensação da temporada. Com um traço de deformação, o cineasta franqueia os limites do realismo e impõe o tom de estranheza que, muitas vezes, faz a diferença entre as grandes obras e as apenas boas. É desse modo que ele descreve, visualmente, famílias em contraste.
Coringa
Joaquin Phoenix está um arraso e a transformação de Arthur em Coringa, no longa de Todd Phillips, que é de cortar o fôlego. Tudo bem que a Academia não é muito chegada em premiar astros pop, exceto os pops que ela própria elege e transforma em quetais. Joaquin já vem flertando com o prêmio há tempos, poderia até já ter ganhado, mas o seu palhaço do crime é realmente algo muito especial. O filme é um drama, e fortíssimo, e isso talvez avalize as chances do filme no Oscar.
Ford vs. Ferrari
Diante de um filme como Ford vs Ferrari, a primeira reação é tentar alinhá-lo com a América conservadora que colocou Donald Trump no poder. “Make America Great Again”. Que outro sentido poderia haver na história de um veterano empreendedor - Henry Ford II - que decide quebrar a invencibilidade italiana nas 24 horas de Le Mans? E aí sente-se a mão do diretor. James Mangold subverte o que parece ser o próprio discurso. Substituiu um Ford, Henry, por outro - John. O Homero das pradarias. O mestre do western. O que John Ford tem a ver com Le Mans. Nada ou tudo. Para apreciar o filme, o espectador não precisa ter nenhuma dessas referências. A história sustenta-se, mas está tudo lá.
Martin Scorsese
O Irlandês
O que levou Scorsese a superar incertezas sobre o filme foi uma história que ultrapassava o escopo de Os Bons Companheiros ou Casino e seguia até os dias finais da vida de um mafioso, Frank Sheeran, quando ele é deixado sozinho para contemplar a moralidade de seus atos. Em palavras que Scorsese sabia que não se referiam apenas ao filme, ele disse ao New York Times: “Tudo tem a ver com os últimos dias. É o último ato”. O diretor espera seu segundo Oscar de direção (o primeiro veio por Os Infiltrados, em 2007).
Todd Phillips
Coringa
Todd Phillips já tinha uma indicação ao Oscar, em 2007, pelo roteiro de Borat, mas era conhecido mesmo pela sua participação na franquia Se Beber Não Case. Portanto não deixa de ser uma surpresa que o seu filme de 2019, Coringa, um drama, tenha recebido um caminhão de indicações este ano, inclusive para sua direção que privilegia o talento de Joaquin Phoenix . Forte concorrente.
Sam Mendes
1917
O britânico Sam Mendes já levou um Oscar, em 1999, por Beleza Americana. Agora, numa situação muito favorável em relação a seus competidores, ele dirige 1917, um enorme plano sequência que conta a história de uma dupla de soldados britânicos na Primeira Guerra. Todos os outros prêmios de direção da temporada foram para ele. Agora vem o Oscar.
Frazer Harrison/AFP
Quentin Tarantino
Era Uma Vez...
em Hollywood
O talento de Tarantino ainda não rendeu um Oscar de direção para ele, embora seus roteiros já tenham sido premiados duas vezes no passado. Com a forte competição deste ano, é provável que novamente seu trabalho na página, e apenas na página, renda a ele uma nova estatueta.
NEIL HALL/EFE
Bong Joon-Ho
Parasita
Grande merecedor do prêmio, Bong Joon-ho escreveu, produziu e dirigiu um dos grandes filmes do nosso tempo. Parasita coleciona seis indicações, e é de se esperar que a Academia entregue a ele algum dos outros prêmios além do de melhor filme estrangeiro. Uma grande metáfora do capitalismo filmada com inteligência e a sabedoria de um diretor experiente.
Netflix
Universal
Leonardo DiCaprio
Leonardo DiCaprio foi nomeado para a categoria pela atuação em Era uma Vez em... Hollywood. Ele faz o papel de Rick Dalton, ator de uma série de televisão de sucesso que se sente injustiçado. Queria estar fazendo mais e melhores filmes, quem sabe com seu novo vizinho, o polonês Roman Polanski, que colhe os frutos do sucesso O Bebê de Rosemary e é casado com a atriz Sharon Tate (Margot Robbie).
Jonathan Pryce
Intérprete do papa Francisco em Dois Papas, Jonathan Pryce está na ativa desde os anos 1970, mas esta é sua primeira indicação ao Oscar. “Por se tratar de uma figura real e conhecida, tomei certas precauções, analisando e emulando certos gestos. Mas é curioso - numa cena, quando me despeço de Bento (Hopkins) e o plano é aberto, Fernando ficou entusiasmado e me cumprimentou, dizendo que eu estava caminhando exatamente como ele”, disse Pryce.
Netflix
Joaquin Phoenix
Bastante elogiado por sua atuação como o Coringa do filme homônimo, Joaquin Phoenix está entre os favoritos para vencer o Oscar de melhor ator neste ano.
Antes de se tornar o Coringa, Arthur Fleck é um comediante frustrado que depende de remédios para seus problemas de saúde mental. Sendo pobre e esquisito, Arthur é invisível para a sociedade, mas decide dar o troco.
Niko Tavernise/Warner Bros Pictures
Cynthia Erivo
Cynthia Erivo interpreta Harriet no filme homônimo. Ela é uma escrava que foge e se torna uma das maiores heroínas da América. Erivo também concorre ao Oscar de melhor canção original por Stand Up, que está no mesmo longa-metragem.
Renée Zellweger
Renée Zellweget interpreta Judy Garland em Judy: Muito Além do Arco-Íris. surge como a mítica atriz e cantora, durante o último ano de sua vida, com flashes em que rememora momentos de sua adolescência, que foi muito rígida. Com problemas financeiros e sofrendo com suas relações amorosas, mesmo assim embarca em turnê por Londres, durante o inverno de 1968.
Scarlett Johansson
Scarlett Johansson concorre em duas categorias no Oscar deste ano - melhor atriz coadjuvante, por Jojo Rabbit, e melhor atriz por História de Um Casamento. Neste filme de Noah Baumbach, ela interpreta uma atriz que se divorcia do marido, um diretor teatral interpretado por Adam Driver, também indicado ao Oscar de melhor ator.
Netflix
Charlize Theron
Charlize Theron está indicada ao Oscar por seu papel em O Escândalo. A atriz já levou uma estatueta para casa por seu desempenho em Monster - Desejo Assassino (2003). Em O Escândalo, longa-metragem baseado em uma história real, ela interpreta a âncora da Fox News Megyn Kelly, que sofre assédio sexual do chefe Roger Ailes, interpretado por John Lithgow.
Lionsgate
Saoirse Ronan
Saoirse Ronan foi indicada como melhor atriz pelo filme Adoráveis Mulheres. É a quarta indicação que a atriz recebe, aos 25 anos. Ronan é a segunda pessoa mais jovem a atingir quatro indicações ao Oscar. Antes, ela concorreu como melhor atriz em Lady Bird - A Hora de Voar e Brooklyn, e por melhor atriz coadjuvante em Desejo e Reparação. Em Adoráveis Mulheres ela interpreta Jo, que ao lado de suas irmãs chega à idade adulta durante a Guerra Civil dos Estados Unidos.
Netflix
Netflix
Tom Hanks
Vencedor do Oscar de melhor ator por Filadélfia (1993) e Forrest Gump (1994), Tom Hanks tem a chance de levar a terceira estatueta para casa, desta vez como melhor ator coadjuvante. Em Um Lindo Dia na Vizinhança, baseado em uma história real, o ator interpreta Fred Rogers, apresentador de um programa infantil de muito sucesso. Um repórter que tem problemas com o pai vai entrevistar Rogers, que decide ajudá-lo.
Sony
Netflix
Laura Dern
Num filme recheado de boas atuações, Laura Dern brilha como nunca na pele da advogada Nora, a personagem que vai trazer os personagens principais à realidade, trazendo o elemento de vida real para uma história que parecia simples demais até o momento em que ela surge na tela.
Kathy Bates
Outra forte concorrente, interpretando uma personagem real, Bobi, a mãe de Richard Jewell. A atriz contou ao Estado que repensou muito o propósito de sua carreira ao longo da produção do filme. “E não quero soar muito Pollyana, mas o que me faz continuar é ajudar a criar a empatia de que todos precisamos.” Ela disse ter tido uma prova de que vale a pena quando se encontrou com Bobi Jewell - seu filho Richard morreu em 2007, aos 44 anos. “Ela é uma mulher cheia de opinião, mas ficou com os olhos marejados quando conversamos. A dor da injustiça ainda está muito viva mesmo depois desses anos todos. Foi bom vê-la andando no tapete vermelho na pré-estreia ao lado de Clint Eastwood.”
Scarlett Johansson
Também indicada na categoria de atriz, Johansson vive, em Jojo Rabbit, Rosie, membro da resistência aos nazistas e que cuida de Jojo sozinha. “Ela teme por sua vida, pela vida de seu filho, nada faz sentido. Perdeu muitos amigos, não sabe qual vai ser seu futuro e o do menino”, disse Johansson ao Estado. Em geral, ela tenta manter alguma leveza em meio à guerra, sem fechar os olhos de Jojo para os horrores a sua volta. Mas não é fácil. “Às vezes ela olha para o filho e vê nele tudo o que odeia”, afirmou a atriz.
Florence Pugh
Com apenas 24 anos, a atriz britânica concorre ao seu primeiro Oscar pela atuação como a mimada irmã mais nova da família March. Parte importante do elenco, o verdadeiro trunfo do filme, ela vem se consolidando como uma das principais atrizes de sua geração, mas a competição, este ano, é acirrada.
Wilson Webb
Margot Robbie
Com bem menos de tela em Era Uma Vez… em Hollywood do que merecia, Margot Robbie alcança sua indicação interpretando a apresentadora Kayla Pospisil, da Fox News, neste que é um dos primeiros filmes a abordar diretamente o movimento #MeToo, que balançou as estruturas de Hollywood em 2017.
IMDB