Mulheres, jovens e pessoas com mais de 55 anos alavancam empreendedorismo nascente, que atinge o maior nível da série histórica da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) em 2020
Gustavo Queiroz, Ítalo Cosme, Jayanne Rodrigues, Jullie Pereira, Leon Ferrari, Natália Santos, Patrick Freitas, Sabrina Gabriela e Sarah Américo
Especiais para o Estadão
O número de novos negócios no País foi recorde em 2020: mais de 14 milhões de brasileiros se tornaram empreendedores em meio à pandemia da covid-19, conforme o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020. A motivação da maior parte deles foi o desemprego, o que resultou em aumento histórico da taxa de empreendedores nascentes e também mudou o perfil dos brasileiros que decidiram apostar no próprio negócio no último ano. Essa explosão, no entanto, acabou ofuscada pela queda de 18 pontos porcentuais na taxa geral de empreendedorismo com fechamento de negócios com mais de três anos e meio de existência.
Embora tenham recebido menos atenção em meio ao grande volume de empresas fechando, os novos empreendedores não passaram despercebidos. A pesquisa mostrou que 52,1% dos brasileiros conhecem ao menos uma pessoa que abriu um negócio por conta da pandemia, com expressivo crescimento da atividade empreendedora entre as mulheres, os mais jovens (18 a 24 anos) e os mais velhos (55 a 64 anos), além de a população com escolaridade mais baixa e com renda familiar entre dois e três salários mínimos.
De acordo com o relatório GEM, quase 83% dos empreendedores nascentes afirmam que a motivação para iniciar o empreendimento foi a de ganhar a vida porque os empregos são escassos. Isso fez a taxa de empreendedorismo por necessidade dobrar em relação ao ano anterior e chegar a 53,9%, perdendo apenas para o índice registrado em 2002.
“Recebi relatos de mulheres que começaram a sustentar a família vendendo roupas porque o marido tinha perdido o emprego”, relata Kuki Bailly, CEO e fundadora da Dotsy, comunidade virtual colaborativa de pequenos empreendedores e artesãos (leia mais em ‘Mulheres’, neste especial). Ela percebeu que as demissões em massa impulsionaram o número de pessoas que passaram a vender o que já faziam como hobby em casa.
A explicação para o fato de boa parte desses novos negócios ter sido criada por necessidade está nos sucessivos recordes no número de desempregados no País em 2020. Para se ter uma ideia, no trimestre encerrado em setembro do último ano, a taxa chegou a 14,6%, maior patamar até então da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Naquele momento, 14,1 milhões de pessoas estavam em busca de trabalho. Em 2021, o patamar vem se mantendo alto, com dois recordes de 14,7% nos últimos trimestres de janeiro a março e de fevereiro a abril, com total de 14,8 milhões de desocupados.
Esse ambiente empurrou a taxa de empreendedorismo nascente a 10,2% de toda a população adulta que empreende atualmente no Brasil. É o maior patamar da série histórica da pesquisa, realizada desde 2002 pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP).
“O brasileiro tem vontade de ter um negócio próprio. Para muitos, a pandemia foi um incentivo.”
Para o diretor-superintendente do Sebrae São Paulo, Wilson Poit, isso também está relacionado com uma característica própria dos brasileiros. “O brasileiro tem vontade de ter um negócio. Então, tinha muita gente que a pandemia foi empurrando, outros perderam o emprego e precisavam de uma renda”, avalia. Ou seja, entre os empreendedores nascentes, há também aqueles para os quais a pandemia foi apenas mais um incentivo para começar a empreender.
Os dados mostram que o grupo de empreendedores que mais cresceu durante a pandemia foi o de pessoas mais velhas, com um aumento de 115% em comparação a 2019. Kuki relata que, na comunidade virtual fundada por ela, muitos idosos empreendem para ter uma renda extra ou pagar um seguro de saúde melhor, já que a aposentadoria é insuficiente para viver e ajudar a família.
A fundadora da Dotsy observa, ainda, que a maioria dos empreendimentos de idosos é criada na companhia de pessoas mais jovens: “Os idosos trazem o conhecimento e a expertise, e a pessoa mais jovem consegue administrar melhor o negócio digitalmente”.
O segundo grupo de empreendedores que mais cresceu durante a pandemia foi justamente o de jovens entre 18 e 24 anos, com aumento de 55% em relação a 2019, seguido de perto pelos empreendimentos criados por mulheres, com uma expansão de 49%.
O relatório sugere que esse é o grupo mais afetado durante a pandemia. De acordo com os dados, houve um forte fluxo de chegada e saída de mulheres, em especial com a entrada daquelas com menor escolaridade nos estágios iniciais da atividade empreendedora e saída das que têm maior escolaridade e estavam em fases mais avançadas.
Após abrir o negócio, a dificuldade é manter-se no mercado. Para o diretor-superintendente Wilson Poit, é preciso bastante transpiração para que uma empresa dê certo. É necessário ter disciplina financeira, um plano de negócios e oferecer um diferencial para o público, afirma Poit.
“Geralmente, o empreendedor é bom em algo específico, mas ele precisa procurar ajuda para as demais aptidões e não pode ter vergonha de fazer cursos, por exemplo”, recomenda.
Segundo especialistas entrevistados pelo GEM 2020, educação e capacitação estão no top 3 das ações para melhorar as condições para empreender no Brasil, com 55,8% das respostas. Políticas governamentais (55,8%) e apoio financeiro (27,9%) também estão no pódio.
À margem dos dados oficiais, especialistas apontam que o número de empreendedores negros e LGBTs também aumentou durante a crise sanitária. “Os grupos minorizados ficaram ainda mais vulneráveis durante a pandemia”, afirma Lucas Paoli, gestor da Micro Rainbow International Foundation (MRIF) Brazil, organização que busca empoderar economicamente e capacitar pessoas LGBTQIA+. Para o porta-voz, essas pessoas enfrentam mais barreiras para ingressar no mercado formal de trabalho. Por isso, necessitam empreender.
“Grupos minorizados já são mais empreendedores por serem excluídos do mercado formal devido ao preconceito que enfrentam.”
“O empreendedorismo é uma grande saída. Muitas pessoas não conseguem emprego sendo formadas, imagine as minorias. Precisamos cuidar dessas pessoas, tornando-as empreendedores e colocando-as na cadeia produtiva. Temos estudado bastante a inclusão produtiva”, avalia Poit.
Ricardo Gomes, presidente da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, também vê o empreendedorismo como uma saída para os grupos minorizados. “Essa população já é mais empreendedora do que as pessoas que não têm o mesmo perfil pelo simples fato de serem expulsas do mercado formal de trabalho por preconceito”, explica. Para além da necessidade, Gomes acredita que a pandemia acelerou a criação de novos negócios de quem já desejava empreender.
Em março deste ano, a associação sem fins lucrativos lançou o Programa Fornecedores Diversos, que reúne micro, pequenas e médias empresas com capital societário LGBTQIA+ acima de 51%, a fim de diversificar a cadeia de suprimentos no mercado nacional. Dos 52 empreendimentos cadastrados até agora, mais de 17% foram criados em 2020 ou 2021. Segundo Gomes, os setores de alimentação, informática e comunicação são os mais comuns entre o perfil dos novos negócios LGBTQIA+.
Paoli afirma que boa parte desses empreendedores busca promover impacto social por meio de seu negócio, seja ao beneficiar uma causa ou uma comunidade, seja ao contratar pessoas de grupos minorizados. Por outro lado, para se manterem no mercado como empreendedores, as pessoas LGBTQIA+ também enfrentam uma série de obstáculos.
Segundo o gestor da MRIF Brazil, as três maiores dificuldades incluem conseguir capital para investir no negócio, falta de habilidades ou conhecimentos específicos e, principalmente, problemas de saúde mental. “Essa população sofreu com a homofobia ou a transfobia a vida toda. Então, essas pessoas não acreditam nelas mesmas, não acham que são capazes, desistem muito fácil. Há uma fragilidade psíquica da comunidade”, diz Lucas Paoli.
Fundadora da Feira Preta, plataforma de consultoria, serviços e soluções pretas, Adriana Barbosa diz que o empreendedorismo negro também aumentou durante o período. No entanto, na opinião dela, essa alta levou a uma expansão do mercado informal. “A população preta na pandemia teve um grande problema que foi a questão da digitalização. Além disso, a questão do endividamento e do acesso ao crédito. Esses fatores contribuíram para o aumento da vulnerabilidade do empreendedorismo negro.” Segundo ela, empreendimentos liderados por pessoas pretas até fecharam durante a pandemia.
“Idosos geralmente estão empreendendo com jovens, combinando conhecimento e experiência com gestão digital do negócio.”
Os dados do Sebrae de maio de 2020 confirmam: os empreendedores negros foram os mais afetados pela pandemia. De acordo com a organização, 70% relataram que seu negócio sofria com a necessidade de medidas restritivas. A proporção de empresários brancos que afirmavam o mesmo era de 60%.
O número de empreendedores nascentes em 2020 não foi o único índice que atingiu patamares expressivos. A taxa de potenciais empreendedores chegou a 53%, ou seja, mais da metade da população não empreendedora manifestou a intenção de ter um negócio no horizonte de três anos. Se comparado a 2019, houve um salto de mais de 30 pontos porcentuais.
Dentre esses mais de 50 milhões de brasileiros que sinalizaram a vontade de empreender no último ano, 32,2% afirmam que foram influenciados pela pandemia. Ou seja, 16 milhões de potenciais empreendedores foram inspirados pelas necessidades decorrentes da crise trazida pelo novo coronavírus, de acordo com o relatório.
4 perguntas para...
Fabio Gandour
Heitor Machado, Luana Harumi e Luis Filipe Santos
Especiais para o Estadão
Em um cenário ensolarado repleto de árvores verdes, Chico Buarque bate palmas enquanto canta uma versão à capela de Andar com Fé, de Gilberto Gil. Logo, juntam-se ao artista vários outros – Alcione, Caetano, Djavan, Ivete, Emicida e, é claro, o próprio Gil –, cada um de um lugar, formando um mosaico. Publicado em junho de 2020, o vídeo acumula mais de 1 milhão de visualizações, um dos marcos dos primeiros meses de pandemia. É também exemplo de inovação. Afinal, mesmo com as ferramentas já disponíveis, antes era difícil imaginar uma reunião de tantos talentos em um mesmo “local”, exemplifica o cientista e designer de inovação Fabio Gandour. “(Foi) uma inovação relativamente simples a ponto de a gente ter vontade de perguntar: Por que não fizeram isso antes, né?”
Em entrevista ao Estadão, Gandour explica como a pandemia pode ter acelerado – ou não, ele ressalta – o processo de inovação em diversos setores, mas principalmente em relação a comportamento, comunicação, alimentação, transporte, trabalho, relações humanas e equilíbrio pessoal. O trabalho, em especial, passa por um período de ressignificação, fortalecido pela entrada de novas gerações no mercado. “Aquele propósito antigo, de trabalhar para sustentar a si e a família, comprar casa, carro e ser feliz para todo o sempre, a pandemia vai mexer com ele.”
1No contexto brasileiro, a inovação já estava acontecendo? Ou foi a pandemia que fez acelerar a inovação, que não estava tão rápida?
2A crise provocada pelo novo coronavírus trouxe, então, oportunidades?
3O que é necessário para inovar, seja qual for o contexto?
4Quais dicas daria para quem busca inovar, seja no próprio negócio ou dentro de uma empresa?
55+
Caio Possati, Jullie Pereira, Manoela Bonaldo e Sarah Nicoli
Especiais para o Estadão
Depois de 20 anos trabalhando como gerente de vendas em uma grande empresa de cosméticos, Sylvia Moreira estava satisfeita com seu emprego e não tinha planos de mudança. Em janeiro deste ano, porém, ela e outros 230 gerentes foram demitidos. “Imagina só! Eu, com 55 anos, pensava que só sabia fazer aquilo. Fiquei meio em pânico. Parecia que tinha terminado um casamento”, conta Sylvia.
Três meses depois, decidiu buscar oportunidades e encontrou uma empresa que estava abrindo franquias especializadas em faxinas. Era uma área nova para ela, mas resolveu arriscar: investiu R$ 10 mil na compra de todos os equipamentos e passou a trabalhar com limpeza. “Eu nunca pensei que seria empreendedora, que conseguiria ser dona de negócio. Estou abrindo um novo caminho e estou feliz fazendo isso.”
Assim como Sylvia, cerca de 1,5 milhão de pessoas entre 55 e 64 anos tiveram de se reinventar durante a pandemia da covid-19 e abriram um negócio. Segundo o Sebrae, apenas em 2020, aproximadamente 14 milhões de pessoas começaram a empreender em todo o Brasil.
Para o economista Henrique Noya, diretor-executivo do Instituto de Longevidade, essa faixa etária de pessoas com idade mais avançada enfrenta uma dificuldade em entrar no mercado formal de trabalho e acaba migrando para o empreendedorismo.
As empresas, segundo ele, argumentam que pessoas acima de 50 anos esperam salários mais altos, têm pouca flexibilidade e dificuldade com atualizações tecnológicas. Além de enfrentarem conflitos geracionais. “Há um preconceito crescente no Brasil que se chama ‘etarismo’, é o preconceito por idade no ambiente de trabalho”, diz.
No entanto, Noya afirma que também há vantagens em ter uma pessoa mais velha na equipe, que incluem a experiência, com visões do que já fez na vida, a inteligência emocional, que proporciona facilidade em acalmar equipes, e a diversidade em ter pessoas de diferentes perspectivas. Além disso, o economista cita que as novas gerações de idosos demonstram maior disposição física e mental em relação aos mais velhos de décadas atrás, e são abertas a aprender novas habilidades, como no manuseio de tecnologias e digitalização.
“São pessoas que têm de trabalhar, têm de empreender, devem continuar mantendo suas famílias e vão buscar essas oportunidades.”
É o caso do corretor Rudnei Salvador, de 60 anos, morador de Piracicaba, interior de São Paulo. Há dois meses, deixou de ser pessoa física para abrir a própria corretora após muitos anos trabalhando como bancário e representante comercial. Até 2015, Salvador atuava como investidor, mas tudo mudou depois que uma das empresas na qual tinha participação quebrou.
“Eu tive que me reinventar, comecei a procurar opções no mercado e a enviar currículo para empresas para trabalhar com representação”, diz. “Eu tinha 55 anos, então minha filha me cadastrou no LinkedIn e, em 2020, uma empresa de seguros de vida entrou em contato.” Depois do treinamento, começou a trabalhar com venda de seguro de vida e previdência.
“Estou muito contente, brinco com o pessoal da gerência que eu deveria ter começado há dez anos nesse ramo. Graças a Deus, está me surpreendendo positivamente”, diz. Hoje, Salvador tem a própria empresa e vende os produtos da seguradora, com quem reparte os lucros.
Já Sylvia cadastrou-se como Microempreendedora Individual (MEI) e todo mês destina uma parte dos recursos que ganha para a empresa matriz, que oferece a marca e assessoria nos serviços de limpeza. As faxinas ocorrem semanalmente, dependendo da demanda. Em algumas semanas, ela faz de três a quatro faxinas. Em outras vezes, apenas uma ou duas.
O economista Henrique Noya lembra que o País passa por uma mudança demográfica atualmente, com aumento da longevidade e diminuição no número de filhos. De acordo com projeções das Nações Unidas, a tendência é de que em 2030 o Brasil tenha a quinta população mais idosa do mundo. A quantidade de pessoas com mais de 60 anos ainda deve ultrapassar o número de crianças de 0 a 14 anos no País. “O Brasil tem de começar a olhar como essa mudança demográfica também tem impactos no mercado de trabalho", diz.
Em relação à renda, ele afirma que quem tem mais de 60 anos enfrenta desafios porque não imaginava que fosse viver tanto. “São pessoas que têm de trabalhar, têm de empreender, devem continuar mantendo suas famílias e vão buscar essas oportunidades”, diz.
4 perguntas para...
Pierre Schurmann
Amanda Calazans, Larissa Burchard e Natália Santos
Especiais para o Estadão
Antes de empreender, Pierre Schurmann navegava em grandes mares. O filho mais velho da família Schurmann, conhecida nos anos 1980 por velejar ao redor do mundo, se tornou referência quando o assunto é entender as ondas da transformação digital. Ele é fundador e CEO da Nuvini, plataforma de Software as Service (SaaS) e Business to Business (B2B) criada durante a pandemia de covid-19 e inserida desde o começo no ambiente virtual.
Com um currículo repleto de investimentos em empresas digitais, Schurmann diz que não basta as empresas terem tecnologia se não souberem aproveitá-la com estratégia e pensando nas pessoas. A transformação digital utiliza tecnologia de forma estratégica para mudar, pensar e executar os negócios, explica. Mas essa mudança, alerta o executivo, não deve ser repentina, já que a transformação digital precisa estar incorporada à cultura da empresa. E, para isso, é preciso buscar colaboradores com mentalidade digital, ensina.
1Como levar a digitalização para grupos que são resistentes a ela?
2De que forma as pessoas que não têm noções básicas de informática poderiam se inserir na transformação digital?
3Quando se fala em busca por uma mentalidade digital, o mercado de trabalho está focando em jovens?
4Considerando que no Brasil ainda há alguns gargalos, quais serviços, além dos digitais, o empreendedor deve desenvolver?
3 perguntas para...
Julia Rueff
Júnior Moreira Bordalo, Mattheus Reis e Ícaro Malta
Especiais para o Estadão
Com as restrições ao comércio durante a pandemia, os marketplaces ganharam impulso no País e se tornaram alternativas importantes para empreendedores do varejo, principalmente para aqueles que não tinham experiência em vendas online nem presença virtual. Nesse cenário, as próprias plataformas passaram a oferecer cursos para ajudar os novos empresários a fazer a transição para o digital. “Temos diversos programas de treinamento, webinários sobre como vender mais ou se digitalizar, por exemplo, com o intuito de nos aproximarmos de quem ainda está numa fase mais analógica”, conta Julia Rueff, diretora sênior de Marketplace do Mercado Livre. Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista.
1Qual a relação da pandemia com a inovação nas empresas brasileiras?
2Em geral, os brasileiros têm domínio do que é inovação digital? Como difundir esse conceito?
3Quais são hoje os principais gargalos para a atuação de empresas nativas digitais no Brasil?
Jovens
Daniel Reis e Daniel Rocha
Especiais para o Estadão
Aos 23 anos, Denilson Martins está realizando um sonho de criança: ter uma confeitaria. Após ver o seu contrato de trabalho ser suspenso no início da pandemia do novo coronavírus, ele decidiu produzir brownies, bolos e outros doces na cozinha de casa e vendê-los por meio das redes sociais. O negócio deu certo. Em um ano, as vendas de doces e bolos duplicaram e, com o aumento do faturamento, a Martins Confeitaria deve ganhar uma loja física até o fim do ano.
Assim como ele, cada vez mais jovens têm apostado no empreendedorismo como opção de carreira ou, diante da crise, como solução para o desemprego. De acordo com o Sebrae, entre os empreendimentos nascentes de 2020, 21,2% são comandados por pessoas com idade entre 18 e 24 anos. Por outro lado, essa mesma faixa etária representa apenas 5,1% dos empreendedores estabelecidos, que têm negócios com mais de três anos e meio de existência. Ou seja, a dificuldade dos jovens é estabelecer o negócio.
Martins tenta escapar dessa estatística e já se prepara para o próximo passo. Com os lucros acumulados dos últimos 12 meses, ele pretende abrir uma loja física no segundo semestre de 2021, na região periférica de Fortaleza. “O dinheiro que eu tenho não dá para montar toda a estrutura da loja, mas dá para fazer uma boa parte. Não é uma loja grande, mas vou ter um espaço para mim”, comemora.
Para especialistas, as dificuldades dos jovens em consolidar os novos negócios passam pela falta de planejamento. “O gestor não planeja. Ele continua crescendo e funciona na base ‘do soluço’, ou seja, agindo por impulso”, adverte o economista Roberto Kanter, professor universitário da Fundação Getúlio Vargas. “Muitas vezes o que dá certo no começo tende a não funcionar quando o negócio fica mais estruturado.”
Outro problema está em não fazer uma pesquisa de mercado antes de oferecer um produto. Para o economista Ricardo Teixeira, os empreendedores não avaliam a demanda pelo produto ou serviço no mercado ao montar o próprio negócio. “É preciso saber se há uma demanda não atendida que eu possa facilmente atrair”, explica Teixeira. “Caso contrário, vou ter de brigar com quem está no mercado e estarei entrando para atender uma demanda que já está sendo atendida.”
“Muitas vezes o que dá certo no começo tende a não funcionar quando o negócio fica mais estruturado.”
Denilson Martins se preparou com ajuda do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). No curso que fez em 2019, ao longo de quatro meses ele aprendeu desde preparar doces até como vendê-los. “Antes, eu só pegava as receitas da internet e fazia. Às vezes, não dava certo e eu não entendia o motivo. Depois do curso, eu aprendi a técnica, aprendi que a confeitaria não é só leite condensado e aprendi até a aprimorar as receitas”, conta.
De acordo com Silon Procath, coordenador de Empreendedorismo da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS), é natural que o jovem empreendedor tenha menos experiência no mundo dos negócios. Para driblar essa dificuldade, é necessário se capacitar. “Independente se ele é pequeno, médio ou grande empreendedor, hoje nós temos a obrigação de estar sempre nos qualificando. E existem muitas oportunidades gratuitas que realmente suprem a demanda de qualificação necessária para o empreendedor”, avalia.
Conheça alguns cursos online gratuitos disponíveis no Sebrae.
Essa qualificação deve incluir educação financeira, recomenda o economista Ricardo Teixeira. “Temos de formar empreendedores e ajudar o empreendedor a fazer esse percurso enquanto é jovem”, afirma. Ele cita o cálculo do tempo de retorno do investimento aplicado no negócio como exemplo da necessidade desse aprendizado: “Às vezes, o empreendedor se endivida porque acredita que pode pagar aquele financiamento em um prazo curto. O problema é que esse prazo é mais longo do que ele imaginou”, explica.
Lívia Abreu, de 24 anos, teve o salário reduzido durante a pandemia e decidiu abrir um estúdio de design de sobrancelhas na própria casa para conseguir uma renda extra. Para iniciar o negócio, contou com um empréstimo da família, mas não conseguiu eliminar a dupla jornada e continua trabalhando como promotora de vendas. “No momento, eu ainda tenho um fluxo de clientes pequeno e tenho de pagar o empréstimo que fiz para montar o meu negócio”, justifica.
As barreiras para acessar crédito são grandes dificultadoras para jovens que empreendem por necessidade, afirma Geovana Conti, sócia-fundadora da Youngers, empresa que orienta jovens de baixa renda que pretendem empreender. Segundo ela, em tese, existem bancos que oferecem microcrédito para empreendedores de baixa renda, mas a prática é outra. “O nível de burocracia que esse jovem enfrenta para conseguir pegar R$ 5 mil com uma taxa justa é quase proibitivo. E a pessoa não pode ter o nome sujo. Mas se estamos falando de empreendedores por necessidade, imagina como está o nome dele?”, questiona.
Se há uma vantagem competitiva entre os jovens empreendedores, certamente ela está nas redes sociais, que têm se tornado aliadas para pequenos empreendimentos, especialmente o Instagram. De acordo com a especialista em marketing digital Isadora Rebouças, essas plataformas são uma ótima oportunidade para conquistar clientes e alcançar visibilidade no mercado com um custo quase zero. “Quando você tem uma loja online, conta com uma vitrine funcionando 24 horas por dia. É uma ferramenta importante para quem quer conhecer seus clientes e interagir com seu público”, afirma.
Apesar de toda essa visibilidade que as redes sociais oferecem, os pequenos empreendedores precisam planejar a forma como apresentam a empresa na internet. Além de se portar de forma profissional, Isadora Rebouças recomenda conteúdos que sejam relevantes ao público e garantam engajamento. “Por isso, é interessante o empreendedor aprimorar o seu conhecimento sobre as redes sociais para se diferenciar da concorrência e utilizar todo o potencial dessas ferramentas”, orienta.
3 perguntas para...
Susanne Andrade
Ítalo Cosme e Pedro Vilas Boas
Especiais para o Estadão
Autora dos livros O Poder da Simplicidade no Mundo Ágil e O Segredo do Sucesso é Ser Humano, Susanne Andrade acredita que é possível alcançar a felicidade no mercado de trabalho. Para isso, é preciso autoconhecimento, propósito e boa convivência com a diversidade.
A sócia-diretora da A&B Consultoria e Desenvolvimento Humano sugere que as empresas valorizem o lado humano e se lembrem que por trás de cada CNPJ há diversos CPFs. Segundo ela, o conflito que pode surgir entre pessoas diversas deve ser visto com cautela, mas, principalmente, como uma oportunidade de crescimento e resultados positivos. “Então, eu preciso ter maturidade para lidar com essa diferença. Como a gente conquista isso? Garimpando dentro dessas diferenças o que é que a gente tem em comum.” Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
1Como empresas podem lidar com a diversidade etária, uma vez que um mesmo local pode ter entre os funcionários tanto baby boomers quanto pessoas da geração Z?
2Para além desse choque geracional, o que de positivo pode surgir do contato entre uma geração e outra no mercado de trabalho?
3Como equilibrar a saúde mental em um mundo corporativo que exige cada vez mais agilidade e tempo? Como equilibrar tanta demanda externa e a necessidade de ter saúde mental?
Mulheres
Bruno Luiz, Cindy Damasceno, Leon Ferrari, Luiz Henrique Gomes, Maria Isabel Miqueletto, Rafaela Barbosa e Taísa Medeiros
Especiais para o Estadão
Entre os empreendedores nascentes, as mulheres são maioria. Conforme o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, quase 8 milhões de brasileiras passaram a empreender no ano passado. Com idade entre 18 e 44 anos e níveis de escolaridade que vão do ensino médio ao superior completo, elas podem ser identificadas em arranjos familiares de diversas faixas de renda abaixo de seis salários mínimos.
Esse perfil se manteve durante a pandemia na Dotsy, comunidade virtual colaborativa de pequenos empreendedores e artesãos. Segundo Kuki Bailly, fundadora e CEO da empresa, quase 80% dos 320 mil integrantes da rede são mulheres. Ela afirma que as mulheres são mais comunicativas, o que acaba sendo favorável a elas em um ambiente de compartilhamento. “Isso é um dado importante. Dentro da rede social, o negócio acontece através da conversa, e elas têm esse comportamento mais comunicativo”, explica.
Muitas dessas mulheres optaram por empreender no último ano pela necessidade de uma fonte de renda em um ambiente de empregos formais em falta. “Há uma correlação altíssima entre a mulher não conseguir recolocação profissional e o empreendedorismo. Não podemos romantizar essa questão do empreendedorismo feminino”, avalia Fernanda Sales. Em 2020, a própria Fernanda fundou, junto com a sócia Yasmin Franklin, a empresa Lumas Fly, um empreendimento nativo digital que comercializa camisetas com dizeres que incentivam o protagonismo feminino.
Rosimar Aguiar, de 45 anos, e a filha Beatriz Lucena, de 20, estão entre essas mulheres que passaram a empreender por necessidade. Nascida no município de Caicó, no Rio Grande do Norte, a 279 quilômetros de Natal, Beatriz estuda Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Até março de 2020, ela recebia dois benefícios para se manter: um auxílio-alimentação, concedido pela universidade, e uma bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid).
“Há uma correlação altíssima entre a mulher não conseguir recolocação profissional e o empreendedorismo. Não podemos romantizar essa questão”
Com a pandemia, a estudante deixou de receber os auxílios. Isso coincidiu com a demissão de Rosimar, causada pelas restrições impostas ao comércio. “Com isso, a renda de casa foi perdida. Ficamos sem nada”, conta Beatriz. A saída encontrada pelas duas para pagar despesas básicas em casa, como alimentação, água, energia e internet, foi empreender por meio do mercado informal.
Beatriz teve seu primeiro contato com o bordado durante as férias de fim de ano de 2019. Em março, com a paralisação das aulas e o isolamento social, passou a bordar diariamente. Foi a partir dos elogios que recebia nas fotos postadas em sua conta pessoal do Instagram que identificou a possibilidade de sobreviver da venda de suas peças. Já a mãe começou a fazer bolos.
Com o auxílio-emergencial que ambas conseguiram, investiram em matéria-prima para iniciar o negócio. Para que as vendas cobrissem as despesas, as duas precisaram divulgar os trabalhos para além do ciclo de amizades: criaram contas separadas no Instagram e Beatriz assumiu a tarefa de desenvolver e aplicar estratégias nas redes.
Beatriz conseguia tirar do negócio apenas metade de um salário mínimo por mês, enquanto a mãe tinha receitas mensais inferiores a R$ 1 mil e continuava tentando voltar para o mercado formal. Quando conseguiu, no fim de 2020, foi para ganhar um salário mínimo. “Voltar para a formalidade era uma questão de estabilidade porque empreender sozinhas como estávamos fazendo era uma necessidade de quem não podia ficar sem renda”, conta Beatriz.
A estudante retornou à universidade com aulas remotas e foi contemplada com uma bolsa de R$ 400. Sem tempo suficiente para dar conta de todo o negócio, passou a bordar menos.
Assim como Beatriz e Rosimar, a família de Kathleem Barbosa, de 24 anos, deixou de ter uma renda formal durante a pandemia. Essa foi a oportunidade para a jornalista tirar do papel um desejo antigo: empreender no ramo da moda sustentável.
O brechó online M0lezinha simboliza, nesse sentido, a união entre necessidade e vontade. Com menos de quatro meses desde a estreia virtual, o projeto complementa o orçamento da família da proprietária, moradora do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Para além das dificuldades tradicionais de qualquer empreendedor, Kathleem acredita que, quando se é negro, o caminho até a estabilidade é ainda mais tortuoso. No caso específico do M0lezinha, por exemplo, a atuação online, embora permita o alcance de um público maior, também está sujeita às dinâmicas sociais. “Pessoas brancas têm um engajamento muito maior. Eu, como mulher preta e periférica, preciso correr dez vezes mais para alcançar o mesmo público”, explica Kathleen.
A história de Fatou Ndiaye com o próprio negócio também não pode ser dissociada dos atravessamentos pelo racismo. Em maio do ano passado, a adolescente de 16 anos figurou no noticiário nacional após sofrer ofensas racistas de colegas da escola particular onde estuda, no Rio de Janeiro. O episódio criminoso repercutiu nas redes sociais e artistas como Taís Araújo e Iza manifestaram solidariedade a ela.
Meses depois, em outubro, ela começou a gestar a ideia de criar uma empresa – não pela necessidade financeira, mas pela vontade de apresentar visões sobre a África que fujam aos estereótipos conhecidos sobre a região. Assim foi lançada, em maio deste ano, a Afrika Academy, uma consultoria em conhecimentos sobre a África para indivíduos, grupos ou empresas e prefeituras.
“O Brasil tem uma deficiência muito forte no ensino de História da África. Eu sentia que havia necessidade de falar sobre a geopolítica da região, da relevância econômica, cultura e de outros aspectos”, diz Fatou.
A Afrika Academy oferece cursos para pessoas que queiram aprender mais sobre a história do continente e presta consultoria na formulação de material didático para escolas e também para empresas que queiram expandir os negócios para a região. Ao empreender com apenas 16 anos, o maior obstáculo de Fatou foi convencer as pessoas de que um projeto sobre educação tocado por uma adolescente é confiável. Por ser menor de idade, ela não consegue cuidar das burocracias formais da Afrika Academy, tarefas que ficam a cargo de sua mãe, também dona de um negócio.
Inspirada pela própria mãe, Fatou reivindica que mulheres negras sejam vistas como pessoas que movimentam a economia do País com seus negócios. “São mulheres que estão desenvolvendo a economia, mulheres que estão colocando comida em casa, que estão gerando renda”, afirma. “Não é como se você tivesse fazendo um favor ao comprar delas. A gente tem de começar a encarar essas mulheres negras como empresárias sérias. A tia do hot dog e a pessoa que está vendendo bolo e doce movimentam nossa economia interna. Não podemos inviabilizar essa economia.”
Quando se fala em dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, pessoas transgênero estão entre os grupos que mais sofrem com a exclusão. Conforme o Dossiê Assassinatos e Violência contra Travestis e Transexuais brasileiras, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% dessa população no País tem a prostituição como única fonte de renda, enquanto outros 4% se encontram na informalidade.
Em um cenário de difícil acesso ao mercado de trabalho, o empreendedorismo pode ser uma saída, destaca Lucas Paoli, gestor da Micro Rainbow International Foundation (MRIF) Brazil, organização que busca empoderar economicamente e capacitar pessoas LGBTQIA+.
Maria Eduarda Henriques, mulher transgênero de 54 anos, diz que o trabalho para mulheres trans é dobrado no universo do empreendedorismo, mas tem sua própria receita de sucesso. “Busque fazer aquilo da melhor forma possível. Quando as pessoas veem que você faz muito bem feito o que faz, a tendência é nem pensarem que você é trans e comprarem o que você faz pela sua competência.”
“Quando as pessoas veem que você faz muito bem feito o que faz, a tendência é nem pensarem que você é trans e comprarem pela sua competência.”
Ela diz isso por experiência própria. Em abril de 2020, ela criou a marca Mina, com um catálogo de acessórios, vestuário e artigos de decoração. O empreendimento é uma parceria com a filha, Helena Sammarone Henriques, de 22 anos, cujo bom relacionamento foi essencial para a jornada instável do empreendedorismo, marcada por altos e baixos.
Manter o negócio viável, no entanto, é mais difícil para as mulheres empreendedoras do que para qualquer outro grupo. Ao mesmo tempo em que foram maioria entre os nascentes, elas também estiveram entre as que mais fecharam as portas devido à crise sanitária, de acordo com dados da GEM 2020.
Na visão dos pesquisadores envolvidos no levantamento, a pandemia afetou significativamente o perfil dos empreendedores no Brasil. “Impacto maior ocorreu entre as mulheres: com forte fluxo de entrada e saída de mulheres, em especial com a entrada de mulheres menos preparadas (com menor escolaridade) nos estágios iniciais da atividade empreendedora e saída das mais experientes (com maior escolaridade) nos estágios mais avançados da atividade empreendedora”, revelou o relatório.
Kuki Bailly atribui essa vulnerabilidade à sobrecarga das mulheres na pandemia. Na Dotsy, ela observou que muitas das empresárias são mães e precisam gerenciar, ao mesmo tempo, o negócio e a família.
Ciente do aumento de mulheres empreendedoras, o Sebrae de São Paulo tem buscado dar atenção especial a elas - principalmente para as mulheres em situação de vulnerabilidade social, segundo o diretor-superintendente da instituição, Wilson Poit. “Temos um grupo que se destaca muito e que estamos dando muita atenção: as mulheres vulneráveis, vítimas de violência doméstica, por exemplo. Um dos motivos pelos quais ela se sujeita a essas relações (violentas) é dinheiro, se tivesse independência, seria diferente”, explica.
“Temos um grupo que se destaca muito e que estamos dando muita atenção: as mulheres vulneráveis, vítimas de violência doméstica.”
A fim de oferecer mais condições às mulheres no empreendedorismo, o Sebrae-SP criou o Programa Mil Mulheres, destinado à capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade social no Estado de São Paulo. O objetivo é alcançar mulheres em situação de rua, ex-detentas, idosas, negras, indígenas, transgêneras, com deficiência, vítimas de violência e imigrantes. Gratuito, o curso aborda temas como gestão, empreendedorismo, empoderamento feminino e negócios de impacto social.
Outra medida lançada durante a pandemia é a abertura de crédito especial para mulheres por parte de bancos privados e estatais. Em março, por exemplo, o Banco do Povo, de São Paulo, o Banco do Nordeste e a Sicredi Campos Gerais PR/SP criaram linhas de crédito que se juntam a outras iniciativas que reduzem taxas de juros e ampliam prazo de pagamento para empréstimos tomados por mulheres donas de negócios.
A criação de redes de mulheres empreendedoras ou a participação delas nesses grupos também são saídas para fortalecer o empreendedorismo feminino. Criada em 2015 por Kuki Bailly, a Rede Dotsy hoje é integrada majoritariamente por mulheres. Elas são quase 80% da rede, que tem como ponto central fomentar conexões entre os integrantes para que possam encontrar, dentro do grupo, um ambiente favorável ao negócio.
Para Fernanda Sales e Yasmin Franklin, essa criação de uma rede entre mulheres empreendedoras ou que desejam empreender é também uma forma de empoderamento. Além de fundarem juntas a Lumas Fly, elas buscaram capacitar outras mulheres a criarem seus próprios negócios durante a pandemia.
As empresárias fazem questão de compartilhar todo o processo de criação da marca e suas estratégias, ajudando as seguidoras que também buscavam empreender. Foram inúmeras lives contando sobre cada etapa do trabalho, discutindo com a rede a escolha do logotipo e compartilhando conhecimentos.
“Algumas pediam para compartilhar a planilha, tem gente que vinha tirar dúvida depois, todo mundo gostava. Tem gente que nos segue até hoje, que já comprou blusa, que interage”, conta Fernanda.
Seja por necessidade ou para colocar um sonho antigo em ação, as 8 milhões de brasileiras que começaram a empreender durante a pandemia enfrentaram e ainda enfrentam desafios. Helena Sammarone Henriques, fundadora da marca Mina, dá a dica para seguir em frente: “Seja sua fã número 1”.
5 perguntas para...
Kuki Bailly
Jessica Brasil Skroch, Maria Isabel Miqueletto e Taísa Medeiros
Especiais para o Estadão
A Dotsy, comunidade virtual colaborativa de pequenos empreendedores e artesãos, mais do que duplicou o número de adesões mensais durante a pandemia. A cada mês, cerca de 10 mil novos integrantes se unem aos mais de 320 mil empreendedores que já fazem parte da comunidade. A startup de impacto social tem sua origem em um grupo do Facebook criado em 2015, chamado Rede Dots. Nele, Kuki Bailly, a fundadora e CEO da empresa, estimulava trocas entre os participantes com o objetivo de criar conexões de trabalho.
A partir das publicações, as redes de contatos começaram a se cruzar, multiplicando as oportunidades. Seis anos depois, a Dotsy expandiu e hoje conta com sua própria plataforma online de divulgação e vendas. Para fazer parte da comunidade, os empreendedores realizam uma assinatura mensal, com planos que dão direito a anúncios, consultorias e descontos exclusivos para compras na plataforma.
Na rede, 76% dos participantes são mulheres, que têm entre 35 e 50 anos ou mais. Com a chegada da pandemia, o setor de produtos culinários - que corresponde a 51% da rede - foi um dos que mais cresceram, como conta Kuki em entrevista ao Estadão.
1O número de afiliados da Dotsy aumentou na pandemia. Qual o perfil dessas pessoas?
2Mulheres são maioria na rede Dotsy. Pesquisas do Sebrae mostraram que empreendedoras foram muito mais afetadas pela pandemia do que empreendedores homens. Qual a percepção na Dotsy?
3Dados do Sebrae mostram que o empreendedorismo por necessidade saltou de 37,5% para mais de 50%. Essa realidade ficou perceptível para a senhora?
Eu recebi relatos, por exemplo, de uma mulher que começou a sustentar a família vendendo roupa, porque o marido tinha perdido o emprego e eles ficaram totalmente sem recursos. Dentro da rede, ela conseguiu rapidamente virar situação, correu atrás das coisas e começou a entrar em contato com as amigas por WhatsApp, gerando renda muito rápido.
4 A pandemia trouxe alguma mudança no comportamento dos integrantes da Dotsy? Como o acolhimento precisou se fortalecer nesse momento?
5Como a rede promove a inclusão digital, que foi ainda mais importante na pandemia? Quais são as maiores dificuldades que percebe nos afiliados da rede?
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Expediente
Reportagem Turma do 31º Curso Estadão de Jornalismo / Edição Carla Miranda e Andréia Lago, especial para o Estadão / Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo, Carlos Marin e William Mariotto / Designer multimídia Lucas Almeida