Craques em campo e fenômenos midiáticos fora dele que contribuíram para valorização do esporte
A escalação desse time é restrita. Começa com Arthur Friedenreich, passa por Leônidas da Silva e chega em Pelé, a grande estrela e ícone mundial. O futebol muda de status, entra para a era da globalização com Ronaldo Fenômeno. Após a internet e as redes sociais, Neymar aparece e é sem dúvidas o craque mais exposto entre todos esses brasileiros.
O jornalista e pesquisador Celso Unzelte escreveu uma tese de mestrado chamada "Futebol em revista no Brasil: dos primeiros títulos à resistente Placar" - publicação esportiva da Editora Abril. Juntamente com o levantamento histórico de publicações, ele realizou extensa e detalhada pesquisa iconográfica, além de entrevistas com jornalistas da área.
“Agora é o momento em que o jogador tem suas próprias redes sociais, onde ele muitas vezes acaba gerando a pauta para o jornalista. As redes sociais são um rastilho de pólvora, é muito mais rápido do que era com o rádio e com a televisão.”
A historiadora Diana Mendes fez uma pesquisa de doutorado em jornais e revistas do início do século 20, entre os anos de 1910 e 1942, sobre o assunto. O trabalho dela ficou em cima de dois nomes: Marcos Carneiro de Mendonça, que foi goleiro do Fluminense, e Leônidas da Silva. O primeiro foi um atleta vindo da elite,de uma família que circulava nas colunas sociais. O outro, um negro, de origem humilde, buscando espaço em um esporte até então elitista e preconceituoso.
A especialização dos fotógrafos na imagem esportiva consagrou a figura de Leônidas da Silva como a segunda celebridade do futebol. "O período de industrialização no Brasil fortaleceu o campo esportivo e midiático. Ex-escravizados foram se organizando para entrar no mercado de trabalho. Atividades como o futebol e a música estavam se abrindo e não exigiam escolarização", explica Diana
O termo ‘craque’ surgiu nessa época. A palavra vem do inglês, crack, que significa quebra ou rachadura. Assim, o termo ‘craque’ era usado em quase todos os esportes. E Leônidas foi o primeiro no futebol a receber esse adjetivo.
Leônidas revelou até certa mágoa por ser considerado menor do que Pelé. Costumava dizer que se tivesse televisão em seu tempo a história seria outra. Mas nem tudo jogou contra ele. A fotografia o colocou como inventor da bicicleta, a jogada mais difícil do futebol, embora ele nunca tenha dito ser o criador do movimento. “Há relatos sobre bicicletas dos anos 30. Mas ninguém conseguiu fotografar. A mais perfeita surgiu só em 1948, quando faltavam dois anos para Leônidas encerrar a carreira. Outros jogadores executavam o movimento. Há também relatos de que pode ter sido inventado por outros três atletas: chileno, uruguaio ou italiano. Mas não havia a cultura da foto como prova”, conta Diana. (veja aqui a reportagem com o obituário de Leônidas).
Após Leônidas romper protocolos no futebol e tornar-se o primeiro ídolo negro, Pelé tratou de alçar o futebol a outras proporções, capaz até de parar uma guerra, em 1969, reza a lenda. Na ocasião, o Santos foi para a Nigéria fazer um amistoso e interrompeu a Guerra de Biafra, que já durava dois anos. Pelé tornou-se uma marca, possui um departamento de licenciamento de suas coisas. As exposições e associações ao seu nome são feitas de maneira criteriosa, pois carregam outros patrocinadores. É gigante nesta área como foi dentro de campo. Uma celebridade comparada a presidentes dos EUA e papas.
Há um interesse mundial em sua história, em cada passo que dá. Sua vida pessoal é acompanhada e seguida pelos meios de comunicação. Como o extinto Jornal da Tarde, que estampou em sua capa esportiva da primeira edição o casamento do Rei do Futebol.
"Tem de lembrar que eram outros tempos, outros valores. O Pelé foi ganhar dinheiro depois que parou, quando assinou contrato com a Warner para jogar nos Estados Unidos. No Brasil, ele tinha um bom salário. O Leônidas da Silva, a Lacta explorou a marca Diamante Negro por décadas. O livro do André Ribeiro, Os Donos do Espetáculo, conta que o Leônidas trocou o uso da marca por uma caixa de goiabada. O futebol não era um grande negócio de lazer", explica Unzelte.
O fenômeno midiático seguinte foi Ronaldo, apesar de nos anos 80 o futebol brasileiro ter revelado grandes craques que também fizeram comerciais de televisão, como Zico, Sócrates e Falcão. Mas Ronaldo apareceu em um momento de transformação do negócio futebol, de maior profissionalização, de globalização nos anos 90, quando os direitos televisivos do futebol transformaram o esporte num negócio bilionário. "Em 1998, o Ronaldo foi apontado como o rosto mais conhecido do mundo depois do papa, para se ter uma ideia do que ele representava", lembra Unzelte.
Ronaldo revolucionou o marketing esportivo mundial e não é exagero compará-lo a Michael Jordan, ambos astros com contrato vitalício com a Nike. Pode-se dizer que foi o primeiro craque da era digital. O primeiro também a contar com um estafe para cuidar da sua imagem. Era um astro pop amigo de celebridades como o cantor Bono Vox, do U2, namorou atrizes e modelos e virou até personagem de Os Simpsons.
A preocupação com sua carreira ia da comemoração do gol com o indicador em riste, em uma referência ao número 1, slogan da cerveja Brahma, a realizar campanhas humanitárias pelo mundo - tornou-se embaixador da ONU. Era monitorado o tempo inteiro e teve muitos problemas também por isso, como quando foi detido num motel ao lado de três travestis. Não tinha paz. Pagava o preço alto das celebridades, sempre vigiadas pela mídia.
“Agora é o momento em que o jogador tem suas próprias redes sociais, onde ele muitas vezes acaba gerando a pauta para o jornalista. As redes sociais são um rastilho de pólvora, é muito mais rápido do que era com o rádio e com a televisão", diz Unzelte.
Neymar coleciona polêmicas dentro e fora de campo. É um ídolo pop, com milhões de seguidores pelo mundo e toda sua manifestação gera polêmica. O craque é o único brasileiro a aparecer na lista das 25 celebridades mais bem pagas do mundo, divulgada em junho deste ano pela Forbes. O atacante do PSG está em sétimo lugar com ganhos de US$ 95,5 milhões (R$ 512 milhões).
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Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo, Carlos Marin, Glauco Lara e William Mariotto / Designer Multimídia Lucas Almeida / Editor de Esportes Robson Morelli / Reportagem João Prata