Montar um espaço adequado para o home office, preparar rotinas de atividades, equilibrar a vida em família. A dinâmica profissional mudou. Veja as principais dicas, reportagens e depoimentos
CONTEÚDO ABERTO PARA NÃO-ASSINANTES
Fazer home office passou rapidamente de opção a exigência com a epidemia do novo coronavírus. As adaptações necessárias são muitas e vão muito além da organização de um espaço adequado para trabalhar em casa. O que a empresa precisa me garantir de estrutura? Como me comunico de forma eficiente com colegas, já que agora estarei mais dependente de mensagens e e-mails? Consigo equilibrar a vida em família e as obrigações do emprego? Nessas horas, boas dicas de especialistas e a experiência de quem está acostumado ao trabalho remoto ajudam muito, tanto para mostrar os desafios quanto para apontar soluções. É isso que o Estado reuniu aqui, na forma de perguntas e respostas, divididas por tema. Reportagens e depoimentos complementam o conteúdo.
1Devo separar um ambiente especial para o trabalho remoto?
Sem dúvida. Procure o local que seja o mais tranquilo possível e conte com ventilação e boa iluminação. Com esse espaço demarcado, também fica mais fácil você se lembrar de que ali precisa cumprir as suas responsabilidades profissionais.
2Como organizo meu home office?
Preste atenção na proporção entre a mesa e a cadeira, de forma que você consiga se sentar com os antebraços apoiados no tampo da mesa em um ângulo reto e possa apoiar os pés no chão. Veja detalhes no gráfico abaixo.
3Posso exigir da empresa equipamentos e mobiliário para trabalhar em casa?
Teoricamente, nos termos da CLT, é obrigação do empregador fornecer todos os meios necessários para os empregados prestarem serviços. “Desse modo, como regra geral, a empresa deveria conceder equipamentos, como notebook, celular e até cadeiras apropriadas para prestação dos serviços”, afirma a advogada trabalhista Juliana Amarante. De acordo com ela, é importante, ainda, que seja combinado quem arcará com os custos de infraestrutura, como luz e internet.
4Não tenho espaço de escritório. O que faço?
Trabalhar sentado na cama ou no sofá não é recomendado. Converse com seu gestor sobre a questão e procure construir uma solução. Para casos em que não houver alternativa, observe as orientações que estão no gráfico abaixo, que podem ajudar a reduzir eventuais problemas.
5Como deve ser a iluminação do ambiente?
Não trabalhe na penumbra nem com luz voltada para os olhos. “O ideal é ter um espaço com iluminação natural. À noite, ilumine o local de trabalho e, se for o caso, acrescente uma luminária”, orienta Bianca Vilela, consultora em saúde corporativa, palestrante e fisiologista do exercício pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
6Não tenho banda larga suficiente em casa. Como fazer para melhorar? Demora para começar a funcionar?
Para melhorar a banda larga em casa é preciso acionar uma operadora e pedir a mudança de plano para um pacote com velocidade de internet superior ao atual. No caso da Vivo, a internet Vivo Fibra é a mais recomendada pela companhia: o plano básico é o de 100 Mega. Quem não é cliente Vivo Fibra precisa receber um técnico em casa para mudar o aparelho - a Vivo afirma que a demora desse processo depende da demanda e da região do usuário, mas que está se preparando internamente para atender a alta procura durante a pandemia de coronavírus. Claro e Net informam que os planos ideais para home office devem ser de, no mínimo, 120 Mega. A visita do técnico e o tempo para disponibilização da nova banda larga variam de acordo com o plano e a localidade.
7A empresa deve me reembolsar por gastos extras como energia elétrica e internet?
Vai depender do que foi pactuado no contrato. No home office, por exemplo, o empregador deve entrar em acordo com o empregado “se” e “o que” será passível de reembolso. Normalmente, o reembolso é de conta de celular, luz e internet. “Algumas empresas estão concedendo licença remunerada aos empregados e, nesse caso, não há se falar em fornecimento de equipamentos ou reembolso de despesas, pois não há trabalho e o contrato fica suspenso’, diz Aldo Martinez, advogado trabalhista.
8Há diferença entre home office e teletrabalho?
Sim. O home office é eventual e o teletrabalho ocorre quando a atividade é exercida preponderantemente fora do local de trabalho - esta tem requisitos previstos em lei. Em tese, de acordo com Gisela Freire, sócia do escritório Cescon Barrieu e especialista em Direito Trabalhista, o home office não precisa de um aditivo contratual, diferentemente do teletrabalho, que deve ser previsto em contrato. Se a situação de home office se estender, é necessário estabelecer as condições de teletrabalho em um aditivo contratual.
1Devo notificar minha rotina ao gestor? Como fazer?
Como regra geral, segundo a CLT, empregado e o empregador devem combinar como se dará o trabalho e o acompanhamento das atividades quando o trabalho ocorre de forma remota. Para os colaboradores que estejam em home office temporário por causa da covid-19, a sugestão é combinar com o gestor itens como horários, rotina e plano de trabalho. A advogada trabalhista Juliana Amarante, do escritório Souza, Mello e Torres, diz que o ideal é que as partes usem o bom senso e entrem em acordo sobre como se darão as atividades no período. Ainda mais porque, em muitos casos, o home office foi uma medida de emergência por causa do coronavírus.
2Posso pedir que o gestor defina horários para telefonemas, mensagens e e-mails?
Se você trabalhar com controle de jornada no ambiente regular de trabalho, o home office temporário deverá seguir, como regra, o horário estabelecido no contrato de trabalho, segundo a advogada trabalhista Juliana Amarante. Ou seja, mesmo no home office, você deve estar disponível para o seu gestor no horário que estiver em contrato e realizar suas atividades de forma normal.
3Posso começar a trabalhar na hora em que quiser, durante a madrugada, por exemplo?
É melhor não fazer horários tão diferentes do que se está acostumado na empresa. Além de questões sobre a rotina, a consultora em saúde corporativa Bianca Vilela alerta que e legislação não está preparada para isso, por causa do adicional noturno. “Quem puder deve dormir das 23 horas às 6 horas, que é o melhor horário para isso”, explica Bianca, que também é palestrante e fisiologista do exercício pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “O ideal é trabalhar dentro do seu horário normal.”
4Sinto que em casa, por estar mais confortável, fico menos produtivo. Como posso melhorar isso?
É comum associar o conforto de casa a uma produtividade menor. Para evitar que isso ocorra, é importante seguir a rotina do escritório enquanto estiver no home office. A regularidade ajuda você a manter o foco no que é preciso produzir, mesmo que esteja em outro ambiente que não o da empresa. Programar reuniões online diárias também facilita o processo de adaptação. Se os seus líderes e a sua empresa ainda não tiverem estabelecido reuniões virtuais, faça essa sugestão. Assim, você terá a responsabilidade de se arrumar para aparecer nas chamadas de vídeo, ficará mais motivado para interagir com os colegas e será estimulado a compartilhar mais.
5Parece que trabalho mais horas quando estou em home office. Como evitar excessos?
Estabeleça um plano de trabalho e compartilhe com seu gestor, para que ele possa opinar. Feito isso, um bom método para não extrapolar é colocar alarme no celular ou em algum outro dispositivo para avisar sobre início do expediente, almoço e encerramento. Desta forma, ficará mais fácil quando você tiver que encerrar o expediente.
1Há um limite para o uso de mensagens de celular? Posso ser acionado a qualquer momento?
Uma vez em home office, procure checar as mensagens no celular entre blocos de uma ou duas horas de trabalho. Essa é a orientação de André Brik, consultor do Instituto Trabalho Portátil. “É importante focar no trabalho por algum tempo”, afirma. Além disso, ele alerta que os funcionários devem parar de ver mensagens referentes a trabalho fora do horário do expediente.
2Vou utilizar o e-mail e as mensagens com mais frequência e a chance de mal-entendidos aumenta. Como evitar?
Para evitar mal-entendidos é importante revisar bem as mensagens e os e-mails antes de enviá-los. “Revise os textos como se estivesse enviando um artigo”, orienta Tathiane Deândhela, especialista em produtividade. Além disso, ela ressalta que é importante optar por videochamadas quando as conversas exigirem discussões mais profundas.
3Como dar o tom certo nas mensagens por escrito, para não parecer rude ou pouco profissional? Uma técnica simples para enviar e-mails educados é ler sempre os textos em voz alta, diz Tathiane Deândhela, especialista em produtividade. “Deve-se evitar também textos em caixa alta, porque dá a impressão de que a pessoa está gritando.”
4Existem 'boas maneiras' em chamadas de vídeo? Como devo me comportar?
O trabalho remoto exige regras de etiqueta e bom senso como qualquer outro lugar. “Sempre orientamos as pessoas a colocarem o microfone no mudo quando elas não estão falando em um chamada de vídeo. Quando quiser participar, é só sinalizar na plataforma”, diz Adriano Marcandali, diretor latino do Workplace, rede social corporativa do Facebook. Vários serviços de videoconferência têm um botão com o símbolo de uma mão para ser acionado quando o usuário quiser fazer um comentário. No geral, é melhor não haver ruídos externos. Mas Marcandali alerta diz que, na atual situação, algumas ocorrências devem ser naturalizadas: “Vai ser normal ouvir um cachorro latindo e ver uma criança correndo enquanto um funcionário estiver falando”.
5Como demonstrar o interesse (e não parecer entediado) quando a chamada se prolonga?
Na visão de André Brik, consultor do Instituto Trabalho Portátil, os mesmos comportamentos adotados em uma reunião presencial de muitas horas devem ser levados para a chamada de vídeo. “Faz parte do trabalho do funcionário estar atento a uma reunião”, afirma. Deixar a câmera ligada vai fazer você prestar mais atenção no que está acontecendo e ser chamado com mais frequência a interagir, demonstrando seu interesse.
1Em casa, sou acionado pela minha família e acabo perdendo a concentração. Como agir?
A família nunca se desconecta da gente, seja em home office ou não. A diferença é que, em casa, a presença física é maior. Quem está trabalhando em home office pode fazer “combinados” com os familiares, como definir o fim do expediente para as 18 horas e depois ver um filme juntos. Quando se constrói uma agenda com os familiares, eles sentem que fazem parte desta rotina com você.
2Como manejar os horários da família, como almoço e lanches, por exemplo?
Disciplina e organização são fundamentais para a rotina em casa funcionar bem e não atrapalhar o desempenho profissional. Isso inclui planejar antecipadamente as refeições e deixar tudo o que for possível preparado. ““Não adianta achar que você vai trabalhar quando as crianças estão dormindo, porque elas não se encaixam em um modelo de disciplina. Você não sabe quanto tempo seu filho vai dormir, por exemplo”, diz Lucas Oggiam, diretor da Michael Page, empresa de recrutamento especializado. “O cenário ideal é usar o fim de semana e o período da noite para preparar as refeições, usando o dia seguinte para esquentar a comida. O planejamento requer organização.”
3Há dicas para separar o trabalho da vida pessoal?
No almoço e nos intervalos, se dedique a conversar com a família e deixe de lado o celular e o computador. Encerre o expediente e procure fazer exercícios normalmente, dentro de casa mesmo. Faça cursos online e aproveite para aprimorar o seu conhecimento.
4Como fazer 'combinados' com as crianças, de quando elas podem interromper o trabalho?
É interessante ter uma planilha com atividades para as crianças, com opções lúdicas e de aprendizado. Neste momento de isolamento forçado, muitos autores estão fazendo leituras de obras aos vivo, em suas redes sociais, por exemplo. Pode ser uma boa alternativa de distração para elas. Os pais, de acordo com especialistas, devem avisar que os filhos devem fazer interrupções apenas quando tiverem um problema que não conseguem resolver sozinhos.
5Como evitar barulhos, correria e eletrônicos às alturas?
Conversar é o melhor caminho, mas é preciso estabelecer uma rotina também. “Se a criança estiver solta, podendo brincar livremente sem nenhuma orientação dos pais, a chance de ela se distrair e ficar fazendo barulho aumenta”, afirma Bruna Duarte Vitorino, coordenadora do setor pedagógico do Kumon.
6Quais as dicas para montar um roteiro de atividades intelectuais e físicas para as crianças?
“Para ter um bom equilíbrio entre essas atividades e evitar o sedentarismo neste momento, tudo parte do cronograma de atividades. É difícil encontrar atividades físicas, mas os pais podem procurar no YouTube aulas de alongamento e de dança que podem ser feitas em casa. É um momento de se adaptar à realidade de estar em casa”, diz Bruna Duarte Vitorino, do Kumon.
1Devo fazer pausas ao longo do dia?
Pausas são fundamentais. “A cada uma hora ou uma hora e meia, deve-se fazer uma pausa de 15 minutos”, recomenda a psicanalista Juliana Machado. Para ela, o importante é mudar a tônica mental. “Se você estiver em uma função que requer muito raciocínio, como calcular, procure uma atividade que não necessite de nenhum esforço mental, como fazer uma contemplação, meditação, ouvir música, molhar as plantas.”
2Como faço para conseguir me desligar do trabalho no fim do dia?
Além de parar de trabalhar, guarde o material que estava utilizando e se dedique a outra atividade. “Isso é muito importante, porque você tende a trabalhar mais tempo do que consegue e do que é produtivo, e tem efeito reverso: acaba ficando exausto e o trabalho para de fluir”, explica a psicanalista Juliana Machado.
3Há impactos psicológicos quando se trabalha em home office?
No momento atual, de uma crise global de saúde pública, em que o isolamento social precisa realmente acontecer, a questão comportamental muda muito e sentimento de solidão pode, de fato, aflorar. "É preciso notar que existe uma diferença entre o home office comum é o que está acontecendo agora, que é um home office forçado”, lembra o VP de Recursos Humanos da Pearson, Rafael Furtado.
4Posso fazer alguma coisa para evitar a sensação de isolamento?
Procure interagir com os colegas, seja por telefone ou por vídeo, para se sentir mais próximo a eles. Também ajuda quando você consegue deixar o seu ambiente de trabalho limpo e confortável.
5Por que preciso notificar a empresa se eu tiver sido diagnosticado com a covid-19 ou for um caso suspeito?
A notificação do coronavírus é necessária para que seja determinado o afastamento (isolamento/quarentena) do colaborador, nos termos das legislações editadas para lidar com as questões do coronavírus, e para que o empregador consiga monitorar os colegas que tiverem tido contato com a pessoa. Se autoridades sanitárias solicitarem a informação, as empresas devem compartilhar informações sobre pessoas infectadas ou casos suspeitos.
6Como devo informar a empresa se eu tiver sido contaminado ou estiver sob suspeita?
“Evidentemente, ninguém esperava por essa epidemia. É uma circunstância absolutamente imprevisível. Então, para todas essas medidas em que não há nada específico previsto em lei, temos de usar o bom senso e os princípios gerais da Lei do Trabalho”, diz Gisela Freire, especialista em Direito Trabalhista, sócia do escritório Cescon Barrieu. “As medidas têm de ser razoáveis. Vale que o empregado mande o atestado médico por e-mail - não faz sentido não aceitar isso neste momento.”
1Durante o período de home office, a empresa tem a obrigação de continuar fornecendo benefícios como, por exemplo, o vale-refeição?
Os benefícios podem ser concedidos por força de lei, pelo contrato de trabalho ou por convenção ou acordo coletivo de trabalho. O vale-transporte, por exemplo, é benefício previsto em lei e obrigatório a todos que dependem do transporte coletivo para se deslocar para o trabalho. Logo, nas hipóteses de trabalho em home office, vale-transporte não é devido. O plano de saúde não é obrigatório por lei. Normalmente é fornecido por liberalidade do empregador ou por determinação da convenção ou do acordo coletivo de trabalho. Trabalho em home office é forma de trabalho a distância. Logo, o benefício não pode ser interrompido unilateralmente pelo empregador, ainda mais em um contexto delicado como o da pandemia atual. “O maior receio é que as próprias operadoras de planos de saúde – e não os empregadores - cancelem unilateralmente os contratos de serviços de saúde. Quanto ao vale-refeição, precisa analisar o que está previsto na convenção ou no acordo coletivo de trabalho”, diz Aldo Martinez, advogado trabalhista. “A princípio, pode ser suprimido ou reduzido pelo empregador porque o trabalhador em home office fará a refeição na sua própria residência, com um custo menor. Algumas empresas têm substituído o vale-refeição pelo vale-alimentação. Vale o alerta que as empresas que estiverem inscritas no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e que deixarem de conceder o vale-refeição aos trabalhadores em home office perderão o benefício fiscal da dedutibilidade no imposto de renda.”
2Tenho direito a optar pelo home office ou fica a critério da empresa?
A princípio, a empresa tem o direito de escolher se o empregado prestará serviços em sistema de home office ou se vai trabalhar no escritório.
3Como posso garantir meus direitos caso seja cobrado além do que já foi delimitado com a empresa?
O contrato individual de trabalho é um instrumento para negociar direitos e obrigações da relação trabalhista. Contudo, as matérias que podem ser negociadas no contrato individual de trabalho são limitadas pela lei. Em regra, se a negociação contratual com o empregador violar disposição de lei, o trabalhador tem o direito de resistir à ordem ilegal do empregador. Trata-se do chamado direito de resistência do empregado. Em casos mais graves, você pode até mesmo rescindir o contrato de trabalho por justa causa do empregador, quando “forem exigidos serviços superiores às suas forças” ou quando você “correr perigo manifesto de mal considerável”. “A pandemia provocada pelo coronavírus, no entanto, impõe cautela e parcimônia de empregado e empregadores”, afirma Aldo Martinez, advogado trabalhista e sócio do Santos Neto Advogados.
4Posso ser demitido se me negar a fazer home office ou se me negar a trabalhar no escritório?
Sim, você pode sofrer consequências se não tiver uma justificativa plausível para isso. Até agora, não foi editada nenhuma regulamentação pelo governo determinando a suspensão de todas as atividades empresariais. Deste modo, empresas podem exigir a presença de seus empregados no ambiente de trabalho, desde que sigam as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do governo e do Ministério da Saúde, principalmente com relação à limpeza e à higiene no ambiente de trabalho, além de afastar empregados diagnosticados ou com suspeita de estarem acometidos pela covid-19. Se você souber que a empresa não está seguindo com suas obrigações, pode se negar a trabalhar no escritório e até solicitar a rescisão indireta de seu contrato de trabalho (por falta grave do empregador), sob o argumento de estar sujeito a perigo manifesto de mal considerável.
5Sobre as medidas anunciadas pelo governo federal na quarta-feira (18 de março), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) já prevê redução de jornada com redução de salário?
Sim, mas isso depende de acordos sindicais. A exceção, de acordo com Gisela Freire, especialista em Direito Trabalhista, são os funcionários chamados de “hipersuficientes”, com nível superior e que recebem salário duas vezes o teto de benefício da Previdência Social - algo em torno de R$ 12 mil. “Essas pessoas podem negociar diretamente com o empregador”, diz.
6Posso pedir férias?
Sim. Segundo a CLT, no entanto, a concessão de férias individuais deverá ser precedida de um aviso prévio de 30 dias. Seu líder pode concordar ou não com o pedido.
7Meus gastos com o plano de telefonia e energia elétrica vão aumentar. Se a empresa não me dá telefone, posso cobrar do meu gestor?
“Para o home office, tem de se criar um contrato com condições a respeito dos equipamentos que vão se utilizados, gastos que o trabalhador vai ter com internet, se não tiver ou se a que ele tem tiver pouca potência. Os gastos devem ser formalizados com o contrato. A energia elétrica é um entendimento no campo das duas partes”, diz Carlos Silva, diretor jurídico em São Paulo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP).
Diálogo e organização são fundamentais; manter a rotina dos filhos pode fazer a diferença
Paula Felix
Com o avanço do novo coronavírus e a suspensão gradual das aulas, profissionais de diversas áreas estão se dividindo entre o trabalho e o cuidado com os filhos em tempo integral. A tarefa não é fácil, e a organização é fundamental para conciliar as demandas profissionais e as das crianças.
A gerente de atendimento Bianca Putignani Ciancaglini, de 38 anos, está vivendo a experiência pela primeira vez. Embora o marido esteja promovendo atividades para entreter o filho, Lucca, de 2 anos, a rotina tem sido cansativa. “Fazemos parte de uma geração multitarefa, mas estou muito mais cansada, porque tenho de trabalhar, arrumar a casa, colocar roupa e louça para lavar”, diz.
A rotina do filho foi mantida. “Quando ele acorda, ficamos juntos e tomamos café da manhã, como faríamos quando saímos para trabalhar. Às 9 horas, começo a trabalhar e meu marido vai com ele para a área aberta do prédio. Ao meio-dia, paro de trabalhar e vejo se precisa complementar o almoço. Almoçamos e ele dorme na parte da tarde. Meu marido faz contatos e eu também. Paro o trabalho umas 18h30, 19h.”
Apesar das mudanças, ela vê aspectos positivos na situação. “É bom ficar em casa, não precisa ficar saindo, gastando dinheiro. Claro que tem irritabilidade, mas é um momento de retomada para dentro da família.”
O diretor financeiro Vinicius Portes Giglio, de 30 anos, tem um filho de 2 meses e também começou a fazer home office por causa da pandemia. “Estou trabalhando como se estivesse no escritório. A tecnologia permite isso, e a gente tem de agir como se estivesse lá para não criar um gargalo de informações.”
Ele diz que há situações em que a presença de uma criança pode tirar o foco, mas que isso não chega a interferir no desempenho profissional. “Já tenho uma agenda estruturada de entregas semanais. A gente tem de ser eficaz. Essa situação permite ter o contato com ele e é muito prazeroso. Nós vamos aprender a lidar com isso de forma impositiva ou natural.”
CEO da marca de moda esportiva feminina Authen, Christopher Spikes diz que a empresa começou em 2015 com a equipe em home office e que o esquema funciona. Os profissionais que têm filhos e trabalham em casa vivem uma situação desafiadora mas, de acordo com ele, têm o mesmo desempenho dos demais funcionários.
“Todos os nossos colaboradores ajudam as pessoas que têm crianças. Nós não fazemos gestão de agenda, mas de resultados. O profissional está com pessoas que ama, pode almoçar com a sua família. Acho que ajuda a pessoa a ficar mais motivada.”
Diretor jurídico em São Paulo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), Carlos Silva avalia que, embora o home office não seja uma novidade, a situação de estar com os filhos em período integral é inédita para a maioria dos profissionais, principalmente os que estavam acostumados a ir diariamente para o local de trabalho. Ele diz que é fundamental ter transparência com os empregadores e explicar a rotina da família neste momento.
“As pessoas acham que as crianças ficam brincando ou vendo desenho no tablet, mas nem sempre é assim. Os pais podem falar sobre os horários que vão produzir melhor e negociar. Tem de colocar a situação na mesa com a empresa. Se ela está oferecendo o home office, não está ameaçando a empregabilidade.”
Conversar e organizar. A mudança na rotina deve ser conversada com as crianças, que precisam entender que os pais estão, neste momento, trabalhando em casa. Mas a situação não precisa ser traumática. Organizar as tarefas que serão realizadas pode ajudar a conciliar o trabalho com as atividades para os filhos.
“Os pais precisam montar um cronograma para colocar um horário para cada uma das atividades. As que já eram rotineiras da família não mudam, como os horários de acordar, do almoço e de dormir. É preciso ter equilíbrio em todos esses pontos para que as crianças não sejam prejudicadas”, orienta Bruna Duarte Vitorino, coordenadora do setor pedagógico do Kumon.
Presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), Luís Otávio Camargo Pinto recomenda que os pais conversem com as crianças. “Tem de buscar organizar uma conversa em família. É primordial fazer acordos e mostrar que os pais estão em casa, que eles vão ter momentos de lazer, mas estarão trabalhando.”
Diretor da Michael Page, empresa de recrutamento especializado, Lucas Oggiam diz que, para casais, uma solução pode ser fazer um revezamento para que o outro consiga agilizar o trabalho. Em caso de pais solo, é possível pedir ajuda a um familiar ou pessoa próxima. Oggiam, que é pai de uma menina de 1 ano e 5 meses e está em home office, explica que os pais não devem criar bloqueios e achar que não vão conseguir trabalhar em casa com os filhos.
“É desafiador, mas temos de aceitar e aprender uma forma nova de trabalhar. Não precisa pensar que será impossível. Tem de colocar isso dentro da sua rotina com a vontade de realizar. Melhor do que ficar sofrendo, é focar na solução e ter disciplina.”
CEO de aceleradora de startups, Dani Junco aponta desafios de trabalhar com os filhos em casa
Gilberto Amendola
Gosto de ver o copo meio cheio e o lado positivo de tudo. De alguma forma, a gente estava se desconectando do mundo. Agora, temos um convite para nos reconectarmos. O que faremos depois que a covid-19 passar? Vamos entender que existem outras formas de trabalho – e não poderemos voltar atrás.
Minha história está muito relacionada ao home office. A B2Mamy nasceu entre 2014 e 2015. Eu estava grávida do Lucas, que hoje tem 5 anos. Quando ele nasceu, vi o quanto dói ter de se dividir entre a maternidade e a vida profissional.
Conversei com muitas mães e comecei a estudar o tema. Descobri que 48% saem do mercado de trabalho quando seus filhos nascem. Foi por isso que criei a B2Mamy, uma empresa de educação para conectar mães ao ecossistema de inovação, uma aceleradora de startups.
Moro em Santos e a B2Mamy fica em São Paulo. Me divido entre as cidades. Na empresa, muita coisa já é online. Não temos horários fixos e os colaboradores fazem home office desde o primeiro dia. É o nosso DNA.
Existem dois tipos de home office: com e sem a companhia dos filhos. Quando eles estão em casa, é muito difícil de conciliar. Então, como me organizo? Lucas fica de manhã comigo e vai para escola a partir das 13 horas. De manhã, com ele em casa, respondo WhatsApp, falo ao telefone, mas não uso o computador. Fico à disposição. À tarde, me concentro e o ritmo é intenso.
Não quero romantizar essa situação. A gente tem dificuldade de foco e produtividade. Se você vacilar, se perde. Eu utilizo duas técnicas. A primeira é a do Pomodoro. Divido o trabalho em períodos de 25 minutos, separados por breves intervalos. Eu faço quatro desses por dia. Também escrevo um Bullet Journal. Com essa técnica, organizo a minha agenda do dia e acompanho as atividades. Funciona.
Acredito que hoje as empresas estão aprendendo que as mulheres conseguem ser produtivas online. Nós estamos entregando tudo o que temos de fazer. E o mundo nunca mais terá que voltar para trás.
Elas facilitam a comunicação a distância e unem equipes virtualmente
Marina Dayrell
Teams, Zoom, Hangouts, Webex, Trello. Com o avanço do novo coronavírus no Brasil e o aumento no número de empresas que passaram a adotar o home office na última semana, quem ainda não conhece esses nomes provavelmente vai ter de se familiarizar com eles e com muitos outros. Empresas de todos os tipos e tamanhos tiveram de mudar – em muitos casos, às pressas – o modelo de trabalho. Para não diminuir a produtividade e manter as reuniões (até mesmo a conversa informal), a solução foi recorrer a plataformas digitais.
Há mais de uma semana, a Dog Hero, plataforma online que oferece serviços de hospedagem e passeio de cães, determinou que os seus 45 funcionários começassem a fazer home office.
Em casa, eles foram instruídos a usar ferramentas de comunicação e gestão de projetos. “Nós pagamos o G Suite (plataforma empresarial do Google) e usamos todos os produtos: o Google Docs para editar textos, o Drive para compartilhar arquivos e criar apresentações, o Chat e o Hangouts para comunicação e videoconferências”, conta o cofundador da empresa Fernando Gadotti.
Para que os gestores consigam visualizar o que cada funcionário está fazendo, as tarefas pendentes e as metas, a empresa adotou as plataformas de gerenciamento de trabalho Jira e Trello. “Tentamos manter a rotina, com videoconferência para ver o rosto da pessoas. Os rituais tendem a permanecer”, afirma Gadotti.
Instituir o home office não foi uma grande novidade para a Solutis, empresa de tecnologia da informação que oferece serviços de aceleração digital para negócios. Dos cerca de 800 colaboradores, 25% já faziam trabalho remoto. Agora, todos estão em casa.
“O modelo de produtividade exige ferramentas de tecnologia que são fundamentais para a colaboração, além de conexão via rede com os colaboradores e informações e dados em nuvem”, destaca o CEO, Paulo Marcelo. Para tornar a experiência de comunicação o mais próxima possível de uma reunião, eles usam a plataforma Webex, da Cisco, que permite videoconferências, além do Microsoft Teams, para o compartilhamento de documentos.
As opções de plataformas são muitas, mas para quem está começando com o regime home office é recomendado ir com calma. “No início, não é bom adotar muitas ferramentas. É melhor trabalhar a questão da disciplina e combinar quais vão usar. Tem de ter a comunicação alinhada”, aconselha Roberta Vasconcellos, CEO da BeerOrCoffee, plataforma que ajuda clientes a encontrar espaços de trabalho e que sempre funcionou 100% no esquema home office.
Por já estarem familiarizados com o regime de trabalho em casa, os funcionários da empresa usam diversas ferramentas no dia a dia. “O Slack é o nosso coração, é o escritório virtual. Já o Zoom utilizamos muito para videoconferências, ele ajuda a criar laços e a sentir que estamos juntos”, explica Roberta.
Ajuda das grandes. Para acompanhar o crescimento do home office nas últimas semanas, diversas plataformas ampliaram seus pacotes de serviços gratuitos. Os clientes do G Suite Empresarial e do G Suite for Education, ferramentas do Google, passaram a ter acesso a recursos avançados de videoconferência do Hangouts Meet – ferramenta para reuniões online da companhia.
Com a medida, os usuários podem fazer videoconferências com até 250 participantes, gravá-las e armazená-las, além de fazer transmissão ao vivo para até 100 mil espectadores. “A demanda por mais informação sobre trabalho remoto se ampliou muito. A gente começa a ver empresas que já estavam preparadas e aquelas que se viram na emergência de se preparar”, diz Raquel Cabral, gerente do G Suite para a América Latina.
A empresa informou que, na última semana, a busca pelos termos “videoconferência” e “trabalho de casa” atingiu o recorde de interesse dos últimos cinco anos no País.
A Microsoft passou a oferecer gratuitamente o Microsoft Teams – plataforma para videoconferência. Os interessados no Webex, software de reuniões online da Cisco, podem usar a plataforma gratuitamente em todos os países nos quais a ferramenta está disponível, inclusive no Brasil.
Escritório virtual. De forma gratuita, também há opção de plataforma brasileira para trabalho remoto. A catarinense Resultados Digitais, empresa de marketing digital, criou há um ano a #matrix, um tipo de escritório virtual que simula o espaço físico da empresa, com salas para cada time ou assunto. “A ideia é distribuir as pessoas dentro do escritório virtual e é possível customizá-lo. Há a possibilidade de conversar no privado ou fazer uma reunião”, explica o cofundador da empresa Bruno Ghisi.
A Embratel lançou a sua solução também. Batizado de Conecta Home Office, o pacote oferece banda larga, segurança cibernética, plataformas de comunicação, ramal virtual, chat corporativo, sala de reuniões virtuais e armazenamento em nuvem para empresas de todos os tamanhos e segmentos.
Há plataformas para fazer videoconferências, organizar tarefas e fluxos de trabalho a distância. Escolha a sua
PARA A COMUNICAÇÃO:
1Zoom. Permite fazer reuniões por vídeo, gravá-las e compartilhar telas. É necessário download do aplicativo e criar um login.
2Slack. Se assemelha a um WhatsApp corporativo, porém com mais funcionalidades. Permite criar canais de acordo com o assunto ou as áreas da empresa. O histórico de conversa fica registrado. Tem função “reminder”: ajuda a lembrar, mais tarde, de responder mensagem.
3Tandem. Para conversas rápidas, como cutucar um colega de trabalho. Funciona como um “walkie-talkie”: não precisa que o interlocutor aceite a chamada para ouvir a mensagem. Quem quer falar aperta a tecla “talk” e, automaticamente, a pessoa ou a sala selecionada ouve o que ela tem a dizer.
4Loom. A proposta é substituir o e-mail por um vídeo curto. Além da câmera, também grava a tela do celular e do computador. Permite edições simples no vídeo, como corte e inserção de links.
5Hangouts Meet. Ferramenta do Google que permite o envio de mensagens de texto, áudio e vídeo para pessoas ou grupos. As chamadas podem ser acessadas a partir de um link e ficam registradas em histórico. Faz parte do G Suite, pacote empresarial do Google.
6Skype. Ainda pode ser utilizado por pessoas físicas, mas a Microsoft substituiu a versão para empresas pelo Microsoft Teams.
7Microsoft Teams. Permite videoconferência a partir de um link, sem que o receptor da chamada precise fazer login. Integração com Office 365 (pacote de programas da Microsoft) possibilita o compartilhamento de arquivos durante as chamadas. Também é possível gravar as reuniões.
8Webex. Plataforma da Cisco que permite videoconferências e ligações para telefones, com opção de compartilhamento de tela.
9GoToMeeting. plataforma da LogMeIn para videoconferência que pode ser acessada por computador (Mac ou PC) e celular.
10WhatsApp. já famosa entre os brasileiros, a ferramenta também pode ser usada para conversas de trabalho, mas é preciso ficar atento para não misturar com assuntos pessoais.
PARA GESTÃO DE TEMPO E PROJETOS:
1Notion. gerenciador de projetos que funciona como uma enciclopédia do trabalho, um local para registrar tudo o que é feito para que todos da empresa ou de determinada área consigam ter acesso às informações. É possível criar lista de tarefas, tabelas, calendário, inserir imagem, vídeo ou arquivo e mencionar pessoas.
2Asana. gerenciador de projetos que permite planejar tarefas a serem feitas, definir prioridades e estabelecer prazos e metas.
3Trello. gerenciador de projetos para organizar fluxos de trabalho, baseado em cartões com metas, que são movidos de acordo com o progresso.
4Jira. gerenciador de projetos direcionado às equipes de desenvolvimento de software. Permite acompanhar todo o processo de criação e lançamento.
5WeekDone. permite definir metas, alinhar atividades, acompanhar o progresso semanal do trabalho e dar feedbacks.
6Clockwise. assistente inteligente de calendário que ajuda a organizar a agenda. Com base nas informações cedidas à plataforma, ela analisa a frequência de reuniões e as reorganiza para que o tempo da sua equipe seja otimizado. Registra quantas horas semanais o usuário gastou em reuniões.
7AirTable. gerenciador de atividades que mescla planilhas com base de dados. Bastante usada por equipes financeiras.
PARA ACESSO REMOTO:
1TeamViewer. permite o acesso remoto de computadores e servidores a partir de outro celular ou computador e por uma conexão à internet.
Flavia Eadi de Castro (head de direito do trabalho da RGL Advogados), Luís Otávio Camargo Pinto (advogado trabalhista e presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades), Fabrício César Bastos (professor de Administração), Christopher Spikes (CEO da Authen), Carlos Silva (diretor jurídico da ABRH-SP), Juliana Machado (psicanalista), Lucas Oggiam (diretor da Michael Page, empresa de recrutamento), Bruna Duarte Vitorino (coordenadora do setor pedagógico do Kumon), Bianca Vilela (consultora em saúde corporativa e fisiologista do exercício), Mônica Hauck (CEO da Sólides e especialista em recursos humanos), Léia Weesling (psicóloga e consultora organizacional), Juliana Amarante (advogada trabalhista do Souza, Mello e Torres), Aldo Martinez (advogado trabalhista e sócio do Santos Neto Advogados), Gisela Freire (sócia do escritório Cescon Barrieu e especialista em Direito Trabalhista), André Brik (consultor do Instituto Trabalho Portátil), Adriano Marcandali (diretor latino do Workplace, rede social corporativa do Facebook), Tathiane Deândhela (especialista em produtividade e autora), André Miceli (coordenador do MBA de Marketing e Negócios Digitais da FGV), Vivo, Claro, Alexandre Cardoso (sócio da área trabalhista do escritório TozziniFreire Advogados) e Rafael Furtado, vice-presidente de Recursos Humanos da Pearson.
Reportagem Ana Carolina Sacoman, Ana Paula Boni, Anna Barbosa, Circe Bonatelli, Gilberto Amendola, Giovanna Wolf, Marina Dayrell, Paula Felix e Renee Pereira / Editora de Conteúdos Especiais Ana Carolina Sacoman / Editora de Inovação Carla Miranda / Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo, Carlos Marin, Glauco Lara e William Marioto / Ilustrador Marcos Müller