Saúde

Seu filho está online

Não é só você que passa mais tempo na internet e nas redes sociais por causa da quarentena. Para estudar, socializar ou se divertir, crianças e adolescentes estão ficando horas no celular ou no computador. Como ajudá-los a fazer o melhor uso possível deste tempo online? Descubra aqui

Ilustrações: Marcos Müller

05 de abril de 2020 | 05h00

CONTEÚDO ABERTO PARA NÃO-ASSINANTES

Crianças e adolescentes em casa, com celular na mão ou na frente do computador. Um retrato do novo “normal” em tempos de quarentena. O número de horas que passam conectados às telas aumentou, sem dúvida nenhuma. As aulas agoras são online, substituindo o aprendizado presencial. Assim como viraram virtuais todas as interações com colegas, amigos e namorados. Mesmo os que não gostavam muito de jogos agora fazem sua estreia no mundo gamer - os que já eram aficcionados, então, melhor nem falar. Vale até entrar em campeonato, suar no Just Dance.

Os compromissos da escola estão em primeiro lugar. Igual a estar no colégio, podendo resolver dúvidas a qualquer momento, não é. Mas há como tirar o melhor proveito das atividades, seja com o professor da escola ou com uma megacelebridade mais do que acostumada com milhares de alunos virtuais. O ritmo do aprendizado online é diferente, dizem especialistas. É importante ter isso em mente, para evitar pressão desnecessária em um momento já complicado.

A maior exposição na internet e nas redes sociais requer atenção. É razoável pedir a senha de desbloqueio do celular e da conta do Instagram? Uma das perguntas mais recorrentes, é também uma das que causam divergência entre experts. Neste especial, você encontra a resposta para essa e outras questões que deixam em  dúvida quem cuida de crianças e adolescentes.


Para Estudar

Entre desafios e descobertas

Tudo foi rápido, rápido demais. Com o avanço do coronavírus, as escolas foram logo fechadas. E toda a rotina de aulas e estudos dos seus filhos migrou para o ambiente online. Das primeiras palavras da alfabetização aos exercícios de Física que você não se lembra mais como responder. Um desafio e tanto para alunos, pais e professores, mas também uma grande oportunidade de descobrir novas formas de aprender e ensinar.


Estudo em casa traz
questões para pais e escolas

 Momento requer paciência e compreensão dos dois lados, dizem especialistas


Bianca Gomes


O fechamento das escolas por causa da epidemia de coronavírus colocou pais e mães em uma rotina até então pouco comum no Brasil. Com as crianças estudando em casa, a mesa de jantar deu lugar à sala de aula improvisada e as famílias precisaram intercalar home office e tarefas domésticas com as dificuldades dos filhos na modalidade a distância. Mas como garantir que as crianças estão aprendendo, quando o ensino online ainda é tão novo? E, ao mesmo tempo, qual é a medida certa de atividades escolares durante este período, para não sobrecarregar alunos e pais?

A empresária Aline Saito, mãe de Sofia, de 8 anos, e das gêmeas Giovanna e Elisa, de 4, notou o quanto a nova rotina seria difícil logo na primeira semana sem aulas presenciais. “Os professores pegaram o conteúdo que dariam em sala para a Sofia e nos passaram um roteiro, algo como cinco matérias por dia”, conta Aline. “Na sexta-feira, eu tinha feito apenas o que estava programado para a segunda.”

Sofia, Giovanna e Elisa: mãe relata que no início houve excesso de atividades da escola
Sofia, Giovanna e Elisa: mãe relata que no início houve excesso de atividades da escolaAline Saito/Arquivo pessoal

Em sua nova rotina, Aline intercala o trabalho na startup B2Mamy, onde faz gerenciamento de projetos, com as tarefas domésticas. Também precisa ajudar na lição de casa da Sophia e dar atenção para as filhas menores. “Se a escola demandar de mim muitas horas para sentar e passar a lição, não vou conseguir.”

O diálogo com a coordenação do colégio foi o que ajudou a tornar as semanas seguintes da empresária mais leves. Os roteiros elaborados pelos professores agora estão mais enxutos e didáticos. Mesmo assim, Aline continua com a insegurança de este ser um ano escolar perdido.

“A escola disse que não sabe como vai fazer e deve ter de trabalhar o conteúdo novamente”, afirma Aline. “Acabei contratando a minha cunhada para aulas particulares online. Vai ser a tutora dela, porque preciso equilibrar uma carga de coisas em casa com o meu trabalho.” Para as duas mais novas, a saída foi dar atividades lúdicas no lugar dos exercícios passados pela escola.

Compreensão. Na opinião de Mariana Ochs, coordenadora do Educamídia, o momento atual é único e exige paciência de todos os lados. “Não é razoável serem obrigadas, de uma hora para outra, se tornarem tutoras escolares cinco horas por dia”, afirma a especialista. “Por outro lado, é preciso ser generoso em relação à compreensão de que a escola precisa de um tempo para entender o que pode oferecer.”

A ideia de tentar replicar o conteúdo presencial no online sem adaptações foi uma insistência das escolas nas primeiras semanas da crise e continua existindo em alguns casos, conta  Giselle Santos, especialista em Inovação e Tecnologias Educacionais e Google Innovator. “O grande erro foi não pensar e valorizar as relações que acontecem dentro da sala de aula e na educação.”

Para ela, a escola precisa explorar melhor a autonomia do aluno, dando confiança para que ele aprenda também sozinho em casa, e trabalhar o tempo de maneira diferente do que se faz. “Se você tem uma aula que dura 50 minutos normalmente, você não vai fazer o mesmo em vídeo, pois pode deixar todos exaustos”, explica. Além disso, ela propõe aproveitar mais o entorno para falar sobre os objetivos de aprendizagem, e não o conteúdo em si. “Você pode pedir para o aluno escrever um diário sobre o confinamento, as receitas que têm feito, a porcentagem do álcool.”

Henrique, de 13 anos, fazendo as atividades da escola: mãe precisa complementar as videoaulas da escola
Henrique, de 13 anos, fazendo as atividades da escola: mãe precisa complementar as videoaulas da escolaArquivo pessoal

Para a produtora de multimídia e empresária Bianca Cantino, de 42, a principal dificuldade com o ensino online tem sido a falta de conteúdo. “A escola dá uma ou duas videoaulas por dia e o restante é por conta dos pais”, conta. “O Henrique tem 13 anos e por ser pré-adolescente o negócio dele não é ficar estudando. Agora, preciso participar muito mais da rotina escolar dele, ficar em cima para ver se fez os deveres.”

O maior desafio, para a mãe, é fazer o filho entender que o período é de quarentena, não de férias. “Eu tento ajudar, porque a cabeça dele não está aqui”, diz Bianca. “Ele começa a fazer exercício e quando eu olho tá desenhando.” Assim como a empresária Aline, ela também teme que o filho perca o ano letivo.

Neste momento de crise, especialistas acreditam que é importante não estabelecer altos níveis de expectativa. Francisco Tupy, professor de Tecnologia Educacional, avalia que talvez não seja a questão de pensar no rendimento escolar, e sim no bem estar das crianças, com questões que vão além da escola.

Para Giselle Santos, especialista em Tecnologias Educacionais, a dica para fazer com que as crianças entrem na rotina é apostar na flexibilidade. “Entenda como o seu filho aprende e divida o dia em pequenos blocos de micro-alunas, de 15 a 45 minutos.”

Dificuldade com a internet. Aos 17 anos, Nichole Reis já não precisa da ajuda da mãe para estudar em casa. Aluna da rede estadual de São Paulo, sua maior dificuldades do ensino a distância sido a internet. “As lives são os  maiores obstáculos por conta da intermitência da internet. Trava muito. O resumo que o professor posta gera dúvidas e acaba demorando mais para executar a tarefa, pois ele não  consegue  responder na hora.”

Estudiosa, ela tem procurado conteúdo da escola em canais do YouTube. Mas conta que ainda não conseguiu entrar no ritmo. “Sempre fui muito de aprender e buscar coisas novas”, diz a adolescente, que estuda italiano e japonês por conta própria. “Não estou aprendendo tanto quanto eu aprendia de maneira presencial. Eu acho muito chato não ter esse contato, e sem contar no ânimo para fazer as lições, já que algumas matérias estão colocando os prazos para quando as aulas recomeçarem.”

Além das lives, Nichole conta que a escola tem colocado trabalhos em um blog e em grupos no WhatsApp. Porém, nem todos da classe têm acesso ilimitado à internet.

“No período sem aulas presenciais, o máximo que se vai conseguir fazer é colocar atividades que alcançarão alguns alunos. Mas são estratégias de mitigação do problema”, afirma o diretor de Estratégia Política do Todos Pela Educação, João Marcelo Borges. Segundo ele, os professores do País não estavam previamente preparados para o ensino a distância, muito menos na educação básica. “Não tem infraestrutura de conectividade ou dispositivo.”

A avó Maria do Socorro Silva Santos, de 56 anos, tem se virado com o que pode para ajudar os netos Nicollas, de 7, e Guilherme, de 13. O pequeno é o que requer mais atenção: são duas horas por dia de ensino, desde que a crise do coronavírus começou. Sem acesso à internet e com livros emprestados pela vizinha - pois os de Nicollas ficaram na escola -, ela aprende e ensina o neto.

“Estudei até sétima série. Sou aquele tipo de pessoa que tenta entender tudo. Eu pego os livros para ensinar, mas antes leio”, conta Maria. Sem notícias de quando as aulas vão recomeçar, ela diz que coloca os dois meninos para fazerem atividades ao longo do dia e procura sempre conversar com os netos, inclusive sobre a pandemia.


Bem na minha vez? Como os vestibulandos se organizam com os estudos

Há os que tiram de letra a rotina de aulas online e quem esteja sentindo falta do contato com professores e a oportunidade de tirar dúvidas na hora


Renato Vieira


Ano de fazer vestibular e Enem é complicado por natureza. Alguns adolescentes ainda estão pensando na carreira que vão seguir. Outros já decidiram - e a opção é Medicina, uma das faculdades que exigem mais horas de estudo. Há também aqueles que decidiram fazer o curso superior fora do País.

E o que acontece quando, em um momento assim tão decisivo, é necessário ficar longe das aulas presenciais em escolas e cursinhos? A solução é estudar. Confira, abaixo, os depoimentos de cinco vestibulandos.

“Se você mantiver o foco, dá para continuar bem com os estudos”, acredita Felipe
“Se você mantiver o foco, dá para continuar bem com os estudos”, acredita FelipeArquivo pessoal

Felipe Caires, 16 anos

O cronograma de avaliações causa apreensão em Felipe, que quer cursar Engenharia Elétrica na USP. Ele diz que o atual momento dificulta a preparação para o vestibular. “O adolescente é muito preocupado com o tempo, a gente quer fazer muitas coisas e passar de primeira”, conta. “É complicado se preparar desse jeito porque a gente não sabe como vai ser cobrado e a gente fica ainda mais desconfortável do que se o vestibular estivesse pronto pra gente fazer.” Felipe segue uma rotina intensa de atividades.  Além de estudar pela manhã as matérias do terceiro ano do ensino médio pela internet, ele faz cursinho online à tarde e revê conteúdo até a noite, mantendo a mesma rotina pré-quarentena. “Se você mantiver o foco e não deixar a rotina desandar, dá para continuar  bem com os estudos. Mas é preciso sempre estar se policiando. É desafiador, não dá pra vacilar.”


“Posso dizer que a minha rotina praticamente só mudou de lugar”, diz Mário
“Posso dizer que a minha rotina praticamente só mudou de lugar”, diz MárioArquivo pessoal

Mário Augusto Neves, 16 anos

“No início, foi difícil me concentrar e não colocar a atenção em outras coisas”, conta Mário, que vai prestar vestibular para Engenharia. “Mas me acostumei e posso dizer que minha rotina praticamente só mudou de lugar. Quando preciso estudar, estudo o dia inteiro e meu rendimento online até melhorou quando comparado ao que eu tinha na escola.” O adolescente usa a plataforma online da escola para consultar conteúdo e diz que foi uma “má sorte” a disseminação do coronavírus ter ocorrido justamente no ano em que ele presta vestibular. “Acho que vai ter impacto no calendário de provas.”


Luiza Corigliano, 17 anos

Determinada a prestar vestibular para Medicina, Luiza está se preparando para as provas desde o ano passado, mas diz sentir falta das aulas presenciais. “A aula virtual precisa de muita disciplina para se organizar”, acredita. “Na sala, a relação que se tem com o professor é muito próxima. Dá para perguntar ou comentar com alguém do lado. Isso faz diferença.” Para Luiza, se a quarentena se estender, o melhor seria adiar as provas. “Se eu não passar, vou entrar em um cursinho no ano que vem.”


“Tenho sentido falta de uma visão de mundo”, afirma Gabriel
“Tenho sentido falta de uma visão de mundo”, afirma GabrielArquivo pessoal

Gabriel Coelho, de 17 anos

“Em 90% das matérias, as aulas online têm sido só conteúdo” afirma Gabriel, que prefere estudar de forma presencial e poder tirar dúvidas com os professores.  “Tenho sentido falta de uma visão de mundo.” Ele conta que ainda está em dúvida sobre a escolha da profissão - a princípio, queria prestar vestibular para Engenharia Elétrica na USP - e está usando o período da quarentena para avaliar as opções. “Para mim, seria melhor adiarem o vestibular”, diz. “Mas entendo que, para outras pessoas, pode ser muito grave, porque há uma quebra de expectativa.”


“O que planejei foi por água abaixo”, diz Helena
“O que planejei foi por água abaixo”, diz HelenaArquivo pessoal

Helena Werneck, 17 anos

Com desejo de concorrer a uma vaga em universidades americanas para cursar psicologia e educação, Helena já teve o planejamento quebrado por conta do novo coronavírus. O SAT, semelhante ao Enem, pode ser feito várias vezes e o estudante usa a melhor nota para se candidatar a uma instituição. Ela fez uma prova em dezembro. E passaria pelo teste de novo em março. Só que o exame foi cancelado. O mesmo ocorreu com as provas de maio e junho. “O que eu planejei foi por água abaixo, porque não se estuda o ano inteiro para a prova, você estuda dois meses antes. Tem muita coisa para ser feita, como escrever redações sobre quem sou e por que quero passar e cartas de recomendação”, diz Helena. “Como não sei quando vai ser a prova, não tenho ideia de quando começo a estudar.”


Arte na quarentena: aulas de teatro, música e dança agora estão na internet

Com atividades ao vivo, desafios no Instagram e coreografias especiais, escolas e professoras estimulam a criatividade de artistas mirins


Marina Cardoso,
especial para o Estado


Tudo preparado para mais um ensaio. É hora de de se concentrar e entrar no personagem. Com os textos em mãos, cada aluno começa a recitar sua respectiva fala para a interpretação do espetáculo A Família Adams. A professora precisa ficar atenta na entonação, na expressão corporal e no entrosamento entre os atores - um grupo de dez crianças de 6 a 8 anos. Nada incomum para um aula de teatro musical no TeenBroadway. Não fosse o fato de que o grupo está reunido virtualmente. Cada um em sua casa. Uma nova dinâmica que virou rotina para escolas de teatro, música e dança neste período de quarentena.

Para suas aulas, coach vocal Andréia Vifter usa o recurso de videochamada de WhatsApp
Para suas aulas, coach vocal Andréia Vifter usa o recurso de videochamada de WhatsAppEspaço Vitfer/Divulgação

Diretora-geral do TeenBroadway, escola de teatro musical, Maiza Tempesta diz que a situação atual criou um paradoxo que pode ter efeitos benéficos. “Presencialmente, as aulas são em uma sala grande, de 10 por 15 metros. Os que são mais tímidos, às vezes ficam no cantinho”, conta Maiza. “Já a internet é olho no olho. Todos estão juntos na mesma tela e têm o mesmo destaque. É engraçado, mas o virtual nos aproxima.”

A interação com os pais dos alunos também aumentou. “É a primeira vez que estou acompanhando de perto o progresso da minha filha. Antes, com a rotina de apenas deixá-la e buscá-la nas aulas, só via o resultado final, no espetáculo do fim do semestre”, conta a gerente comercial Elisa Gamba, mãe da Rafaela, de 9 anos.

Ela afirma que a nova rotina reaproximou a família e tem ajudado todos a lidar com o isolamento de uma forma mais descontraída. “Poder estar próxima dela e participar dos desafios propostos pelo TeenBroadway trouxe uma reconexão para nossa casa”, diz. “Não estou na linha de frente de combate ao coronavírus, mas trabalho na área da saúde. Mesmo em casa, a rotina tem sido exaustiva.”

Rafaela prefere as aulas presenciais. Mas tem se adaptado à nova rotina. “Com as aulas online ao vivo, pelo menos a gente revê todo mundo e se sente mais próxima dos amigos”, conta a estudante. “Estamos descobrindo novas formas de trabalhar”, afirma a professora Natália Rosa, ainda que ela reforce que o contato físico e as interações humanas sejam essenciais no desenvolvimento dos alunos.

Mudança rápida. Assim como as escolas regulares, as que lidam com arte tiveram de mudar a programação literalmente da noite para o dia. "Foi preciso aprender a se reinventar," conta Lígia Cortez, atriz e diretora artístico-pedagógica da Casa do Teatro. A decisão de interromper as aulas presenciais foi tomada na noite de domingo do dia 15 de março e, na tarde da segunda-feira seguinte, a escola já estava funcionando online. “Não está em discussão o que vamos perder sem o contato pessoal. É hora de discutir como podemos aproveitar melhor esse período em que estamos trabalhando com o imponderável.”

Para Lígia, o importante nesse momento é manter o vínculo ativo. “A voz artística é muito importante neste momento”, afirma. “Acredito que esse é só o começo dessa conectividade na arte. O maior legado disso tudo foi perceber o quanto somos dependentes uns dos outros.”

Criar novas metodologias para engajar os alunos tem sido um dos maiores desafios em 43 anos de existência do Ballet Paula Castro. A saída encontrada para estimular os alunos foi promover desafios nas redes sociais. Em um deles, a  turma de teatro musical foi desafiada a interpretar a música Amigo Estou Aqui, trilha sonora do filme Toy Story. Em outro, alunas do sapateado apresentaram a coreografia de Grease. Cada uma da sua casa. Uma interação que tem sido essencial para enfrentar o momento com mais leveza e alegria.

O momento é de união e muito aprendizado. Professores viraram “youtubers”, coordenadores viraram editores de vídeo e os pais viraram assistentes de produção. Tudo para garantir que os jovens se mantenham ativos. “Todos são apaixonados pela arte e esse esforço é uma forma de mantê-los vivos”, acrescenta Luciana Freire, que é diretora-comercial do Ballet Paula Castro e mãe de três meninas que também praticam balé.

Banda virtual. Na escola de música School of Rock, a ideia foi criar uma banda virtual. Os alunos escolhem uma música e o professor ensina a tocar. Depois, cada aluno grava um trecho da música e envia o vídeo para a coordenação da escola, que faz uma montagem incluindo todo mundo.

Um desafio a mais para Vinícius Preisser, professor de teclado e piano há 16 anos. “Agora, me preocupo com a bateria do computador, a iluminação, a posição da câmera, a qualidade na captação do áudio e o som ambiente”, conta. “Mas o momento é de crescimento profissional. Tenho conseguido otimizar melhor o tempo e a didática.”

A necessidade de adaptação se estende para quem está aprendendo. Aluno de teclado na School of Rock, Gustavo Macedo, de 13, também precisou acomodar sua rotina para conciliar a maratona de aulas online do colégio com as atividades extracurriculares. “Tento ver o lado bom. Saber que outras pessoas dependem do meu rendimento me estimula a não parar e dar meu melhor, independente de estarmos fisicamente juntos ou não", afirma.

Reforço positivo. Neste momento em que as emoções e a forma de lidar com o isolamento social podem afetar a saúde mental, há uma preocupação até com o tipo de conteúdo a ser explorado nas aulas. Atriz e professora de teatro musical, Catarina Marcato conta que tem escolhido interpretações menos dramáticas ou tristes nas aulas particulares com seus alunos de 8 a 14 anos. “É preciso transformar isso em um momento positivo”, afirma.

 Catarina diz, ainda, que essa pausa nas apresentações em teatro tem sido útil para aprofundar a parte teórica e trabalhar com mais calma as habilidades dos alunos. Para ela, o importante é não interromper o progresso. “A arte é uma evolução constante.”

“É preciso transformar isso em um momento positivo”, afirma Catarina
“É preciso transformar isso em um momento positivo”, afirma CatarinaAcervo pessoal

Experiência. A coach vocal Andréia Vitfer há cinco anos usa a internet como opção para atender aos alunos de outras cidades e até de outros países. Agora, com o isolamento forçado, os alunos que ela atendia presencialmente no Espaço Vitfer de Ensino e Treinamento migraram também para as aulas online. A experiência prévia ajudou muito, segundo ela, e tornou o processo mais natural e menos conturbado.

Andréia atualmente faz suas aulas usando o recurso de videochamada de WhatsApp. “Para mim, essa é a melhor ferramenta porque todos já estão familiarizados e os recursos que oferecidos suprem as necessidades de uma aula ao vivo”, explica a coach vocal. Confira, a seguir, as dicas que ela dá para que todos tirem o máximo proveito dos treinamentos online:

1Deixe claro quais são as regras de etiqueta durante a aula

2Faça um passo a passo de como acessar a plataforma escolhida

3Crie gestos que funcionem como códigos para os momentos de silêncio e interação

4Pense em um cenário neutro para evitar a dispersão

5Verifique a bateria do aparelho, a conexão da internet e o funcionamento da captação e saída de áudio antes de começar a aula

6Use um segundo aparelho que sirva para o envio de conteúdos durante as aulas


Professores se reinventam nas aulas online

De uma semana para outra, com fechamento das escolas, docentes da rede particular tiveram de se acostumar com ensino por câmera


Renata Cafardo


A pandemia de coronavírus forçou uma reinvenção da carreira do professor, já castigada no País por salários baixos e perda de prestígio. De uma semana para outra, com o fechamento das escolas, docentes da rede particular tiveram de se acostumar com câmeras, edição de imagens, e pensar em estratégias que possam ser executadas da casa deles – para a casa dos alunos. Os desafios e as angústias são enormes. Há a falta de treinamento para o ensino a distância, dificuldade em avaliar se o estudante está aprendendo e até o temor de estarem sendo vigiados por pais durante as aulas online.

Na última semana, o Estado ouviu relatos de professores de escolas particulares, de todos os níveis de ensino, dos que trabalham com crianças pequenas aos que lidam com adolescentes. Em comum, a tristeza pela falta de contato com os alunos e a incerteza sobre quando estarão de volta às salas de aula. Os professores têm ainda, como todos em situação de isolamento, medo de se contaminar com o coronavírus, de perder seus familiares e dificuldades para lidar com os próprios filhos, que também estão em casa.

“Os pais ficam ansiosos, é normal, o interessante é que estão mais próximos da educação dos filhos agora’, diz Tenile, do Porto Seguro
“Os pais ficam ansiosos, é normal, o interessante é que estão mais próximos da educação dos filhos agora’, diz Tenile, do Porto SeguroDaniel Teixeira/Estadão

A professora de Ciências Mariana Peão Lorenzin, de 35 anos, mudou-se para um sítio com marido, mãe e dois filhos pequenos, para que as crianças tenham mais espaço durante a quarentena. Precisa gravar suas videoaulas para os alunos do Colégio Bandeirantes à noite, antes da última mamada do pequeno, de 7 meses, e quando os passarinhos já pararam de cantar, brinca. “Eu peguei um quarto só para mim, fecho a porta e trabalho, fazendo revezamento com meu marido.” Ela vai aprendendo no dia a dia a nova forma de dar aulas. “Vídeos longos não funcionam, o aluno cansa.”

Agora, está às voltas com as provas bimestrais que serão feitas também online nesta semana. “Precisam ser questões que eles possam elaborar sobre o conteúdo, refletir, não podem achar a resposta no Google.” Apesar da escola já se programar para ter atividades até junho e voltar presencialmente apenas em agosto, Mariana diz que sofre com a distância. “Não é a mesma coisa de ser recebido em sala de aula, eles compartilham muita coisa pessoal com a gente, agora a relação está restrita ao conteúdo. Não vejo a hora de isso tudo acabar.”

Sinto muita falta do beijo, do abraço deles, e fico pensando: será que já perdemos este semestre?”

Bárbara Zampini Preto, professora

“Nunca imaginei que uma professora pudesse fazer home office”, diz Bárbara Zampini Preto, de 30 anos, que dá aulas para 1.º e 2.º ano do ensino fundamental no Colégio Magno. As crianças estão em fase de alfabetização e ela tem exercitado a criatividade para ensinar a ler e a escrever remotamente. Em aulas ao vivo, ela pede, por exemplo, para os alunos buscarem em casa – e mostrarem na câmera – objetos que comecem com determinada letra. Os mais velhos têm a tarefa de digitar no chat palavras com duas ou três sílabas.

Mesmo jovem, é hipertensa, e só sai de casa para pular corda no hall do apartamento. Faz tudo do seu quarto, aprendeu a editar vídeos na semana passada e se diverte quando os alunos aparecem de pijama para as aulas online. “Vai ser um ano atípico, vamos tentar ao máximo que não tenha defasagem de aprendizagem, mas precisamos baixar um pouco as expectativas, as avaliações”, diz. “Sinto muita falta do beijo, do abraço deles, e fico pensando: será que já perdemos este semestre?”

Nas aulas online com crianças pequenas, em geral, os pais precisam estar junto para ajudar a usar o computador. É uma situação nova para os professores acostumados a assumir a educação das crianças na escola. Algumas mães dão bronca nos filhos quando consideram que não estão se comportando adequadamente na aula online, conta Tenile Fiolo Duarte, de 36 anos, professora de crianças de 8 anos no Colégio Porto Seguro. “Os pais ficam ansiosos, é normal, o interessante é que estão mais próximos da educação dos filhos agora.”

“Vai ser um ano atípico, vamos tentar ao máximo que não tenha defasagem de aprendizagem”, afirma Bárbara Zampini
“Vai ser um ano atípico, vamos tentar ao máximo que não tenha defasagem de aprendizagem”, afirma Bárbara ZampiniJulia Zampini Rodrigues/Arquivo pessoal

Outros profissionais temem a vigilância. Um professor da área de Humanas que pediu para seu nome não ser divulgado diz que se preocupa com perseguições políticas de alunos e pais, incentivadas por movimentos como o Escola sem Partido. “Antes tínhamos medo de ser gravados em sala de aula, agora, com tudo em vídeo, é muito mais fácil alguém nos acusar de algo e nos expor.”

Outro professor de História e Filosofia, que também pede anonimato, conta que as aulas pela ferramenta Zoom nas escolas em que trabalha são todas gravadas. Além disso, os coordenadores têm acesso às aulas ao vivo e podem entrar quando quiserem. “Na escola, você pode fechar a porta ou não, mas os coordenadores batem, pedem licença, é algo bem mais respeitoso”, conta ele, que dá aulas do 6.º ano ao ensino médio em duas escolas particulares.

“A gente percebe que os pais estão de olho, vigiando. Em uma aula, um até soprou a resposta de um exercício para a filha”, completa. Para ele, isso muda totalmente a relação entre professor e aluno. “É uma situação bem desagradável. Não tem legislação, regra, fica tudo muito no improviso.”

Leis. A educação a distância para o ensino fundamental só é permitida no País em casos emergenciais, como o que foi considerado agora com a pandemia. Mesmo assim, precisa de determinações locais para que seja depois contada como horas no calendário letivo. Nesta semana, uma medida provisória determinou que as escolas não precisam este ano cumprir os 200 dias letivos e, sim, as 800 horas. Dessa forma, aulas online podem entrar no cálculo.

Nunca pensei que fosse fazer isso na minha vida. O primeiro vídeo tive de gravar dez vezes, eu estava muito séria, não é como estar com as crianças na sala”

Lúcia Regina de Lima Nunes, de 50 anos

Lúcia Regina de Lima Nunes, de 50 anos, diz que não se sente muito à vontade ao falar para a câmera. Mas agora tem um estúdio improvisado em casa, onde a filha a filma com o celular, apoiando o braço na cadeira para manter a imagem fixa. Lúcia dá aulas para crianças de 4 e 5 anos em uma escola particular de Natal, no Rio Grande do Norte. Teve de entrar na educação a distância há duas semanas, quando a instituição fechou as portas por causa do coronavírus.

“Nunca pensei que fosse fazer isso na minha vida. O primeiro vídeo tive de gravar dez vezes, eu estava muito séria, não é como estar com as crianças na sala”, conta. “A maior dificuldade é não saber como eles estão recebendo a aula que gravei, se estão aprendendo”. Ela se diz assustada com a situação atual do País, com os casos que não param de crescer, com a filha que mora em São Paulo. Na semana passada, um jovem de 23 anos morreu em Natal por causa do coronavírus.

Pesquisa feita entre 23 e 27 de março pelo Instituto Península mostra que 90% dos docentes estão preocupados com a sua saúde durante a pandemia. E já relatam problemas psicológicos. “Vejo o risco de isso aumentar. Em um momento como esse, com estrutura emocional abalada, com medo, os professores precisam ainda se ressignificar profissionalmente”, diz a diretora executiva do Instituto Península, Heloísa Morel.

Computador vira sala de aula virtual: professora e alunos conseguem se ver e tirar dúvidas
Computador vira sala de aula virtual: professora e alunos conseguem se ver e tirar dúvidasDaniel Teixeira/Estadão

O estudo também mostrou que a maioria dos professores de escolas particulares acha que seu papel neste momento é interagir remotamente com os alunos. Entre os de escolas públicas, os índices são baixos. Nas escolas municipais e estaduais ainda são poucas as iniciativas de ensino remoto e os docentes foram colocados em férias.

A professora Tenile, do Porto Seguro, diz que anda tão ocupada em desenvolver novas formas de ensinar a distância que não parou para ter medo. Mas sofre em deixar a mãe sozinha em Campinas. Nas aulas ao vivo mostra seus cachorros às crianças e diz que, mesmo pelo vídeo, conseguiu notar uma aluna que não estava bem emocionalmente. “Tenho ficado mais atenta ao tom de voz deles nas aula online para saber como se sentem”, completa Francini Lopes Gomes, de 40 anos, professora de Português da Escola Stance Dual.

“Professores, que tanto reclamavam que os alunos falam muito em sala em de aula, agora reclamam que ninguém fala nada. Todos são ensinados a deixar o microfone no mudo”, brinca Bruno Romano Rodrigues, de 31 anos, professor de História no Colégio Mary Ward. “O professor fica um pouco sem chão quando falta a percepção do coletivo, de como está a turma, do que está dando certo, se precisa fazer uma pausa, uma piada. Definitivamente, o presencial é a maneira de concretizar o ensino e a aprendizagem.”


Como fazer videoaulas? Confira dicas sobre planejamento, produção e gravação dos conteúdos

Especialistas dão dicas para não errar nas videoaulas


Carla Menezes


As videoaulas ganharam força com o fechamento das escolas e, de repente, muitos professores se viram em numa nova função: a de criadores de conteúdo digital. Os desafios enfrentados são muitos. Além da óbvia mudança de ambiente - o lugar de ensino deixa de ser a sala de aula e passa a ser um cômodo da própria casa  -, o professor deixa de ter olhares atentos e curiosos diante de si e passa a ter apenas a lente de uma câmera. O uso dos equipamentos e softwares de gravação de vídeo (ou a falta deles) também é novidade para boa parte dos professores.

Giselle Santos, especialista em Inovação e Tecnologias Educacionais, diz que é preciso ter calma e consciência de que ninguém está esperando uma produção hollywoodiana nesse momento. “Seja você mesmo. Aproveite esse momento como uma conversa, imagine que o vídeo não é uma palestra.” Segundo ela, os profissionais que estão começando a gravar vídeos agora podem observar como os professores youtubers. “Qual é o tom de conversa? Como eles conseguem envolver o aluno? Como eles se relacionam com a câmera?”, observe isso, recomenda.

Nesta reportagem, reunimos dicas de mais três pessoas que lidam com a produção de videoaulas no dia a dia: Camilo Coutinho, estrategista digital e especialista em vídeos online, e dos professores Ricardo Wesley e Pedro Sávio, que produziram, para a reportagem, tutoriais de como gravar videoaulas.


Planejamento

Giselle destaca o tempo necessário para a produção de uma vídeoaula: “Para fazer cinco minutos de vídeo, não são cinco minutos de trabalho, são horas. Existe um trabalho prévio, que não é visto, para que esse vídeo atinja os objetivos de aprendizagem.” Uma das dicas de Giselle é dividir o conteúdo da aula em partes. “Digamos que a aula tenha 50 minutos. O professor não vai gravar 50 minutos de vídeo. Sugiro dividir em pequenos blocos de 5 ou 10 minutos.”

Ela enfatiza também a importância de incluir, no fim desses blocos, uma chamada para ação. “Pode ser uma pergunta, um momento de reflexão, uma interação com o aluno. Seja com vídeo ou pedindo para ele sair do vídeo e olhar alguma coisa fora da janela, pesquisar algo em casa, online ou conversar com pessoas da família, por exemplo.”

Camilo Coutinho, especialista em vídeos online, diz que o melhor é que durante a semana o professor utilize três dias para planejar as aulas e concentre as gravações em outros dois. “Gravar todo dia provoca um desgaste físico e emocional para as pessoas. Você acaba se cansando tanto que não percebe os erros que comete.”

É essencial traçar o objetivo da aula e definir o que o professor quer que o aluno aprenda com aquele vídeo. Ricardo Wesley, professor de Matemática, conta que, na hora de montar o plano de aula, divide os assuntos por tópicos. “Só depois de decidir o que vou abordar em cada um deles é que começo a montar os slides.”

Pedro Sávio, professor de Física, segue o mesmo processo e, nos slides, prefere inserir ilustrações e textos curtos. “Sempre inicio com a fundamentação teórica e contextualizo com a resolução de exercícios.” Ele grava as aulas pelo menos uma vez por semana, geralmente no sábado ou domingo. “Procuro deixar o horário já reservado por uma questão de organização e para não quebrar o hábito. Para isso, organizo meus horários e os fixo ao lado do meu computador para não esquecer.”

Escolha do cenário

Na hora de decidir em qual lugar da casa iria gravar as videoaulas, Ricardo optou por um local arejado e que não tivesse uma decoração chamativa. “Às vezes, em vez de prestar atenção na sua aula, o aluno foca no que está atrás de você, como quadros, por exemplo. Tive a preocupação de gravar usando uma parede limpa de fundo para que o aluno voltasse a atenção para mim”, diz.

Camilo Coutinho, especialista em vídeos online, também dá algumas dicas: “Evite elementos de cores fortes, como vermelho ou laranja. O ideal é que você se destaque mais que o ambiente. Você não precisa ter uma biblioteca de fundo. O mais importante é o que você ensina e a transformação que você provoca.”

Um fator importante é a iluminação do local. Segundo Camilo, o ideal é se programar para gravar os vídeos em horário que exista luz natural. “Um ótimo ponto é ficar perto da janela.” O especialista indica também a utilização de abajures e luminárias, mas faz um alerta: “O grande problema é que, na maioria das vezes, se você usar essa luz direta contra o seu rosto, ele pode ficar estourado, com uma luz muito forte”. A solução é gravar perto de uma parede clara e direcionar a luz para essa superfície. “Isso vai fazer o movimento de difusão da luz, tornando-a mais suave no seu rosto.”

Também deve ser levado em consideração o quão silencioso é o local escolhido. “Dê preferência ao lugar com menor eco e menor barulho possível. Cuidado ao ficar muito perto de paredes, ou em ambientes muito vazios e muito amplos”, diz Coutinho. “Teste antes de gravar. O maior erro que as pessoas cometem é começar gravando sem testar”.

Gravação

A gravação da videoaula não depende de uma câmera profissional. A captação da imagem também pode ser feita utilizando celular ou computador. Para obter um áudio mais limpo, o fone de ouvido do próprio celular é uma boa pedida. Caso seja possível, também existem microfones de lapela que podem ser ligados diretamente no aparelho de telefone.

Celular

Camilo Coutinho indica cinco passos essenciais para gravar videoaulas com o celular.

1Limpe a memória do celular. É muito comum que o celular tenha tantas fotos e vídeos que não comporte um gravação.

2Você pode usar a própria câmera do aparelho, mas existem inúmeros aplicativos que podem ajudar na gravação, inclusive aplicativos de teleprompter, se você é um professor que gosta de escrever e ler a sua aula.

3Preste atenção no enquadramento. Você pode utilizar um tripé, apoiar o celular em livros ou outros objetos.

4Entenda que a bateria do celular pode acabar. Não confie naqueles 25% que o visor mostra. Quando você começar a gravar, o aparelho vai consumir muita bateria.

5Faça um primeiro teste. Está tudo certo com iluminação, posicionamento da câmera, bateria e enquadramento? Está na hora de testar.

Dica extra: Grave os vídeos no modo paisagem, com o celular na horizontal.


Computador

O professor Ricardo Wesley mostrou, em um vídeo, como é o processo de gravação das videoaulas usando apenas o computador. “Tentei fazer uma coisa mais simples. Todos os computadores têm PowerPoint. Após uma pesquisa, descobri que tenho como fazer os vídeos com ele.”

Assista ao vídeo em que o professor de Matemática ensina como fazer a videoaula utilizando somente o PowerPoint:

Pedro Sávio, professor de Física, também monta as aulas com o auxílio do PowerPoint, mas utiliza outros softwares para gravar a tela do computador e a narração dos slides. No vídeo abaixo, ele mostra quais são esses programas e o passo a passo da gravação. O professor explica também como comprime as videoaulas para enviá-las por Whatsapp.


As ferramentas que professores estão usando nas aulas

Gratuitas, plataformas viraram as maiores aliadas de quem precisa ensinar online


Roberta Picinin


Ao alcance de todos, as plataformas digitais abrem espaço gratuito para que professores possam montar aulas online. Veja algumas ferramentas que contemplam videoaulas em tempo real, armazenamento de gravação e compartilhamento de chamadas e de conteúdos em grupo.

Google for Education

Possibilita que o professor compartilhe todo o conteúdo em nuvem, grave aulas e solicite tarefas usando somente um login. “Lá eu faço reunião com os alunos, gravo e posto as aulas e deixo disponível para que eles possam assistir novamente e postar as atividades. Dessa forma, mantivemos até mesmo o calendário de provas, que serão feitas agora pelo Google Forms”, diz a professora do Instituto Educacional D’Ambrosio Diane Scapin.

Microsoft Teams

Assim como o Google for Education, o Microsoft Teams tem disponíveis diversos recursos, mas o compartilhamento é feito apenas com documentos do Office 365. Se o cadastro for feito pela escola, o uso é gratuito. “É uma das ferramentas que usamos para fazer aulas síncronas, ou seja, no mesmo horário de aula que o aluno teria”, afirma Marcio Gonçalves, professor da Universidade Estácio de Sá e das Faculdades Integradas Hélio Alonso.

Zoom

Apesar de ser uma ferramenta de videochamada, o Zoom também tem área específica para educação. A plataforma é uma das mais populares entre as universidades nos Estados Unidos e tem planos pagos mensais. “O Zoom é uma das ferramentas que a gente tem usado neste período. Nela o professor está online disponível naquele momento para esclarecer dúvidas”, diz a professora do Colégio Bandeirantes Mariana Peão Lorenzin.

Moodle

É um software que possibilita que a instituição de ensino personalize suas funcionalidades. “A gente já usava o Moodle, nossa plataforma para material de estudo, fazia algumas provas online, então já tínhamos esse contato virtual, que se intensificou agora, deixando de ser um espaço só para deixar conteúdo disponível, mas para interações também”, diz Mariana, do Colégio Bandeirantes.



Entrevista
João Marcelo Borges, diretor de Estratégia Política do Todos Pela Educação

‘É preciso definir plano de volta às aulas. Mesmo que ele mude ao longo da pandemia’

‘A estratégia nacional de combate à pandemia precisa entender que a educação tem um papel central, diz Borges
‘A estratégia nacional de combate à pandemia precisa entender que a educação tem um papel central, diz BorgesTodos pela Educação/Divulgação

Bianca Gomes


Diretor de Estratégia Política do Todos pela Educação, João Marcelo Borges defende que é necessário definir um plano de retorno às aulas, mesmo que esse planejamento seja revisto de acordo com a duração da quarentena. “Vai ser muito desafiador, mas já vi redes lidarem com greves de 60 dias”, diz Borges. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O MEC já formulou a regulamentação para o ensino a distância durante a pandemia?

Ainda não há nada definido em termos de regulação formal. O Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou uma normativa para lidar com isso, mas cada rede organiza sua resposta e as escolas têm autonomia. No caso das públicas, algumas já conseguiram. O Maranhão, por exemplo, colocou aulas em televisão, rádio e internet. Para as particulares, dada a autonomia pedagógica, deve existir uma diretriz da direção da escola que é aplicada para o professor. Mas mesmo as particulares estão tendo dificuldade.

Como reduzir os possíveis prejuízos aos alunos nesse período de isolamento?

É preciso já começar a elaborar um plano de retorno às aulas. Claro que deve ser redesenhado à medida que estendermos a duração da pandemia. O planejamento deve levar em conta como lidar com esse tempo perdido, assegurar o cumprimento das aulas mínimas, desenvolver alunos que não fizeram as atividades e, sobretudo, deve estar preocupado em lidar com a saúde mental dos estudantes e dos profissionais da educação.

O  ano escolar está prejudicado ou é possível mudar esse cenário?

Ainda é difícil dizer, pois não temos uma diretriz em relação ao tempo que o isolamento vai durar. Vai ser muito desafiador, mas já vi redes lidarem com greves de 60 dias. Mas precisamos desse plano de retorno. O que não podemos, como País, é descumprir a carga horária e fingir que todo mundo foi aprovado, sem expor ao conteúdo mínimo e não se preocupar com o aprendizado.

Como será esse período de ensino a distância para os alunos da rede pública?

O máximo que se vai conseguir fazer é colocar atividades que alcançarão alguns alunos. Mas são estratégias de mitigação do problema. O Brasil não tem professores preparados e acostumados a operar a educação a distância. Não há infraestrutura de conectividade, dispositivos. Nossa recomendação para as redes públicas é privilegiar aulas por televisão, que têm mais penetração. Além disso, as escolas devem garantir uma comunicação frequente com os alunos, para manter um vínculo e sobretudo não haver risco de evasão.

Com o cenário de pandemia, é esperada uma maior evasão escolar nas escolas da rede pública?

Se não for feita uma comunicação muito frequente com os alunos ao longo desse período, um plano de retorno às aulas, seria de se esperar um aumento de evasão, sobretudo no Ensino Médio, que já tem as maiores taxas de evasão. Além disso, a pandemia vai ser seguida por uma crise econômica e, infelizmente, vários desses alunos podem se ver obrigados a sair da escola para tentar gerar alguma renda para suas famílias. A estratégia nacional de combate à pandemia precisa entender que a educação tem um papel central.

A falta de aulas pode ampliar a desigualdade no Enem? O exame deve ser adiado?

Sim, porque, mal ou bem, a maior parte de alunos de escolas particulares já estão tendo ou terão melhores atividades didático-pedagógicas nesse período sem aulas presenciais, porque suas condições socioeconômicas permitem. Eles têm computador, pacote de dados. A maioria dos alunos de escolas públicas não tem. Os estudantes das privadas vão desenvolver mais competências e habilidades do que os das públicas. Se a prova fica na mesma data, estou privilegiando os alunos de escolas privadas, por decisão.


Nas Redes

Hora de ser flexível

 Mais tempo à frente do computador, festinhas virtuais, games em rede. O período de quarentena pede compreensão dos pais com o aumento das horas que os filhos vão passar online

Crianças e adolescentes estão - e continuarão - mais tempo online durante o período em que durar a quarentena. Seja para estudar, jogar ou encontrar os amigos, é na internet que estão algumas das ferramentas mais importantes para passar por esse período da melhor forma possível. Especialistas recomendam atenção redobrada com a segurança e controle de horários - embora ficar no computador durante a madrugada não seja mais tão proibitivo quanto antes. Veja como barrar excessos e algumas dicas para evitar problemas como superexposição e roubo de dados.


Filhos mais tempo na internet durante a quarentena? Veja alguns cuidados

 Preocupação dos pais com segurança aumenta, mas é possível, com algumas dicas, manter uma ‘navegação tranquila’

Giovanna Wolf


Na casa do professor de robótica Paulo Rodrigues o escritório não tem porta: o que o seu filho Matheus, de 14 anos, faz no computador fica à vista para toda a família. “Vemos tanta notícia ruim que é importante fazer esse acompanhamento”, diz o pai. No último ano, Paulo, de 48 anos, também instalou nos dispositivos da casa um software de controle parental que restringe o acesso do adolescente ao computador fora do horário estipulado e também envia notificações para os pais caso ele tente acessar um conteúdo estranho.

Esse tipo de cuidado com o acesso de adolescentes na internet deve ser redobrado em época de quarentena, segundo especialistas de segurança digital ouvidos pelo Estado, uma vez que as crianças estão passando mais tempo no computador e no celular durante o confinamento. Os perigos e os métodos para proteger as crianças, entretanto, são os mesmos de sempre.

Paulo e o filho Matheus, de 14 anos: acompanhamento de perto e horários controlados
Paulo e o filho Matheus, de 14 anos: acompanhamento de perto e horários controladosRegina Armada/acervo pessoal

“A internet é como se fosse uma rua digital. Os cuidados que os pais têm quando os filhos vão para a rua também devem ser tomados quando eles vão para a rede, como não conversar com estranhos, por exemplo”, afirma Rafael Santos, coordenador do curso de Defesa Cibernética da FIAP.

Além da exposição exagerada em redes sociais, de possíveis conversas com desconhecidos e de conteúdos inapropriados na rede, alguns perigos da internet merecem atenção especial dos pais. “Muitas vezes o adolescente acaba baixando programas, aplicativos ou jogos que infectam o computador, porque não têm noção do que é seguro ou não”, afirma Fabio Assolini, analista da empresa de cibersegurança Kaspersky no Brasil.

Ele também aponta para o risco de um golpe online chamado phishing, que tornou-se comum no Brasil, no qual o usuário é infectado após clicar em um link suspeito ou baixar um arquivo malicioso de um e-mail. Outro risco amplamente conhecido é o de correntes na internet que engajam jovens com desafios que podem ser perigosos.

Ferramentas. Para proteger os adolescentes, softwares de controle parental como o que o professor Paulo usa são recomendados por especialistas. “São muitos riscos, e os pais nem sempre estão por perto. Essas ferramentas ajudam a limitar o uso do dispositivo, a bloquear conteúdos inadequados e também têm proteção antivírus que podem proteger os adolescentes contra ataques de phishing, por exemplo”, explica Assolini, da Kaspersky.

Essas ferramentas podem ser configuradas pelos pais de acordo com a rotina de cada casa e também da visão de cada família sobre o que é um conteúdo adequado ou não. E é possível alterar as regras sempre que for necessário: por causa da quarentena, por exemplo, Paulo, que antes bloqueava o acesso do filho ao computador antes das 16h, liberou para ele usar a máquina durante a manhã, por causa das aulas online da escola - além disso, como está de home office, consegue acompanhar Matheus de perto.

Outro método que alguns pais usam é pedir a senha de desbloqueio dos celulares dos filhos e de suas contas nas redes sociais. É o caso de Silvia Nunes, mãe da Laís, de 13 anos, e da Ísis, de 15. “Acompanho de vez em quando para saber se não há nenhuma conversa com estranhos. Teve uma vez em que a minha filha menor mudou a senha do celular e ficou de castigo por dois meses, sem poder usar o aparelho”, diz ela, que é dona de casa, está em quarentena com as filhas e o marido e continua atenta às atividades das meninas na internet durante o isolamento.

Conversa. Nesse processo de monitoramento, o diálogo é essencial. “É preciso explicar e negociar, porque se você faz controle parental extremo, como cortar totalmente o acesso à internet, pouco tempo depois a criança ou o adolescente vai dar um jeito de entrar na internet do vizinho”, afirma João Cesar Netto, professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Luciane Marinho e Eliseu, de 11 anos: ‘Tudo é muito conversado. Se digo para não fazer, ele não faz’
Luciane Marinho e Eliseu, de 11 anos: ‘Tudo é muito conversado. Se digo para não fazer, ele não faz’Luciane Marinho/acervo pessoal

É nisso que acredita Luciane Marinho, mãe de Eliseu, de 11 anos. “Tudo é muito conversado. Se falo para ele não assistir um vídeo do YouTube, ele não assiste. Muitas vezes ele até vem me mostrar o que ele faz no TikTok, um aplicativo que virou moda agora”, diz a funcionária pública, que usa apenas o bloqueio de sites tradicional de navegadores.

Para a professora de Psicologia da PUC Fabiola Freire o diálogo também é importante para garantir que a criança ou o adolescente desenvolvam sua intimidade e autonomia. “Tem limite o quanto pode invadir. É absolutamente importante para o desenvolvimento da subjetividade da criança que a privacidade seja mantida e intimidade, respeitada”, afirma.


Games online para o isolamento: necessários, mas com limites

Procura pelos jogos na rede nunca foi tão grande, mas atividade exige controle dos pais para evitar excessos

Giovanna Wolf


Quarentena não é férias, mas com crianças e adolescentes em casa, é natural que eles recorram principalmente aos games em busca de entretenimento. É um efeito já sentido pela indústria de jogos globalmente: em março, com vários países em isolamento por causa da pandemia do novo coronavírus, a plataforma americana Steam, uma das maiores lojas online de games para computadores do mundo, atingiu o recorde de 20 milhões de jogadores no serviço.

Desde que as aulas presenciais na escola foram canceladas, Arthur Ribeiro, de 12 anos, tem passado mais tempo na frente de games em sua casa em São Paulo. “Durante o dia preciso fazer bastante lição da escola, mas à noite estou passando a madrugada toda jogando”, diz o garoto, que só tem o hábito de jogar nessa intensidade durante as férias. “Agora na quarentena é um jeito de ajudar a passar o tempo e evitar o tédio.”

Arthur, de 12 anos, passa a madrugada jogando: ‘É um jeito de evitar o tédio’
Arthur, de 12 anos, passa a madrugada jogando: ‘É um jeito de evitar o tédio’Maísa Ribeiro / acervo pessoal

Na visão de Francisco Tupy, professor de Tecnologia Educacional, os games acabam sendo um recurso na quarentena para a distração. “É uma atividade imersiva que muitas vezes acaba sendo mais atrativa que a realidade”, afirma.

Especialistas alertam, entretanto, que os pais precisam ter alguns cuidados para que os adolescentes não joguem excessivamente durante o isolamento: orienta-se que se  estabeleça um diálogo com os filhos para que seja feito uso equilibrado.

Além disso, algumas questões nos games merecem atenção. Uma delas é a compra de recursos com cartão de crédito — em muitos jogos, são ofertadas moedinhas que ajudam no desempenho no game, por exemplo. Os problemas aqui podem ser vários: as crianças podem ter um estímulo de consumo exagerado, podem usar desenfreadamente o cartão de crédito dos pais com o objetivo de ganhar no jogo e até fazer compras por engano se o número do cartão estiver cadastrado em aplicativos. Tupy orienta que esse risco pode ser uma oportunidade para ensinar educação financeira aos filhos. “As crianças que desde cedo forem ensinadas sobre esse tipo de sistema estarão mais preparadas para o futuro lá fora, que já lida muito com dinheiro virtual, como as bitcoins”, diz.

Outro problema é a quantidade de anúncios em alguns jogos. “Muitas vezes, os jogos gratuitos acabam funcionando como uma vitrine”, explica André Pase, professor de Comunicação Digital da PUC-RS. Para não expor crianças a esse tipo de conteúdo, especialistas orientam que pais avaliem comprar o jogo ou então pagar serviços de assinatura de games.

É importante também que a família sempre verifique a classificação indicativa dos jogos porque, além do nível de dificuldade, games têm enredos que em alguns casos podem ser inadequados para determinadas idades.

Lúdico. Esses riscos, contudo, não são motivo para excluir totalmente os games da rotina dos adolescentes. O professor André Pase dá uma dica para aproveitar os benefícios de jogos nesta quarentena: “Os que exigem exercícios são uma boa opção agora, como o Just Dance e os jogos que usam o sensor de movimentos Kinect. É legal também buscar games multiplayer, em que o jogador pode interagir virtualmente com amigos”, sugere.

O pai das youtubers infantis Laurinha e Helena, de 7 e 4 anos, respectivamente, resolveu tirar o Kinect do armário. “Ele estava guardado e as meninas não usavam fazia tempo. Voltamos a usar agora no confinamento, principalmente quando o dia está chuvoso e elas não podem correr no quintal. É uma forma de as crianças se exercitarem em casa”, conta Julio Cunha Júnior. As irmãs youtubers, que têm o canal Clubinho da Laura, jogam com o Kinect no console Xbox cerca de uma hora por dia, variando entre games como vôlei, futebol e boliche. “A Laurinha chega a suar jogando”, diz o pai.


Jogo sobre pandemia vira fenômeno e é vetado na China

 Plague Inc permite que jogador crie e espalhe doença pelo mundo


Giovanna Wolf


Criado em 2012, o jogo Plague Inc ganhou grande popularidade internacional em 2020. O motivo? A pandemia do novo coronavírus. O game, que permite que o jogador crie sua própria doença e a espalhe pelo mundo, tornou-se em janeiro o jogo mais popular da loja de aplicativos App Store, da Apple, na China.

O sucesso, porém, tem gerado polêmica: no final de fevereiro, após recorde de downloads, o aplicativo foi retirado da App Store no país asiático — de acordo com a Ndemic Creations, empresa que desenvolve o jogo, a remoção se deve à decisão de reguladores locais, que alegaram que o Plague Inc tinha conteúdo ilegal, sem dar mais detalhes. Enquanto isso, em artigos publicados em revistas como a Science e a Lancet, epidemiologistas já defenderam que jogos como o Plague Inc podem ensinar a população como funciona a disseminação de doenças. O Centro de Controle de Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos também chegou a elogiar o jogo.

Plague Inc ganhou popularidade com avanço do novo coronavírus
Plague Inc ganhou popularidade com avanço do novo coronavírusReprodução

O analista Daniel Ahmad da empresa de pesquisa Niko Partners, que estuda o mercado de games asiático, deu um palpite em sua conta no Twitter sobre o motivo da remoção do jogo pelo governo chinês. Para ele, a medida pode estar relacionada a uma ferramenta do Plague Inc, lançada em dezembro, que permitia que jogadores criassem fake news para ajudar na disseminação da doença. “A China proíbe notícias falsas em videogames, especialmente informações confidenciais em torno do governo e autoridades”, disse Ahmad na rede social à época da remoção do app. Especialistas apontam também que o país asiático tem regras bastante restritas de censura na internet.

Na visão de Francisco Tupy, professor de Tecnologia Educacional, o Plague Inc não tem um caráter negativo. “A linguagem do game deixa claro que se trata de uma simulação. E os elementos do jogo ensinam como se dá a disseminação de doença e fazem o jogador entender a importância de evitar aglomerações e de lavar as mãos, por exemplo. Não acho que quem joga vai querer ser um vírus e destruir o mundo”, afirma. Entretanto, Tupy destaca que, como qualquer outro game, crianças e adolescentes precisam ter o uso mediado se forem jogar.

Nova abordagem. Para evitar mais problemas, os criadores do Plague Inc anunciaram na semana passada uma nova atualização do jogo. Ela incentiva o jogador a salvar o mundo de uma pandemia. A Ndemic Creations, desenvolvedora do jogo, também doou US$ 250 mil para ajudar no combate à covid-19.

“Oito anos atrás, eu nunca imaginei que o mundo real se pareceria com uma partida de Plague Inc”, disse James Vaughan, um dos criadores do game, em comunicado.


Videochamadas viram ponto de encontro para tudo: do aniversário virtual aos estudos em grupo

Plataformas virtuais unem jovens no momento em que a ordem é se afastar fisicamente


Renato Vieira


Laura Kotscho tinha tudo preparado para a chegada de seus 17 anos no último 27 de março. Pretendia fazer uma festa para 40 convidados. Por causa do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, precisou cancelar a comemoração. Mas ela não ficou longe dos amigos. À 0h do dia de seu aniversário, eles celebraram com Laura a nova idade da estudante por meio de uma videochamada de telefone celular. Entre o riso da alegria e o choro por enfrentar uma situação atípica, ela se sentiu perto das pessoas de que mais gosta num momento em que a ordem é se afastar.

Adolescentes têm adotado as videochamadas como um meio de ficar perto da família e dos colegas de escola. Nas ligações, que ocorrem por meio de aplicativos como o WhatsApp, o Facetime e o Houseparty – este vem enfrentando acusações de roubo de dados, mas a empresa negou por meio do Twitter que seu sistema tenha sido invadido –, os jovens conversam sobre temas do momento e tiram dúvidas sobre questões da escola. Para os pais, é um meio saudável de manter a convivência com quem é próximo dos filhos.

A mãe de Laura, a jornalista e apresentadora do programa da TV Cultura Papo de Mãe, Mariana Kotscho, de 47 anos, conta que está deixando a filha ficar mais tempo no celular conversando com os amigos.

Festa de 17 anos de Laura Kotscho previa 40 convidados; virou videochamada
Festa de 17 anos de Laura Kotscho previa 40 convidados; virou videochamadaMariana Kotscho/acervo pessoal

“Para os adolescentes é um momento bem sofrido. Sei que a convivência é importante e a falta dela pode fazer mal”, afirma. Laura conta que, apesar de ficar bastante tempo online, gostaria de conviver com os colegas pessoalmente e espera que o isolamento social termine no fim de abril. “Já não estou aguentando ficar duas semanas em casa, um mês vai ser o máximo.”

A empresária Mariana Mariutti, de 44 anos, afirma que as videochamadas têm sido uma boa companhia para as filhas Clara, de 15 anos, e Helena, de 14, que ficam online praticamente o dia todo.

Ela conta que a escola está passando muitos conteúdos e elas aproveitam as ligações para tirar dúvidas com outros colegas.

Helena também baixou no celular o jogo de tabuleiro Ludo King, e no tempo livre ela e as amigas se juntam em partidas online. “Meu tempo de tela aumentou muito e minha mãe me dá umas broncas. Mas eu acho que, para o que estamos passando, meu tempo está na média.”

Recentemente, a estudante promoveu uma festinha virtual para uma de suas melhores amigas. Ligou para ela, acendeu uma vela, colocou em um bolo e cantou parabéns.

Mariana Mariutti com as filhas, Clara e Helena: ‘Elas ficam online praticamente o dia todo agora’
Mariana Mariutti com as filhas, Clara e Helena: ‘Elas ficam online praticamente o dia todo agora’Acervo pessoal

Uso responsável. José Victor Roling, de 15 anos, e seus amigos gostam de conversar sobre esportes. Nas videochamadas, entre eles os assuntos giram em torno da suspensão dos jogos da NBA, a liga de basquete americana, e da Champions League, a Liga dos Campeões da UEFA, por tempo indeterminado. A turma de Roling também se reúne virtualmente no modo online do videogame Playstation. A mãe dele, a artesã Cristiane Roling, de 46 anos, conta que é a favor da comunicação do filho, mas que é preciso exercer certo controle. “As redes sociais são extremamente positivas quando a gente sabe usar. Os jovens precisam interagir. Mas a gente tem de cuidar um pouco, não pode ficar o dia inteiro. Hoje em dia, se deixar, eles só fazem isso.”

José Victor Roling (na foto com a mãe, Cristiane) gosta de reunir amigos online para falar de esportes
José Victor Roling (na foto com a mãe, Cristiane) gosta de reunir amigos online para falar de esportesAldinei Roling / acervo pessoal

Mãe da estudante Clara Zerwes, de 15 anos, a administradora Luciana, de 47, incentiva o uso responsável do celular no atual momento. Ela conta que a filha tem utilizado o ambiente online para conversar com os amigos sobre as questões da escola. Durante as aulas virtuais, ela está em vídeochamada com as amigas.

 “Meu foco é no estudo, mas a gente também conversa sobre livros, séries de TV e o que estamos fazendo. A gente tem feito alguns trabalhos em grupo e isso facilita a comunicação”, conta Clara.

‘Meu foco é nos estudos, mas falamos de tudo’, diz Clara Zerwes, de 15 anos, sobre os papos virtuais com as amigas
‘Meu foco é nos estudos, mas falamos de tudo’, diz Clara Zerwes, de 15 anos, sobre os papos virtuais com as amigasLuciana Zerwes/acervo pessoal

Como manter os adolescentes dentro de casa durante o isolamento?

 Decisão deve ser deles, mas precisam saber que há consequências, dizem especialistas

Ana Carolina Sacoman


Apesar de toda a distração online disponível, o que fazer quando o adolescente quer encontrar os amigos, ver os avós ou dar uma volta para “espairecer”? Mantê-los em casa em tempos de isolamento social não é das tarefas mais simples, e a convivência pode ficar pesada para todos. Adaptar pequenos rituais, explicar que determinados comportamentos colocam toda a família em risco e dar espaço para que eles mantenham a individualidade dentro do possível em situação de confinamento são algumas dicas de pais que estão enfrentando esta situação e de especialistas ouvidos pelo Estado.

Carlos Renato com a mulher e os filhos: jantar dentro do carro para ter a sensação de sair de casa
Carlos Renato com a mulher e os filhos: jantar dentro do carro para ter a sensação de sair de casaCarlos Renato Silva Camargo/Arquivo pessoal

Pai do Carlos Henrique, de 14 anos, e da Maria Fernanda, de 12, o fisioterapeuta Carlos Renato Silva Camargo, de 39, resolveu mudar a rotina de casa. O videogame até a madrugada está liberado em alguns dias, por exemplo, mas a visita do primo da mesma idade e a ida à casa dos avós foram vetadas. “Foi o único conflito que tivemos com a Maria Fernanda. Ela queria muito encontrar meus pais, mas eles precisam ficar isolados, são idosos e têm complicações de saúde. Eu disse que era melhor ela ficar chateada agora do que arrependida depois”, afirma. O mesmo aconteceu com o primo, companheiro constante nas férias e que acabou de mudar de casa. “Eles queriam muito conhecer a casa nova, mas não dá. O pai dele trabalha como Uber e a mãe, em um hospital. Agora não é a melhor hora para ir lá. Eles entenderam numa boa.”

Explicar o momento de exceção e chamar o adolescente para a responsabilidade nem sempre é fácil, mas pode ser a maneira correta de conduzir a situação, na opinião de Nelson Fragoso, psicólogo e professor do Mackenzie. “Não é fácil para o adolescente - nem para ninguém - essa situação de confinamento, mas os pais têm de ser firmes e claros, chamar o jovem e dizer: ‘Se você sair, me coloca em situação de risco. É como se minha vida não valesse nada para você’”, diz. “Tem de ser jogo aberto, e os jovens devem entender que às vezes é necessário abrir mão de algumas coisas.”

Choque de realidade. Outra maneira de convencê-los, de acordo com Fragoso, é apontar casos reais e explicar que, diferentemente do que se pensava, o novo coronavírus não afeta apenas idosos. “Os adolescentes têm comportamento mais centrado neles, é natural que se preocupem mais quando começam a ver casos na faixa etária deles.”

A tática de mostrar casos de jovens mortos pela doença ou falar de pessoas próximas que estão doentes tem funcionado na casa da servidora pública Antonia Cleonédes Rodrigues Vasconcelos, de 44 anos. Mãe da Maria Eduarda, de 16, ela conta que a filha percebeu que deveria mesmo ficar em casa depois que a escola fechou as portas. “É uma escola com calendário diferente, mais puxado, que funciona durante feriados. Quando eles mandaram todo mundo estudar de casa ela viu que era sério”, diz. A menina acompanha as notícias, como a da morte de Matheus Aciole, aos 23 anos, confirmada na quarta-feira - ele era, até o fim da semana, a vítima mais jovem da doença no Brasil.

Antonia e Maria Eduarda, de 16 anos: ‘Ela percebeu que a doença não vê cara nem atinge só os mais velhos’
Antonia e Maria Eduarda, de 16 anos: ‘Ela percebeu que a doença não vê cara nem atinge só os mais velhos’Acervo pessoal

Também um conhecido da família, de acordo com Antonia, está internado em estado grave por causa da covid-19. “Ele tem a minha idade. Com isso, ela percebeu que esta doença não vê cara nem é uma ‘doença de velho’”, conta a mãe.

Confinamento, especialmente de adolescentes, pede criatividade. O fisioterapeuta Carlos Renato, por exemplo, diante da insistência dos filhos em respirar um pouco fora de casa, resolveu jantar com a família dentro do carro. “Levei os dois para buscar comida no restaurante, que estava aberto apenas para delivery, e depois comemos dentro do carro para mudar um pouco as coisas”, afirma.

Mãe de uma criança de 7 anos e uma adolescente de 13 e diante da superequipada área social do prédio totalmente interditada, Sofia Queiroz, de 41 anos, resolveu deixar Lara, a mais velha, se exercitar nas escadas do prédio. “Ela precisa queimar um pouco a energia acumulada”, diz. “Ficar trancada com as duas, mais um cachorro, em um apartamento de 60 metros quadrados não é fácil para ninguém. Precisamos todas respirar.”

É também o que pensa o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, autor do livro O Adolescente em Desenvolvimento (editora Harbra). “Se ele quer dar uma volta no quarteirão, é preciso respeitar, não adianta proibir, que aí é que ele vai mesmo”, diz. “O adolescente precisa do espaço dele, e às vezes isso é difícil, ainda mais agora, com os prédios fechando as áreas comuns. Mas é bom a família não ficar muito em cima dele, tem de ter um pouco de bom senso”, afirma o psicólogo.

Pereira diz, no entanto, que a decisão de ficar ou não em casa tem de ser do próprio jovem. “Eles precisam aprender a ser responsáveis por suas escolhas, isso vale para todos, e não é diferente para os adolescentes. Cada um faz as suas escolhas.”


Campeões de audiência

Ajuda para estudar em casa e entender a doença

Com todo mundo trancado em casa, professores youtubers e canais infantis ganham cada vez mais audiência

O jeito certo de lavar as mãos, a importância de tomar vacina contra a gripe, a rotina do confinamento. Pequenas celebridades da web vêm usando seus canais para mostrar a nova vida em tempos de isolamento social e para falar aos milhões de seguidores sobre a importância das medidas de prevenção contra o novo coronavírus.

Na outra ponta, professores youtubers batem recordes de visualização com aulas online enquanto milhões de crianças e adolescentes estudam em casa. Eles são uma alternativa para reforçar os estudos a distância e, em alguns casos, até substituem as aulas presenciais.


Minicelebridades da internet ensinam crianças a se proteger contra coronavírus

Elas dão dicas contra a doença e mostram rotina para seus milhões de seguidores

Nas últimas semanas, com o avanço do novo coronavírus, canais de YouTube infantis passaram a produzir conteúdos sobre o tema para crianças, como vídeos ensinando a lavar as mãos, detalhes sobre a rotina no confinamento e dicas de como brincar na quarentena. A repercussão está grande: um vídeo do canal Planeta das Gêmeas, por exemplo, em que as meninas tomam a vacina da gripe e conversam com a família sobre prevenções contra o coronavírus, teve 3 milhões de visualizações em duas semanas.

As gêmeas cariocas Melissa e Nicole, de 12 anos, têm quase 13 milhões de inscritos no canal. Além de mostrar a vacina, as garotas também gravaram um vídeo contando como está a rotina durante o confinamento, em que elas aparecem jogando um pouco no computador, vendo filmes, jogando ping-pong e também comendo fondue de queijo no jantar.

“Tem sido bem tranquilo. Temos aulas online, gravamos vídeos, e estamos aproveitando também para passar um tempo com a família”, contam as gêmeas sobre o confinamento, em entrevista ao Estado.
 
Ao longo da quarentena, o canal Planeta das Gêmeas quer continuar fazendo vídeos para entreter e divertir seus inscritos. “Achamos legal mostrar para eles que estamos todos passando pela mesma situação”, afirmam Melissa e Nicole.

Melissa e Nicole, do Planeta das Gêmeas: ‘Queremos mostrar que estamos todos na mesma situação’, dizem
Melissa e Nicole, do Planeta das Gêmeas: ‘Queremos mostrar que estamos todos na mesma situação’, dizemCamila Jakubovic/acervo pessoal

O canal Clubinho da Laura, que tem mais de 8 milhões de inscritos, quer ajudar as pessoas nessa época de confinamento com dicas de brincadeiras. As irmãs Laura, de 7 anos, e Helena, de 4, já gravaram um vídeo montando um acampamento em família na sala de casa durante a quarentena. “Além das crianças, nosso público envolve muitos pais que assistem aos vídeos junto com os filhos. Queremos dar ideias de brincadeiras para lidar com esse momento de dificuldade de forma mais suave”, afirma Jéssica Godar, mãe das meninas.

Laura e Helena, do Clubinho da Laura, com os pais: seguidores acompanham rotina de isolamento cheia de atividades
Laura e Helena, do Clubinho da Laura, com os pais: seguidores acompanham rotina de isolamento cheia de atividadesJulio Cunha Júnior/Arquivo pessoal

A quarentena da Laurinha e da Helena está cheia de atividades, conta a mãe. “Fazemos bolo juntas, curtimos uma sessão de cinema à noite e até já montamos uma piscina inflável. Além disso, estamos tentando manter uma rotina, com atividades lúdicas como leitura e com as gravações durante a semana. Nunca deixamos que elas fiquem de pijama o dia inteiro”, diz. Nesta última semana, entretanto, Laurinha sentiu mais falta da vida normal: foi seu aniversário de 7 anos, e as comemorações foram dentro de casa com a família, e por videoconferências com amigos. “Os avós dela vieram em casa dar parabéns, mas a Laurinha não pôde abraçá-los. Ela ficou bem triste”, diz Jessica.

Proteção para as crianças. Os irmãos Maria Clara, de 8 anos, e JP, de 11, têm um canal no YouTube com o nome deles. Um vídeo intitulado Regras de Conduta para Adultos e Crianças Na Quarentena já contabiliza mais de três milhões de visualizações. “Sempre nos preocupamos em postar conteúdos informativos e educativos no canal. Especialmente nesse vídeo, tivemos a intenção de alertar o público em geral, crianças, adultos e idosos, pesquisamos muito sobre o assunto e o vídeo teve uma boa aceitação, recebemos muitos elogios”, afirmam os irmãos, que estão morando temporariamente em Orlando (EUA).

Maria Clara e o irmão, JP, se preocupam em postar conteúdos informativos e educativos no canal
Maria Clara e o irmão, JP, se preocupam em postar conteúdos informativos e educativos no canalAlexandre Spindler/acervo pessoal

Desde o dia 15 de março, eles estão em casa. A dupla, que pretende fazer outros vídeos sobre como se prevenir do novo coronavírus, sente saudade dos amigos e dos parques da cidade, como o da Disney, que está fechado.

Já a gaúcha Mileninha, de 13 anos, que no canal do YouTube é seguida por mais de seis milhões de usuários, postou há duas semanas um vídeo em que ensina as crianças a lavarem as mãos para se proteger do novo coronavírus. “Resolvemos fazer este conteúdo porque as crianças precisam aprender de forma mais divertida. E, como estamos vivendo este momento, elas precisam saber como se proteger do vírus”, informa Maria Helena Stepanienco, de 44 anos, mãe da Youtuber, que também é cantora.

Em outro canal de Mileninha, o Mileninha Teen, com mais de dois milhões de inscritos, ela postou na quinta-feira, dia 2, um vídeo em que ensina a fazer uma máscara de proteção em apenas um minuto. “Pretendemos fazer mais vídeos sobre a quarentena e o assunto será a prevenção. As crianças precisam saber como se prevenir para não ficarem doentes. Elas têm de entender que podem brincar e se divertir com cuidados básicos como lavar bem as mãos e não colocar a mão suja nos olhos, boca e nariz”, conta Maria Helena.

A família de Mileninha, no entanto, passa boa parte do isolamento social de forma analógica. Os pais da jovem eram proprietários de uma locadora de filmes e, agora, passam boa parte do tempo assistindo a clássicos do cinema em DVD.


Canais de aulas no YouTube batem recorde de visualizações

Para alunos, vídeos online são alternativas para complementar conteúdo ou até substituir a modalidade presencial neste momento
 

Bianca Gomes


Com a suspensão das aulas presenciais, estudantes têm encontrado em canais do YouTube uma opção para manter a rotina de estudos. A maior demanda durante a pandemia fez professores mudarem o conteúdo trabalhado nos vídeos e investirem em pacotes promocionais para atrair um novo público.

O estudante Vinícius Costa, de 19 anos, cancelou sua matrícula no cursinho presencial de R$1.200 e assinou o online por R$19,90. A mudança, segundo ele, se deu por conta do novo coronavírus.  “Não compensa para mim pagar esse valor por um cursinho que não me daria uma plataforma completa como os online, que já estão nesse mercado há muito tempo.”

“Notamos uma migração de quem está cancelando matrícula em cursinho presencial e indo para a categoria online”, diz o professor Paulo Jubilut
“Notamos uma migração de quem está cancelando matrícula em cursinho presencial e indo para a categoria online”, diz o professor Paulo JubilutArquivo pessoal

Ele conta que se adaptou bem ao método a distância, que antigamente criticava. “Alterou meu hábito. Agora posso fazer meu próprio horário de estudo e ver a matéria específica a qualquer momento e quantas vezes quiser.”

Dono de um canal de 1,8 milhão de inscritos e do site Biologia Total, o professor Paulo Jubilut viu crescer em praticamente 100% as visualizações da plataforma após o início da pandemia. Apesar de a equipe do canal estar em home office, ele aumentou em 20% o número de vídeos semanais e acrescentou ao portfólio conteúdos sobre coronavírus. O último, lançado há três dias, acumula quase 150 mil visualizações.

“Notamos uma migração de quem está cancelando matrícula em cursinho presencial e indo para a categoria online, pois é um produto diferenciado”, afirma o professor. As assinaturas do site também cresceram na comparação com o ano passado. Mesmo aqueles que já pagavam pela plataforma agora estão entrando com mais frequência. “O nosso custo com servidor está aumentando, então decidimos diminuir a qualidade do vídeo”, diz Jubilut. “Se antes da crise tínhamos uma média entre 600 e 800 alunos simultaneamente na plataforma, agora temos de 3 a 4 mil pessoas usando o site ao mesmo tempo.”

Canal Se Liga!, número de redações enviadas para correção cresceu 20%
Canal Se Liga!, número de redações enviadas para correção cresceu 20%Divulgação

Na plataforma do canal Se Liga!, estudantes também estão mais ativos. As duas últimas semanas superaram em 20% o número de redações enviadas para a correção dos professores. Além disso, os estudantes têm se conectado mais vezes por dia no site e aumentado o tempo de visualizações de vídeos. “Notamos que a média de alunos por semana teve um incremento de aproximadamente 50% em relação ao mesmo período do ano passado”, afirma Ana Paula Dibbern, porta-voz do cursinho online.

Descontos. O cenário de boa parte dos estudantes do País experimentando o ensino a distância é uma oportunidade de captar novos clientes, muitos que talvez nem cogitassem a modalidade, segundo Jubilut. Para isso, o canal ofereceu a assinatura por preços mais baixos e liberaram parte dos conteúdos pagos.

Com o Se Liga! não foi diferente. “É o desconto mais alto que a gente deu em todos os anos e em qualquer momento de Black Friday. Estamos vendendo o plano premium mais barato do que o preço normal do plano mais básico”, diz Ana Paula.

Além da plataforma e do canal no YouTube, a professora de história Débora Aladim aposta no Instagram como canal de comunicação com os estudantes. O conteúdo, porém, não é o mesmo. “No Instagram, as pessoas não estão focadas em estudar, mas em consumidor outras informações, como dicas de estudos e planejamento.” Ela afirma que ganhou seguidores após o início da crise do coronavírus e tem recebido mais mensagens para gravar. “Eles estão comentando mais, me pedindo para mandar sugestões de documentários, gravar novos vídeos.”

Venda de cursos mais curtos, de três meses, cresceu, conta o professor Noelson Borges
Venda de cursos mais curtos, de três meses, cresceu, conta o professor Noelson BorgesDivulgação

O professor de português Noeslen Borges decidiu investir em uma série sobre coronavírus e em lives semanais. No dia 9 de abril, ele vai receber em seu canal os professores Débora Aladim, Jubilut, Rafael Procópio e Carina Fragozo para falar sobre aspectos diferentes do coronavírus, cada um dentro da sua disciplina.

Apesar de o número visualizações ter se mantido no canal do YouTube, onde acumula 2,76 milhões de inscritos, Noeslen afirma que as vendas cresceram, principalmente em cursos mais curtos, de três meses. “Além disso, tive uma procura grande de professores buscando vídeos para indicar para os alunos. Muitos me pediram ajuda de como fazer vídeo e materiais, como produzir em casa.”

Por conta do coronavírus, o youtuber Umberto Mannarino incluiu vídeos sobre a pandemia em seu canal e liberou no dia 22 de março o acesso a duas apostilas sobre o Enem, antes pagas. Pode Vir, Enem traz dicas sobre o sistema de correção da prova, enquanto Onde já se 1000 é um guia prático para escrever a redação. O material já passou dos 30 mil downloads.

O canal do estudante existe há quase 8 anos e hoje tem mais de 800 mil inscritos. "Por conta desse cenário de escolas fechadas, decidi liberar as apostilas para estimular os alunos a se manterem motivados mesmo em tempos difíceis como o que estamos vivendo", conta.


Tire suas Dúvidas

40 questões respondidas por especialistas

Seu filho não está entendendo uma matéria e você não sabe ensinar? É hora de contratar um professor particular ou falar com a escola? O uso de redes sociais está excessivo? São muitas as perguntas dos pais quando esses dois assuntos se mesclam, filhos e internet, seja para estudar ou se divertir. Confira as principais dúvidas, respondidas por especialistas em educação, segurança digital e comportamento.


Para estudar



1Como montar um cronograma de estudos realista?  

Uma boa dica é dividir os estudos ao longo do dia em blocos de microaulas, afirma Giselle Santos, especialista em Inovação e Tecnologias Educacionais e Google Innovator. “Eu diria que nenhum aluno pode ultrapassar quatro horas de aula no dia, sendo que quanto mais novo, menor será o tempo. Os blocos podem durar entre 15 minutos e 45 minutos.” A professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP Silvia Gasparian Colello explica que é necessário agir de forma realista em um momento como o atual. “Os projetos educativos das escolas presenciais não podem ser transplantados de uma hora para outra para uma situação a distância em uma relação de equivalência”, afirma. “Crie um espaço de trabalho dentro de casa, no qual a criança tenha condições de estudar, e institua um tempo de trabalho. Não é possível ficar em frente ao computador o mesmo tempo e do mesmo jeito que eles fazem na escola.”

2Como fazer com crianças e adolescentes que já precisavam de reforço escolar?  

Os pais precisam ter claro que não dá para se transformar em professor ou psicopedagogos, diz Silvia Gasparian Colello, professora da pós-graduação da Faculdade de Educação da USP. “Considerando o ensino que vem da escola, é impossível criar um sistema individualizado. O que sobra de alternativa é valorizar os momentos de aprendizagem, já que muitas crianças com dificuldade têm vínculo negativo com a escola. Os pais devem trabalhar no sentido de romper essa negatividade e mostrar o quanto a escola e as atividades podem ser interessantes.” Ela acrescenta a importância de acompanhar o aluno no desenvolvimento da tarefa e dar o suporte necessário, mas respeitando aquilo que ele consegue fazer.

3Consigo saber se meu filho está acompanhando o ritmo dos outros alunos?  

Comparar desempenho de crianças em atividades online que estão sendo feitas em um movimento provisório e transitório não é o caso, diz Silvia Gasparian Colello, professora da pós-graduação da Faculdade de Educação da USP. “É muitas vezes um exagero do pai. Precisamos fazer, neste momento, o que é possível, sem estabelecer altos níveis de expectativa ou de comparação entre o desempenho das crianças.” O professor de Tecnologia Educacional Francisco Tupy acrescenta que é preciso observar se o aluno está cumprindo as tarefas, se está prestando atenção no professor durante a aula. “É preciso manter o diálogo com o filho e com a escolha”, afirma. Já Estêvão Zilioli lembra que os alunos têm ritmos diferentes e a ideia de "acompanhar os outros" pode ser irrealista, mesmo em situações de normalidade.

4É possível verificar se o programa online passado pela escola está adequado?  

Converse com o seu filho, pergunte para ele o que está ou não funcionando. “É preciso entender as dificuldades não com o conteúdo, mas com a entrega. Depois disso, converse com a escola”, explica a especialista em inovação e tecnologias educacionais e Google Innovator Giselle Santos. Silvia Gasparian Colello, professora da pós-graduação da Faculdade de Educação da USP, lembra que é preciso entender o momento transitório no qual todos estão aprendendo com uma situação inédita. “A avaliação da escola pela família é um processo a longo prazo que não pode incidir em um momento atípico, como esse. Os pais precisam ter confiança no projeto pedagógico da escola, no currículo e nas propostas. As escolas devem estar abertas ao diálogo”, diz.

5Devo passar exercícios extras?  

A resposta é unanimidade entre especialistas: não é hora de exercícios extras. “O momento está sendo difícil para todos, as crianças já se sentem oprimidas pela situação e a aula particular dada por um pai só vai confundir as relações e só vai sobrecarregar a criança”, explica Silvia Gasparian Colello. Para a professora, os pais podem trazer atividades proveitosas para as crianças, como ver um filme, desenhar e brincar com jogos de raciocínio. “Em uma perspectiva lúdica, recreativa, dá para propor atividades interessantes. Deve ser um contexto informal e divertido, que funcione como estímulo, mas não como uma atividade sistemática e planejada pelos pais para cobrir o buraco da escola.”

6As escolas devem fazer provas neste período de confinamento?  

Muito mais do que ensinar e aplicar prova, a função do professor é ajudar o aluno a superar esta fase complexa, diz Francisco Tupy, professor de Tecnologia Educacional. “A questão é pensar por que e para que avaliar. Será que uma avaliação agora não vai demandar muito esforço? Acredito que mais do que a avaliação do que foi aprendido, é ter a noção de quanto foi apreendido.” Estêvão Zilioli orienta os professores a avaliarem os atividades desenvolvidas pelos alunos, mas não por meio do modelo tradicional de provas. “Mais do que saber o quanto o aluno "assimilou" do conteúdo, devemos focar na produção dele, na qualidade das suas pesquisas.”

7O isolamento está afetando o rendimento escolar do meu filho, o que fazer?  

As perdas pedagógicas e as defasagens de conteúdo são inevitáveis e precisamos ter isso como uma realidade. “Os pais precisam pensar que as escolas vão se organizar para recuperar esse tempo perdido no seu próprio desenvolvimento posterior”, afirma professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP Silvia Gasparian Colello. Francisco Tupy, professor de Tecnologia Educacional, avalia que talvez não seja a questão de pensar no rendimento escolar, e sim no bem estar das crianças, com questões que vão além da escola. “A vida está cobrando uma série de habilidades e conhecimentos que talvez o conteúdo não venha em primeiro lugar.”

8O que é melhor agora: uma rotina rígida, como se ele estivesse na escola, ou mais relaxada?  

Procure um meio-termo. “É preciso, sim, criar rotinas. Mas elas devem ser mais leves, estruturadas e flexíveis”, diz Giselle Santos, especialista em Inovação e Tecnologias Educacionais e Google Innovator.

9Meu filho está vendo aulas e tentando fazer exercícios e está com muitas dúvidas. Ensino online de fato funciona para essa faixa etária como única forma de aprendizado?  

Não dá para ter uma resposta sobre o ensino online funciona ou não, diz Silvia Gasparian Colello. “É a única alternativa que temos no momento e precisamos fazer isso ser otimizado na melhor forma possível em função das características das crianças e das faixas etárias. Não é uma resposta de “sim” ou “não”, mas de vamos tentar cobrir as dificuldades do momento da melhor forma possível”, explica a professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP.

10Grupos de estudo online são bons?  

“É saudável a aprendizagem por pares, eles aprendem muito uns com os outros, mas deve haver uma estrutura mínima do que fazer, uma orientação do professor e um objetivo de aprendizagem”, explica a especialista em Inovação e Tecnologias Educacionais Giselle Santos. “Não pode funcionar como uma sobrecarga para quem já tem tarefas escolares. É preciso ver como o grupo de estudo vai ser conciliado com as tarefas escolares e a natureza dessa proposta”, diz a professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP Silvia Gasparian Colello. Ela afirma que tem visto propostas interessantes de contação de história, teatro para as crianças, cursos de desenho e rodas de conversa. “São alternativas que se configuram de modo lúdico, interessante e cultural, mas não configuram um grupo formalizado de estudo.”

11O quanto devo ajudar um filho adolescente?  

O diálogo entre os pais e filhos adolescentes é saudável e necessário. Mas é preciso manter o jovem com autonomia, sem que os pais assumam questões por eles. “Uma coisa é ajudar, outra é fazer pelo adolescente. É preciso ter essa noção, porque o excesso de ajuda atrapalha. O ideal seria que esse jovem tenha apoio, porque ele precisa disso, mas também precisa viver”, afirma Francisco Tupy.

12O que a escola deveria estar propiciando para o meu filho agora?  

Uma rede de suporte acadêmico é fundamental para o momento, além de um canal em que os pais conversem com as instituições de ensino sobre as demandas do momento e as mudanças que eles acreditem necessárias para que tudo se acomode. Segundo Giselle Santos, a escola deve propiciar a flexibilidade de como o aluno aprende e não pode exigir que todos tenham computador e acordem na mesma hora.

13Meu filho está na alfabetização. Vai fazer muita diferença para o processo de leitura dele este tempo sem aulas?  

O ideal é que os pais criem uma estrutura de leitura para a criança. A professora Giselle Santos sugere um exemplo simples de exercício: descubra em casa tudo o que tem a letra do seu nome, esconda a letra e faça uma caça ao tesouro. Mas a escola precisa entender que o conteúdo de alfabetização deve chegar ao aluno.

14Não sei como ensinar a maioria das matérias que meu filho está estudando agora. O que faço?  

Os pais não precisam sentir culpa. Para Giselle Santos, da USP, um recurso é buscar uma rede de suporte. “Admita que não sabe, se liberte desse incômodo de não saber”, diz ela.

15Se não consigo ajudar meu filho com as aulas, devo contratar um professor online ou procurar a escola?  

Francisco Tupy diz que a escola precisa saber o que acontece com seu filho. “Tenha um diálogo com a escola para saber porque seu filho não está prestando atenção. As aulas oferecem canais de comunicação. Contratar um professor é algo que funcionaria. Mas a escola tem que saber para tentar revisar o método”. Para Estêvão Zilioli, os canais de comunicação entre professor e aluno estejam mais abertos do que nunca. “Só recomendo um professor particular caso o professor e a coordenação achem necessário.”

16Aprendi de forma diferente a realizar os exercícios de matemática e física. E a minha forma de raciocinar é diferente da que está sendo ensinada hoje. Ensino do meu jeito?  

É possível conciliar o ensinamento dos pais e da escola. Para o aluno, é interessante que ele saiba as diferentes maneiras de chegar a um mesmo resultado e adotar a fórmula que é mais fácil para ele.

17Acho os livros atuais muito confusos. Às vezes, o conteúdo está espalhado em livros de várias disciplinas. Como faço para explicar as matérias?  

Os pais devem entender o objetivo de aprendizagem a ser explorado e saber o que pretende passar de conteúdo para o filho. A internet é um bom caminho para explicar o conteúdo de uma forma que pareça interessante para ele.

18Existem fontes confiáveis para eu buscar os temas e estudar, para ajudar o meu filho?  

Há sites oficiais, mídia especializada com planos de aula e ideias de educação, para alunos e pais. O ideal é o pai fazer essa busca e se a página traz os conhecimentos e habilidades que o filho precisa desenvolver. Estêvão Zilioli indica o Youtube Edu, o Google Acadêmico e até mesmo a Wikipédia, já que lá os artigos sem fonte são sinalizados.

19Meu filho iria fazer intercâmbio neste ano. O que faço?  

Francisco Tupy afirma que é hora de repensar a estratégia. “Um intercâmbio é algo que não cabe na realidade. Se a situação do mundo mudou, tem que mudar as variáveis e optar pelo intercâmbio num momento mais propício. Várias coisas estão sendo repensadas e os efeitos diretos estão ocorrendo”. Ele sugere que, se o objetivo do intercâmbio for o desenvolvimento da língua, é possível buscar outras formas de aprender. Se o objetivo é entrar em contato com outras culturas, existem sites e aplicativos para trocar conhecimento.

20Neste ano, meu filho iria prestar o SAT, teste das faculdades americanas. Ele será muito prejudicado falta de aulas? É possível compensar de algum jeito?  

Converse com as instituições que aplicam se haverá mudanças e como a prova vai ocorrer “A primeira coisa é saber que seu filho não é a única pessoa que está passando por isso. Ler e estudar o programa e contatar um professor online é algo que ele pode fazer de casa”, diz Francisco Tupy.

21Tenho preocupação com o aprendizado de idiomas. O que podemos fazer para que meu filho não perca a intimidade com o idioma e a fluência?  

Procure expor seus filhos a esse idioma. Assistindo filmes e vídeos com legendas e músicas com traduções, de uma forma que ele possa aprender se divertindo.


Nas Redes



1Como gerenciar o tempo que crianças e adolescentes passam online?

É muito importante que crianças e adolescentes tenham uma rotina de uso da internet, ainda mais nesse período de quarentena, explica a professora de Psicologia da PUC Fabiola Freire. “Depende de cada família e de cada criança, mas é interessante estabelecer um limite de horas de uso e também se o acesso vai ser de manhã, à tarde, ou à noite”, diz. Em época de confinamento, especialistas orientam que é preciso equilíbrio, e metas possíveis de serem cumpridas. Ou seja: não deixe os filhos usarem desenfreadamente, mas também não restrinja em excesso, como se usar a internet fosse o fim do mundo. “Afinal, atualmente as principais interações disponíveis são as virtuais. Deve-se aproveitar o lado bom também”, afirma Marlene Isepi, diretora da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP. De forma prática, plataformas digitais de controle parental podem ajudar nessa tarefa de gerenciar o tempo online.

2Os pais devem aproveitar o período de quarentena para fiscalizar mais o que os filhos fazem na internet?

“Os pais deveriam acompanhar o que os filhos fazem na internet com ou sem quarentena, mas o confinamento pode ser uma oportunidade para estreitar laços familiares com os filhos adolescentes e com isso entrar mais na rotina deles sem ser muito invasivo”, diz Angela Donato Oliva, professora do Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Para pais que estão trabalhando em casa, é um momento oportuno para conhecer melhor os filhos: “Por que não se aproximar da criança, pedir para assistir um desenho junto ou jogar um jogo?”, sugere a professora de Psicologia da PUC-SP Fabiola Freire.

3Quais tipos de controle se pode fazer?

Os pais têm algumas opções: conversar sempre sobre uso de internet com os filhos, instalar programas para ter acesso às atividades online dos adolescentes, bloquear alguns tipos de conteúdo nos aparelhos tecnológicos e também se aproximar em alguns momentos para usar a internet junto com os filhos. Entretanto, essas medidas precisam ser acompanhadas de diálogo. “O uso de internet mediado pelos pais é fundamental, mas não é só proibir ou permitir. Precisa estabelecer uma relação de confiança e contrato conjunto. Os filhos precisam entender o motivo do controle, em vez de ser um bloqueio”, afirma Maria Elizabeth Almeida, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP. Além disso, a professora de psicologia da PUC-SP Fabiola Freire ressalta que é preciso investir continuamente na relação com os filhos para as práticas darem certo: “Invadir é muito mais fácil que se aproximar da criança ou do adolescente. E o diálogo não é apenas um sermão, é um trabalho constante de aproximação.”

4É razoável pedir senhas?

Esse é um ponto de divergência entre os especialistas ouvidos pelo Estado. Para a professora de Psicologia da PUC-SP Fabiola Freire, ter as senhas dos filhos pode ser um caminho, desde que seja combinado com a criança ou o adolescente, com a consciência de preservar a intimidade do filho e não ler todas as mensagens. Por outro lado, a professora do Instituto de Psicologia da Uerj Angela Donato Oliva acredita que quando os pais chegam ao ponto de pedir senhas, algo falhou na trajetória desse relacionamento. “Construir uma relação na base da confiança é sempre a melhor opção. Demonstrar preocupação junto com amor, dar boas informações, dar suporte emocional, são coisas mais eficientes do que pedir senhas”, afirma.

5Qual é o melhor jeito de conversar com os pré-adolescentes e adolescentes sobre isso, uma vez que são um grupo arredio?

A principal orientação para os pais aqui é escutar os adolescentes. “É preciso estabelecer uma relação de empatia. Muitas vezes os pais esquecem que eles já foram adolescentes também. Se eles conseguirem se aproximar dessa história deles do passado, talvez consigam um contato mais proveitoso com os adolescentes”, orienta Fabiola Freire, professora de Psicologia da PUC-SP. Especialistas sugerem também que os pais exponham para os filhos mais velhos os riscos graves que o uso excessivo da internet pode trazer, como danos à visão e problemas psicológicos.

6Como fugir dos golpes online?

Especialistas concordam que é fundamental que aparelhos tecnológicos de crianças e adolescentes tenham uma proteção antivírus, para bloquear a instalação de programas maliciosos. Fabio Assolini, analista da empresa de cibersegurança Kaspersky no Brasil, também recomenda que, se possível, os adolescentes tenham seus próprios dispositivos. “Os pais devem avaliar se o filho tem maturidade para isso. Mas é uma boa prática para evitar que jogos e outros programas dos adolescentes contaminem os computadores que os adultos usam para trabalhar”, diz.

7Como melhorar a privacidade?

Os jovens precisam ser orientados a não divulgar suas vidas amplamente nas redes sociais, orienta João Cesar Netto, professor do Instituto de Informática da UFRGS, destacando que é importante ter cuidado com ferramentas de localização nas plataformas. Para Emilio Simoni, diretor do laboratório especializado em segurança digital da startup PSafe, também deve-se evitar publicações na internet que mostrem a rotina da casa e outras informações pessoais como o colégio da criança. Além disso, os especialistas ouvidos pelo Estado recomendam um recurso tecnológico chamado de autenticação de dois fatores, que acrescenta uma camada adicional de segurança no processo de login da conta — plataformas como WhatsApp e Facebook oferecem a ferramenta, que deve ser ativada nas configurações dos aplicativos.

8O que os pais devem falar para crianças e adolescentes para garantir que eles estejam informados sobre os perigos que existem na internet?

Algumas orientações básicas podem ajudar, afirma Rafael Santos, coordenador do curso de Defesa Cibernética da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP). “Primeiro, deve-se orientar as crianças e os adolescente para que desconfiem de e-mails e mensagens que recebem, porque podem ser golpes. É importante também os pais ensinarem os filhos a não adicionar um usuário estranho nas redes sociais”, aconselha Santos.

9É hora de menos internet e mais livros, por exemplo?

“Nessa quarentena, é interessante que crianças e adolescentes aproveitem o tempo de outra forma que não seja apenas a conexão à internet”, afirma Marlene Isepi, diretora da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP. Uma alternativa nesse sentido é a leitura. Na visão de Fabiola Freire, professora de Psicologia da PUC-SP, a quarentena pode ser uma oportunidade de levar os jovens para os livros: “Tente encontrar o tipo de livro que seu filho gosta. Aproveite para pedir ajuda da escola e dos professores para encontrar um tema que o atraia”, orienta.

10Como equilibrar conteúdos mais educativos com diversão na internet?

Marlene Isepi, diretora da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP, reforça que há muito conteúdo educativo no mundo digital, inclusive em plataformas que as crianças costumam acessar, como o YouTube. “Se seu filho gosta de dinossauros, pesquise com ele sobre isso. Se ele gosta de instrumentos musicais, procure alguma atividade voltada à música”, orienta. Uma dica de especialistas para incentivar essas atividades é sugerir horários fixos para diversão na internet e no restante do tempo incentivar conteúdos online educacionais.

11É recomendado usar ferramentas de controle parental?

Sim. Especialistas em segurança digital ouvidos pelo Estado recomendam que pais usem ferramentas para acompanhar a atividade dos filhos na internet. Entre outras funções, esses recursos permitem o controle do horário que a criança ou o adolescente passa na frente das telas, o bloqueio de conteúdos inapropriados, o acompanhamento do histórico online do filho e também uma proteção antivírus contra golpes online. Entretanto, cabe aos pais filtrar os conteúdos e estabelecer regras que não sejam extremas, explica João Cesar Netto, professor do Instituto de Informática da UFRGS. “As ferramentas podem ser válidas, mas depende de quem as usa. Junto com os recursos tecnológicos, é preciso informar o filho, para que ele entenda que a medida é boa para ele e não burle o sistema”, afirma.

12Como usar esses recursos de controle parental?

Existem alguns tipos de ferramentas de controle parental. Os mais comuns são um software que pode ser instalado em diversos dispositivos e roteadores de internet que conseguem fazer a filtragem. Alguns sistemas são gratuitos e outros exigem uma assinatura, como um antivírus. “Os pais precisam escolher uma ferramenta segura, já que ela lida com informações sensíveis da família. Recomendo que, antes de instalar o sistema de controle parental, eles pesquisem na internet o nome da empresa que oferece o recurso para checar se realmente é uma companhia de segurança. Também vale pedir indicações de ferramentas para a escola e para outros pais”, orienta João Cesar Netto, professor do Instituto de Informática da UFRGS.

13Qual impacto que o excesso de jogos online pode causar na vida de crianças e adolescentes nesse momento?

Em época de quarentena, o consumo de games tende a aumentar, mas é preciso cuidado: “Não é recomendado que crianças e adolescentes fiquem presos aos jogos, comendo besteira e com postura errada no sofá”, diz André Pase, professor de Comunicação Digital da PUC-RS. Na visão da professora do Instituto de Psicologia da Uerj Angela Donato Oliva, a dependência de games pode ter vários efeitos: “Os adolescentes podem apresentar sintomas de abstinência quando ficam um tempo sem jogar, podem perder o interesse por atividades sociais ou por outros tipos de entretenimento e podem também perder desempenho educacional ou profissional”, alerta.

14Existem tipos de jogos que são mais saudáveis que outros?

Apesar dos problemas dos games em excesso, o uso moderado de jogos é considerado por especialistas uma boa fonte de entretenimento neste momento de quarentena. Para André Pase, da PUC-RS, jogar pode ser uma oportunidade de gastar a energia da molecada dentro de casa: “Jogos que exigem exercício, como o Just Dance, são boas opções”, afirma. Além disso, ele indica jogos clássicos, como Mario e Sonic, que não têm muitos perigos. Francisco Tupy, professor de Tecnologia Educacional, também indica jogos que tenham histórias envolventes. “O game pode ser um assunto que estimule uma conversa e aproxime os membros da família.”

15E nas redes sociais, o que muda agora, nesse período de confinamento?

Para Rafael Santos, coordenador do curso de Defesa Cibernética da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP), as redes sociais tendem a se tornar ainda mais um canal de interação e de contato com amigos. Entretanto, com o aumento do consumo da internet, os riscos devem aumentar. “As redes sociais são plataformas positivas que aproximam as pessoas. Mas, infelizmente, usuários ruins vão se aproveitar do momento para práticas maliciosas”, afirma. Além disso, Fabio Assolini, analista da empresa de cibersegurança Kaspersky no Brasil, alerta que o confinamento deve impulsionar a disseminação de fake news em plataformas digitais.

16É recomendado que a criança ou o adolescente interaja bastante em redes sociais nessa época de quarentena, postando fotos e comentando em publicações?

O uso de redes sociais neste momento por crianças e adolescentes pode ser positivo, desde que haja acompanhamento e limites, explica a professora de Psicologia da PUC-SP Fabiola Freire. “Temos necessidade das relações, mas os jovens precisam de tempo com a família e com eles mesmos. É preciso aprender a lidar com o tédio e a solidão, e ultimamente esse exercício tem sido esquecido”, afirma a professora.

17Como mãe ou pai, devo usar minhas contas próprias em redes sociais para fiscalizar o que meu filho faz nas plataformas?

Essa é uma prática comum de pais e, para a professora do Instituto de Psicologia da Uerj Angela Donato Oliva, não é ideal, mas compreensível, uma vez que os pais têm curiosidade e querem saber o que seus filhos adolescentes postam nas redes sociais. “Se eles usarem essas informações de maneira cuidadosa nas conversas, pode ser uma estratégia de aproximação. No entanto, se confrontarem os filhos e a prática tiver um tom de vigília, o efeito pode ser o oposto, afastando ainda mais os adolescentes”, afirma. A diretora da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP Marlene Isepi diz ainda que é importante ter termômetro nas relações, principalmente com adolescentes: “Assim como não cai bem para o jovem os pais chegarem na porta da escola dando beijo na bochecha e chamando-o de ‘bebê’, a falta de liberdade nas redes sociais pode chatear os filhos e fazer até com que eles criem uma conta secreta.”

18Em grupos de WhatsApp de adolescentes também circulam fake news? Como conscientizá-los para o problema da desinformação?

“Sim. Os grupos de adolescentes não estão livres disso. “Os pais devem ensinar seus filhos a sempre desconfiar de informações recebidas e checar as notícias em fontes confiáveis. É importante também conversar para entender se as crianças e os adolescentes costumam compartilhar conteúdo falso”, diz Maria Elizabeth Almeida, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP.

19Como os adolescentes podem aproveitar a internet de forma positiva nesta quarentena?

Para Rafael Santos, coordenador do curso de Defesa Cibernética da FIAP, é um momento para aproveitar os benefícios da conectividade. “A internet permite que as crianças joguem com seus amigos virtualmente e até assistam filmes em conjunto”, ressalta Santos. Na visão de Fabio Assolini, analista da empresa de cibersegurança Kaspersky no Brasil, é também um momento para aprender coisas novas usando a tecnologia: “Há uma variedade de material incrível no mundo digital. É hora de, por exemplo, aprender um idioma ou tocar um instrumento musical.”


Fontes

Marlene Isepi (diretora da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP), Fabiola Freire (professora de Psicologia da PUC-SP), Angela Donato Oliva (professora do Instituto de Psicologia da Uerj), Maria Elizabeth Almeida (professora da Faculdade de Educação da PUC-SP), Fabio Assolini (analista da empresa de cibersegurança Kaspersky no Brasil), Rafael Santos (coordenador do curso de Defesa Cibernética da FIAP), João Cesar Netto (professor do Instituto de Informática da UFRGS), Emilio Simoni (diretor do laboratório especializado em segurança digital da startup PSafe), André Pase (professor de Comunicação Digital da PUC-RS), Giselle Santos (especialista em Inovação e Tecnologias Educacionais e Google Innovator), Francisco Tupy (professor de Tecnologia Educacional), Silvia Gasparian Colello (professora da pós-graduação da Faculdade de Educação da USP), Camilo Coutinho (estrategista digital e especialista em vídeos online), Ricardo Wesley (professor de Matemática), Pedro Sávio (professor de Física), Diane Scapin (professora do Instituto Educacional D’Ambrosio), Marcio Gonçalves (Universidade Estácio de Sá e Faculdades Integradas Hélio Alonso), Elizabeth Ashida (Colégio Vital Brazil e Prefeitura de São Paulo), Angela Araujo (professora da rede estadual de São Paulo e do Instituto Ânima), Mariana Peão Lorenzin (Colégio Bandeirantes) e Estêvão Zilioli (consultor de Inovação e Tecnologia Educacional)


Expediente

Reportagem Ana Carolina Sacoman, Bianca Gomes, Carla Menezes, Marina Cardoso (especial para o Estado), Renata Cafardo, Renato Vieira e Roberta Picinin / Editora de Conteúdos Especiais Ana Carolina Sacoman / Editora de Inovação Carla Miranda / Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo, Carlos Marin, Glauco Lara e William Marioto / Ilustrador Marcos Müller / Designer multimídia Lucas Almeida

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