“Até daqui, do meio do Oceano Atlântico, eu ouvi sobre o recorde de incêndios devastadores na Amazônia. A nossa guerra contra a natureza precisa terminar”, escreveu a ativista Greta Thunberg, de 16 anos, em sua conta no Twitter em agosto, dias depois de a imprensa, entre elas este jornal, divulgar dados preocupantes: o número de focos de incêndio este ano, não só na região amazônica, mas em outras áreas do Brasil, foi o maior registrado desde 2013. Um mês depois, em setembro, era Alter do Chão, no Pará, que queimava, enquanto o litoral brasileiro era invadido por manchas de óleo.
Não é comum começarmos o texto de apresentação de nosso tradicional especial de Melhores Destinos – este ano chegamos à 7ª edição – narrando acontecimentos tristes. Pelo contrário, fatos assim, de devastação pela ação do homem ou da natureza, costumam deixar de fora os destinos afetados. Mas, se o leitor correr tela abaixo para conferir os eleitos para 2020, será, talvez, surpreendido pelos resultados. Pois lidera esta lista, com 12 votos, justamente ela, a Amazônia. Que não está sozinha: vem acompanhada por parques e outros destinos nacionais onde natureza e comunidades locais são a principal atração.
A surpresa e incompreensão, contudo, se dissipam quando notamos que nunca estivemos tão dentro do debate sobre sustentabilidade e meio ambiente como hoje – Greta Thunberg, aliás, acaba de ser eleita a personalidade do ano pela revista norte-americana Time por seu protagonismo na luta contra o aquecimento global. É natural, portanto, que os olhares do mundo, inclusive turísticos, se voltem a lugares que façam parte dessas discussões, seja por curiosidade, ativismo, pela natureza ou pela chance de conhecer as comunidades que vivem e resistem nessas áreas.
De acordo com o relatório global de Tendências de Viagens do Skyscanner, o Brasil registrou aumento de 27% nas buscas globais em comparação ao ano passado, atrás apenas da Argentina e da Áustria. Além disso, o relatório aponta uma preferência turística pelo slow travel, enfatizando a conexão com os locais visitados, pelo turismo sustentável e por viagens transformadoras. Na mesma direção, a Lonely Planet também incluiu a Amazônia entre as 10 melhores regiões para 2020 e o jornal inglês The Guardian elegeu Alter do Chão, já em 2009 e em 2016, o destino de praia mais bonito do Brasil.
A alta do dólar e a tendência à busca por lugares mais inusitados e menos explorados também ajudam a explicar, portanto, que a lista de 2020 tenha menos destinos internacionais clássicos, digamos assim. Nova York, por exemplo, que só aparece na 10ª colocação, é o primeiro deles. Antes da megalópole, surgem África do Sul, Israel, Egito, Cingapura e Colômbia, o primeiro dos únicos dois destinos sul-americanos da lista. O outro é o Peru, que em 2019 liderou o ranking, mas acabou ficando na 19ª posição desta vez, talvez um reflexo das instabilidades políticas que atingiram o país e outros do nosso continente.
Jordânia, Ruanda e China desbancaram outros clássicos europeus, como Itália, Holanda e Alemanha – destinos que somaram dois votos cada um. E mesmo Portugal, que há quatro anos tem ocupado altas posições no ranking, ficou em 13º.
Já o Japão, segundo colocado no ranking somando os votos ao país e à capital Tóquio, demonstra algo recorrente em nossas listas. Pois, se em 2016 os Jogos Olímpicos colocaram o Rio de Janeiro entre os primeiros destinos do ranking daquele ano e, em 2018, a Copa do Mundo assim o fez com a Rússia, é claro que o país-sede da Olimpíada de 2020 apareceria nas primeiras posições na lista para o próximo ano. Certamente estarão no Oriente todos os holofotes da mídia, incluindo nessa conta a propaganda de suas possibilidades turísticas.
Assim, apesar de bastante diversa – muito em decorrência da mudança de metodologia que permitiu aos 22 jurados apostarem nos destinos livremente (sem lista prévia) –, essa indicação de 20 Melhores Destinos para 2020 é, talvez, uma das mais surpreendentes e, ao mesmo tempo, coerentes e democráticas que já tivemos. Isso porque abarca uma multiplicidade de destinos e valores, de perfis e propostas, sem, contudo, deixar de ter um sentido comum: a chance de vivências únicas, enriquecedoras e emocionantes, seja ao lado dos indígenas da Floresta Amazônica ou dos japoneses no Estádio Olímpico de Tóquio.
No noticiário mundial em 2019, todos os olhares se voltam para ela. Com 12 votos e lugares diversos, é da Amazônia o troféu de melhor lugar para 2020.
Em 2020, o país estará em evidência com a Olimpíada, de 24 de julho a 9 de agosto.
Abençoado pelo Senhor do Bonfim e pela recém-canonizada Irmã Dulce, o Estado exala beleza e cultura.
A possibilidade de privatização colocou os parques sob holofotes. Ao todo, são 39 unidades de conservação – o mais visitado é o Parque da Tijuca, no Rio.
Em época de dólar em alta e com a ampliação no número de voos diretos para o país, o destino reúne programas de natureza, luxo e variedade gastronômica.
Religiosidade e tradição se mesclam com a modernidade de metrópoles e a inovação com o crescimento das startups.
Depois da Primavera Árabe, os preços para visitar o Egito ficaram mais acessíveis. Quem não sonhou em ver as pirâmides?
Dona de um dos centros financeiros mais poderosos do mundo, é um pequeno país com imponentes monumentos, tecnologia e luxo.
O país mudou sua imagem e se consolidou como destino turístico, com cidades cheias de personalidade, comida boa e mar caribenho.
A capital do mundo coloca lado a lado clássicos e novidades, do parque vertical High Line ao mirante The Vessel, passando pelo descolado Williamsburg.
Repleta de belezas naturais, resgata histórias de civilizações milenares, está em uma zona segura e é considerado região de paz.
Conexão intensa com a natureza. Isso porque a região tem vegetação nativa, cachoeiras, dunas e os famosos fervedouros.
Vencedor de nossa votação de 2018, Portugal ainda está vivíssimo no interesse dos brasileiros.
Depois de anos de guerras e genocídio, Ruanda desponta como a queridinha do turismo de luxo – e por quem gosta de contato com a natureza.
Grande, populosa, poluída e nervosa, a China é repleta de contrastes: riqueza histórica e metrópoles futuristas, campos de arroz e templos milenares.
Se preservação e imersão são tendências, faz todo sentido a cidade estar na lista: além de lindas praias, abriga comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas.
Berço da civilização ocidental, da arte, da pizza, da pasta, do design e do bom gosto: difícil pensar em um lugar que evoque tantas imagens ao mesmo tempo.
Apesar da fama, a Holanda é mais liberal que libertina. Canais, moinhos e tulipas emolduram um país onde tudo funciona.
Terra dos incas, o país se reinventa ao mesmo tempo em que mantém viva uma cultura secular.
Tradicional e moderna, a Alemanha tem atrações para românticos e para descolados, famílias e viajantes solo. E um novo voo direto a partir do Brasil.
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Como já é tradição, convidamos para nossa eleição jurados que representam setores distintos do turismo nacional, forma de contemplar interesses e olhares diferentes sobre os destinos e sobre o que eles prometem para 2020. Afinal, há muitos tipos de viajantes e, por isso, de tendências a serem contempladas.
Assim, nossos 22 jurados se dividem entre entusiastas de viagens de experiência e de luxo; professor universitário; jornalistas, blogueiros e colunistas especializados; empresários e líderes de movimentos sociais, culturais e políticos.
Cada um deles indicou 5 destinos, em ordem de preferência. O ranking geral é a contagem de votos para cada destino que surgiu, mas nos perfis, além de conhecer melhor nossos jurados, você descobre quais foram as apostas deles.
Para a escolha dos melhores destinos de 2020 optamos por uma metodologia diferente daquela que adotamos nos anos anteriores. Dessa vez, a equipe do Viagem pediu aos jurados que escolhessem livremente (ou seja, sem uma lista prévia estabelecida pela editoria, como nos anos anteriores), cinco destinos para o próximo ano. Os destinos deveriam ser colocados em ordem de preferência e vir acompanhados das justificativas para a indicação.
Recebemos, assim, cinco sugestões de cada um dos 22 jurados. Com todas as indicações, contamos os destinos que mais surgiram, levando em consideração a união de destinos que estivessem dentro de uma mesma região ou que tivessem uma mesma característica, sugerindo uma tendência. Assim, todos os 20 destinos contam, no mínimo, 2 votos e, no máximo, 12 votos, representando muitas vezes não só lugares pontuais, mas regiões ou tipo específico de viagem. É o caso da Amazônia e de Parques Nacionais, por exemplo.
Por fim, utilizamos como critério de desempate a colocação de cada destino nas listas enviadas pelos jurados. Assim, aqueles destinos que ocuparam melhores colocações mais vezes, ficaram à frente de outros com o mesmo número de votos.