Uma indignação internacional marcou o 40º dia da guerra comandada pelo presidente russo, Vladimir Putin, na Ucrânia, após a revelação de uma realidade até então desconhecida da devastação das cidades e da atrocidade da guerra, expostas com a retirada de tropas russas em determinadas áreas do país.
Imagens da cidade de Bucha, próximo de Kiev, mostram supostas valas comuns e civis mortos na rua após a saída dos russos. Uma análise de imagens de satélite feita pelo The New York Times refuta as alegações da Rússia de que o assassinato de civis em Bucha ocorreu depois que seus soldados deixaram a cidade.
O horror levou o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, a chamar as forças russas de “carniceiras, estupradoras e saqueadoras” e pedir mais sanções contra a Rússia por crimes de guerra. As descobertas ofuscaram as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia, que deveriam ser retomadas nesta segunda-feira em um cenário de bombardeios de artilharia no sul e no leste da Ucrânia, onde a Rússia diz que agora está concentrando as suas operações.
Zelenski recebeu total apoio internacional, principalmente do presidente americano, Joe Biden, que voltou a se referir a Putin como criminoso de guerra e pediu a abertura de um julgamento por crimes de guerra contra ele.
Leia análises sobre a guerra
Entre os aliados europeus, embora unidos em indignação, há uma divisão sobre como responder. A Polônia, que fica na fronteira com a Ucrânia e recebeu um grande número de refugiados, criticou a França e a Alemanha por não tomarem medidas mais estridentes e instou a Europa a se livrar rapidamente da energia russa.
Mas a União Europeia não tem certeza do que está disposta a fazer a respeito, especialmente quando se trata de energia. A Europa importa cerca de 40% de seu gás e mais de um quarto de seu petróleo da Rússia; os EUA e o Reino Unido importam muito menos. Saiba mais sobre o 40º dia da guerra na Ucrânia:
Biden chama Putin de criminoso
O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de criminoso de guerra nesta segunda-feira, 4, e pediu a realização de um julgamento por crimes de guerra, enquanto aumento o clamor internacional devido aos assassinatos de civis na cidade ucraniana de Bucha.
Autoridades ucranianas disseram ter encontrado os corpos de 410 civis em cidades ao redor da capital, Kiev, que foram recapturadas das forças russas nos últimos dias. A descoberta de uma vala comum e corpos amarrados baleados à queima-roupa em Bucha, nos arredores de Kiev, parecia inflamar EUA e Europa em sanções adicionais contra Moscou.
Devastação e atrocidade da guerra
A retirada de tropas russas em determinadas áreas da Ucrânia revelou uma realidade até então desconhecida da devastação das cidades e da atrocidade da guerra. O horror levou Zelenski a chamar as forças russas de “carniceiras, estupradoras e saqueadoras”. Em visita a Bucha, onde o maior número de corpos foi revelado, Zelenski disse que era “muito difícil falar, quando você vê o que eles (russos) fizeram aqui”.
O presidente pediu mais sanções e os líderes europeus apoiaram o pedido de uma investigação independente de crimes de guerra, prometendo responsabilizar a Rússia pelo que o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, descreveu como “brutalidade contra civis que não se via na Europa há décadas”.
Europa discute como responder
Mas apesar de unida em sua indignação, a União Europeia não tem certeza do que está disposta a fazer a respeito, especialmente quando se trata de energia. Todo o debate levanta questões desconfortáveis sobre onde a UE traça seus limites quando se trata de energia russa – se é que eles existem.
Quando os EUA e o Reino Unido cortaram as importações, a UE argumentou que não poderia se dar ao luxo de acompanhar os movimentos porque o bloco é muito mais dependente da energia russa. A Europa importa cerca de 40% de seu gás e mais de um quarto de seu petróleo da Rússia; os EUA e o Reino Unido importam muito menos.
Para Órban, Zelenski é ‘força esmagadora’
E nem todos na Europa podem ser chamados de aliados pelo presidente Zelenski. Após vencer as reeleições da Hungria no domingo, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, chamou Zelenski e os líderes da União Europeia de “oponentes”.
No discurso da vitória, Orbán afirmou que a Hungria lutou contra uma “força esmagadora” durante a eleição, do qual fazem parte Zelenski e a UE. “Nós nunca tivemos tantos oponentes (...) temos os burocratas de Bruxelas, a mídia internacional e o presidente ucraniano”, declarou.
Muro de protestos
Em algumas das principais cidades pelo mundo, artistas de rua de todo lugar decidiram se posicionar pela arte. Em Paris, Barcelona, Los Angeles ou na Cracóvia, dezenas de pinturas em muros surgiram no último mês com mensagens de apoio aos ucranianos ou repúdio à Rússia.
Algumas pinturas foram feitas por artistas de rua já famosos, como Hijack, nos EUA; outras, por jovens ucranianos que precisaram fugir do país para se proteger da guerra. As imagens pedem paz, elogiam a resistência ucraniana e responsabilizam Putin pelo conflito.
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