A Rússia deu nesta sexta-feira, 22, indicativos de que pode tentar estender sua ofensiva para o sul da Ucrânia, em um movimento que se estenderia até a Moldávia. “Pretendemos assumir o controle total do sul da Ucrânia”, disse um alto comandante militar russo, embora não tenha ficado imediatamente claro se o anúncio surpresa representa uma mudança da política oficial nos objetivos declarados do Kremlin para a guerra.
Também nesta sexta-feira, Moscou ordenou a prisão preventiva do opositor Vladimir Kara-Murza, um dos principais críticos do Kremlin, como parte de uma investigação sobre “informações falsas” em relação às atividades do Exército na Ucrânia, disse seu advogado. Ele ficará sob custódia até o dia 12 de junho.
Na Ucrânia, a Espanha reabriu sua embaixada em Kiev, que estava fechada há quase dois meses. A delegação consular, chefiada pela embaixadora espanhola na Ucrânia, Silvia Cortés, reabriu a embaixada às 8h locais.
O Kremlin anunciou nesta sexta-feira uma reunião entre o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente russo, Vladimir Putin. O encontro – o primeiro de Putin desde o início da invasão russa à Ucrânia – deve acontecer na terça-feira, 26 de abril.
O exército russo afirmou nesta sexta-feira que está disposto a uma trégua “total ou parcial” na zona industrial de Azovstal, o último reduto das forças ucranianas em Mariupol, para permitir a retirada dos civis e a rendição dos combatentes. A Ucrânia ainda não respondeu a proposta.
Ampliação da ofensiva
O general russo Rustam Minnekayev disse em uma reunião da indústria de defesa que a Rússia estava tentando ganhar o controle de uma faixa de território que se estende até a Moldávia, vizinho ao sul da Ucrânia. Isso cortaria o acesso da Ucrânia ao Mar Negro, disse o general Minnekayev, de acordo com agências de notícias russas, permitindo que a Rússia “influencie elementos críticos da economia ucraniana” e ganhe “mais um ponto de acesso” ao enclave moldavo pró-russo da Transnístria.
Essas são metas muito mais ambiciosas do que as estabelecidas pelo presidente Vladimir Putin nas últimas semanas, que se concentraram em ganhar o controle da região de Donbas, no leste da Ucrânia. E também não parecem ser realistas, pelo menos por enquanto, já que os observadores militares questionam se a Rússia tem tropas e equipamentos suficientes para vencer a batalha pelo Donbas – muito menos pelo sul da Ucrânia, que abriga Odessa, uma cidade fortificada com 1 milhão de habitantes.
Prisão de opositor
O advogado Vadim Prokhorov informou que seu cliente, o opositor Vladimir Kara Murza, foi interrogado pelo Comitê de Investigação russo e teve sua prisão ordenada no âmbito de uma investigação sobre a disseminação de “informações falsas” sobre o exército.
Um tribunal de Moscou “enviou Vladimir Kara-Murza para detenção até 12 de junho”, declarou o advogado Vadim Prokhorov em um comunicado publicado no Facebook. O tribunal confirmou a informação em um comunicado publicado por agências de notícias russas.
A divulgação de “informações falsas sobre o uso das forças armadas russas” é punível com até 15 anos de prisão, de acordo com um novo artigo do código penal aprovado pelas autoridades no início de março.
Retorno das atividades
Após transferir o embaixador e seu corpo diplomático para a Polônia, no dia 25 de fevereiro, o governo espanhol decidiu reabrir sua embaixada em Kiev. A retomada das atividades foi anunciada pelo premiê espanhol, Pedro Sánchez, na segunda-feira. A embaixada voltou a funcionar na tarde desta sexta-feira (horário local, manhã de sexta-feira no Brasil).
Em visita à capital ucraniana, Sánchez também informou que o Ministério da Justiça colocará um grupo de especialistas à disposição do Tribunal Penal Internacional (TPI) “para contribuir com o trabalho de investigação de supostos crimes de guerra cometidos na Ucrânia”.
Reunião com a ONU
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, viajará para a Rússia na próxima semana, onde será recebido por Vladimir Putin, em seu primeiro encontro desde o início da invasão russa à Ucrânia, anunciou o Kremlin.
“Na terça-feira, 26 de abril, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, chegará a Moscou para conversar com o chanceler russo, Serguei Lavrov. Ele também será recebido pelo presidente Vladimir Putin”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Trégua humanitária
O exército russo afirmou nesta sexta-feira que está disposto a uma trégua “total ou parcial” da zona industrial de Azovstal, o último reduto das forças ucranianas em Mariupol, para permitir a retirada dos civis e a rendição dos combatentes.
“O ponto de partida da trégua humanitária seria que as tropas ucranianas levantassem uma bandeira branca em uma parte ou na totalidade de Azovstal”, afirmou o ministério russo da Defesa em um comunicado.
De acordo com o ministério russo, os civis que decidirem sair terão a possibilidade de escolher se vão para territórios controlados pela Rússia ou sob controle da Ucrânia. Também afirmou que os soldados ucranianos serão bem tratados e os feridos serão atendidos.
“Esta iniciativa humanitária por parte da Federação da Rússia está vigente 24/24″, acrescentou a nota, que cita ônibus, automóveis e ambulâncias que estão permanentemente disponíveis para o transporte.
O ministério afirmou que transmitiu a proposta à vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, à ONU, à Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), e que a mensagem será transmitida a cada 30 minutos “em todos os canais de rádio às formações ucranianas em Azovstal”.
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