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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A armadilha de Putin

Os nacionalistas russos já criticam as Forças Armadas pelo fracasso na guerra da Ucrânia

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Foto do author Lourival Sant'Anna

A contraofensiva ucraniana liberou mais território nas duas últimas semanas do que a Rússia conseguiu ocupar em quatro meses de bombardeios intensos contra alvos civis e militares. O efeito dominó da feroz campanha ucraniana tem causado nervosismo nos aliados internos e externos do presidente Vladimir Putin.

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As Forças Armadas ucranianas seguiram metodicamente o manual. Em agosto, empregaram foguetes e drones para destruir artilharia russa, depósitos de munições, alojamentos, centros de comando e controle, pontes e ferrovias usadas no transporte de tropas e suprimentos.

Ao mesmo tempo, deslocaram o conflito do leste para o sul, numa manobra diversionista que obrigou os russos a transferir 15 batalhões (em torno de 12 mil soldados) das regiões de Donbas e Kharkiv para Kherson. O cerco à cidade de Kherson, ocupada pelos russos, levou muitos invasores a fugir do perímetro, cruzando de volta para o lado leste do Rio Dnieper.

Putin participa de cúpula da Organização de Cooperação de Xangai em meio a pressões de parceiros políticos  Foto: Foreign Ministry of Uzbekistan/Handout via REUTERS

Eficiência

Em seguida, revelando notável mobilidade, os ucranianos avançaram rapidamente contra a desguarnecida Kharkiv, e ao final da segunda semana já haviam recuperado praticamente toda a província, que domina o acesso norte ao Donbas. Ao mesmo tempo, prosseguem no movimento de pinça sobre Kherson.

Fugindo às pressas, os russos abandonaram, intactos, ativos valiosos, como tanques T-80 e aviões SU-30. As baixas são pesadas de ambos os lados. Mas a Rússia enfrenta dificuldade de repor o efetivo.

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Putin não declarou guerra para evitar o custo político da mobilização geral, que recrutaria jovens de Moscou e São Petersburgo, cujas mortes causariam uma onda de protestos. O alistamento tem ocorrido entre minorias, nas franjas do império russo. As derrotas sucessivas têm afastado os voluntários.

Os ultranacionalistas, que apoiam a “operação especial”, e assim têm licença para falar, criticam abertamente as Forças Armadas pelo desempenho pífio. Putin deixou que o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, sangrasse como bode expiatório, e o patrocinador do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, seu amigo, passasse a explicar a “operação especial”. É uma deterioração institucional formidável.

Na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, em Samarkand, no Usbequistão, o presidente chinês, Xi Jinping, e o premiê indiano, Narendra Modi, externaram preocupações com o curso da guerra.

Modi chegou a dizer que “não é uma era para guerras”. Putin culpou os ucranianos, procurou acalmar seus dois principais aliados, afirmando que entende suas preocupações, e prometeu acabar com a guerra o mais breve possível. O homem forte russo já deve ter entendido que montou uma armadilha para si mesmo.

* É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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