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A China não vai repetir o Japão: vai se sair pior; leia o artigo de Paul Krugman

Ansiedade a respeito da competição global desviou-se do Japão e recaiu sobre a China, mas dificuldades em Pequim levantam questionamentos sobre os rumos da 2ª maior potência global

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Por Paul Krugman (The New York Times)

Espero que ao menos alguns de meus leitores sejam jovens demais para se lembrar disso, mas no início dos anos 90, muitos americanos — principalmente comentaristas, mas também líderes empresariais e uma fatia considerável do público em geral — ficaram obcecados com a ascensão do Japão. Dois dos livros mais vendidos em 1992 foram o romance “Sol Nascente”, de Michael Crichton, sobre o que ele imaginava ser uma crescente e sinistra influência das corporações japonesas, e “Cabeça a Cabeça: A Batalha Econômica entre Japão, Europa e Estados Unidos”, de Lester Thurow. Hoje é fácil esquecer disso, mas eu gosto de recordar as pessoas que as livrarias dos aeroportos ficavam repletas de livros de bolso com guerreiros samurai nas capas, que se propunham a nos ensinar os segredos dos japoneses em gestão empresarial.

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O timing dessa obsessão nipônica foi impecável: ela chegou quase no momento exato que a notável ascensão do Japão se transformou em um declínio constante de poder econômico. Considerem a proporção do produto interno bruto japonês em comparação com o americano ajustado em função das diferenças no poder de compra.

Nos dias atuais, o foco de ansiedade a respeito da competição global desviou-se do Japão e recaiu sobre a China, uma autêntica superpotência econômica: ajustada em função do poder de compra, a economia chinesa já é maior que a americana. Mas a China parece titubear ultimamente, e têm me perguntado se o caminho da China para o futuro poderá se parecer com a trajetória japonesa.

Imagem aérea mostra prédios em Shenyang, China. Foto: AFP / China OUT

Minha resposta é provavelmente não — o desempenho da China será pior. Mas para entender por que que afirmo isso, vocês precisam saber de algo que aconteceu ao Japão que de nenhuma maneira foi a catástrofe que, creio, muitas pessoas imaginam.

Vocês podem ter ouvido a seguinte história: no fim dos anos 80, o Japão experimentou uma bolha monstruosa no mercados de ações e imóveis que por fim estourou. Até hoje, o índice Nikkei se situa em média significativamente abaixo do pico que atingiu em 1989. Quando a bolha estourou, deixou um rastro de bancos em dificuldades e dívidas corporativas excedentes, o que ocasionou uma geração de estagnação econômica.

Há alguma verdade em alguns aspectos dessa narrativa, mas ela não leva em conta o fator mais importante no declínio relativo do Japão: demografia. Graças à baixa fertilidade e falta de disposição do Japão em aceitar imigrantes, sua população economicamente ativa tem declinado muito rapidamente desde meados dos anos 90. A única maneira que o Japão poderia ter evitado uma diminuição relativa do tamanho de sua economia teria sido alcançar um crescimento muito mais rápido do que outras economias no índice de produtividade por trabalhador, o que não ocorreu.

Dada a sua demografia, contudo, o Japão até que não desempenhou tão mal. Com ajuste em função da demografia, o Japão alcançou um crescimento significativo: um aumento relevante, de 45%, no rendimento real per capita. Os EUA desempenharam ainda melhor, mas isso dificilmente se enquadra na narrativa da estagnação japonesa.

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Esperem, tem mais coisa. Gerir uma economia com uma população economicamente ativa em declínio é difícil, porque baixo crescimento populacional tende a ocasionar baixo investimento. Esta observação está no cerne da hipótese de estagnação secular, segundo a qual nações com baixo crescimento populacional tendem a enfrentar dificuldades persistentes em manter pleno emprego.

Mas o Japão conseguiu de fato evitar desemprego em massa ou qualquer tipo de sofrimento maior. Um indicador é a porcentagem de homens nos primeiros anos de atividade econômica. Essa porcentagem se manteve alta no Japão; na verdade consistentemente mais alta do que nos EUA.

Mas e os jovens? O Japão testemunhou um aumento no desemprego entre os jovens (de 15 a 24 anos) nos anos 90, mas a tendência se reverteu desde então.

Portanto o desempenho econômico do Japão desde os tempos em que todos pensavam que os japoneses dominariam o mundo tem na realidade sido bastante bom. É verdade que o desemprego tem sido sustentado em parte por meio de um grande gasto deficitário, e a dívida japonesa disparou:

Mas as pessoas preveem há décadas uma crise da dívida no Japão que não se materializou. De algumas maneiras, o caso do Japão, em vez de alerta, deve servir de modelo — um exemplo de como gerir uma demografia desfavorável permanecendo, ao mesmo tempo, próspero e estável socialmente.

E ainda que seja difícil quantificar, muitas pessoas com que tenho conversado afirmam que a sociedade japonesa é muito mais dinâmica e criativa culturalmente do que muitos estrangeiros se dão conta. O economista e blogueiro Noah Smith, que conhece bem o Japão, afirma que Tóquio é a nova Paris. Em razão da barreira da língua, eu tenho que me fiar quase completamente na palavra dele; apesar de, por ter circulado por Tóquio guiado por locais, posso confirmar que a cidade tem muita vitalidade.

Pessoas caminham em frente ao prédio do Banco Central do Japão. Foto: REUTERS/Androniki Christodoulou

É verdade que essa mesma barreira da língua significa que Tóquio dificilmente poderá desempenhar o mesmo papel na cultura global que Paris desempenhou no passado. Mas os japoneses estão claramente alcançando grande sucesso com um urbanismo sofisticado; quem considera o Japão uma sociedade cansada ou estagnada não está entendendo nada.

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O que me traz à questão que levantei no início desta newsletter: a China será o próximo Japão?

Há algumas similaridades óbvias entre a China hoje e o Japão em 1990. A China tem uma economia extremamente desequilibrada, com uma demanda de consumo baixa demais, que é mantida viva apenas por meio de um setor imobiliário hipertrofiado, e sua população economicamente ativa está diminuindo. Ao contrário do Japão em 1990, a maior parte da economia chinesa ainda está muito aquém da fronteira tecnológica, portanto deverá ter perspectivas melhores para um rápido crescimento em produtividade, mas há cada vez mais preocupações a respeito da China poder ter caído na “armadilha da renda média”, que parece afligir muitas economias emergentes que crescem rapidamente, mas apenas até um determinado ponto, e depois empacam.

Mas se a China estiver a caminho de uma diminuição de ritmo econômico, uma dúvida interessante é se os chineses serão capaz de replicar a coesão social do Japão — sua capacidade de administrar um crescimento mais lento sem sofrimento massivo nem instabilidade social. Eu definitivamente não sou nenhum especialista em China, mas há alguma indicação de que a China, especialmente sob um regime autoritário errático, seria capaz de algo assim? Notem que o índice de desemprego entre jovens na China é muito maior do que o japonês em todos os tempos.

Portanto não, a China não deverá ser o próximo Japão economicamente. Provavelmente será muito pior. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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