Para o governo dos EUA, as negociações iniciadas em Genebra tratam de acabar com a possibilidade de uma grande guerra na Europa – desencadeada por eventual uma invasão russa à Ucrânia – e defender o princípio de que países não redefinem suas fronteiras à força. Para Vladimir Putin, o tema pode ser muito mais complexo: a capacidade de ele conseguir fazer voltar o tempo para meados dos anos 90, usando o atual momento da história para, nas palavras do historiador conservador Niall Ferguson, “recriar a antiga esfera de influência soviética”.
As exigências da Rússia são notáveis: se o Ocidente quer o fim das ameaças contra a Ucrânia, afirma Putin, deve retirar suas armas, tropas e até seu armamento nuclear das ex-repúblicas soviéticas – e garantir que a Ucrânia e outros países da região jamais se juntem à Otan.
Se esta posição ecoa ou não a crise em Berlim, de 1961, que levou à construção do Muro, ou a invasão da Checoslováquia realizada pelos países do Pacto de Varsóvia, em 1968, as semelhanças (e algumas significativas diferenças) estão presentes.
A lição é que, ainda que a Guerra Fria tenha acabado há muito tempo, os mesmos comportamentos persistem. Nas três décadas que se passaram desde a dissolução da União Soviética, a tensão entre os principais adversários nucleares do mundo nunca esteve tão alta – o que torna o caminho para uma desescalada pacífica ainda mais difícil de discernir.
Objetivos
A boa notícia, notaram analistas, é que ninguém está ameaçando usar suas armas mais temíveis. No entanto, para qualquer um que, no início dos anos 90, imaginava que a Rússia de 2022 estaria integrada à Europa, o que se desdobrará nesta semana numa série de cúpulas serve como lembrete de que nunca houve nada de definitivo com relação à segurança europeia do pós-Guerra Fria.
Para Putin, pelo menos, tudo isso se tratava de um arranjo temporário, sujeito a renegociação assim que a distribuição de poder na ordem internacional lhe parecesse mais promissora.
A preocupação entre as autoridades é que a Rússia esteja se submetendo às movimentações diplomáticas desta semana apenas para declarar que suas preocupações ainda não foram consideradas – e Putin tentará se apossar de mais território no leste ucraniano ou prejudicar o governo em Kiev com ataques cibernéticos e de outros tipos. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO
* É JORNALISTA E ESCRITOR
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.